5.3.07


"Anotações sobre um escândalo", de Zoe Heller, foi um dos livros mais instigantes que li em 2006. "Notas sobre um escândalo", de Richard Eyre e do roteirista Patrick Marber (agora entro na onda de dar o crédito ao roteirista por filmes, depois da briga do Iñarritu e do Arriaga), foi um dos filmes mais instigantes que vi em 2007.
Tenho a maior tranqüilidade em fazer tal afirmação, pois é certo que "Notas" é daquelas histórias que ficam dentro da gente e que serão ofuscadas por tantos outros lançamentos ao longo do ano inteiro. O ano passa rapidamente, porém as lembranças do primeiro semestre se embaralham quase sempre e, na hora de montar as listinhas de melhores filmes, os críticos geralmente se esquecem do que surgiu antes de setembro. Imagine o que vem antes de julho.
Ao contrário da maioria dos espectadores, não vi nada de espetacular na Cate Blanchett, uma atriz com tudo para se tornar diva, mas que vem se tornando a Jessica Lange da hora, repetindo as mesmas caras e bocas em todos os personagens. Se são esfuziantes, parecem-se com a Katherine Hepburn do "Aviador". Se são sofridos e contidos, viram a protagonista do filme que ela fez com o Giovanni Ribisi na Itália, Paraíso. Sempre bem, mas não mais brilhante como foi em "Elizabeth" ou em "Oscar e Lucinda", ela se curva à força de Judi Dench, a vilã e condutora da história. A velha dama malvada é sempre diferente a cada filme. Na indicação do Oscar do ano passado, ela era a simpática e libertária "Mrs Henderson", criada por Stephen Frears e Martin Sherman. Totalmente diferente da recalcada professora Barbara, homossexual enrustida, fascinada por uma jovem colega, Sheba, casada com um homem 20 anos mais velho. A interpretação também é outra para a aristocrata pavorosa da última versão de "Orgulho e Preconceito" para o cinema.

O filme não se limita ao show de Dame Dench e aos bons desempenhos do elenco (além da Blanchett, Bill Nighy, maravilhosamente ridículo, Philipp Davis, como um patético professor apaixonato por Sheba), mas à reflexão sobre a velhice, a solidão, as paixões que não enxergam as diferenças etárias (Sheba pelo marido, no passado, Sheba por um aluno menor de idade, Barbara por Sheba, o professor por Sheba), o tédio do cotidiano e a teia de mentiras armada para conquistar amizades ou amores. Como pano de fundo, o profundo desprezo da velha professora pelo sistema educacional inglês e pelos alunos, expresso em suas primeiras observações.



"A Rainha" de Helen Mirren é um trabalho magnífico, pois imaginar uma personagem contemporânea, sobre a qual pouco se conhece, num mundo de culto à superexposição pessoal é uma façanha. Discordo, no entanto, da visão de Frears/Martin Sherman para o episódio da morte de Diana Spencer. Apresentado como o fim de uma era de discrição e o início da idade moderna, pop, barulhenta e superexposta, ele encobre o que aqueles elogios fúnebres realmente significavam: a venda extraordinária de jornais e revistas, a formação de público leitor e audiência nas emissoras de TV. Mas é um filme interessante. Com outro daqueles elencos perfeitos como as produções britânicas costumam apresentar.
O ano começa bem para as atrizes, todas com porte de Bette Davis.

2 comentários:

maria rezende disse...

Oi Olga,
errata de erro vexaminoso tem que ser boa, né, pra compensar quem foi atingido pelo erro... =) Ainda não vi Notas sobre um escândalo, mas vi A Rainha e achei um bom filme pra ver na tv: interessante, mas não valeu o esforço de dirigir, estacionar, fila pro ingresso, fila pra sala, barulho de pipocas e sacos, e um ar condicionado gelaaado... Aliás, cada vez mais difícil ir ao cinema, né? beijo, maria

Olga de Mello disse...

Tá realmente ficando insuportável, Maria. Quando posso, dou uma escapada e vou durante a semana. é vazio e sem celulares tocando o tempo inteiro.