30.4.08

Aonde você estava em maio de 68?


Eu me lembro de meu pai querendo acabar o filme com esta foto, me mostrando com meu vestidinho quadriculado amarelinho, com alcinhas e bordado inglês. A cara amuada é porque fui interrompida em minha brincadeira com bonecas de papel para posar.

Em 1968, eu tinha sete anos e os passeios do colégio à fábrica da Kibon foram cancelados porque os "estudantes", aquela corja comunista, iriam apedrejar ônibus escolares que passassem pelas ruas do subúrbio. Nem eu acreditei que os garotos fossem tão mobilizados assim, que fariam campanas nas portas das indústrias, saberiam o calendário de visitas de colégios e estariam a postos, prontos a ferir criancinhas do curso primário.
Em 1978, eu ainda estava para entrar na faculdade, e só queria mesmo era dançar discoteca depois da praia.
Em 1988, tive meu primeiro filho.
Em 1998, eu só queria sobreviver.
Em 2008, acho muita graça desses milhares de relatos sob diferentes óticas a respeito dos herdeiros de 68. A direita festiva lamenta a manipulação socialista das mentes puras dos jovens, enquanto dardeja ataques à suposta reeleição urdida pelo golpista Lula, esquecendo-se, naturalmente, que a prática clientelista foi do FHC, ao "aproveitar" a mudança legislativa que permitiu sua permanência no poder por oito anos.
Eu nunca vi um governo ser alvo de tantas críticas apaixonadas quanto o atual. Não que não tenha defeitos. Tem, e muitos. Agora, é pecado mortal o cara não ter completado os estudos? Ele bem que poderia fazê-lo, claro, mas não quis. Dizer que o homem é burro e ignorante é pura cegueira mental. Ninguém se torna presidente do mais importante sindicato da América Latina por injunções políticas. Lula fala bem, é carismático e sabe dominar como poucos uma platéia. Fala erradinho, conta uma piadinha, conquista todo mundo. E, para desespero dos adversários, pegou o País no momento certo. Pela primeira vez a direita se mostrou totalmente incompetente na escolha de um representante.
Agora, no entanto, pode se armar à vontade, com tranqüilidade. Porque o PT, entre todos os desastres que perpetrou, não conseguiu ainda um nome para a sucessão. E, da mesma maneira que só acredito na vitória de meu time quando o juiz pega a bola e sopra o apito final, ainda não me convenci que Lula seja um antidemocrata.
Porque até a direita mais aguerrida pode ser democrática.

6 comentários:

Anônimo disse...

Em 1968, eu não tinha ainda nascido. Agora em 2008, tento acalmar credores... Quanto ao governo Lula, concordo contigo: "eu nunca vi um governo ser alvo de tantas críticas apaixonadas quanto o atual". E acho que isso teve dois efeitos poderosos: serviu para aflorar preconceitos que alguns faziam questão de dizer que não mais existiam no país e ajudou certos ingênuos (eu, inclusive) a enxergarem a politica institucional brasileira como ela realmente é. Um abraço.

Jôka P. disse...

Em 1968 eu era uma menino louro e deslumbrantemente lindo, de 10 anos de idade, que deixava a todos sem fôlego com a minha presença encantadora.

Jôka P. disse...

A grande maioria do povo brasileiro é encantada com o Lula porque se vê nele: baixinho, semi-analfabeto, cachaceiro e com aquela cara de pobre.
É batata.

Olga de Mello disse...

Jôka, vc é um pândego!

Anônimo disse...

Olguinha, então é isso: você era linda em 1968, 1978, 1988, 1998 e em 2008 continua com a mesma aura que papai lhe deu. Ou melhor, mamãe, de quem você não se intimidou em nascer cópia.

Saudades...

Concordo com todas as considerações sobre o Governo Lula.

Algum dia a gente tinha que ganhar uma partida, não é mesmo? (Falo da esquerda, não do Flamengo, quero deixar claro...)

Olga de Mello disse...

Rosa, minha filha, que HONRA!!!!!