21.6.11

O fim dos T-birds

Meu personagem favorito de Grease, ao qual devo ter assistido pelo menos vinte vezes (no cinema, umas oito. É, adolescente antes do DVD era assim mesmo; depois, vi trocentas vezes na TV e com meus filhos, cantando todas as musiquinhas cafonas e deliciosas).
Sabia que o ator Jeff Conaway havia entrado em coma, mas só agora descobri sua morte, há cerca de um mês, em consequência provável da dependência de drogas.



John Travolta perdeu um filho rapazinho, Olivia Newton-John teve câncer, Conaway transformou-se em subcelebridade patética, participando de um reality show de gosto duvidoso, o Celebrity Rehab. Sobraram T-Birds e Pink Ladies para encantar novas gerações românticas.

16.6.11

Voyeurismo de cinema - The Holiday










Caço pela Web imagens de interiores de filmes que mostrem casas bonitinhas, acolhedoras, deliciosas - tudo com material de primeiríssima qualidade ao qual reles mortais como eu jamais teriam recursos para utilizar. Mas é cinema, é sonho, é imagem. Acima, alguns detalhes da casinha linda que a personagem de Kate Winslet empresta para a de Cameron Diaz em The Holiday, filminho fraquinho, mas encantador, de Nancy Meyers, que aqui recebeu o pavoroso título O Amor Não Tira Férias. Além de ser uma graça, a cottage inglesa ainda dava o direito de desfrutar o Jude Law. Quem não se habilitaria?

10.6.11

O feminismo, hoje

Sociedade: Até hoje, os avanços nos direitos das mulheres ainda não se traduziram em melhor divisão das tarefas domésticas.

A dupla jornada e o feminismo

Olga de Mello | Para o Valor, do Rio
10/06/2011

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Andreas Rentz/Getty Images
Catherine Hakim, da London School of Economics: "Britânicas procuram se casar com homens que lhes garantam segurança financeira"
Já vai longe a época em que queimar sutiãs em praça pública simbolizava a luta pela igualdade dos sexos. Enquanto os sutiãs alcançaram novo status, tornando-se peças de vestuário a serem exibidas, os discursos das feministas parecem ter perdido a veemência. Na maioria dos países, o avanço feminino nos campos profissionais não foi acompanhado por estruturas que facilitem a dedicação ao trabalho, já que as tarefas domésticas e os cuidados com a família continuam recaindo sobre as mulheres. Terceirizar os serviços domésticos pela contratação de faxineiras e babás, até há pouco tempo saída acessível para as classes médias no Brasil, vem se tornando mais dispendioso. Mas nem todas as brasileiras pensariam em retomar a função de dona de casa em horário integral, opção que agrada às britânicas, mesmo as com carreiras bem-sucedidas, segundo pesquisa da antropóloga Catherine Hakim, da London School of Economics.

As conclusões de Catherine causaram polêmica e dificilmente encontrariam eco no Brasil. A tese que motivou maiores críticas foi a de que muitas britânicas procuram se casar com homens que lhes garantam segurança financeira, permitindo que optem por permanecer no lar. O comportamento da brasileira se assemelha ao das que vivem nos países desenvolvidos, adiando tanto o casamento quanto a maternidade e reduzindo o número de filhos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) confirmou a tendência de crescimento no número de mulheres chefes de família no país em todas as categorias sociais. Apesar da nova postura, a dupla jornada de trabalho é assumida pela maioria das 38,4 milhões de mulheres no Brasil, que tem 40 milhões de donas de casa em tempo integral, número que seria inferior se houvesse mais creches no país, acredita a economista Hildete Pereira de Melo, editora da revista "Gênero", da UFF.

"A mulher pobre sempre trabalhou muito, apesar da carência de creches histórica no Brasil. Hoje, seriam necessárias creches para 2 milhões de crianças, que acabam ficando com as vizinhas, com as avós ou sob a supervisão de irmãos mais velhos. Esse tipo de arranjo não existe no norte da Europa, onde as famílias não têm os mesmos hábitos que as nossas", diz Hildete, que viveu na Inglaterra. Outro sinal dos tempos é o papel das avós nos cuidados com os netos. Mesmo com o adiamento da maternidade, nem sempre ele coincidirá com a aposentadoria da avó, que também tem uma carreira, sejam as mulheres de classe média ou as mais humildes.

Aparentemente, a luta das mulheres brasileiras começa no front doméstico, onde são encarregadas de afazeres que esporadicamente são assumidos pelos homens - principalmente depois que se aposentam. "A dupla jornada de trabalho é uma resposta à falta de políticas públicas de apoio à maternidade, que já não é o único foco de realização das mulheres", observa Bila Sorj, do Núcleo de Estudos de Sexualidade e Gênero da UFRJ. "Há quem idealize ficar em casa, mas isso está ligado à qualidade da ocupação. São pessoas que trabalham exclusivamente para sobreviver e que encaram a aposentadoria como um prêmio."

O estresse dentro do lar deve aumentar, já que a tendência é de redução da oferta dos serviços hoje desempenhados pelas empregadas domésticas, ocupação de 6,2 milhões de brasileiras, que volta a ser a principal atividade profissional feminina desde a crise de 2008. No ano anterior, haviam sido superadas em número pelas comerciárias, mas a atividade cresceu depois das demissões na indústria e no comércio. "A remuneração do serviço doméstico foi a que teve maior crescimento nos últimos cinco anos, o que torna sua contratação inviável para muitas famílias", diz Hildete.

Desvalorizado, embora essencial, o serviço doméstico é trocado por atividades mais sofisticadas nos períodos de crescimento econômico. "As meninas pobres, que geralmente frequentam as escolas por mais tempo do que os meninos, buscam colocações melhores no comércio ou na indústria. A empregada doméstica que dorme no serviço e cuida das crianças, misturando as relações pessoais com as de trabalho, e que amortece a briga em torno das tarefas em casa, tende a desaparecer", diz a demógrafa Moema Guedes, que aponta um novo momento da luta pelos direitos das mulheres - o da conquista dos postos de chefia no trabalho.

As uniões "por interesse" que causam espanto para os ocidentais são bem mais recentes do que nos recordamos, diz a antropóloga Míriam Grossi, coordenadora do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades da Universidade Federal de Santa Catarina. "As pessoas se horrorizam, mas o casamento é um projeto social e sempre atende a interesses." Para ela, quando uma mulher abre mão da carreira por conta da função do marido, está investindo no projeto de carreira desenvolvido em parceria.

7.6.11

O Padre de Ipanema


Era fim dos anos 60 quando fui arrancada do torpor em uma missa celebrada por um alemão louro, que caminhava pelo corredor da capela do Colégio Notre Dame, interpelando as alunas, que eram obrigadas a participar dos cultos às sextas-feiras. Falava um português carregado de sotaque, conclamando os "chjouvennns" a procurar Deus no dia-a-dia. Distribuía perguntas ao público, deixando aturdidas as meninas a quem fazia indagações durante as celebrações. E aos sábados, à noitinha, celebrava a Missa Jovem, onde cantava-se música acompanhada por violões, em vez do tradicional e insuportável orgãozinho elétrico.
Meu contato com Frei Clemente Kesselmeier foi ínfimo, restrito às confissões, uma tortura imposta às crianças que já haviam feito Primeira Comunhão. Filha única, sofria a angústia de buscar pecados a enumerar antes de revelar minhas ausências da missa dominical - o que me garantia reserva de vaga para a eternidade no inferno. Quem tinha irmãos sempre podia contar que batera num, puxara o cabelo de outro; eu falava que respondera mal aos pais, contava mentiras e proferira o nome de Deus em vão. Um padre me dissera "tão jovem e já nesse caminho, minha filha", o que me impressionara. Cansava de ver meninas mais jovens deixarem o confessionário aos prantos.
Frei Clemente gostava de ouvir confissões das garotas na sacristia ou no altar da capela, cara a cara. Ouvir é modo de expressão, pois ele mal nos dava tempo para o ato de contrição. Depois do primeiro "desobedeci a meu pai", ele já cortava nosso discurso, mandava que rezássemos as aves-marias e pais-nossos de praxe, dispensando as pecadoras redimidas. Com os adultos, era diferente. Uma vez ficou de conversa com minha mãe, na Igreja da Paz. Como estranhei a demora, Mamãe me contou que ambos mantiveram um interessante debate sobre dúvidas de fé. Ela, que não gostava das celebrações de Frei Clemente, barulhento, sempre de batina branca, parecendo um Jon Voigt jogado nos trópicos, passou a respeitá-lo, então, como um orientador espiritual competente.
À parte a teatralidade da Missa Jovem (as luzes eram diminuídas no momento da Consagração e acesas, rapidamente, após o "Eis o Mistério da Fé"), as missas de Frei Clemente eram animadas e superlotadas, tanto no colégio quanto na Igreja da Paz. Lembro-me particularmente de uma em que ele se dirigiu a nós perguntando a gíria para "homem bonito". Ainda não era "um gato", mas já havia deixado de ser "um pão" - a metáfora que ele buscava para falar sobre a escolha de Cristo em se perpetuar como alimento básico na Última Ceia. Naturalmente, achávamos que Frei Clemente era maluco e antiquado, mas ninguém negava seu carisma e sua intensa busca pela aproximação com os chjouvens.
Ao longo dos anos, encontrei Frei Clemente em diferentes ocasiões, fora da igreja ou das ruas de Ipanema. Uma vez, ele adentrou o quarto de um amigo, na Barão da Torre, num ritual de bênção da casa inteira, atendendo ao pedido da mãe desse amigo, uma Clementete assumida. Os Clementetes eram os frequentadores do Encontro de Casais da Igreja da Paz, que adoravam o Frei.
Acompanhei a última missa de Frei Clemente em Ipanema, na Nossa Senhora da Paz, antes de sua transferência para o Convento de Santo Antônio, no Centro. Estava de plantão, na redação, e fiz questão de pegar a pauta. Ele já fora objeto de uma entrevista que determinei como pauteira/chefe de reportagem do primeiro número do jornal da Faculdade da Cidade, que acabara de ser aberta em Ipanema. Mas minha matéria com ele foi sua despedida do bairro, pranteada não apenas pelos Clementetes. Em nenhum momento ele se deixou levar pela comoção dos fiéis, que ameaçavam queixar-se ao prior dos franciscanos, reafirmando que o dever do sacerdote é ir aonde há necessidade.
Nos últimos tempos, eu o via em entrevistas de televisão, na missa de Bodas de Rubi ou de falecimento de amigos. Do barulhento Frei Clemente, que faleceu ontem, aos 76 anos, e da algazarra da minha juventude restam a sensação de que a vida pode ser uma alegre celebração.