20.3.07

Bonitinhos também fazem filminhos ordinários


Não há o menor risco de eu me dirigir ao cinema para ver "Os 300 de Esparta". Na televisão são outros 500. Vejo muita porcaria por TV a cabo ou em DVD. Muita mesmo. Ultimamente, minha especialidade são filmes modernosos de pancadaria estrelados pelo inglês Jason Statham. É verdade que durmo na metade de todos ou fico indignada com o nível de bestialidade do roteiro. Mas são visíveis, até porque o ator funciona. Coisa que não acontece com os Van Dammes - este até que é simpático - ou com o incomparável em termos de canastrice Steven Segal, que deveria ganhar um Framboesa de Ouro pelo conjunto da obra.
Outro dia, na praia, assisti a cenas de pugilismo reais. Horrível, dois rapazes trocando socos. Brancos, um, nitidamente de classe média, bem nascido, de uns 19 a 23 anos, e o outro, mais jovem, adolescente, provavelmente de classe média baixa. O motivo da pancadaria deve ter sido fútil. O mais velho fez pose de boxeur inglês e deu dois socos no rosto do guri. Naturalmente, veio a turma do deixa disso, o musculoso ainda ameaçou pegar o garoto no calçadão até que o mais moço foi-se embora da praia. Ridículo, detesto esses showzinhos de testosterona,que podem acabar muito mal.
No cinema tem mais graça. Primeiro, porque soco tem som, faz barulho. Segundo, porque os protagonistas sempre soltam tiradas irônicas para compensar a selvageria com que distribuem pancadas ou tiros.
Os "300 de Esparta" deve ser daqueles épicos que vieram na onda de "Gladiador", violentos e vigorosos. O único que deu certo foi mesmo "Gladiador". Nem o próprio Ridley Scott conseguiu repetir a façanha no sofrível "Cruzada". Acabei de descobrir que "300", além de Rodrigo Santoro apresenta Gerald Butler, o escocês exuberante, que os leitores do Globo on line já arrasaram como canastrão só porque ele, mais do que Rodrigo, entusiasmou a mulherada entusiasmada na pré-estréia do filme, no Odeon. Butler ganhou minha total simpatia ao estrelar "Game of their Lives", um filminho sobre a seleção americana de futebol que eliminou a inglesa, em Belo Horizonte, na Copa de 50 (feito até hoje lembrado como a maior zebra das copas do mundo). O melhor que fez foi o "Querido Frankie", um pequeno e belíssimo filme britânico.
Mas nem Butler, nem o menino Rodrigo vão me fazer enfrentar Esparta! Esse só na televisão.

2 comentários:

Jôka P. disse...

Essas pancadarias que você chama super bem de "shows de testosterona" foram moda na década de 50, quando reinava em Copacabana um pessoal conhecido como Turma dos Cafajestes. Você certamente já cansou de ouvir falar nisso, através de parentes mais velhos. Eram rapazes ricos e bem nascidos que se sentiam o máximo socando a cara dos outros e invadindo festinhas.
O pior é que muitas mulheres amavam isso, ficavam loucas de tesão. Faziam fila pra dar pra eles.
Papel triste.

Olga de Mello disse...

Ah, eu me lembro de minha mãe falar sobre os cafajestes, que eram os antecessores dos pitboys atuais. Quando eu era menina e adolescente, os brigões eram os Gracie e a turma do jiu-jitsu, vc se lembra? Tinha briga no jornal, era certo encontrar um Gracie no meio.
Depois, eles viraram budistas - ou amadureceram. Hoje pregam vegetarianismo e tranqüilidade, embora continuem vivendo de artes marciais.