28.11.11

Eu odeio o sistema bancário que aprisiona todos os assalariados em contas e instituições que não nos atendem e só servem para aumentar a pressão, o índice de estresse e os fios de cabelos brancos.

Em algum momento de minha existência, tive uma conta em um banco, hoje incorporado por outro, maior, internacional, imenso. Fechei-a há alguns anos. Recentemente foi aberta uma conta-salário no banco internacional, imenso para mim. Tentei fazer a chamada portabilidade _ ô, nomezinho ridículo _ de meus proventos para outra conta. Não consegui. O banco dá uma senha a cada um de seus correntistas. Esqueci minha senha. Telefonei para reavê-la. Não consegui. Por quê? Porque eles têm cadastrado um número fixo de telefone que não existe mais. Mas que continua constando como meu. Como resolver? Indo à agência, algo que já fiz, pelo menos cinco vezes.
Em tempo, tenho contas em outros bancos, resolvo absolutamente TUDO nos caixas eletrônicos e jamais recebi senhas numéricas desses bancos.
O banco me manda torpedo perguntando se ativei minha conta.
O banco não me dá a senha do cartão por telefone porque meu telefone não é mais o "de final 2428, senhora". Na agência do Santander, da qual sou habituéé, vivo sendo barrada na porta e brigando com os guardas, já que só vou lá porque o banco não me adianta a vida, ao contrário, me atrasa. E muito.
Eu odeio que denigram o nome de Van Gogh, utilizando-o em sua publicidade. Van Gogh não merecia isso. Nem eu usar tal banco, cujo nome apaguei daqui para não fazer publicidade fácil. Odeio o sistema bancário.

26.11.11

O ninho se esvazia


O filho de Woody Allen e Mia Farrow, Ronan, alça voo solo, aos 23 anos, como assessor de Hillary Clinton. Não fala com o pai há 18 anos, desde o casamento de Allen com a enteada Soon-Yi.
Continuo admirando o Woody Allen cineasta, maravilhoso autor que deu a Mia Farrow a chance de estrelar diversas de suas obras, entre eles a protagonista de Simplesmente Alice - uma dondoca que abandona o luxo novaiorquino para dedicar-se a obras sociais no Terceiro Mundo. A atriz deixou a carreira de lado depois da separação de Allen, faz filmecos aqui e ali - alguns ainda muito interessantes, como Rebobine, por favor, de Michael Gondry, mas, aparentemente, preferiu continuar adotando crianças e se dedicar a elas.
O Woody Allen que casou-se com a enteada, no entanto, me incomoda. É muito estranho imaginar quantos homens se envolvem com jovens, sem qualquer freio ao desejo. No entanto, isso acontece - e nem sempre traz felicidade. Há ligações forçadas que não acabam em casamento, como o de Soon-Yi e Woody Allen. Há meninas estupradas por homens que não consideram desrespeito a violação de corpos jovens.
Uma qualidade não pode ser negada à Mia Farrow. Ela jamais acusou a filha de seduzir o marido, ao contrário. Ficou na história como uma amalucada, indignada com a traição. Já ele, com sua genialidade, "limpou" o passado.
Como Allen, muitos artistas tiveram vidas com passagens escandalosas. Lord Byron, Shelley, Rimbaud, Verlaine. Deles ficaram obras para a humanidade, não os exemplos pessoais.
Ronan Farrow sobreviveu a traumas e escândalos, talvez incitado pela boa genética - a força da mãe e a inteligência do pai. Vai demorar, no entanto, para ele mostrar seu valor sem que se lembrem do ninho de onde saiu.
Isso tudo me veio, lendo a história de Ronan, porque minha filha caçula chegou à maioridade.
Todos os quatro estão alçando voos, que podem me agradar ou não - e alguns não me agradam em nada.
Todos os quatro estão inciando a trilha de seus caminhos.
Saudáveis, trôpegos, desatinados, obstinados, ultrapassando pelas próprias pernas, os percalços do caminho.
Como é bom acompanhar a saída do ninho ao mesmo tempo em que a vida apresenta tantas novas etapas a serem galgadas!

20.11.11

Dor

É em momentos duros que este blog retoma seu tema, o da grande arena em que convivemos, nós, os moradores da metrópole.
Fico triste com mortes como a do filho de Carlinhos de Jesus porque essas são as que nos chegam, os assassinatos de gente "conhecida", que nos chocam e se tornam quase tão comuns quanto ter alguém próximo doente de câncer ou dengue. E, claro, sinto a dor da perda de um filho, algo que ninguém deseja ao outro, e que, tragicamente, se torna banal com a violência urbana de hoje se ombreando ao que se praticava na Idade Média.

18.11.11

Cabelo, cabeleira, cabeluda







Sonho com trabalho.





E com realizações geniais pero no mucho.





Com tanta gente raspando a cabeça por conta de câncer, sonhei que a Jennifer Anniston (imagina, detesto a Aniston) ia fazer um filme igual àquele da Cameron Diaz em que ela era mãe de uma menina com leucemia. Enfim, lá na sala lá de casa eu dizia que a Anniston tinha que raspar cabeça e leiloar os cabelos, revertendo a renda do leilão pro INCa. E também que precisava que uma fábrica de shampoo entrasse na campanha, reservando dois reais de cada unidade vendida ao INCa. E ainda apresentava a Jennifer Anniston pra um amigo meu que é assessor de imprensa de um fabricante de shampoos.










De toda a minha ideia genial, pela qual eu nada ganharia em troca, só prestígio, falta apenas eu conhecer a Jennifer Anniston e expor minha genialidade. O resto tudo é possível.

17.11.11

Cadê meus óculos?



Perdi meus óculos. Uso lentes de contato, mas a preguiça me impede de colocá-las de manhã cedo. Então, enfio "a cangalha na cara", como dizia minha mãe, revoltada porque minha miopia escondia o verdinho de meus olhos.
No dia em que a miopia foi comprovada pelo exame oftalmológico, lembro de Mamãe triste, à espera do elevador, quando saímos do consultório. "Você vai esconder o que tem de mais bonito, que são seus olhos". Conformada, passei a chamá-los de "bonitinhos, mas ordinários".
40 anos mais tarde chegou a presbiopia, a popular "vista cansada", que me obriga a uma ginástica constante de botar ou tirar óculos. Se estou de lentes de contato, tenho que pegar óculos para leitura. Se estou de óculos de grau, comuns, tiro para ler de pertinho, igual meu pai fazia.
O grande problema é a adaptação a tantos novos movimentos. Nunca sei aonde enfio os óculos que tirei do rosto para ler. Até porque cometi a estupidez de mandar fazer óculos de armação quase transparente. E meus olhos menos míopes (caiu meio grau, agora só tenho uns três graus de miopia) não distinguem a maldita armação contra qualquer fundo. Então, tenho mais dois pares de óculos, de armações bem coloridas, mas com menos grau, apenas para encontrar os que me serviriam perfeitamente atualmente - se eu tivesse ideia de onde eles estão!!!!!!!!!!!
Envelhecer exige exercícios constantes de memória - e não é que a gente não consiga mais se lembrar de nada, É QUE TEM COISA DEMAIS PRA GENTE SE LEMBRAR!!!!!
Pagar contas, comprar comida pra um bando de lobos famintos e indolentes, que algumas vezes conseguem se encaminhar até o supermercado (quando a fome aperta) para comprar víveres perecíveis na primeira refeição, marcar médico para toda a alcateia, trabalhar, frequentar reuniões de condomínio (esta é um dos primeiros rituais de passagem para a vida adulta; você se torna um ser humano completo e responsável a partir da primeira reunião de condomínio), lembrar de organizar vaquinha natalina ou de aniversário para 1) a moça que limpa a sala do escritório; 2) seus subordinados no escritório, arranjar dinheiro para pagar as vaquinhas, reservar fundos para os presentes de Páscoa, aniversário e Natal dos porteiros do prédio, visitar os parentes idosos e adoentados, telefonar para os amigos idosos e adoentados de seus falecidos pais, que você considera como parentes idosos e adoentados, conversar (ao telefone, claro) com os amigos, ir ao aniversário dos amigos em churrascarias e restaurantes (nunca em boates, porque esse povo envelheceu e não gosta mais de dançar), às vezes em casa, comprar presentes de aniversário e Natal, comprar presentes de casamento para os filhos dos amigos (que se casam mais de uma vez!!!!! Antigamente era só uma vez, mas agora há vários casamentos. Haja presente!!!!), ler 800 livros para se manter atualizado, ler o jornal, ver os filmes do momento, ver as séries do momento, dormir.
Não dá tempo para ir à praia, ao cinema, fazer caminhada ou dieta, nem manicure - aquelas obrigações de manutenção própria, que, vez por outra, até consigo cumprir, mas apenas em momentos especiais e bissextos.
Quando eu era jovem, não tinha IPTU pra pagar. Contribuía simbolicamente com os gastos da família, pagando contas de gás e luz. Passar no banco para fazer os pagamentos era minha única obrigação, além de lavar a louça e fazer minha cama. Agora, depois de levar uns dez anos ensinando a alcateia a escovar os dentes cinco vezes por dia e a tomar ao menos um banho diariamente, tenho que brigar para que arrumem a bagunça que produzem na casa toda.
Com a mente tão dividida para atender à agenda imaginária, ainda querem que eu encontre meus óculos?
Estou com dor de cabeça e com os óculos mais fracos.
Ah, claro, e estou ficando surda. Realmente. Tem um zumbido que não deixa meus ouvidos, um grilo cricrilando, estridulando, estrilando em minha cabeça eternamente, igual minha mãe se queixou a vida toda.
Para mais resmungos sobre a vida pré-velhice, é bom ler Nora Ephron. "Meu Pescoço é um Horror" era sobre esse início de decrepitude, visto com excelente humor. Mas "Não me Lembro de Nada", que a Rocco acaba de publicar, é bem mais doloroso. Será que vou virar uma velha tristonha?

16.11.11

Este estranho ano se esvai aos borbotões.
Minha família amadureceu, tomou rumos novos.
Enxergo cada vez menos e melhor. Agora não vejo bem nem de perto, nem de longe, mas a miopia diminuiu - em todos os sentidos.
Não me limito a acompanhar o crescimento de meus filhos, almejo crescer também.
Eu não imaginava o quanto o segundo tempo poderia ser empolgante.

3.11.11

O que não entendo

Por que a pequena burguesia tem tanta revolta em relação ao Brasil de hoje?
Nossos aristocratas - banqueiros e industriais -, esses comemoram. Em silêncio, como convém à aristocracia.
Um novo bolsão de consumidores emergiu.
Há recuperação do poder de compra e empregos.
A aristocracia se congratula.
Mas os burguesinhos sofrem com a troca de mandatos.
Porque a corrupção continua igualzinha. Só surgiram novos corruptos.
Vez por outra, os aristocratas posam de chocados com a situação da nação.
Chocados com o número de mães solteiras, os casais gays, o consumo de drogas...
Chocados porque seus privilégios começaram a ser usufruídos por toda a sociedade.
Aí, promovem passeatas por aqui e por ali, protestando contra a desordem social.
Não sou das que vêem o Brasil com lentes rosadas. O País continua corrupto, injusto, desigual. Mas há uma pequena parcela da sociedade que não sofre mais com tanta mazela. Ascendeu socialmente.
Engraçado que ninguém sugere à burguesia que se trate no SUS, mas sim ao Lula. Engraçado que essa burguesia jamais se propôs a impedir o sucateamento da saúde ou da educação públicas.
Ninguém reclama do aumento dos intermediários na vida atual: administradoras de imóveis, recreadores em festas infantis, despachantes ou headhunters - "facilitadores" que se impõem no cotidiano.
Ninguém reclama das perdas de capacidades, da dependência dos facilitadores, do acomodamento que se torna subserviência tecnológica.
Vamos botar a mão na consciência e refletir o quanto gastamos com inutilidades antes de resmungar contra a perda do status. Porque só está havendo uma nova acomodação dos nossos papeis sociais. Tem mais gente se igualando economicamente. Tem pobre recuperando a dignidade que a moradia modesta e o trabalho humilde conferiam. É difícil comemorar isso?
Eu não entendo é a vontade férrea de cristalizar a desigualdade como se fosse um direito divino.