31.10.06

Sobre o post abaixo



Um ano atrás minha vida ficou diferente. Perdi abruptamente um emprego e não tinha mais dinheiro.

Um ano atrás, Aninha, a calopsita, entrou em nossa casa.

Um ano atrás, eu comecei a reaprender a trabalhar. Voltei pra jornal, escrevi tanto e, mesmo resvalando a penúria, reaprendi a seguir em frente.

Daqui a um ano eu quero estar feliz como hoje.
E mais magra, né?

UFA!!!!



Depois do purgatório - que, tomara, esteja chegando ao fim - o que vale é lembrar Rita Lee:

O ano passado passou tão apressado
Eu sei que foi um corre-corre-corre danado
O ano inteiro eu passei sem dinheiro
Eu sei que foi um tal de segurar essa peteca no ar
Como se fosse empinar papagaio


A todos que me ajudaram a continuar sobrevoando por aqui, obrigada!

26.10.06

Adeus, Internet Explorer


Meu bravo PC deu uma surra no técnico, mas foi consertado!
Com a eliminação do vírus que consumiu o Internet Explorer e a subseqüente reinstalação deste navegador, descobri que: odeio o Explorer; quem o utiliza vê a página deste blog toda estranhamente configurada; continuarei usando o Mozilla, bem mais ágil e mais simples que o Explorer.
Aliás, aconselho a todos esquecerem o IE e passarem para outros navegadores, como o Mozilla e o Opera. Já testei ambos e são muito mais céleres do que o IE.
De qualquer maneira, acho que vou voltar ao antigo layout ou a algum layout do Blogger mesmo, que agora tem versão Beta e deixa a gente botar milhares de enfeitezinhos por todo o "corpo" da página.
Ah, a nova integrante dos linkados no "Guia de Viagem" é minha amiga-irmã de mais de 30 anos de vida (colega de colégio, madrinha de casamento, comadre), Márcia, que abandonou o Rio pelo Planalto Central e conta suas andanças pelas terras de lá, descobrindo cantinhos deliciosos naquelas estranhíssimas paragens.
A foto desfocadíssima, esmaecida, é do dia do batizado de Júlia, de quem Márcia é madrinha. Essas mulheres são parte de minha vida até hoje. Márcia é a que está com a mão em minha cinturinha de pilão de doze anos atrás...

20.10.06

Sanatório Geral


Vai acabar sobrando pra imprensa, claro, toda essa maracutaia de delegado da PF entregando fotos para repórteres. O conteúdo do dossiê que valia tanto dinheiro não interessa a ninguém, já que o crime maior seria a compra de tais informações.

Igual à mulher que reagiu a um assalto aqui no Rio, atirando no ladrão. Enquanto responde judicialmente pelo delito, ganha medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal, honraria concedida a quem preste serviços a cidade.

Não quero nem discutir se ela estava certa ou errada quando deu um tiro no assaltante.
Mas a Câmara deveria ser um pouco menos pródiga na concessão de medalhas.

Pedro Ernesto, coitado, tentou ajeitar esta cidade enlouquecida, que, nos anos 30, já exalava odores de gordura velha e de lixo acumulado nos valões. Virou político porque era médico de Getúlio Vargas, ficou popular por sua bela atuação como prefeito da cidade, onde construiu escolas e hospitais. Queria a autonomia municipal do Rio, então distrito federal. Era época de discussões ideológicas e suas idéias acabaram associadas aos comunistas, o que o levou à cadeia. Depois de uma boa temporada de prisão, afastou-se da política.

Não é a cara do Rio?

19.10.06

Epifania




... e ontem, a ficha caiu: sou uma mulher a caminho dos 50 anos.
Minha mãe preparou-se desde jovem para ser velha. Vestia roupas de mulher anacrônica, fora de moda, de época, de tanta vontade de parecer-se com a própria mãe.
Minha geração é a segunda a não querer reproduzir a mãe e a tentar ser igual à filha.
Pessoas em volta fazem lipo, musculação, pilates, redução de estômago, siliconam peito, cortam pelanca, mexem no rosto.
Eu não quero nada disso, mas a sabedoria da maturidade, por melhor que seja, não aniquilou minha curiosidade perante a vida.
Um amigo deprimiu-se ao completar 45 anos.
E eu ainda não havia me dado conta de que agora eu preciso ser definitiva. Adulta, madura, absoluta.
Foi mais fácil ser infalível aos 25.

Vai passar


Vivo aquela fase Murphy em que tudo pode dar mal no reino dos eletro-eletrônicos domésticos que se mostram totalmente selvagens.

O computador é um viveiro de cavalos de tróia e demais vírus. Para felicidade geral de meus amigos, não consigo contaminá-los. Peguei, aliás, da maneira mais prosaica. Abri um spam de pessoa desconhecida. Sabe quando a gente está no meio do ato e já percebeu que não vai dar certo?

Pois é, foi assim.

Em solidariedade, a máquina de lavar quebrou. Os telefones, bem, eu já me conformei que na vida não voltarei a ter aparelho de telefone que funcione - nem campainha de porta. Tais objetos se mostram absolutamente incompatíveis quanto à convivência em meu lar. Comprei dois novos aparelhos, já que os últimos chiavam. Naturalmente, procurei modelitos exatamente iguais aos que substituía (bonitinhos, sabem?) Naturalmente, os novos aparelhos chiam um bocado, igualzinho aos que os sucederam.

O chiado foi um problema apenas por alguns dias. Minha linha virou pai-de santo, só recebe.Isso porque não pude arcar com contas que somam mais de 1000 reais -
acumuladas até que eu tenha o suficiente para saldar a dívida com a Telemar. O motivo do desvario telefônico? Minha doce filha adolescente, pendurada com as amigas, ligando para celular por vinte minutos, para falar sobre gatos. Felinos, quadrúpedes. Ainda.

Decidi, então, usar o corte da linha como instrumento de educação dos jovens consumidores locais. Não sei se vai dar muito certo, não.Redescobri, assim, a alegria de falar em orelhão. Atualmente todo mundo tem celular, então os orelhões vivem vazios. É muito mais barato do que usar celular. Constatei ainda que falo ao telefone muito mais do que necessito, claro. E ainda baixei o skype no computador, mas pouco uso. Semana que vem, começam os consertos e pagamentos atrasados.Enquanto isso, quatro lâmpadas queimaram, dois banheiros estão com problemas hidráulicos e a torneira da cozinha pinga incessantemente.

Eta, vida boa, olerê, eta, vida boa, olará, o estandarte do Sanatório Geral vai passar!

18.10.06

Legendas e Links


Novos visitantes nessas praias, todos devidamente linkados aqui ao lado.
Adelaide Amorim, carioca militante como eu, com quem divido uma dessas coincidências criativas que nos obriga a ser amigas de infância a partir de agora: uma definição de perfil muito semelhante.
Há tempos, no site Releituras, fiz uma apresentação para ser publicada junto a um um conto meu. Dizia assim: "Olga de Mello é carioca por nascimento, convicção”, frase que utilizei também para acompanhar meu conto no "Parem as Máquinas". Um dia, Adelaide veio me visitar aqui. Fui ao blog dela e descubri que Adelaide se define como carioca por ... nascimento e convicção! Não é maravilhoso? Adelaide fala do Rio com amor e graça, tem livros e poemas publicados, tudo lindamente escrito.Chegaram também por aqui a bela poesia de Lia Noronha, dona do "Cotidiano", escrito lá de Vila Velha, no Espírito Santo, pincelando palavras que se encaixam perfeitamente nas ilustrações maravilhosas que ela publica, e o sopro de ar jovem da carioca Maria Paula, autora de Segredinhos Secretinhos e torcedora do América Futebol Club! É a quarta torcedora da gloriosa agremiação que conheço e que está viva!!!Por último, linkado está o coleguinha de Franca, São Paulo, Sidnei Ribeiro, que tem o simpático "Diário de um Gordo".O que adoro na Web é viajar por tantos cantos, sentir-me tão cidadã do mundo, tão acolhida por gente amável, bonita, elegante e sincera (sic Lulu Santos).

Puff, puff

Quando eu fumava, tentava aproveitar os resfriados para abandonar o tabagismo. Depois de um período  de gripe em que não conseguia sequer respirar, acreditava que aproveitaria o embalo para largar o vício.
Bastava três dias de curada para eu voltar aos meus habituais maço e meio diários.
Superada aquela dependência, tenho outra - muito pior, pois visível - a ser extirpada: a obesidade, atualmente encarada, mais do que uma questão estética ou de saúde, como o atestado da falta de caráter de ... quantos mesmo? algo em torno de 40% da população brasileira?
Não são as gripes que provocam anorexia que deveriam me levar à frugalidade alimentar que eu almejo, mas o momento chave para cumprir o destino reservado às gerações pós-década de 60, que têm de submeter-se à tortura da ginástica, algo hoje conhecido como "malhação" - gíria que vi nascer a partir de um esquete de programa do Jô Soares (ele repetia o bordão "Vamos malhar?" pra Cláudia Raia e ambos, numa academia de ginástica, desciam o malho em figuras públicas ou fictícias enquanto se exercitavam). Acho meio ridículo ouvir o termo, assim como acho brega chamar a Montenegro de "Vinícius". Mas isso é meu esnobismo ZSul mesmo.
Logicamente não pretendo nunca mais ingressar naqueles ambientes repletos de gente suada, comandada por um trainée de recreador de festa infantil berrando enlouquecidamente acima dos 800 mil decibéis de música bate-estaca que marca o rítmo e a intensidade da tortura.
Minha ambição é modesta. Quero tão somente caminhar pelas ruas da cidade, com disposição essencial para eliminar celulite e flacidez.
Como nos tempos de fumante, espero um sinal divino de que chegou a hora de deflagrar o Kenneth Cooper que existe em mim (alguém se lembra dele? Veio depois ou na mesma época em que o programa da Força Aérea Canadense). Pela quarta vez na vida, o sinal surgiu. Ontem, eu encerrei entrevistas no prédio de uma grande empresa brasileira. E então, acabou a energia elétrica, que não voltou em carga suficiente para fazer os elevadores funcionarem. Naturalmente, era hora do almoço. Tive minutos para imaginar paranoicamente que a Al Qaeda estava atacando o prédio, que a Coréia decidira lançar um míssil no Brasil, que alquiministas desvairados rodeavam a empresa pregando sua privatização. Por alguma iluminação que só posso creditar a santas e santos descalços, eu carregava numa bolsa meu velho par de tênis, que imediatamente tomou o lugar das sandálias de plataforma. Roubaram-me dez centímetros, mas permitiram que eu galgasse lepidamente, embora sem a graciosidade que gostaria, os QUINZE andares do edifício até chegar ao solo.
Hoje, claro, estou toda dolorida. Se amanhã vou pegar no tranco e percorrer a Lagoa? Nem a pista Cláudio Coutinho, que tem meio metro e a vista panorâmica mais bonita do mundo... A verdade é que vou virar uma escultura de meia idade da mesma maneira que larguei o cigarro: num dia qualquer, sem motivo algum, apenas porque aquele era um momento propício. 
Sem fazer alarde, sem badalar a própria conquista. Apenas porque a hora chegou.
Um dia. Sei lá quando.


15.10.06

Galáxias

Horácio, o mendigo da São Clemente, está desaparecido.
Ele é parte da paisagem local, um "invisível" que, reza a lenda, optou pela vida na rua após um surto psicótico anos atrás.
Tem um irmão, parecidíssimo com ele, que trabalha numa padaria e jamais conseguiu levá-lo para casa.
Horácio foi internado no Miguel Couto com um edema pulmonar agudo em 17 setembro. Não há registro de sua saída, mas ele não está no hospital. O irmão e moradores das imediações estão em busca de Horácio, já estiveram no IML, inclusive.
Sem pistas.
Será que Horácio resolveu evaporar-se da Terra?
Ele gostava de ficar na calçada do colégio Santo Inácio, sempre imundo, cheirando a urina, comendo o que os comerciantes e moradores lhe davam, conversando sozinho. Não é jovem, deve ter por volta de 50 anos. Do outro lado da calçada é ponto de Sofia, uma mulher magrinha, que também fala sozinha e, vez por outra, engravida. Seus bebês são encaminhados à adoção. Um deles foi adotado por uma moça que vive aqui pertinho.
Com o sumiço de Horácio, surgiu um mendigo novo, mais moço e igualmente amalucado. Como Sofia e Horácio, carrega papéis e está sempre sujo.
Fechamos nossos olhos, apertamos o passo e fingimos não ver esses personagens que alcançaram a total liberdade de vida, dentro de mundos que jamais conheceremos, pois nunca conseguiremos enxergá-los.

10.10.06

Com mais licença

O post abaixo veio antes de eu ler no Globo on line que há um projeto em tramitação no Congresso que amplia a licença-maternidade de 120 para 180 dias.
Juntando esses seis meses com mais um mês de férias é um excelente tempo para amamentar os bebês e ajustá-los à vida com outros que não a mãe.
Se este país não dá aposentadoria, atendimento de saúde nem educação decentes para a população, que ao menos garanta uma boa expectativa de vida para quem nasce.

Maternidade



Depois de Angelina Jolie, Madonna vai adotar uma criancinha órfã e pobrezinha de país miserável. Psicólogos já disseram que a moda é prejudicial para as criancinhas órfãs e pobrezinhas de países miseráveis, pois viverão do sonho de que uma celebridade trilhardária de país riquíssimo virá adotá-las. Como se o sonho de crianças no orfanato não fosse a adoção. (Já fui a orfanato. É uma dureza, coitadinhos. Dá vontade de trazer todo mundo pra casa).
Antes de Angelina e Madonna, diversos outros superstars adotavam criancinhas pobres. Spielberg tem uns dois filhos adotivos. Tom Cruise e Nicole Kidman, dois, Hugh Jackman também. Mia Farrow exagerou: dos nove filhos que tem, cinco são adotivos, entre elas Soon-Yi, que casou-se com o ex-padrasto Woody Allen (pai biológico de dois, adotivo de mais dois) e adotou duas menininhas. Há dúvidas se Mia adotou mais duas crianças, uma delas com paralisia cerebral.
Quem começou com isso foi a Josephine Baker, que adotou, sozinha, no milênio passado, doze crianças, que ela chamava de Tribo do Arco-Íris, devido às diversas nacionalidades e etnias: Aiko (Coréia), Luis (Colombia), Janot (Japão), Jari (Finlândia), Jean-Claude (Canadá), os franceses Moses, Marianne e Noel, o árabe Brahim, Mara (Venezuela), Koffi (Costa do Marfim), Stellina (Marrocos).
Só acho meio ridículo Maddona correr atrás de criancinha agora, beirando os 50 anos. Mas homem tem filho depois de velho e todo mundo acha interessante e legítimo, não. Como eu não vou muito com a cara da Maddona, me parece mais uma jogada de marketing dela.
E viva Josephine Baker, a entertainer que abalou Paris!
Nas fotos, Josephine com a pirralhada no castelo onde moravam; os filhos Jari e Jean-Claude, numa festa em homenagem ao centenário de nascimento da mãe.

4.10.06

Balanço

Atravessei o primeiro tempo de minha vida passeando por um gramado macio, bem mais suave do que o capinzal que a maioria da humanidade precisa esmagar.
Conheci poucos países, passei 16 férias em Florianópolis e uma no Piauí.
Estive no meio do mundo, bem na linha do Equador.
Matei poucas baratas.
Asfixiei um pintinho comprado na feira.
Tive mais de 30 passarinhos, três cachorros, sete gatos, 15 hamsters, nem sei quantos peixes Beta, um sapinho, três jabutis.
Hoje são seis pássaros, quatro gatos e muitos mosquitos.
Tive seis mil livros, agora só tenho uns dois mil, mais 500 discos e 368 DVDs.
Tive uns 30 namorados, só pude casar com um.
Vivi seis intensas paixões e mais umas 35 médias ou pequenas.
Pus no mundo quatro brasileirinhos.
Três guris, uma guria.
Tenho amigos há 30 anos. Tenho amigos de 30 anos também.
Casei na igreja, descasei no cartório.
Tive um quiosque na praia de uma cidade pequena.
Pulei carnaval, dancei discoteca, sambei em gafieira e na Mangueira.
Saí na Banda de Ipanema, nunca desfilei em escola de samba.
Cantei em coral, estudei piano, toquei flauta
Subi morro, entrei em delegacia, em favela, em palácios
Nunca subi o Pão de Açúcar (tenho medo do Bondinho)
Fiz carinho na cabeça de um pingüim
Entrei num barco para ver baleias e vomitei o tempo todo
Andei de helicóptero, nunca mais vou me sentar num teleférico
Passei mal antes de um show do Paul McCartney e só o vi de relance, lá longe...
Tirei amídala, adenóides, os sisos, em nunca perder o siso (que pena)
Levei pontos na perna, no útero e na barriga,
Tomei anfetaminas, antidepressivos, antialérgicos.
Tive dengue.
Tenho asma e hipertensão.
Fiquei míope, fui astigmata, convivo com a presbiopia.
Fiz dieta da lua, de Beverly Hills, de South Beach, do Dr Atkins
Macrobiótica, ioga, natação, hidroginástica
Caminhei muito até virar sedentária
Fumei, bebi, parei de fumar.
Pintei as unhas de verde
Corto meus próprios cabelos
Tenho orelha furada, só uso tatuagem removível
Fui amiga de uma esquizofrênica.
Fiz análise freudiana, mas não deitava no divã.
Já quis ser professora primária.
Fui ghost writer de livro espírita e fiz copy de texto (psicografado) de São Marcos, o evangelista (que perdeu muito do estilo nesses últimos mil anos...)
Tenho contos webmundo afora e um publicado em livro
Vivo de escrever
Escrevo pra viver
Já tomei banho de cuia.
Nadei nua.
Quase nasci dentro de um cinema.
Mas esperei até minha mãe chegar ao morro de Santa Teresa, aos pés do Cristo Redentor
Só para ter uma idéia do que é ser carioca.
Ainda não li "Ulisses" nem "Em busca do tempo perdido"
Na infância, quis ser menino, super-heroína, astrônoma, bailarina, bibliotecária e escritora
Na maturidade, quero estar sempre perto do mar





Nasci um dia após uma eleição e obriguei meus pais a saírem do cinema para correrem ao Hospital Silvestre.
Então, nada mais coerente que o Festival do Rio coincidir com meu aniversário e as eleições continuarem pairando próximas.
Mas este segundo turno bem que veio atrapalhar minha festa. Em vez de tecerem loas a mim, os amigos dão parabéns e falam de política.
Fazer o quê? Comemorar a eleição de Gabeira e rezar pra São Francisco para que dê aos homens um pouco do discernimento que deveria nos distinguir dos demais animais.

1.10.06

No Escurinho do Cinema




Ridley Scott deveria desistir de vez de fazer filmes "sérios" e partir para as comedinhas ou filmes médios. "Um Bom Ano" tem a lenda da vida boa na Provence, a paisagem agradável, um bom elenco. Bem melhor do que aquela droga de "Cruzada" ou "Falcão Negro em Perigo". É um filme "rapazinho", ou seja, toda e qualquer observação saiu da cabeça de homens, o que significa que a cada quinze minutos o algum deles fala em bunda ou peitos, com mais discrição do que nas comédias imbecis de adolescentes americanos.
Um pouco fora de tom está apenas a interpretação de Russel Crowe. Craque em papéis intimistas, ele não compõe bem o inglês charmoso como o personagem do filme é, embora tenha ficado bastante parecido com o paspalhão do livro de Peter Mayle em que foi baseada a fita. O protagonista do filme é mais jovem do que o ator também.
Bem... mas tem Albert Finney e o menininho Freddie Highmore, que é o máximo!

Na Continente Multicultural

CONVERSA
PAULO LINS: “Há muita lenda em torno da vida de bandido”
Paulo Lins, autor de Cidade de Deus, fala do Estácio – tema de seu novo livro –, das lendas em torno da vida de bandido e de sua experiência como roteirista de cinema

Por Olga de Mello

Passar em frente a um dos muitos botequins no bairro carioca do Estácio era uma aventura apavorante para o menino Paulo Lins na década de 50. Quando saía sem a companhia – e a proteção – de um adulto, atravessava correndo para a outra calçada, a fim de evitar os bares, onde, segundo sua mãe, “só tinha bandido e vagabundo”. Levou tempo até descobrir que os malandros que a mãe apontava eram Nélson Cavaquinho, Cartola e outros bambas, que ficavam nos bares conversando, bebendo e criando obras-primas da MPB. Foi no Estácio que Paulo Lins nasceu, há 48 anos. E é o Estácio, em épocas diversas, o cenário e o eixo de seu novo romance, que será lançado em 2007.


Há quem diga que o segundo romance é o mais difícil para o escritor do que toda a sua obra. Como o senhor está enfrentando esta pressão?

Na verdade, este é o meu primeiro romance, ou melhor, a primeira proposta de romance que eu fiz, muitos anos atrás. Cheguei a botar alguma coisa no papel muito antes de Cidade de Deus. Queria juntar o samba, a umbanda e a história do negro no Brasil. Então, a idéia é antiga. Mas, aí, comecei a trabalhar na pesquisa da (socióloga) Alba Zaluar na Cidade de Deus. Fui chamado porque eu conhecia os moradores, tinha crescido ali. Ouvia histórias, recordava outras. Então, acabei sendo convencido a escrever sobre o crescimento da violência e a formação daquela comunidade. Agora, retomei minha primeira história. Por isso nem dá para sentir medo da segunda obra. Para ser mais preciso, este será meu terceiro livro, pois o primeiro foi Sob o Sol, de poesias.

Como em Cidade de Deus, o novo romance terá uma linguagem reproduzindo a forma de falar de cada época em que a história se passa?

Pensei que uma linguagem mais acessível, bem fiel à maneira como o povo falava, atrairia aquela população que eu mostrava ali, atingiria mais aquele público que estava sendo ali retratado. Não foi isso que aconteceu. O livro foi lido pelos consumidores habituais de livro, a classe média e a elite. Os pobres só se viram depois, com o filme. Nesta história de agora eu teria muita dificuldade em recriar a linguagem dos anos 30, precisaria inventar uma linguagem oral, inventar um idioma próprio. Ia ficar muito Guimarães Rosa, então, optei pelo uso do coloquial, com algumas gírias.


A história vem de suas experiências como morador do Estácio?

Na verdade, ele vem do medo que eu sentia dos sambistas. O Estácio era o centro nervoso do samba. Eu queria contar um pouco daquele Estácio, queria falar sobre o bairro, a música e os negros no Brasil. Mostrar um Brasil ainda mais difícil para o negro do que o país que conhecemos agora. O samba começou a se popularizar na década de 20, mas sambista não tinha o mesmo status que hoje em dia, não. A valorização começou bem mais tarde, em meados da década de 60. O preconceito contra o negro e suas manifestações era aberto. Ninguém respeitava umbanda. Havia perseguição da polícia que, não raro, enquadrava todos por vadiagem. Se até hoje o negro é perseguido, imagina há 40 anos.

Por que sua família saiu do Estácio, bairro central do Rio, para a Cidade de Deus, na época classificada como zona rural?

Foi o sonho da casa própria. Meu pai queria sair do aluguel, por isso nos mudamos, numa trajetória diferente dos outros moradores da Cidade de Deus, que haviam sido removidos de favelas no Centro. Para mim foi uma festa. A Cidade de Deus parecia mais uma estrada empoeirada, mas tinha mato, rio. Fui morar na roça, subir em árvore, brincar o dia inteiro com a molecada, a melhor das infâncias.

Sua formação foi diferente dos outros meninos da Cidade de Deus?

Muito, pois não precisei ajudar a sustentar a família. Minhas irmãs mais velhas completaram o secundário e foram trabalhar. Eu pude fazer Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro. E a vida é muito diferente para quem pode estudar, o ensino sempre traz algo de bom. Até uns anos atrás, eu sempre me encontrava com ex-colegas de colégio da Cidade de Deus. Quase todos tiveram que trabalhar muito cedo. Hoje, há campanhas para manter as crianças na escola, mas é raro encontrar projetos sociais que não privilegiem o aprendizado profissionalizante. O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré é um dos poucos a dedicar-se essencialmente a estimular os meninos pobres a fazer faculdade. Quem vai para a universidade sempre melhora de vida.

Como a sua vida mudou depois do lançamento de Cidade de Deus?

O livro foi bem recebido, mas nem chegou perto do sucesso do filme, que teve mais do que a boa direção do Fernando Meirelles – um elenco extremamente talentoso. Foi o filme que botou a Cidade de Deus no mapa do planeta. Até hoje eu estranho, porque o livro acabou sendo lançado em 30 países, teve mais de 25 traduções. Aí, estou na Finlândia participando desses lançamentos e vem uma pessoa falar que leu a minha história. Tudo isso me levou a deixar o Magistério, os convites foram surgindo, outros tipos de trabalho também. Gosto de criança, sinto saudades do Magistério, porque sala de aula rejuvenesce.

O reconhecimento da chamada cultura da periferia veio a partir de Cidade de Deus?

Naquele momento estavam surgindo o Afroreggae, o Rappa, Seu Jorge. Não havia música vinda das comunidades. Hoje, o pessoal está se expressando e entrando no mercado, que antes existia muito distante da manifestação da periferia. Certamente houve uma inclusão cultural da periferia depois de Cidade de Deus. No entanto, a inclusão social e econômica não acompanharam essa inclusão cultural. Continuamos um país sem profissionais liberais negros, o que só vai se modificar com um investimento político maciço em educação.


Como é viver da escrita?

Em 2004, fiz o roteiro de Quase Dois Irmãos, com Lúcia Murat. Atualmente, tem o romance, mas além dele estou trabalhando no roteiro de Beirando a Maré, que Lúcia Murat deve começar a rodar este ano, e A História de Dé, de Breno Silveira, cujas filmagens serão em 2007. A literatura é um ofício muito solitário. Roteiro é divertido, muda o tempo todo, tem muita gente para mexer. Ou é a locação que fica muito cara ou é o ator que não acha sua fala verossímil. É bom porque se trabalha em equipe, embora seja arte de segunda. Roteiro é treino, filme é que é jogo.

(Leia a entrevista na íntegra, na edição nº 70 da Revista Continente Multicultural. Já nas bancas)


Olga de Mello é jornalista.

Um pouco de fuzarca


Vou ser presidente do seu corpo.
Governar,
Anarquizar
Minha plataforma é o prazer total
Isso é melhor e não faz mal, já disseram!

Faço comício no hospício
Jorro petróleo por qualquer orificio
E sem demagogia, por pura alegria
Quero o povo feliz

Meu amor, por favor
Vote em mim
Prometo que se eu ganhar a eleição
Só vou dar poder ao seu coração

Rita Lee, Roberto de Carvalho e Ezequiel Neves

Porque, como dizia Oscar Wilde, a vida é muito importante para ser levada a sério.