30.9.05

Como nossos pais

Por que será que parece que a humanidade tem entre 23 e 28 anos?
Por que será que quando eu tinha entre 23 e 28 anos nem me importava com o resto da humanidade?

Somente só

Computador no conserto
filhos espalhados pelo Brasil
e amanhã faz quatro anos que minha mãe morreu.

Crise da Meia-Idade



Há uma personagem da Época da Inocência, da Edith Wharton, que é idosa e gorda a ponto de jamais sair de casa, onde recebe os visitantes sempre refestelada ao leito, cercada de almofadas e cachorros. Quando observo minha imagem envelhecida no reflexo da vidraça e percebo que meu papo hoje é parte de meu semblante, temo estar cada vez mais próxima da ricaça obesa.
A diferença é que sou pobre e ainda me obrigo a caminhar para trabalhar.

29.9.05

Apego

Uma nova despedida, um novo encontro de parte das Graças do Edu - as amigas de Eduardo Graça que se tornaram amigas entre si depois de conhecê-lo. Achei que este apelido combinava conosco, que somos umas gracinhas, e homenageava nosso amigo-irmão que acompanha diariamente nossas aventuras e desventuras pela Web. Admirável Mundo Novo, no qual o romantismo das cartas se extinguiu, mas que nos permite seguir as trajetórias dos que estão longe bem de pertinho.
Motivo pra gente se encontrar até podemos criar. Ontem, peguei carona com Marina só pra vê-la. Saltei um pouquinho mais distante do que faria se estivesse de metrô, mas foi tão bom!!! Hoje, nos juntamos para a despedida de Regina, a mais nova egressa do emprego anterior. É a terceira semana seguida de despedidas. Terça-feira que vem, novo encontro marcado, quando celebraremos minhas 45 primaveras. Tá difícil da gente se desgrudar...

Separações

Meu bravo Pentium travou há dois dias. Hoje, vai pro estaleiro.
Olha que eu chego em casa e nem mexo na máquina, mas só a possibilidade de estarmos separados me provoca imensa dor.
E minha noite promete: os filhotes têm que acordar às 5 da manhã e viajam em excursão para São Paulo, onde entenderão o Brasil no contexto da América Latina, seja lá o que isso quer significar. Vão ficar agitadíssimos e ninguém dormirá direito, claro! Para eles, a viagem é uma farra maravilhosa, embora professores e a diretora da escola sejam os guardiões dos 100 petizes de 10 a 14 anos. Para os pais, uma punhalada nas finanças, que só decidi fazer esta semana, ao receber a indenização trabalhista, como presente de aniversário, Natal, Ano Novo, Carnaval e Páscoa.
Para expiar minha culpa judaico-cristã por mimar meus filhos, dei uma esmola polpuda a uma mãe com um bebê, sentada na escadaria da igreja de Santa Luzia. Não foi bondade, não, nem generosidade. É culpa mesmo.
Descobri que a expressão "ter um gato no peito" para definir o estranho ruído produzido pelos asmáticos é muito fiel à realidade quase trinta anos após a última crise, na infância. Voltei a ser asmática ano passado e tenho gatinhas ruidosas, que emitem estranhos sons quando contrariadas. O chiado se confunde com um lamento - exatamente o que vive dentro de meu peito e me constrange, pois jamais sei se estou incomodando meu companheiro de leito, meu vizinho de poltrona de cinema ou quem divide comigo o banco do metrô. Não sei se as gatas são as principais responsáveis pelo barulho que se instalou em mim. Tenho certeza que elas têm alguma relação com ele. Mas o que fazer com tais agentes provocadoras?
Chiar baixinho o resto da vida. Minha e delas.

26.9.05

Jardins suspensos do MEC

A vida é uma eterna descoberta. Nenhuma novidade em declaração tão instigante. Costumava repetir isso para meus filhos, sonhando que, um dia, eles viriam a escrever um "Meu Tipo Inesquecível" para alguma revista feminina, já que a Seleções do Reader's Digest não tem o menor charme ou apelo para as atuais gerações (sequer para a minha tinha - não posso me esquecer de um artigo tecendo loas ao Kaddafi, apontado, então, início dos anos 70, como a força democrática do Oriente Médio). O tipo inesquecível seria eu, claro, a mãe maravilhosa, com lições de bem viver como a de que a gente aprende uma coisa nova todos os dias.
Com isso, buscava valorizar o que eles aprendiam no colégio (adiantou bem pouquinho, reconheço. A turma é fracote de estudos, embora todos sejam muito sagazes) ou num passeio qualquer. Isso também porque eu lera algum educador - do tipo Bruno Bettelheim antes de ser desmoralizado como um tirano que batia em filhos - ou em alguma revista feminina/reflexiva que mães mostram às crianças o quanto elas são importantes quando perguntam sobre o dia escolar.
A lição que recebi hoje veio de Hugo: aprendi a usar o computador sem mouse. Dá uma trabalheira, mas vale a pena, pois é só a gente não ter um instrumento para querer utilizá-lo.
Chove a cântaros em São Sebastião, o que me leva a pensar seriamente em adotar um sobretudo bem lindo como parte de meu guarda-roupa. Eu adoro roupa de chuva, amo guarda-chuva! Também gosto de dias nublados, chuvisquinho. Não gosto é de não encontrar um único sapato fechado para comprar no Rio de Janeiro quando acaba o inverno. Há uma estranha lógica do comércio carioca que obedece ao clima determinado literariamente pelas estações do ano. Ora, há 45 anos eu sei que dá praia no inverno do Rio. No verão, as águas são calmas e geladas, no inverno, calmas e quentes. Na meia-estação, geralmente, são mais agitadas.
Mas anda tudo trocado mesmo, tem ressaca sem parar e cheiro de ciclones e tsunamis no ar. Mesmo assim, só há sandálias ou scarpins chanel de bico de matar barata no cantinho da parede à venda. Sapato fechado? Raras e parcas botas que sobraram das liquidações de inverno, em tamanhos para gueixas. Eu, que calço 39/40, fico só de olho comprido. Pior é minha afilhada Amanda, 1,82m de mulheraça, calçando 42. Não encontra sapatos. Outra lógica esquisitíssima dos fabricantes de calçados. Com esta geração agrotóxico crescendo igual a arranha-céu, não aumentam a oferta de sapatos para pés grandes. Artur, meu primogênito, deve ter parado de crescer em dimensões e altura (espero). Aos 16 anos, tem 1,90m e calça 45. Oto, com 15, chegou a 1,85m e calça 42, 43. Hugo, ainda meu pequenino, 1,60m, 13 anos, sapatos ... 41. E Júlia, ainda com menos de 1,60m, mas prestes a ultrapassar a barreira, aos 11 anos, espreme os pés em sapatos 37, 38.
Sou uma mulher graúda, atualmente equilibrando peso acima dos três dígitos em quase 1,63m. Meus filhos são grandões, mas não diferem tanto assim dos amigos. Boa parte de meus amigos, que também estão queimando óleo 44/45, são homens (e mulheres) muito altos. Tive uma série de namorados muito além de 1,80m. Ou seja, este povo grandalhão vem aparecendo há muito tempo, criada com gordura hidrogenada, carne entupida de hormônios, conservantes e acidulantes. Já era para os sapateiros aumentarem a produção de sapatões!
Isso tudo reflito ao olhar pela janela de minha sala - sim, eu tenho uma sala só minha, com livrinhos, estante, uma lindíssima escrivaninha em U, tudo em pau marfim e laminado palha. Blogar do novo emprego é impossível, não por falta de inspiração, mas por total ocupação de meu tempo. Sinto saudades dos amigos, da gritaria, das brincadeiras. Então, olho para o prédio do MEC, em frente, posso ver os jardins desenhados por Burle Marx, constantemente cuidados por jardineiros que não ligam para a chuva. Minha chegada aos novos domínios me lembrou o fim de "Uma Secretária de Futuro", quando Melanie Griffith, depois de ganhar o Harrison Ford, descobre que não será mais secretária, mas executiva. E a câmara abre de sua vidraça para umas 800 mil janelas iguais de outros escritórios de Manhattan.
So, let the river run.

24.9.05

Nesses dias corridos, dias em que o sol e a chuva travam batalhas diversas e nunca temos certeza de qual será o vencedor, as bolhas adornam meus pés fatigados que tiptoam (de "tiptoe" ) cautelosamente um terreno novo, escorregadio, barrento, perigoso por desconhecimento. Nessas veredas há muitos guias para me auxiliarem a enfrentar percalços - eu os identifico de pronto, embora esteja alerta como um cão de caça.
Depois que descobri São Judas Tadeu, meu corpo fechou.
Começo até a fazer dieta, percorro grandes distâncias de saltos altos, pago dívidas e suspiro.
24/09/05

23.9.05

Caminhando sob a chuva da primavera

Dias de sol e chuva alternados, noites quentes ou frias, previsão do tempo instável e quente no Rio.
Desde que saí do antigo trabalho, falo diariamente, umas três ou quatro vezes por dia, com quem ficou por lá. Assim, não nos sentimos sozinhos.
Promovi a adoção de outra gatinha, Mia, que hoje vive com um de meus casais favoritos.
Enquanto isso, minha Gal foi internada com infecção urinária, o que vai me custar uma pequena fortuna. Reuniões se sucedem, tenho tanto a aprender. Como foi bom virar o jogo antes do fim do primeiro tempo.

Depois das festas


DESPUÉS DE LAS FIESTAS

Y cuando todo el mundo se ibay
nos quedábamos los dos
entre vasos vacíos y ceniceros sucios,
qué hermoso era saber que estabas
ahí como un remanso,
sola conmigo al borde de la noche,
y que durabas, eras más que el tiempo,
eras la que no se iba
porque una misma almohada
y una misma tibieza
iba a llamarnos otra vez
a despertar al nuevo día,
juntos, riendo, despeinados.

(Acho que este é pra alegrar a Rosa, que também ama o falso feioso mais belo da Argentina; eu me apaixonei por este poema antes de aprender a me apaixonar)

Meu mote para o ano chinês que começa semana que vem


Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais clara e farta
Repleta de toda satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão
Eu quero crer no amor numa boa
Que isso valha pra qualquer pessoa
Que realizar
A força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim do que não
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo que volte amor
Vamos viver tudo o que há pra viver
Vamos nos permitir

Pra alegrar a Jordana!!!!

17.9.05

Reino da bicharada

Gatas, como mulheres que convivem diariamente, têm ciclos hormonais coincidentes. Pensava que isso só acontecia com primatas. Duas das quatro gatas - Jolie e Gal - estão no cio e se alternam em lamentos ruidosos dia e noite pela casa. Assim que acabar o cio delas, começa o da Mel. A caçula, Bela, ainda é pré-adolescente. Corre pelo apartamento inteiro, brinca de morder os artelhos que encontrar pela frente, já que as outras moças não lhe dão bola, ansiosas que estão para arrumar um namorado.
Tentamos, uma vez, providenciar um amante para elas. Garfield, vira-lata siamês, foi trazido para um encontro. Assustou-se com o ímpeto das gurias. Continuam todos virgens. Elas, desesperadas, irritadíssimas. Quando todas estiverem fora "daqueles dias", a gata do vizinho inicia o dela.
Ou seja, ouço miados sofridos o tempo todo.
Os pássaros se dividem em três gaiolas, depois que, hoje cedo, libertamos uma rolinha que apareceu na varanda e foi atacada pelas gatas. Júlia passou água oxigenada, deu comidinha e, constatando a melhora, dei alta para a coitada. É uma das muitas que volta e meia surge por aqui desde que Júlia inventou de deixar alpiste para elas nos beirais das janelas. Um dia contei oito rolinhas entrando no apartamento. Acabei com a festa da passarada, mas continuo com o casal de periquitos, o casal de rolinhas chinesas, uma mandarim (o macho morreu) e dois agapornes. Hoje, descobri o filhotinho morto no ninho. Esquecemos de separar o macho da fêmea. Há ainda dois ovos no ninho, não sei se vingarão.
Azulão, o peixe, e Valentina, a tartaruguinha, vão bem.

No momento, sinto-me uma Bridget Jones mais idosa, mais pesada, mais morena, mais culta. É que a personagem trabalhava numa editora no início do livro/filme.
Infelizmente, os canalhas que me aparecem na vida nada têm a ver com o Hugh Grant...


Vou limpar todas as gavetas, deletar e-mails e arquivos do computador,
raspar o fundo dos tachos, arrancar os quadros das paredes.
O que tenho não caberá numa só caixa.
fica dentro de mim.
Darei bonecos, enfeites, desenhos, retratos.
Levarei todas as lembranças
Guardarei os olhares,
os sabores,
as risadas
para me fortalecer na passagem.


Isto foi escrito quando a mudança era apenas um desejo intenso.
Quando ela se concretizou, tornou-se apavorante, mas, em questão de horas tudo transformou-se em enlevo, inebriante como uma nova paixão.
Paixão daquelas que leva a separações penosas, mas, felizmente, circunstanciais e temporárias.
Família marca a gente na pele.

13.9.05


A vida muda porque assim eu quis. Mas dá um medo...

10.9.05

Mulher virtuosa



Afinal, sou uma mulher virtuosa, embora precariamente...
Pela terceira vez, o moço do Virtua/Net vem instalar a traquitanda e conclui que os cabos estão muito antigos, necessitando de troca. Se o Virtua despencar enquanto os cabos não forem substituídos, volto à conexão discada, com aquela velocidade baixíssima.
Por enquanto, não sinto grande diferença, não. Quem tem XP sabe que a vida é feita de esperas.

9.9.05


A única coisa que eu gostava naquele besteirol do Sex and the City era a vida profissional da Carrie.
(Detesto a Sarah Jéssica Parker, acho chatérrima, feiosa, com uma voz muito desagradável. Tá, eu também dei uma acompanhada básica, vi algumas temporadas direto, em DVD, emprestado, e não achei nada tão especial assim, tão revolucionário assim, tão sensacional assim, porque, vem cá, aquela mulherada acima dos 30 arrumava homem sozinho com uma facilidade fora do comum em cidade grande! Só meus amigos gays têm uma vida semelhante às delas, e, mesmo assim, esporadicamente.)
Melhor que a intensa movimentação nas alcovas da moça e de sua volúpia por sapatos era aquela vida mansa de colunista, que lhe permitia viver comodamente em Nova York. Eu queria ser isso, viver de escrever besteiras e sustentar família no Rio de Janeiro. Escrever até quase voltar a sofrer de tendinite, escrevinhar sem grandes pretensões, sem tanta qualidade assim, refletir a vida circunstancialmente. E ganhar dinheiro com isso.
Sim, eu vivo de escrever, mas também de me comunicar. É o que sei fazer, é o que sempre farei. Tirar uns bons caraminguás com a escrevinhança ainda está no mundo dos sonhos...

Estou nos minutos finais do primeiro tempo e preciso virar o jogo antes do segundo. Pelo menos, estou driblando direitinho. Resta saber se a virada vem antes do intervalo.

Pelo sim, pelo não, rendi-me aos apelos de meus amigos religiosos. Uma amiga, carismática, me enviou água benta, consagrada pelo Padre Marcello Rossi em seu programa diário de rádio. Aspergi a casa inteira, nas janelas, portas, regando as plantas. Fiz sinal da cruz na testa das crianças. Júlia, empolgada, pegou a garrafinha e bradava "Por Alá!", antes de atirar a água onde quer que fosse. Nem deu para explicar que Alá é Deus pros muçulmanos. Mas me lembrei que há três correntes monoteístas, os muçulmanos, os judeus e os cristãos. Então, deve ser o mesmo Criador.

Passei uma corrente de São Judas Tadeu no dia do santo, botei uma Comigo Ninguém Pode na porta de casa e chamei os amigos para comemorar o 7 de setembro. Até agora, parece que bons fluidos nos cercam.

Morro abaixo


11h do dia 9.
Uns 25 graus Celsius, sensação térmica de 32 ao sol, que luta com as nuvens. Amanhã fará um lindo dia de praia, mas eu temo ir à praia depois das chuvas, a Defesa Civil, a Secretaria de Saúde, os biólogos, os sanitaristas avisam que faz mal ir à praia depois das chuvas, porque as águas estão poluídas, já que o esgoto desceu em enxurrada dos morro abaixo.
Hoje, no jornal, tem uma foto do corpo de um homem assassinado sendo encontrado pela mãe e pela irmã do morto. Num morro. No meio da mata. Parecia a foto de um corpo encontrado há mais de 20 anos, de uma mocinha, Mônica, que se matou ou foi morta caindo da janela do apartamento de um ficante. Na época não existiam ficantes e as meninas que “ficavam” eram malvistas, embora todo mundo ficasse e desse como sempre aconteceu na humanidade. Todos os jovens envolvidos no crime eram lindos e filhos de pais separados, olha aí a dissolução da sociedade, era o que se comentava.
O motorista do táxi que eu peguei mora no Vidigal há 20 anos. Comprou uma casa por 21 mil dólares, cruzeiros, cruzados, sei lá qual a moeda daquele tempo. Agora, não vende por vinte mil reais, embora seja na rua principal, em frente a uma padaria, tenha três andares, terraço, churrasqueira e garagem. Mas precisou, vinte dias atrás, alugar uma vaga para seu táxi atrás da padaria, pois o carro foi alvejado em sua própria garagem pela Polícia. As filhas, de 20 e 21 anos, são jogadoras de vôlei e vivem nos Estados Unidos. Estudam na universidade do Texas, mas preferiam morar no Rio com os pais, que passaram a noite acordados por causa do tiroteio incessante entre traficantes e policiais.
E a gente ainda insiste, né?

4.9.05

Vida que segue


Júlia se preparando para sair, experimentando biquínis com uma amiga que dormiu aqui em casa. Vão para a casa de outra menina, em frente ao prédio, um daqueles novos apart-hotéis de Botafogo, com piscina, sauna, sala de jogos, pista de atletismo, tudo para manter seu filhote confinado numa vida protegida, embora as balas da guerra no Santa Marta possam atingir suas vidraças blindadas.
Eu? Ah, eu quero ficar em casa, apesar do dia lindo, lendo um bocado ou assistindo a "Orgulho e Preconceito" na TV. Adoro ver Colin Firth com aquele ar absolutamente inexpressivo, vazio, de Mr. Darcy. Conheci um homem com a mesma inexpressão. Tem gente que leva a vida com cara de entojo.

Semaninha Cã


Tiroteio no Santa Marta, morte e enterro do Alva, Gabeira desanca com Severino na Câmara e reacende a paixão em eleitores desiludidos, impedimento de blogar do trabalho, Nova Orleans debaixo d'água, conscientização sobre picaretagem em todos os campos da vida, início de inferno astral.
Uff, cansei!!!!

Depois do maremoto


Foi nos idos da década de 70 que começaram a surgir em muros de Ipanema a misteriosa inscrição Celacanto Provoca Maremoto. Depois de algum tempo – naquela época, a vida era mais lenta, sem exigências de informações imediatas -, apareceram reportagens sem localizar o autor do graffitti, decifrando a mensagem intrigante: celacanto é um peixe abissal, considerado um fóssil vivo, pois espécies semelhantes sumiram do planeta há quase 300 milhões de anos. A frase viria da série de TV “National Kid”.Quando a década já estava prestes a acabar e pichadores se proliferavam como roedores, marcando muros pela cidade inteira, descobri a identidade do Celacanto. Era um nerd grandalhão, primo de um de meus melhores amigos. O segredo chegou à imprensa, não por minha obra, era apenas uma colegial então.Por que tudo volta trinta anos depois do Celacanto borrar a Zona Sul carioca? Porque ontem acompanhei o enterro do pai de outros amigos, todos do mesmo grupo que está junto desde os anos 70. Esses amigos são meus parentes escolhidos e sepultar um pai é soterrar, definitivamente, nossa juventude. Hoje, ainda nublada por um pesar que se desdobra desde a morte de meus pais, encontrei a inscrição na Internet. Hora de limpar essas inscrições, pintar as paredes da alma e seguir com a vida, levando as saudades numa caixinha de lembranças queridas, que abrimos para sorrir e massagear com ternura os dias difíceis.