21.12.16

Barbies

Eu sei q vende jornal, dá mais audiência a site, o que for. Mas, na boa, coleguinhas, a que ponto chegamos? 
Não é só a chamada ruim ("Com seios enormes, Kyllie levanta especulações?" Melhor, talvez "Seios enormes de Kyllie provocam/geram especulações") nem o texto mal traduzido, decorrente, muito provavelmente da pressa em publicar ("A admissão de que ela encheu seus lábios com 17 anos significou como um menor, um pai teria de assinar em cima deles"), mas, poxa, é nisso que se resume o noticiário de gente famosa hoje?
Acho até que a matéria tem um monte de boas pautas embutidas - o exagero das plásticas, a objetificação das mulheres, a "barbierização" das mulheres. Eu me lembro de uma matéria no Ela, assinada, se não me engano, pela Sonia Biondo, que usava uma imagem da Mulher Maravilha e perguntava: "Como alguém pode salvar o mundo vestindo um collant tomara-que-caia?".
Era possível fazer matérias inteligentes para discutir o papel feminino e não deixar de lado a vaidade, a besteirice que qualquer pessoa adora. A culpa não é dos jornalistas, não, é de um sistema que tritura o profissional e obriga todo mundo a publicar qualquer bobagem pra encher tela/página.


http://oglobo.globo.com/ela/gente/com-seios-enormes-kylie-jenner-levanta-especulacoes-sobre-implante-de-silicone-20677907#ixzz4TTe1NnX7

17.12.16

Pensando tanto, tanto...

Este blog começou como um registro das crônicas  no finado Multiply. Era quase tudo resmungando da cidade, num tempo em que eu ainda era um bicho praieiro. Quase se tornou um registro do cotidiano, mas aos poucos a faceta confessional desapareceu. Vieram muitas ocupações, diversas cada uma de si, compartimentei alguns escritos pra lá e pra cá. O Facebook matou essa registrância toda.

Penso em fazer um site com todos os arquivos, penso no custo baixo disso, em chamar um webdesigner (custo alto disso), em esperar meu primogênito estar habilitado para desenhar tudo... A vida em exposição é tão cansativa.

E o blog foi morrendo, arquivando apenas um monte de brincadeiras sobre roupa de gente que vive da exposição.

Não sei que rumo tomará, se é que existe algum rumo ou necessidade de subsistir nesse universo virtual.
Afinal, o que gosto mesmo de fazer é de bater papo, o que exercito o tempo todo no Facebook, onde as escaramuças se avolumam a ponto de me tornar temerosa da existência internáutica.

A verdade é que é chato ter tanta trabalheira pra ser pouco lida e muito esquecida.

Chove muito em São Sebastião, a temperatura caiu e ficou agradável, mas o supermercado, o trabalho e nada além disso me espera.

Do Facebook, a vida sub/in/e/consciente

Sonho doido. Chego de táxi à Barão da Torre, onde vivi a maior parte da minha vida. Tenho, aos pés, um pacote imenso de livros. Tomo um susto ao ver o preço da corrida, R$ 72, pago apenas 70, tudo o que tenho comigo. Salto do táxi furiosa, largo lá os livros, e sou agarrada por um homem que me belisca dizendo que é um assalto. 
"Ih, moço, deixei tudo o que tinha com o táxi, foram 72 reais, imagina!",
O assaltante continua beliscando meus dois braços e dizendo para eu tirar tudo o que tenho na bolsa. Medito se vou lhe passar meu combalido celular... e chega o taxista, que derruba o ladrão, tascando o pacote de livros em sua cabeça.
Ou seja, a literatura fortalece e protege nossa integridade... 








Meu avô Candonga acordava antes das 6 da manhã, todos os dias. Eu, de férias em Florianópolis, não conseguia entender o que ele tinha que fazer tão cedo. Mas tinha. Saía, comprava pão quentinho, ligava o rádio para ouvir notícias. Não incomodava ninguém, exceto minha avó Júlia, que fazia café para os dois tomarem juntos. 
Ele morreu num 15 de novembro, num dia de eleição. Corri pra seção eleitoral, meus pais conseguiram furar a fila, depois fui levá-los para o aeroporto. Era minha primeira eleição e eu me senti completamente órfã, num dia nublado que passei na praia, tristonha. E hoje, eu me lembrei do Vovô Candonga, porque me levantei cedinho e fui votar junto com outros velhinhos que despertam pra vida nas primeiras horas do dia. 
Envelhecer é pular cedo pra viver. (15 de novembro)



Conheci seis mulheres que foram espancadas por ex-maridos. Uma jamais admitiu, mas passou duas semanas de óculos escuros informando que caíra "em cima da televisão", o que deixara marcas nos seus olhos. Outra, deu queixa na Polícia, mas acabou fazendo acordo e mantendo com ele boa relação, após a separação. Uma matou o agressor com um tiro certeiro - e se livrou de processo convencendo o delegado encarregado do inquérito de que a arma disparara acidentalmente (ela me contou que só deu certo o engodo depois que aceitou transar com o policial). Duas permaneceram ao lado dos companheiros até a morte. Outra se suicidou. 
Que sorte a minha de ter sido criada por um homem bom, que jamais levantou a mão para mulher alguma.
2 de julho (10 de outubro)




O Rio se despedaça lentamente, como um doente sofrendo de males perenes e diversos, que esperam uma baixa de imunidade generalizada para surgirem ao mesmo tempo, destruindo as forças, a alma. Na cidade maquiada se abrem feridas, o asfalto se rompe, a violência explode, dizimando a população. Inertes, pagando custos altíssimos, assistimos ao espetáculo da degradação. (26 de junho)




Atendimento em ambulatório hospitalar. A atendente pergunta o nome de minha mãe, minha idade, ocupação e religião. Eu falo, encabulada, "atualmente, não professo, mas já fui católica". 
E ela, cúmplice: "Logo vi que a senhora era inteligente. Todo mundo que chega aqui e fala assim, bem, mais elegante, sabe, não tem religião. Isso é pra essa gente, sabe?".
E eu, completamente sem graça: "Não, senhora, é que eu não fui dotada da graça da fé...". Mas ela, triunfante: "Gente como nós entende que essa coisa é muito ultrapassada, né?". (17 de março).



   
O taxista me encara pelo retrovisor e pergunta: "Posso fazer um desabafo com a senhora?". Eu, animada, pensando que lá vinha discussão política, assenti. E ele desfiou sua crise no casamento, a mulher estressada por ter que cuidar da mãe, doente, pediu um tempo. "Senhora, nós sempre nos demos bem. Ontem mesmo estivemos assim, sabe, nos relacionando. E depois, ela me pede um tempo". 
E eu, sem o menor treinamento psicanalítico, ouvi as tristezas do moço da Praia do Flamengo até o Centro. Aconselhei que buscassem ajuda especializada, indiquei hospitais públicos com fama de bom atendimento psicológico/psiquiátrico. E ainda paguei a corrida.
Mais uma vez, comprovo a máxima de Otto Lara Resende: dois brasileiros que se desconhecem constituem a hipótese de íntima amizade depois de cinco ou dez minutos de conversa.




Em 1º de abril de 1964, eu tinha 3 anos. Um dia interessante, porque minha mãe não foi trabalhar. Meu pai, sempre temendo perder emprego, se mandou pra Cidade. O dia passando, Mamãe, nervosa, resolveu que íamos pra casa da irmã dela, Tia Zélia. Andamos até o Posto 6. Tia Zélia estava agitada, séria, Mamãe também. No banheiro, peguei as maquiagens de minha tia para brincar. Quando meu pai chegou, no meio da tarde, fui a seu encontro, toda lampeira! Ele mal me olhou, dizendo apenas "Estás linda, filhota!", voltando para a conversa grave com os adultos. Fiquei muito decepcionada. Naquele dia em que ninguém me deu bola. 
Um golpe de estado faz exatamente o mesmo com o povo, que é tratado como criança arteira, nada mais.




Parte superior do formulário


Não gosto de balas, nem de doces em geral, sequer chocolate. Criança, não comia nada disso, uma tristeza mesmo. Meus pais nunca me deram doces, acostumei meus filhos longe do açúcar também - embora eles tenham acessos de formiga, vez por outra.

Cosme e Damião, pra garota da Zona Sul, já era sem graça por si só, mas piorava quando me davam saquinhos de confeitos na rua. Eram todos confiscados por Maria, minha zelosa babá, temerosa que estivessem "envenenados com macumba". Engraçado é que ela se comprometia a provar todas as guloseimas, reservando para mim, apenas, as duas únicas de que eu gostava: cocada e cocô de rato. À noite, meu pai se regalava com as sobras dos doces de Cosme e Damião, minha mãe também dava uma beliscada. 

E eu, só de olho comprido, sem entender como tanta gente se estapeava por aquelas delícias todas. 

O tempo passou, descobri appfellstrudel, pastéis de Belém e Santa Clara. Deixei de gostar de cocada, de cocô de rato, mas ainda sou louca por algodão doce, daqueles que botam a cara da gente toda caramelizada. E virei um doce de pessoa, né? (27 de outubro)