O pouco que pude dizer a seu José Gomes foi aonde queria que me deixasse. Imediatamente, ele falou mal
1) dos taxistas que fazem fila à porta das casas de saúde;
2) dos taxistas que fazem fila nos shoppings;
3) dos taxistas que preferem ir para a fila dos pontos de táxi em vez de irem para casa à noite ver a família.
A casa onde vive com a mulher e o filho de seis anos é muito confortável, 247 metros quadrados, cinco quartos, duas suítes, uma apenas para relaxamento, no segundo andar. Tem piscina, canil. Quer vender a casa, na Estrada do Mendanha, em Campo Grande.
"Quer comprar? Ficou muito grande para mim, só eu, a mulher e o filho". Aproveito uma brecha de respiração dele e pergunto se tem outros filhos. Tem, do primeiro casamento. O mais velho não é seu filho biológico e só veio a saber disso aos 26 anos, quando a mãe contou, durante o processo de divórcio. Há três meses, o pai biológico procurou o filho. É paraplégico. "Muita cara de pau aparecer lá depois de tantos anos, quase quarenta anos, na festa de aniversário de minha neta. Entrei na festa às 7, saí às 7 e meia, a mãe dele estava lá e eu não falo com aquela vigarista. Depois que eu me separei, soube que era corno, sabe, muito corno. Ela me botou tanto chifre que se fossem esculpir um chifre com o tamanho dos casos dela dava para ir e voltar do Nordeste no mesmo corno, entende? Eu dei tudo pra ela, um apartamento na Tijuca e ainda tive que pagar 600 reais de pensão durante tantos anos. Consegui tirar a pensão com o adevogado, senão estaria pagando 1.135 reais agora. Ela tirou o marido da vizinha, eu consegui tirar a pensão dela. E reconstruí a vida com minha mulher, tive outro filho, pago tudo pra ele, colégio, caratê, futebol, inglês, olha aqui o plano de saúde".
Mostra o recibo, chegamos a meu destino. Confidencia que é aposentado, o táxi é um bico. E a última revelação: "Depois desse menino, fiz vasectomia".
9.4.07
6.4.07

Eu costumava dizer, quando jovem, linda e absoluta, que não sentia saudades do passado porque a melhor época da vida é a atual. Minha certeza mudou. A melhor cabeça do mundo é a que temos hoje, com maturidade e ceticismos gravados nos neurônios, mais compreensivos com as contradições e injustiças do cotidiano. Tempos belos passaram rapidamente demais e se fixaram em páginas de papel escuro, enfeitados com fitas e flores, cobertos por fotografias com legendas em caligrafia esmerada, amarrados na memória.
Sinto saudade da esperança, da alegria incontida, do destemor da juventude, quando não havia pudor em se beijar a boca de desconhecidos publicamente, embora fosse impensável ir para a cama com esse desconhecido a quem jamais iríamos encontrar novamente. Na maturidade, não se beija a boca dos outros em público, mas nos enlaçamos com desconhecidos por uma só vez, sem qualquer necessidade de que o mundo saiba que jamais reencontraremos esses companheiros fugazes de folguedos.
Não é melhor nem pior. É diferente.
* o postal acima e o abaixo estão em www.postsecret.blogspot.com
Mensagem de Páscoa
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