30.1.07

Femme Fatale


Mais uma mulher fatal surge nos crimes brasileiros. Agora é a viúva do milionário da Mega-Sena. Mas um dia foi Jaqueline Carr, ex-mulher de um ricaço assassinado por seu amante.
Houve outras mulheres fatais menos ricas, mas igualmente famosas. Uma delas, na minha infância, foi Lou, do caso Lou-Wanderley.
Não me recordo no momento de outra, mas muitas mulheres foram envolvidas em crimes horrendos. A Daniela Perez, morta pela mulher de seu pretendente - nunca se soube se ela realmente teria tido algum envolvimento com o galãzinho que despontava, então - foi vítima de uma dessas mulheres.
Anayde Beiris, a que levou ao assassinato de João Pessoa, talvez fosse uma dessas mulheres fatais, por ter induzido seu namorado a matar o político. Ana de Assis, que deixou Euclides da Cunha pelo jovem Dilermando de Assis, que acabou matando seu marido.
Essas mulheres que levam ao crime me fascinam. Na realidade não são tão glamurosas como Veronica Lake, que interpretou algumas em filmes noir. Mas devem ter o charme e a lábia daquelas personagens que conduzem homens a loucuras.

29.1.07

O Blogger anda difícil e não aceita mais as URLs dos visitantes. Muito feio isso, mas fazer o quê?
A melhor coisa da Web é visitar nossos visitantes. Entrar em casas sempre mais arrumadinhas que as nossas, vasculhar as estantes de livros, as gavetinhas, os quadros.
Tenho o hábito de tentar vislumbrar a casa alheia quando estou andando de carro (como passageira, claro) ou caminhando. Nunca quis morar em apartamento de frente para não me sentir observada. Sou voyeur da vida alheia, adoro imaginar como são os donos daquelas salas bem arrumadas, de varandas atulhadas de tranqueiras ou de plantas, quem está por trás das jardineiras nas janelas. Se não fosse curiosa, jamais teria feito jornalismo.
Percorrer os blogs é o que há de mais delicioso na Internet. Acompanhamos vidas de quem jamais conheceremos, de quem nunca iremos ser apresentados. E acabamos arrumando amigos íntimos. Virtuais, mas íntimos, com os quais falamos vez por outra, bem mais freqüentemente do que com parentes distantes.
Falando em parentes - só que próximos -, fui visitar alguns dos meus em Niterói. Confirmado: Niterói é um dos lugares mais quentes do planeta, pior do que o Rio (excetuando Bangu/Realengo, aquela área onde o calor é inacreditável). E olha que fui pra Icaraí/Ingá/Boa Viagem, onde não batia uma só brisa em frente à praia, debaixo de chuva!!!
Uma visão panorâmica maravilhosa - numa ponta, pertinho, o MAC, em frente, o Pão de Açúcar, do outro lado as praias da cidade até fechar no Forte Santa Cruz. Horrível só a canícula... Fenômeno semelhante a Macaé e Rio das Ostras, cidades vizinhas. Macaé tem temperatura parecida com a do verão senegalês. Rostras é mais suportável. Algo que o Rio já deixou de ser há alguns verões. Pela temperatura, pela agressividade, pela miséria. Do outro lado da poça o povo é gentil, entra no carro para mostrar o caminho aos cariocas perdidos.

26.1.07

Se ela voltou, onde ficou nos últimos 13 anos, nesse tempo inteiro em que não criei novos seres, mas gestei tanta gente, tanta coisa, tantos projetos que se cimentam dia após dia?
Ela me abandonou sem qualquer explicação, foi bom enquanto durou, seu retorno prova que a dor é perene, que chega como uma conhecida, freqüentadora da casa, da vida, sem tirar os sapatos na entrada como japoneses ou caipiras - hábito tão humilde, tão delicado, tão aristocrático, tão anárquico, respeitar a morada do outro, não trazer para ela a poeira de fora, a paranóia da competitividade.
Surgiu em um dedo, espraiou-se através da mão, caminha pelo punho, chega ao antebraço. Não, não vai me paralisar, hoje não posso me dar ao luxo de submeter-me a caprichos, a domínios.
Os pés estouram em bolhas minúsculas, blisters é tão bonitinho, mesmo lembrando supositório, bolha é redondo, imenso, tsunâmico. São pontos vermelhos que explodem, incomodam o corpo extenuado, que segue caminhos turvos apontados por olhos míopes, congestionados com a mesma poeira que os capiaus tentaram, em vão, deixar lá fora.
Se a ponta dos dedos arde, como prosseguir com as palavras?

21.1.07

Que maravilha!!!

Your results:
You are Wonder Woman
























Wonder Woman
70%
Robin
60%
Green Lantern
60%
Catwoman
60%
Iron Man
60%
Spider-Man
55%
Superman
50%
The Flash
50%
Hulk
40%
Supergirl
30%
Batman
20%
You are a beautiful princess
with great strength of character.


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Sofre o efêmero


John Boorman é um realizador irregular, um Brian de Palma mais brilhante. Às vezes, ele é perfeito, sensacional, como com 'Excalibur', 'Deliverance' ou o doce 'Esperança e Glória', o corretíssimo 'Alfaiate do Panamá'. Trabalha sempre com bons elencos, mas, vez por outra, dá umas escorregadas brabas, como um filme passado em Ragun, com a Patricia Arquette. Começa bem e, lá pelas tantas, perde a mão - o que é totalmente aceitável, já que seus gols estão acima da média.

Foi assim com o "Country of my Skull", drama passado na África do Sul após a queda do apartheid. Samuel L. Jackson é um jornalista americano que vai cobrir os depoimentos públicos de ex-policiais torturadores. Juliette Binoche é africaner e representa a branca liberal, que luta pelos direitos iguais, apesar da resistência da família. E aí está a falha da história. A mulher, super bem casada e feliz, tem ataques histéricos ao descobrir a crueldade que o regime racista cometeu contra os negros. O fato de ter um caso com o Samuel L. Jackson também é bem sintomático de sua necessidade de se entregar aos novos tempos (mas não a um conterrâneo, claro. Com esses, ela só dança uma música local, naquela cumplicidade que une favelados ao povo do asfalto no carnaval; sexo, que é bom, só com o representante do novo imperialismo). Completa o elenco o irlandês Brendan Gleeson, um daqueles britânicos ruivos grandalhões, gordos e magníficos, que se desdobram em papéis de padres, mafiosos, pais de família, donos de bar, professores universitários, políticos, roqueiros, artistas plásticos, guerreiros, guerrilheiros, comunistas, reacionários, alcoólatras, puritanos, tudo com a mesma intensidade e competência.

A escorregada do filme está mesmo no personagem - não na atuação - de Binoche.

"Country of my Skull" me trouxe uma outra reflexão. Sobre aquela aristocracia rural dos africaners, que viram o regime mudar, o mundo mudar e tiveram que se adaptar às novas regras. Se eram ou não racistas, não importa. O que me levou à microscópica identificação com eles foi a sensação de que o tempo passa e que não é possível acompanhar todas as inovações.

Pertenceram a outro mundo, não ao atual.

Às vezes, me vem a mesma sensação. A sociedade que se expõe o tempo todo, que busca chamar a atenção, que precisa aparecer e ser catalogado como pertencente a uma tribo, da mesma maneira que adolescentes, não é o mundo ao qual eu deveria pertencer. Meu mundo seria mais vagaroso, mais dolente e discreto, sem a preocupação de utilizar uma embalagem, um rótulo. O asiático que enverga roupas ocidentais e colore os cabelos é um símbolo tão efêmero quanto o tempo que já passou no momento em que escrevo estas palavras. O mundo continua desigual, a África do Sul que sofreu com o apartheid hoje sofre com a epidemia de Aids. Daqui a 20 anos, o ser de óculos pequenos e tatuagens cobrindo o corpo fará reflexões semelhantes a esta...

Espero muito que São Sebastião me proteja das intempéries webianas.

Depois que contei minha vivêiiiincia com os telemarketingueiros, não é que telefone + Vírtua pararam aqui em casa? Passei algumas horas de minha atribulada vida pendurada no celular (no 0800) com a NET. De 19h à meia noite de um dia. Das 8h às 18h do seguinte.

Tive meu quinhão de "desculpe, senhóóóra" estocado pro resto do ano!

E, claro, perdi um dia inteiro de trabalho, de fechamento de matérias, que se acumularam e ficarão todas para a manhã de segunda-feira.

Isso, se Sebastião conseguir fechar meu corpo e o de minhas ligações com o mundo.

Amém!

20.1.07

O santo do Rio


Sebastião, o mártir, é o patrono ideal para uma cidade aguerrida como o Rio, dúbia como ele, que se confundia no imaginário português com um rei santo deles. Por isso, teria vindo ao Rio, expulsar os franceses da baía que foi descoberta em seu dia, mas confundida com um rio pelos portugueses que nela entravam. O local nasceu rio antes de ser mar e virou cidade por causa dos franceses que tentaram nela se fixar.

Um dia me disseram ser filha de Oxóssi, que, pros cariocas, é Sebastião (na Bahia, é Jorge, parece, outro dos "meus" santinhos. Francisco completa o trio, pois nasci no seu dia). Devem estar certos. Afinal, meu santo é forte, é sofrido, é marcado, protege as matas, é mitológico e, ultimamente, da devoção dos gays. É ou não o santo mais carioca que poderíamos escolher?

Como Sebastião, que sobreviveu às flechadas dos inimigos dos cristãos, os cariocas sobrevivem, diariamente, à barbárie dos que odeiam a cidade muy leal e heróica, batizada em homenagem a um santo corajoso, que nunca fugiu da luta.

18.1.07

Marqueteiros

Eu tenho horror ao telemarketinguês, que conjuga erroneamente o gerúndio, pontuando com o vocativo "senhóora" ou "senhôrrrr", caprichando no sotaque paulistano anasalado. Uma moça dessas já disse que iria estar marcando o meu endereço. Não resisti e disse: "Olha só, me faça um favor. ESCREVA ou ANOTE o meu endereço. Mas não esteja marcando algo que não pode receber marcas nem deve ser adiado, como um programa". Lógico que a moça disse, "desculpe, senhóóra, não entendi" e eu desisti, enquanto ela deve ter ouvido outras admoestações de 338 mil pessoas. Depois, soube que o pessoal de telemarketing é campeão em afastamento do trabalho por problemas nervosos. Mas nada impede que de vez em quando eu perca a cabeça. Quando, por exemplo, um rapaz me pergunta animadíssimo se eu não quero fazer o sensacional cartão de crédito do banco XPTO. Respondo que não. E ele:
- Mas, senhóóra Olga, por quê?
- Porque não.
- A senhora poderia me dar uma razão para não aceitar, senhóóra Olga?
- Porque não.
(Em tom de indignação, alarme e espanto)
- É a sua resposta final, senhóóra Olga?
- É.
- Tem certeza, senhora Olga?
- Olha, não sei, não. Afinal, você está invadindo a minha casa, me empurrando um produto que não pretendo comprar. Posso dar uma resposta mais adequada e tão desagradável quanto sua intromissão em minha vida.
- Senhóra, o Banco XPTO agradece ....

Em outra ocasião, esqueci de pagar o cartão de crédito. Minha dívida era tão grande que o cartão mandava faturas apenas a cada três meses, quando as compras passavam de R$ 10. Até que me esqueci dele e fiquei devendo uns R$ 100. O animadíssimo telemarketingueiro perguntou se eu sabia que tinha a dívida.
- Ih, havia esquecido...
- Entaummm, senhóra Olga, vamos estar marcando uma data provável para estar agendando esse pagamento?
- Não.
- Por que não, senhóra Olga?
Àquela altura da vida, eu já sabia que bastava fornecer uma negativa ao operador de telemarketing para deixá-los desatinados.
- Porque não.
- Vem cá, a senhora sabe da dívida e não vai pagar, não?
- Ih, eu não falei que não iria pagar. Só disse que não vou marcar a data do pagamento com você.
- Mas senhóra Olga - ele começou a murmurar, recomposto, enquanto eu me irritava e explodia:
- Moço, eu não preciso lhe dar satisfações sobre minha vida financeira, certo?
- Então a senhora não vai pagar?
- Não sei. Tem algum problema?
- Pra mim, não, ora, não sou eu que vou ficar com o nome sujo no Serasa, ora!

Acho que esse moço, coitado, não deve ter permanecido na carreira. E a partir de então eu mudei minha forma de tratar seus colegas. Se me avisam que tenho algum débito, mostro-me desesperada. Eles me pedem calma e tratam de desligar correndo. A eles, o texto abaixo deve ser dedicado.


Manifesto antigerundista
Ricardo Freire



Este artigo foi feito especialmente para que você possa estar recortando e possa estar
deixando discretamente sobre a mesa de alguém que não consiga estar falando sem estar espalhando essa praga terrível da comunicação moderna, o futuro do gerúndio.

Você pode também estar passando por fax, estar mandando pelo correio ou estar enviando pela Internet. O importante é estar garantindo que a pessoa em questão vá estar recebendo esta mensagem, de modo que ela possa estar lendo e, quem sabe, consiga até mesmo estar se dando conta da maneira como tudo o que ela costuma estar falando deve estar soando nos ouvidos de quem precisa estar escutando.

Sinta-se livre para estar fazendo tantas cópias quantas você vá estar achando necessárias, de modo a estar atingindo o maior número de pessoas infectadas por esta epidemia de transmissão oral.

Mais do que estar repreendendo ou estar caçoando, o objetivo deste movimento é estar fazendo com que esteja caindo a ficha nas pessoas que costumam estar falando desse jeito sem estar percebendo.

Nós temos que estar nos unindo para estar mostrando a nossos interlocutores que, sim!, pode estar existindo uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando desse jeito.

Até porque, caso contrário, todos nós vamos estar sendo obrigados a estar emigrando para algum lugar onde não vão estar nos obrigando a estar ouvindo frases assim o dia inteirinho.

Sinceramente: nossa paciência está estando a ponto de estar estourando. O próximo “Eu vou estar transferindo a sua ligação” que eu vá estar ouvindo pode estar provocando alguma reação violenta da minha parte. Eu não vou estar me responsabilizando pelos meus atos.

As pessoas precisam estar entendendo a maneira como esse vício maldito conseguiu estar entrando na linguagem do dia-a-dia.

Tudo começou a estar acontecendo quando alguém precisou estar traduzindo manuais de atendimento por telemarketing. Daí a estar pensando que “We’ll be sending it tomorrow” possa estar tendo o mesmo significado que “Nós vamos estar mandando isso amanhã” acabou por estar sendo só um passo.

Pouco a pouco a coisa deixou de estar acontecendo apenas no âmbito dos atendentes de telemarketing para estar ganhando os escritórios. Todo mundo passou a estar marcando reuniões, a estar considerando pedidos e a estar retornando ligações.

A gravidade da situação só começou a estar se evidenciando quando o diálogo mais coloquial demonstrou estar sendo invadido inapelavelmente pelo futuro do gerúndio.

A primeira pessoa que inventou de estar falando “Eu vou tá pensando no seu caso” sem querer acabou por estar escancarando uma porta para essa infelicidade lingüística estar se instalando nas ruas e estar entrando em nossas vidas.

Você certamente já deve ter estado estando a estar ouvindo coisas como “O que cê vai tá fazendo domingo?”, ou “Quando que cê vai tá viajando pra praia?”, ou “Me espera, que eu vou tá te ligando assim que eu chegar em casa”.

Deus. O que a gente pode tá fazendo pra que as pessoas tejam entendendo o que esse negócio pode tá provocando no cérebro das novas gerações?

A única solução vai estar sendo submeter o futuro do gerúndio à mesma campanha de desmoralização à qual precisaram estar sendo expostos seus coleguinhas contagiosos, como o “a nível de”, o “enquanto”, o “pra se ter uma idéia” e outros menos votados.

A nível de linguagem, enquanto pessoa, o que você acha de tá insistindo em tá falando desse jeito?

Pra quem fala ou lê português


VERBOS NOVOS E HORRÍVEIS
Ricardo Freire

Não, por favor, nem tente me disponibilizar alguma coisa, que eu não quero. Não aceito nada que pessoas, empresas ou organizações me disponibilizem. É uma questão de princípios.
Se você me oferecer, me der, me vender, me emprestar, talvez eu venha a topar. Até mesmo se você tornar disponível, quem sabe, eu aceite. Mas, se você insistir em disponibilizar, nada feito.
Caso você esteja contando comigo para operacionalizar algo, vou dizendo desde de já: pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Eu não operacionalizo nada para ninguém e nem compactuo com quem operacionalize.
Se você quiser, eu monto, eu realizo, eu aplico, eu ponho em operação. Se você pedir com jeitinho, eu até implemento, mas operacionalizar, jamais. O quê? Você quer que eu agilize isso para você? Lamento, mas eu não sei agilizar nada. Nunca agilizei. Está lá no meu currículo: faço tudo, menos agilizar. Precisando, eu apresso, eu priorizo, eu ponho na frente, eu dou um gás. Mas agilizar, desculpe, não posso, acho que matei essa aula.
Outro dia mesmo queriam reinicializar meu computador. Só por cima do meu cadáver virtual. Prefiro comprar um computador novo a reinicializar o antigo. Até porque eu desconfio que o problema não seja assim tão grave. Em vez de reinicializar, talvez seja o caso de simplesmente reiniciar, e pronto.Por falar nisso, é bom que você saiba que eu parei de utilizar. Assim, sem mais nem menos. Eu sei, é uma atitude um tanto radical da minha parte, mas eu não utilizo mais nada. Tenho consciência de que a cada dia que passa mais e mais pessoas estão utilizando, mas eu parei. Não utilizo mais. Agora só uso. E recomendo. Se você soubesse como é mais elegante, também deixaria de utilizar e passaria a usar.
Sim, estou me associando à campanha nacional contra os verbos que acabam em "ilizar". Se nada for feito, daqui a pouco eles serão mais numerosos do que os terminados simplesmente em "ar". Todos os dias, os maus tradutores de livros de marketing e administração disponibilizam mais e mais termos infelizes, que imediatamente são operacionalizados pela mídia, reinicializando palavras que já existiam e eram perfeitamente claras e eufônicas. A doença está tão disseminada que muitos verbos honestos, com currículo de ótimos serviços prestados, estão a ponto de cair em desgraça entre pessoas de ouvidos sensíveis. Depois que você fica alérgico a disponibilizar, como vai admitir, digamos, "viabilizar"? É triste demorar tanto tempo para a gente se dar conta de que "desincompatibilizar" sempre foi um palavrão. Precisamos reparabilizar nessas palavras que o pessoal inventabiliza só para complicabilizar. Caso contrário, daqui a pouco nossos filhos vão pensabilizar que o certo é ficar se expressabilizando dessa maneira. Já posso até ouvir as reclamações: "Você não vai me impedibilizar de falabilizar do jeito que eu bem quilibiliser". Problema seu. Me inclua fora dessa",

Pra inglês ver






O Globo de Ouro deste ano parecia mais o Bafta, a premiação do cinema inglês. Adoro entrega de Oscar, de Globo de Ouro e até aquela avacalhação que é o Cesar. Digo avacalhação porque, ano passado, o teleprompter quebrou e os apresentadores improvisaram, lendo tudo em folhinhas de papel. E no Cesar é uma bagunça generalizada. Quem perde fica emburrado, incluindo aí uma apresentadora que ficou no palco e deu um olhar de ódio para Nathalie Baye, vencedora na categoria de melhor atriz. Os figurinos são díspares, tem diretor que vai no estilo "set tropical", enquanto outros, geralmente os onipresentes charmosérrimos Jeremy Irons e Kristin Scott Thomas (estão sempre por lá), envergam belas vestes.

Essas premiações são cafonérrimas e injustas, porém muito mais divertidas do que desfile de modas ou festa de casamento, eventos aos quais só se comparece para ver as roupas mesmo. Neste ano, foi o Jeremy Irons que surgiu de roupa esquisitinha, mas sempre caindo bem - nele. Por outro lado, a maravilhosa Meryl Streep parece que não entendeu o recado do "Diabo Veste Prada" e se fantasiou de ninfa, sem ter mais um corpinho para usar tecidos diáfanos. A Kyra Sedwick, que vestiu modelito semelhante, e é magra como uma anoréxica, estava perfeita com sua versão miríade hollywoodiana. Mas Meryl, provavelmente, está pouco se lixando pra essas mundanices.

A rainha da noite foi Helen Mirren, aquela dama inglesa que envelhece com a graça e a coragem que só as atrizes britânicas têm. Ela diz que aprendeu a enfrentar a idade sem temor porque sua mãe repetia que a velhice é compensada por uma imensa sabedoria que nos deixa cegos para as rugas. É verdade. La Mirren saiu com duas estatuetas, interpretando duas rainhas Elizabeth, a I e a II. Na ala jovem atriz inglesa promissora, quem levou Globo de Ouro foi a Emily Blunt. Globalizado também ficou o Bill Nighy e o Hugh Laurie, por "House". Até o Sasha Baron, que explodiu nos EUA com uma sátira amalucada sobre um repórter do Cazaquistão, faturou seu premiozinho. Houve outros prêmios pros ingleses, mas nem consegui fixar tudo.

No fim, Babel, filminho bonito, emocionante e "limpinho" como "Crash", ganhou o maior prêmio. Gostei, pero no mucho. Afinal, meu lado fãzoca está cada vez menor depois que entrevistei o Inãrritu...

Nas fotos, a influência grega na moda das atrizes e os senhores do Império Britânico.

13.1.07

Antes tarde do que nunca!


Esta crônica publicada na Veja-Rio parece-se muito com a de Michael Moore quando Bush ganhou a última eleição. Moore dizia, entre outras agradáveis bobagens, que, uma das vantagens com a vitória de Bush era que a gente economizaria uma nota, já que nossos amigos gays não poderiam ainda oficializar suas uniões. E que aquela era a última vez que Bush seria presidente dos EUA.

Embora muitos cariocas tenham temido a continuidade da força campista durante a administração de Serginho Cabral, este mostrou que a união política não era tão firme assim. Certamente, ele fará um governo melhor do que o dos Matheus. Porque pior é praticamente impossível.


"Acaboooooooouuuuuuuuu"
Tutty Vasques
"Se em vez de cidade do norte do estado fosse bairro da mesma região da capital, Campos seria a Tijuca. Um lugar simples, conservador, apegado à família, longe do mar e da badalação, esteticamente apagado, comercialmente decadente, feio e muito querido de sua gente. Conheço Campos menos que a Tijuca, mas tenho certeza de que, se Rosinha e Garotinho tivessem sido criados onde eu fui, seriam até hoje pacatos moradores da Rua Uruguai. Ou não! Aconteceu comigo de ir muito mais longe do que imaginava, mas não existe – nunca existiu nem existirá – outra história de casalzinho de banco de praça como a que sucedeu no Palácio Guanabara. Uma pena que não tenhamos sido apenas bons vizinhos. Tenho certeza de que eles achariam o mesmo se eu fosse eleito um dia para governá-los. Não é possível um troço desses!
Eu estava falando isso por que mesmo? Ah, sim, porque acabou, amigo carioca, acabou o pesadelo de ser governado pelos Garotinho. Este réveillon não vai ser igual àquele que passou. A virada para 2007 inaugura o fim de uma era em que o Rio de Janeiro perdeu o orgulho de sua afamada identidade política, mas não é hora para lamúrias. Ei, você aí que não consegue encontrar um bom motivo para comemorar o Ano-Novo, ponha a cabeça pra fora da janela e grite com pulmão de Galvão Bueno: "Acabooouuu, acaboooooouuuuuu!!!". Os Garotinho estão voltando para a Rua Uruguai ou pra República do Chuvisco. Que fiquem em Ipanema se quiserem, mas Palácio Laranjeiras nunca mais.
Nunca mais aquela conversinha mole de tudo a 1 real. Nunca mais exorcismos aos domingos, nunca mais aquelas roupas cafonas, esses nomes ridículos, nunca mais notícias sobre o fluxo menstrual dela ou a greve de fome dele. Nunca mais Álvaro Lins, Chiquinho da Mangueira, Pudim... Nunca mais historinhas como a do rapaz gordinho de apelido "Bolinha" que, para impressionar a namorada, invadiu a pracinha montado, caiu do cavalo e, machucado no peito, conquistou para sempre o coração de sua amada. Ou aquela outra do desastre de automóvel que transformou o jovem político ateu, de formação marxista, em seguidor de Jesus Cristo. Vocês se lembram da primeira imagem de 2006, a foto da governadora de ponta-cabeça nas corredeiras de Bonito (MS)? Meu Deus, que vergonha!
Acabooouuuuu!!! Nunca mais um governo com nome de locutor esportivo. Nunca mais pousos de barriga, panes em helicópteros. Nunca mais contos da carochinha como o da regressão mental do ex-governador após queda de palanque. Nunca mais!!! Nunca mais tanta coisa esquisita, basta de espírito de quermesse no trato da coisa pública. Nunca fomos tão provincianos! Viramos piada de paulista: sabe a última da Rosinha? Com um telhado de vidro desses, francamente, quem vai atirar pedra no Maluf dos outros? A política perdeu inteiramente a graça para o carioca, mas, insisto, não é hora de chorar o leite derramado. Sorria!!! Você sobreviveu ao maior acidente democrático da história do Rio de Janeiro!
Em nenhum outro lugar deste país sua gente tem tanta motivação para festejar a chegada de 2007. Vamos lá, rapaz, abrace um cabisbaixo na rua e lembre a todos os passantes que acabou, entende? Acaboooouuuuu!!! Se, do Oiapoque ao Chuí, ninguém sabe ao certo o que virá por aí, só nós sabemos como foram esses últimos oito anos de humilhação democrática. O Rio de Gabeira, de Brizola, de Lacerda e de Lula condenou-se pelo voto à gozação nacional, como se já não bastasse o papel diminutivo que Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo vêm fazendo ultimamente no Brasileirão.
O carioca anda levando ao pé da letra a máxima "futebol, política e religião não se discutem". Mesmo "mulher" vira assunto perigoso quando a maior autoridade da paróquia é a dona Rosângela Rosinha Garotinho Barros Assed Matheus de Oliveira, crente de que está abafando na terra de Leila Diniz, terreiro de Danuza Leão. Estamos mal na fita, mas, pelamordedeus, gente, tá chegando a hora, caramba! Corre lá pra botar mais champanhe no gelo, chame os amigos para a ceia, prepare os fogos com a máxima segurança, nada pode sair errado num momento político tão importante quanto será para o carioca este réveillon. Acabou, pessoal, acabou. Acabooooouuuuu, cacilda!!!
Acabou a era Garotinho. O casal vai voltar para o rádio, para Campos, para a Rua Uruguai, pra... Não importa o destino! Os Garotinho vão sumir do noticiário, das conversas de botequim, vão sumir de sua vida, caro leitor. Não é cedo para soltar fogos coisíssima nenhuma: feliz Ano-Novo! – temos desta vez boas chances de não frustrar um desejo antigo de todo carioca."

9.1.07

Xilindró


O site The Mugshot tem fotos de artistas, políticos, atletas e gente famosa em geral. Todas tiradas em delegacias.
Boa parte dos fotografados foi parar lá por beber além da conta ou ingerir substâncias que não têm venda liberada... Outros, como "The Voice" Frank Sinatra, em 1938, por prevaricar com a mulher do próximo.
O ar de troça da turma de Hollywood é recorrente. Quase todos estão embriagados, como Steve McQueen e Mel Gibson. Alguns, mais que isso, como Robert Downey Jr (que tem três fotos na lista).
Há ainda fotografias de Rosa Parks, a mulher que liderou um boicote aos ônibus que discriminavam negros, no Alabama, em 1956, desencadeando um movimento de protestos nos Estados Unidos, de Martin Luther King, por participar do mesmo boicote, aos 27 anos, de Bill Gates, na década de 70, por problemas ao dirigir (carro, não a Microsoft).
A lista traz ainda Jimi Hendrix (posse de heroína) , um constrangidíssimo Hugh Grant (sexo em via pública), Jane Fonda (manifestação política) e por aí vai.
O endereço é http://www.thesmokinggun.com/mugshots/index.html


E a dica eu peguei no blog "Page Not Found", de Fernando Moreira, no Globo On Line.

Ch-ch-ch-ch-changes...

É assim que eu quero chegar aos 60 - tirando o cigarro, claro!

7.1.07

E o marido?


Dia de Reis, tarde abafada do estranho verão carioca. Um PM pede carteira e documentos do carro.

- De quem é este carro?

- De minha mãe - responde a motorista.

- Tem documento mais recente, que não seja o de 2002?

- Aqui? Não. (certamente existe um documento recente no Detran e não foi retirado por falta de pagamento do IPVA, mas o guarda não perguntou isso...)

- O que faz o seu marido?

- ????

- Seu marido, ele trabalha em quê?

- Ih, moço, não tenho marido, não...

O policial busca ajuda de seu companheiro de ronda, que porta uma reluzente metralhadora. O segundo guarda dispensa a motorista, recomendando que ela regularize a situação do veículo, explicando que só pediu que parasse por vê-la com dois "garotões".

- São meus filhos.

- Pois é, madame, mas de longe, a senhora sabe, né? A gente tem que conferir de pertinho.

Conferir se a madame tinha marido, garotões ou o quê?

1.1.07


Meia idade parece com adolescência. A gente vai desbravando um novo tempo e sentindo melancolia pelo fim de outro. Inveja quem ainda não chegou a este patamar - pelo viço, pelas novas experiências e descobertas que fará - enquanto teme alcançar a era em que as novidades já não importam tanto assim.
Talvez a vida inteira seja composta dessas experimentações, da sensação de inadequação porque o momento certo ainda não começou. O acontecido passou velozmente e o futuro está batendo em cada porta, doido para nos assombrar com a falta de expectativas.
Escapar dessas reflexões todas exige uma boa turma, que fortalece a vivência.
Igualzinho como fazem os adolescentes...

Balançando


Andar de balanço foi minha diversão favorita durante todos os recreios de minha infância. Nunca fui retraída, daquelas meninas que se escondiam do mundo, mas brincadeiras de correria não me atraíam. Muito melhor era exercitar pernas e mente, viajando por quinze ou vinte minutos no intervalo entre as tediosas tardes que transcorriam lentamente e que não recordo como os anos felizes da meninice. Tinha um bom círculo de amizades, mas não freqüentávamos as casas umas das outras. A badalação social só viria na adolescência.

Até hoje quando penso em balanço me vem à cabeça tardes nubladas, céus brancos e as meias três quartos escorregando pela canela, enquanto não ligava se a saia pregueada do uniforme se inflasse como um balão. O colégio não era misto ainda.

Balanço mudou de significado com meu amadurecimento. Transformou-se em um conceito pesado, uma relação de realizações e frustrações contabilizadas durante um período. Também virou a tradução de um gênero musical, algo metido a sofisticado, aquele requebrado meio bossa nova, meio Banda Veneno.

E no início de um novo momento para abrir uma lista nova, prefiro o balanço que me fazia alçar aos ares, daydreaming por curtos momentos, vivendo intensamente além das fronteiras físicas e da realidade.