30.12.09

Grandes festas

Amanhã o ano vira, com um mundo de gente cumprindo a obrigação de ser esfuziante à meia-noite.
Uma sensação absolutamente dispensável depois que a vida já ultrapassou três décadas.
Só a sensação de expectativa de recomeço que os novos anos trazem não acabam, embora no Brasil tenhamos diversos inícios de ano - o mais marcante sendo a segunda-feira após o carnaval.
Sobrevivemos através dos recomeços, todos os meses, a cada pagamento que entra.
Os planos se embolam, às vezes.
E as listas de resoluções criam marcas amarelas, guardadas nos escaninhos da mente.
São essas determinações obliteradas pela realidade que nos tocam para a frente, numa correria infindável, que nos impede de curtir a vida com tranquilidade.
Vai daqui, então, o cartão de boas festas que mandei este ano, com uma imagem já mais do que conhecida nestas Arenas. É da Rua São Clemente, onde vivo, tempos antes de nossa chegada por aqui. (O calor, pela luminosidade da foto, já era desanimador. Ainda bem que a paisagem compensava...)

Tomara que em 2010 a gente aprenda a viver sem a menor pressa.
E se quiser correr, que seja, como bem cantava Cartola, pra olhar o céu quando o sol trouxer um bom dia.




É o que desejamos


Olga, Artur, Oto, Hugo e Júlia


28.12.09

Atrocidade



Chamei de mau gosto o que via, de mau gosto, mau gosto... (Caetano Veloso, Sampa)


Classificar de vestido de noiva a roupa da senhora acima retratada é impossível. Uma armação de anágua/dublê de canga com babados e tintura sobre um peito nu só podem ser consideradas roupas por dançarinas do Olodum.
A referida dama casou-se com o ex-secretário de Educação do Distrito Federal, José Luis Vieira Valente. Não pretendo falar aqui sobre acusações de corrupção que foram feitas ao ex-secretário, mas sim sobre as apresentações circenses que as cerimônias de casamento se tornaram.
Eu sou a primeira a chamar os vestidos de noiva de "fantasia de noiva". Fantasia por ser um uniforme para uma solenidade, algo tão ridículo quanto becas de formatura - ou de juízes e advogados. Não gosto disso, mas reconheço que cada um usa o que considera apropriado em qualquer ocasião da vida.
O figurino da noiva brasiliense não cai bem em ninguém, sem importar ocasião, gênero ou faixa etária. Pintura sobre o corpo só fica bem, convenhamos, em modelos sequinhas, como a Globeleza - que se aposentou depois de chegar à maturidade.

Depois que as cerimônias de casamento perderam o cunho solene e religioso, adotando uma feição festiva, a sociedade do espetáculo criou um novo tipo de noivos, os que proporcionam shows para seus convidados, rompendo com tradição, elegância e, por vezes, causando um dispensável constrangimento ao público. Vale pelos quinze segundos de glória na Web. E só.

27.12.09

Um conto de Natal tropical

E como todo mundo sempre quer um conto edificante de Natal, também escrevi um, pensando no fim de algumas atividades. Está no Webliterata, link aqui à direita.

25.12.09


Este é um daqueles cartões de Natal que são apresentados na Internet como o primeiro a ser publicado, enviado, distribuído etc.
Precursor ou não deste hábito que caiu em desuso com a comunicação a jato, ele entra aqui para tentar nos fazer recordar aquela deliciosa sensação de havermos, em algum momento, merecido lembranças carinhosas - o que acontecia quando o correio batia à nossa porta.
Sensações que hoje se restringem a tradições ocas e reinam no imaginário erigido pela publicidade.

22.12.09

Domesticando os instintos

Uma amiga querida se espanta ao saber que meu filho costuma jogar basquete e futebol. "Você conseguiu que ele treinasse aonde?", pergunta. Não lhe passou pela cabeça que o garoto tem um grupo de peladeiros, algo que anda desaparecendo entre os meninos de classe média carioca, que só praticam esportes conduzidos por instrutores e cerceados em locais protegidos.
Estamos cada vez mais sufocando a prática do amadorismo libertário. Daqui a pouco vai haver escolinha de pilotos de velocípede. Já existe para ensinar mães de primeira viagem a acalentarem seus bebês. Ainda criarão algumas oficinas de pular corda, pular elástico ou apenas ser moleque.

Uma brasileira

Como esperado, Marta chorou ao ser escolhida pela quarta vez a melhor jogadora de futebol do mundo. Marta é a anti-imagem da mulher brasileira que a publicidade exporta. Não é linda como a Bunchen (se caiu o trema das palavras em português, nacionalizo o nome da moça também), é morena, baixa, forte e se destacou em um esporte tradicionalmente de meninos, que faz o sonho dos garotos pobres que jogam nos campinhos de várzea por todo o país.
Também não é uma mulata que se desnuda no carnaval, sambando divinamente, mas que deslumbra mais pelos atributos físicos do que pela maestria nos passos, nem a que vai mostrar o corpo em fotos eróticas. Com seu corpo desnorteia as adversárias em campo e, através dele, conquistou a admiração até dos machistas brasileiros, que reconhecem nela a ginga dos craques acima de qualquer parâmetro, colocando-a no nível de Maradona, Garrincha, Ronaldo.
Era o momento de darem mais crédito ao futebol feminino - tá, é mais lento, é meio feio, não é igual ao masculino. Quantas outras meninas terão de enfrentar o preconceito e os risinhos sexistas, além das piadinhas sobre a opção sexual delas antes que surjam outras como Marta?

21.12.09

RIP

Simpática, miudinha, magrinha, candidata a namoradinha da América, Brittany Murphy é só mais uma das que sucumbem ao star system, com todas as drogas que ele impõe a seus acólitos.

17.12.09

Tanque com abacaxi


Uma blogueira americana quer boicotar a premiere de Avatar pelo caráter homofóbico do filme, que mostra um casal formado por um homem e uma mutante, quando poderia apresentar povos ecologicamente corretos que teriam superado as barreiras do amor entre iguais. Ou seja uma Broeback Mountain interplanetária.

Gente, na boa, debalde esses tempos tão politicamente corretos, vamos cair na real: ou a moça é doida ou desocupada ou quer aparecer muito!!!!

Tem uma boa terapia pros dois primeiros casos: um tanque de roupas a lavar!
E, para a terceira hipótese, equilibrar um abacaxi na cabeça.

Vexames dos últimos dias


- O presidente da República falando "merda". A palavra, não o conteúdo. Populismos à parte, o cargo exige, como o ambiente da gafieira, respeito.
- O policial que matou a tiros um estudante durante briga em boate voltou a ser absolvido pelo homicídio. Mesmo que estivesse a serviço, cuidando da segurança do filho de uma juíza, ele não tinha o direito de alvejar qualquer um. Policiar exige equilíbrio. Ou deveria.
- A taxa de iluminação pública.
- O prefeito falando que Robin Williams fez piada de péssimo gosto sobre o Rio ter ganhado o direito de sediar a Olimpíada por "dor de corno". O cargo, como já disse, exige o mesmo respeito que o ambiente da gafieira.
- A estátua de Drummond em Copacabana, novamente, teve os óculos arrancados.

E como já dizia Jorge Veiga, com os versos de Billy Blanco:

Moço, olhe o vexame
O ambiente exige respeito
Pelos estatutos da nossa gafieira
Dance a noite inteira, mas dance direito

15.12.09

O Avatar e a Tansa *

Ontem, atrasadíssima, voei para uma cabine do último filme de Alain Resnais. Não era no Estação, como sempre, mas no Artplex, Sala 5. Cheguei esbaforida ao lobby do cinema, perguntei ao guarda "Tem um filme na Sala 5, não?". Ele confirmou. Entrei na sala, hiperlotada. Dei aquele sorriso comovido, pensando: "Nossa, quanta gente para ver o Resnais. Que beleza, um mestre ainda mobilizando os críticos"... e aí encontrei um coleguinha muito falante que disse "Vem cá, este filme não era em 3D?". Murmurei qualquer coisa, subi as escadas e me joguei pesadamente em uma poltrona.
Era a Sala 5, sim. Mas de outro complexo de cinemas...
Assisti a Avatar, um deslumbrante show de efeitos visuais, tecnologicamente perfeito. Cinematograficamente funciona para platéias infanto-juvenis e kidults. Não é para alguém que tem no cinema uma experiência que transcende narrativas lineares.
Um filme sem a menor alma, uma experiência técnica que renderá fortunas, com uma historinha politicamente correta. Os bandidos não são os invasores norte-americanos, mas uma corporação interessada em explorar jazidas de minérios de outro planeta. O herói é paraplégico. O povo sofrido é tão integrado à natureza que só existe em cinema mesmo. Ou seja, um enredo entupido de valores morais, bem do jeito que George Lucas imaginou com Guerra nas Estrelas. E, como todos os blockbusters atuais, precisa se alongar até os limites da paciência sobre-humana. Imenso. Cansativo. Preferia o James Cameron do primeiro Exterminador do Futuro. O robô era mais verossímil do que os milicos malvados de Avatar.
Na saída do shopping, passando pelo McDonald's, vi os bonequinhos com os personagens do filme, que já são brindes de um McLanche qualquer.
*Tansa, lá em Florianópolis é sinônimo de atolada/boba/tonta. Tudo junto, misturado e bem amassado.

13.12.09

Domingo à tarde









Adoro ter amigos gerações mais jovens para não me fechar no gueto dos que envelhecem estranhando o mundo. E agora que meus filhotes estão imensos, acompanho a chegada e o crescimento de outras crianças, integrantes da família que escolhi.
Estava lendo a Lysa falando do Mateo, a Luciana escrevendo sobre os livros lidos com os pequenos dela, conversando com Cíntia me contando as últimas de Laura, sabendo de Isabel pela Paulinha - as últimas não têm blogs, mas, se tivessem, seriam relatos tão deliciosos quanto os das primeiras.
Deu uma tremenda inveja e saudades da época em que eu descobria o mundo com meus petizes.
Mas aí a gente vira pro lado e pode encontrar amigos sem ter que dar comida, banho, botar para dormir ou correr atrás da molecada, pode pegar um cineminha, ir a um bar e voltar tarde, ou apenas ler um bom livrinho numa rara tarde de folga. Nada que se compare ao prazer de olhos brilhantes com as novidades oferecidas no dia-a-dia nunca tedioso dos que têm filhos pequenos, porém, agradável, relaxante e, certamente, mais organizadinho.
O problema é pra quem gosta de uma bagunça...

10.12.09

Oba! Mais um tributo!!!!

Não tenho absolutamente nada contra o prefeito, exceto haver votado em outro candidato. Acho que ele tem um projeto político pessoal que o impele a mostrar serviço 25 horas por dia. Cansa ler a agenda do cara e conferir que ele faz prefeitura itinerante, corre pra entrega de prêmio de futebol, vai à missa por padroeiros mil, baixa em culto e centro espírita, reclama da sujeira produzida pelos cariocas (no que está certíssimo), diz que vai proibir a venda de água de coco na praia e recolhe os brinquedos das areias para depois voltar atrás...
Admira-me descobrir que ele ainda teve tempo para aplaudir a decisão de nossa prestimosa Câmara Municipal, que aprovou sua mensagem instituindo a criação da taxa de iluminação pública. No outro milênio houve uma grita nesta cidade contra a taxa do lixo, que acabou derrubada. Até hoje a taxa de incêndio é paga por parte da população, enquanto outra a ignora solenemente, já que os juristas divergem sobre a legalidade da bitributação.
O mais irônico em aprovarem a taxa de iluminação pública - que entra em vigor mês que vem - é estarmos sofrendo uma temporada de constância no tal serviço. Relevante também seria pensar que tal taxa deveria ter cobertura do maldito IPTU.
Não demora teremos que pagar o imposto predial e mais taxas para segurança, saúde, educação. Mesmo sem utilizaarmos qualquer um desses magníficos serviços fornecidos com tanta excelência pelo estado.

8.12.09

Sem luz própria


Por viver na província de Botafogo, aprendi a ser estoica. Cada vez em que falta luz, imagino como seria ser parte da foto de minha rua, registrada por Marc Ferrez há mais ou menos 100 anos. Eu estaria, certamente, de sombrinha, correndo para algum lugar, atarefada.

Hoje não faltou energia propriamente. Caíram fases, me explicou o moço da Light, que indagava, interessado: "Chove muito onde a senhora mora?". Ri. "Moro no Rio, meu filho".

Aqui chove, venta, faz um calor canino, cai temporal, inunda tudo. Não é bem uma região de fenômenos da natureza comedidos. A natureza é explosiva, exuberante, escandalosa, me deu vontade de dizer ao guri.

Uma diligente equipe da companhia permaneceu aqui em meu quarteirão por mais ou menos nove horas. Enquanto isso, tomei banho à luz de velas, levei o computador para a sala - algumas tomadas funcionavem -, escrevi matéria, gravei em CD e levei para um cyber café onde difícil foi conseguir um PC que tivesse drive para CD. Enviei a matéria, dediquei-me a diversos outros afazeres e, retornando à casa, encontrei tudo devidamente energizado e iluminado.

Isso até a próxima chuva, a queda de um relâmpago, um tufão, muito calor, muita água, granizo...

Garanto que o Santos Dumont também estava fechado para pousos e decolagens.

6.12.09

Hexacampeão








É meu maior prazer vê-lo brilhar seja na terra, seja no mar
Que a Seleção siga o exemplo do Flamengo em 2010!!!!!!

Domingo


Eu sei que quando acabar de copiar todos os filmes que estou copiando, quando acabar de responder aos e-mails, de copiar os CDs, quando tiver regado as plantas, lavado
a louça de ontem que os meninos fingiram que esqueceram, recolhido copos abandonados pela casa, alimentado os gatos e pássaros, telefonado para amigos e parentes, devolvido livros às prateleiras, me preparado para, enfim, assistir a um filme ou retomar minha leitura naquela cama macia, entupida de travesseiros e lençois de 200 fios, aí, sim, a casa inteira há de acordar me pedindo café, almoço, lanche, jantar, e eu terei que sair pro teatro com o cabelo encharcado de uma ducha disparada sobre o corpo mal dormido, bem cansado, bem vivido.

Gap

Quem tem filho adolescente e foi excluído da vida deles vai entender bem o que diz o Giron, da Época.
A gente se sente tão anacrônico perante o mundo atual...
Coisa que a geração anterior a dos meus pais não sofreu.
Adoro a juventude, acho os jovens lindos como deuses. Entrei naquela fase em que a beleza se torna mais admirável que desejável, se está num corpo que poderia ter saído do meu.
Quando surgiu o termo generation gap, aqui ganhou a tradução de conflito de gerações. Tudo conflitava em português - classes sociais, pais e filhos, cônjuges. Gap, a lacuna, virou sinônimo de roupas, enquanto o buraco cada vez mais se alarga e aprofunda.

4.12.09

Comprar velas

Faltou luz aqui no quarteirão e em diversos bairros bem distantes de Botafogo.
Acautelem-se, cariocas!!!!

Velhice


Envelheço a olhos vistos, vergonhosamente, para os padrões cariocas. Talvez na Mongólia eu fosse considerada uma sábia e minha decadência física causasse menos horror.
A maturidade não me cai bem, as dúvidas continuam a me assolar, a incerteza, a insegurança me rondam.
Não tenho mais barra da saia de mãe pra me aconchegar, voz serena de pai pra me apaziguar.
É duro reconhecer-se adulto.
Daqui a vinte anos, quero ver essa galera que chegou aos 30 e continua se fingindo de gurizada segurar essa barra!

3.12.09

A cultura da manutenção

Num dia particularmente atrapalhado, em que pouco dormi por conta da hipnótica leitura de Easy Riders, Raging Bulls (recebi o livro ontem e fui até as 3 da manhã grudada nas deliciosas fofocas e o detalhamento das artes e produções que fizeram a guinada de Hollywood nos anos 70 com Coppolla, Scorcese, George Lucas e Spielberg), acordei cedo para receber seu Nei, o encanador, que é ferroviário aposentado.
Sob a pia da cozinha, seu Nei me conta que aposentou-se cedo porque começou a trabalhar aos 14 anos, mas que começou a atrapalhar a vida doméstica. Decidiu, então, estudar, fazendo um curso no Instituto de Carnaval da Estácio de Sá. Dali, foi estagiar na São Clemente, na Cubango e acabou chegando, com seus colegas, ao Gato de Bonsucesso, um bloco da Maré, que havia sido elevado à categoria de escola de samba. Pois bem, conversa vem, conversa vai, seu Nei me conta que foi alçado à presidência da agremiação depois que a diretoria derrubou o presidente anterior.
Já contratei um estofador que era ex-Tupamaro, meu técnico em refrigeração é violonista, agora, esta é a primeira vez em que um sambista conserta o encanamento de minha pia!!!
Nem adianta me pedir o telefone do seu Nei. Ele avisou que hoje foi seu derradeiro trabalho hidráulico. Quer se dedicar apenas ao carnaval.

Um adendo: Não que eu escolha um staff tão cult. O Helinho, que cuida de geladeira, ar condicionado e máquina de lavar daqui de casa, já era amigo antes de se dedicar aos consertos domésticos, que abraçou quando sentiu a dificuldade de sustentar a família apenas com a música. O ex-tupamaro era ótimo estofador, mas a gente perdia um tempão brigando por política (ele era brizolista também). Já tive um eletricista cozinheiro, que jamais deveria ter-se dedicado às fiações. Provocou um curto não apenas no meu apartamento, como no prédio inteiro. Minha ex-manicure era um pouco filósofa e psicanalista. Quando ela deixou a profissão para abraçar outra carreira, corri de volta à terapia. Era ela que dizia que eu tinha um imã para atrair gente diferente, maluquete, encantadora e adorável! Com toda a razão.

1.12.09

Shame on you

Gosto muito do Robin Williams, um bom ator, histriônico, caricato, envelhecendo macilento, humorista dos bons. Mas a piadinha sobre o Rio foi infame e arrogante. A gente, com aquela humildade subdesenvolvida, toma cuidado pra fazer este tipo de brincadeira.
Aí, nosso elegantíssimo prefeito decide dar o troco. Lógico que estamos ofendidos, lógico que podemos levar na brincadeira, lógico que podemos responder à altura. Mas jamais um político deveria utilizar uma terminologia tão baixinha. O representante da minha cidade se expressar de forma tão grosseira é nivelar a cidade inteira pela estupidez.
Acho que existem uns momentos de desatino verbal entre nossos políticos. Vide Martha Suplicy, vide o Ciro Gomes. Agora, chegou a vez de Paes.