Um colega, publicitário, me conta que parou de ler jornal porque a imprensa dá mais espaço a notícias sensacionalistas que a fatos que elevem a moral do leitor. Ele diz que vê jornal pela televisão e que as más notícias são repetidas à exaustão o dia inteiro.
Realmente, não há por que nos interessarmos por depoimentos sobre corrupção.
Não sei por que se mostram dois ônibus incendiados por moradores de um conjunto habitacional do Leblon, revoltados com a morte de um rapazinho, provavelmente por ter se recusado a ceder à extorsão praticada por seguranças ou PMs. É o tipo da notícia que o leitor não sabe se entende a razão dos revoltosos, tem pena da morte de mais um jovem de forma absurda e bárbara ou se condena o vandalismo, porque não há assassinato que justifique a violência contra o patrimônio de quem nada teve a ver com aquilo.
Também não dá para entender por que a imprensa conta a história de uma mulher que vai às compras, em um shopping elegante, e descobre que seu bebê foi levado para uma delegacia quando retorna ao estacionamento, aonde havia deixado a criancinha trancada dentro de um carro. Ponto para a Polícia, que agiu corretamente, resgatando o bebê de uma mãe absoluta e totalmente irresponsável, que deverá perder a guarda da criança.
Era bem melhor lermos boas notícias e ignorarmos este mundo, igualzinho aos que posam com sorrisos que não afetam os olhos nas colunas sociais.
29.6.05
28.6.05
Flagrantes cariocas
Nesta cidade atordoante, o perigo está em frente, ao lado, por cima, abaixo. Respiramos a tensão, a angústia, a dor. O rapazinho morto na Rocinha porque subiu na lage durante o tiroteio só tem o pranto do pai. Quem lê a notícia, faz que entende a lógica do policial, que explica: "Quem sobe na lage durante o tiroteio é olheiro do tráfico". Ouço alguém dizendo: "Vai ver, era bandido mesmo. Eles são muitos jovens, tudo menor de idade". Não sei sequer o nome deste garoto de 15 anos, só sinto a dor do pai, que parece, também, conformado com a morte do filho. "Eu já havia dito a ele para não subir na lage, que era perigoso". O garoto fora desligar a bomba d'água.
Há algum tempo, uma mocinha morreu de madrugada na porta da casa da avó, onde conversava com amigos. Tinha 14 anos e não me lembro do nome dela também. Como não sei o nome dos tripulantes do helicóptero que caiu e explodiu em cima do auditório da Bennet. Testemunhas juraram que tiros abateram o helicóptero. A perícia diz que não, mas valerá a lenda da imensa força dos traficantes do Morro Azul, capazes de derrubar uma aeronave. O que me deixa intrigada, apenas, é a razão de um helicóptero da Marinha sair de São Pedro d'Aldeia para fazer um vôo de reconhecimento no fim da tarde sobre o Rio, a quase 200 quilômetros de distância do ponto de partida. (Avião cair em casa é raro mesmo. Só me lembro de um, que aterrissou na sala de uma casinha, na Saúde, há uns bons vinte anos, num sábado em que eu dava plantão. Uma cena estranhíssima, a sala destruída por um avião pequeno. O piloto escapou ileso).
Um estudante de 23 anos atravessa pistas da Vieira Souto em alta velocidade, destroçando o carro de um senhor, que morre no impacto. Preso em flagrante, é liberado, embora tudo indique (já que não há perícia para comprovar o estado etílico do motorista) que tenha consumido muita bebida alcoólica numa boate. A família do morto vai processá-lo.
Uma amiga chega ao trabalho contando a tentativa de assalto que sofreu. Caminhava por Botafogo, falando ao celular, que um homem, de mão dentro da blusa, requisitou. Em segundos, correu até uma loja, de onde só saiu de táxi.
E a gente ainda resiste, olhando o céu azul claro de mais um inverno quentinho, que sufoca nossa revolta e só nos faz ir em frente, tolerantes com a miséria que nos cerca.
Há algum tempo, uma mocinha morreu de madrugada na porta da casa da avó, onde conversava com amigos. Tinha 14 anos e não me lembro do nome dela também. Como não sei o nome dos tripulantes do helicóptero que caiu e explodiu em cima do auditório da Bennet. Testemunhas juraram que tiros abateram o helicóptero. A perícia diz que não, mas valerá a lenda da imensa força dos traficantes do Morro Azul, capazes de derrubar uma aeronave. O que me deixa intrigada, apenas, é a razão de um helicóptero da Marinha sair de São Pedro d'Aldeia para fazer um vôo de reconhecimento no fim da tarde sobre o Rio, a quase 200 quilômetros de distância do ponto de partida. (Avião cair em casa é raro mesmo. Só me lembro de um, que aterrissou na sala de uma casinha, na Saúde, há uns bons vinte anos, num sábado em que eu dava plantão. Uma cena estranhíssima, a sala destruída por um avião pequeno. O piloto escapou ileso).
Um estudante de 23 anos atravessa pistas da Vieira Souto em alta velocidade, destroçando o carro de um senhor, que morre no impacto. Preso em flagrante, é liberado, embora tudo indique (já que não há perícia para comprovar o estado etílico do motorista) que tenha consumido muita bebida alcoólica numa boate. A família do morto vai processá-lo.
Uma amiga chega ao trabalho contando a tentativa de assalto que sofreu. Caminhava por Botafogo, falando ao celular, que um homem, de mão dentro da blusa, requisitou. Em segundos, correu até uma loja, de onde só saiu de táxi.
E a gente ainda resiste, olhando o céu azul claro de mais um inverno quentinho, que sufoca nossa revolta e só nos faz ir em frente, tolerantes com a miséria que nos cerca.
27.6.05
Vigilancia Sanitária II - O Suplício
Ela voltou! A vendedora de jóias que ataca diretamente as mulheres que entram no banheiro feminino, depois de poucos dias de ausência, retorna a seu posto, constrangendo quem procura um local tranqüilo para fazer aquilo que não ousa dizer seu nome em público.
Essa mulher tem a mesma característica das taradas de banheiro: incapacidade olfativa. Não é humanamente possível manter aquele sorriso falso e a voz melíflua enquanto ruídos e odores desagradáveis se mostram em todas suas glórias!!!!
A presença dela é mais certa que a chegada do IPTU em janeiro. Desde que surgiu em nosso universo de labor, não passa uma semana sem comparecer ao local escolhido como estande de vendas. Quando entramos com a cara virada para outro lado, tentando passar despercebidas, ela brada, triunfante: "Oiiiii! Olha eu aqui outra vez!!!! E então, é hoje que você vai decidir o que levar?"
A marcação é cerrada e, provavelmente, dá certo, já que ela pousou na maior firma do País, burlando todos os sistemas de segurança empresarial que deveriam proteger-nos de suas investidas. Será que existem vendedores nos banheiros masculinos?
21.6.05
Hidratantes, esfoliantes e dandies
Quando inventaram o termo metrossexual, eu imaginava que ele designaria os novos dandies, homens elegantes e vaidosos. Jamais pensei que fosse englobar o conceito vulgarmente conhecido como frescura.
Como mãe de três belos adolescentes, que relutam em passar creme contra espinhas, mas adoram emplastar o cabelo com brilhantina (ooops, gel), acho que homem deve ter aparência limpinha, sim, arrumadinho, sim, perfumadinho também. Mas daí a usar esfoliantes, anti-rugas, máscara adstringente e definir fúcsia enquanto cor, não flor, há uma grande diferença. Nem um dos meus grandes amigos- irmãos, que é gay e vai ao pedicure uma vez ao mês usa base nas unhas. "É boiolice demais até para mim", diz este amigo.
Lógico que vaidade é salutar, desde que contida. Meu tio-avô morreu com 93 anos, fumava três maços de Marlboro por dia, gauchão e mulherengo, fazia as unhas e... horror dos horrores, passava base. Particularmente, odeio homem de cordão e pulseira, com aquele look entre Roberto Carlos e Jece Valadão. Mas amo um brinco masculino. É gosto, não adianta.
A grande vantagem que os homens ainda têm sobre as mulheres além da ausência de celulite e de serem socialmente aceitos de cabelos brancos é a de não precisar se debruçar sobre um balcão de cosméticos e escolher uma tonelada de produtos que a indústria diz que vai retardar seu envelhecimento. Agora a indústria da frescura se volta sobre este nicho consumidor e lá vão cair os homens na mesma esparrela que pegou a mulherada há milênios.
O Beckham? Bem, ele é lindo, claro, riquíssimo e pode investir muito dinheiro nessas bobajadas...
E eu que pensava que os milhões de neurônios masculinos a mais fossem apenas para dar um sentido crucial a qualquer disputa futebolística...
Como mãe de três belos adolescentes, que relutam em passar creme contra espinhas, mas adoram emplastar o cabelo com brilhantina (ooops, gel), acho que homem deve ter aparência limpinha, sim, arrumadinho, sim, perfumadinho também. Mas daí a usar esfoliantes, anti-rugas, máscara adstringente e definir fúcsia enquanto cor, não flor, há uma grande diferença. Nem um dos meus grandes amigos- irmãos, que é gay e vai ao pedicure uma vez ao mês usa base nas unhas. "É boiolice demais até para mim", diz este amigo.
Lógico que vaidade é salutar, desde que contida. Meu tio-avô morreu com 93 anos, fumava três maços de Marlboro por dia, gauchão e mulherengo, fazia as unhas e... horror dos horrores, passava base. Particularmente, odeio homem de cordão e pulseira, com aquele look entre Roberto Carlos e Jece Valadão. Mas amo um brinco masculino. É gosto, não adianta.
A grande vantagem que os homens ainda têm sobre as mulheres além da ausência de celulite e de serem socialmente aceitos de cabelos brancos é a de não precisar se debruçar sobre um balcão de cosméticos e escolher uma tonelada de produtos que a indústria diz que vai retardar seu envelhecimento. Agora a indústria da frescura se volta sobre este nicho consumidor e lá vão cair os homens na mesma esparrela que pegou a mulherada há milênios.
O Beckham? Bem, ele é lindo, claro, riquíssimo e pode investir muito dinheiro nessas bobajadas...
E eu que pensava que os milhões de neurônios masculinos a mais fossem apenas para dar um sentido crucial a qualquer disputa futebolística...
20.6.05
Atendendo também em outro endereço
Inaugurei um blog novo.
Ou seja, tenho filial, agora, ou, mais modernamente, uma franquia.
Como dá pouco trabalho blogar apenas aqui e no Multiply, arrumei mais outro cantinho.
É o Webliterata, exatamente para incluir minhas webliteratices inéditas ou já publicadas na web, como a de hoje, no Anjos de Prata.
O endereço é simples: www.webliterata.blogspot.com. Tem link nos blogs amados.
17.6.05
Nos Andes
O trem seguia por caminhos arenosos, áridos, amarelos, claros e poeirentos. Fazia frio lá fora, naquele céu esgazeado, como dizia minha avó, mas dentro era quente, um tanto ao quanto barulhento, com crianças chorosas e pais que as consolavam, cantando para elas ou tentando entupi-las de biscoito maisena. Por que os pais acreditam que a criança se acalmará com biscoito maisena? Por que os pais acreditam que crianças suportarão horas de travessia no desconforto sem gritar.
Não dava nem para ficar enjoada naquele trem. Eu evitava olhar os precipícios pela janela. Bastava o medo depois de três dias de estrada, com alucinados motoristas em altíssima velocidade, por estradinhas mínimas pelas quais não passariam jamais dois veículos ao mesmo tempo, mas que os peruanos enchiam a boca para apresentar como "La Panamericana".
Preferia o trem. Era tanta cor, tanta gente. O encontro ruidoso de brasileiros que se conheciam naquele instante, contavam a vida inteira um pro outro, trocavam beijos e abraços calorosos para espanto dos canadenses: “Você já conhecia os dois?”. Não, nunca havia visto mais gordos. Era um casal em lua-de-mel que ficara preso pela Alfândega do outro lado do Lago Titicaca. Paulistas, juravam que o comício na Praça da Sé, pelas diretas já, era a maior manifestação de rua que o Brasil tivera. Mas eu já havia lido que no Rio um milhão de pessoas se concentraram na Candelária. Depois de rirmos e nos confraternizarmos, nunca mais nos vimos.
Hoje, percorrer o mesmo caminho vai doer no meu coração. Não tenho mais a coragem dos 23 anos, não tenho a saúde daquela época. E olha que passei mal, que fui internada para tomar oxigênio, que vomitei a alma de tanto enjôo com a altitude. Hoje, a pressão não presta nem na beira do mar. Imagina lá nos Andes. Eu nunca mais voltarei a Machu Pichu. Eu nunca mais acreditarei em política tampouco. Dificilmente esbarrarei outra vez com aquele casal. Mas o desejo de descobrir um mundo novo, este sempre carregarei no peito.
Bloomsday
Você precisa parar de insistir em andar assim, toda garbosa, toda pensando que está garbosa, de sapato alto. Vai cair, vai cair, vai ter que prestar tanta atenção... Por que não calçou tênis, não usa umas havaianas, sapato baixinho, sapatilha de velha? Porque, minha filha, convenhamos, você está VELHA. Não importa sua idade, não importa seus filhos pequenos, a expectativa de vida aumentada pro povo brasileiro. Você está VELHA mesmo.
Pense bem, enquanto calcula cuidadosamente seus passos sobre os paralelepípedos:
1) Você paga IPTU, IPVA, INSS, IR, ICM, ISS e o que houver mais?
2) Você sabe o que querem dizer todas essas siglas?
3) Os paraíbas de obra mantêm-se calados à sua passagem?
4) Antes de se calçar você pensa o quanto vai doer seu pé no fim do dia?
5) Você gosta de ficar em casa?
6) Você fica a maior parte do tempo em casa?
7) Seus amigos estão ficando chatos e inconvenientes?
8) Seu marido ficou careca e/ou barrigudo e/ou insuportável?
9) Suas amigas só falam em plástica e comida?
10) Todo mundo da sua idade sabe cozinhar?
Se respondeu “sim” a qualquer uma dessas perguntas, querida, você envelheceu. Não adianta pensar que virou uma mulher em sua plenitude, porque não existe plenitude feminina enquanto houver um só artigo informando que a mulher mais desejada do mundo tem 25 anos, namora o Leonardo DiCaprio e pesa 35 quilos sem fazer dieta. Melhor parar de pensar em tanta bobagem e carregar direito essas compras, equilibrando-se com galhardia, porque garbo, amiga, ficou para a Greta, que, dizem, era sapata, como muitas mulheres lindas, charmosas, ricas e inteligentes são.
Caminhar no lusco-fusco, de saltos altos, nessas vielas de Santa Teresa, é uma temeridade. Mas você insiste, porque ainda há uma chama a impelindo a persistir na vida. E também, finalmente surge sua empregada, que a viu estacionando pela janela, para carregar parte dos pacotes. Parte nada, ela morre de pena de você e de sua batalha, porque sabe que você é uma senhora cansada de tanto mourejar e correr atrás de tudo, sobre os saltos altos, perigando despencar nesses paralelepípedos.
Jure que vai se mudar para um lugar mais plano, com supermercados mais próximos, com muitos supermercados, sem tanta ladeira, sem tanta necessidade de usar carro para qualquer coisa na vida. Jure só mais uma vez, reclame do peso das compras, de seu peso, de não sentir muito tesão por seu marido, mas também nem o menor tesão pelo Leonardo DiCaprio, que é uma gracinha e parece tanto com seu filho do meio, de saber que nunca mais na vida você terá 35 quilos, o que aconteceu há cerca de 35 anos.
Pior que andar neste lusco-fusco foi dirigir até aqui com todo o brilho nos olhos. Parece que um padre, no fim da Renascença, criou este termo, para definir a luminosidade do fim da tarde, que tanto incomodava os viajantes desde então. E isso naquela época, em que o transporte era por cavalos. Bem, deveria ser mais difícil ainda pensar nos olhos dos bichos e nos olhos do condutor... Enfim, não dá para dirigir neste horário, desiste, é um problema só seu, de seus olhos cansados, envelhecidos, extenuados.
Hora boa para chegar em casa, tomar uma chávena de chá inglês, e começar, finalmente, neste Bloomsday, a cumprir uma promessa firmada anos atrás, quando este dia passou a ter algum significado na vida de quem gosta de estar acima de um viver tão vulgar: ler “Ulisses”.
Faz isso e aproveita alguma coisa da maturidade antes que a velhice roube sua mente também.
Escrito a convite de Wagner Campello, no Multiply, inspirado pela foto abaixo (consegui postar!!!!!), tema que já arregimentou um grupo de escrevinhadores.
Pense bem, enquanto calcula cuidadosamente seus passos sobre os paralelepípedos:
1) Você paga IPTU, IPVA, INSS, IR, ICM, ISS e o que houver mais?
2) Você sabe o que querem dizer todas essas siglas?
3) Os paraíbas de obra mantêm-se calados à sua passagem?
4) Antes de se calçar você pensa o quanto vai doer seu pé no fim do dia?
5) Você gosta de ficar em casa?
6) Você fica a maior parte do tempo em casa?
7) Seus amigos estão ficando chatos e inconvenientes?
8) Seu marido ficou careca e/ou barrigudo e/ou insuportável?
9) Suas amigas só falam em plástica e comida?
10) Todo mundo da sua idade sabe cozinhar?
Se respondeu “sim” a qualquer uma dessas perguntas, querida, você envelheceu. Não adianta pensar que virou uma mulher em sua plenitude, porque não existe plenitude feminina enquanto houver um só artigo informando que a mulher mais desejada do mundo tem 25 anos, namora o Leonardo DiCaprio e pesa 35 quilos sem fazer dieta. Melhor parar de pensar em tanta bobagem e carregar direito essas compras, equilibrando-se com galhardia, porque garbo, amiga, ficou para a Greta, que, dizem, era sapata, como muitas mulheres lindas, charmosas, ricas e inteligentes são.
Caminhar no lusco-fusco, de saltos altos, nessas vielas de Santa Teresa, é uma temeridade. Mas você insiste, porque ainda há uma chama a impelindo a persistir na vida. E também, finalmente surge sua empregada, que a viu estacionando pela janela, para carregar parte dos pacotes. Parte nada, ela morre de pena de você e de sua batalha, porque sabe que você é uma senhora cansada de tanto mourejar e correr atrás de tudo, sobre os saltos altos, perigando despencar nesses paralelepípedos.
Jure que vai se mudar para um lugar mais plano, com supermercados mais próximos, com muitos supermercados, sem tanta ladeira, sem tanta necessidade de usar carro para qualquer coisa na vida. Jure só mais uma vez, reclame do peso das compras, de seu peso, de não sentir muito tesão por seu marido, mas também nem o menor tesão pelo Leonardo DiCaprio, que é uma gracinha e parece tanto com seu filho do meio, de saber que nunca mais na vida você terá 35 quilos, o que aconteceu há cerca de 35 anos.
Pior que andar neste lusco-fusco foi dirigir até aqui com todo o brilho nos olhos. Parece que um padre, no fim da Renascença, criou este termo, para definir a luminosidade do fim da tarde, que tanto incomodava os viajantes desde então. E isso naquela época, em que o transporte era por cavalos. Bem, deveria ser mais difícil ainda pensar nos olhos dos bichos e nos olhos do condutor... Enfim, não dá para dirigir neste horário, desiste, é um problema só seu, de seus olhos cansados, envelhecidos, extenuados.
Hora boa para chegar em casa, tomar uma chávena de chá inglês, e começar, finalmente, neste Bloomsday, a cumprir uma promessa firmada anos atrás, quando este dia passou a ter algum significado na vida de quem gosta de estar acima de um viver tão vulgar: ler “Ulisses”.
Faz isso e aproveita alguma coisa da maturidade antes que a velhice roube sua mente também.
Escrito a convite de Wagner Campello, no Multiply, inspirado pela foto abaixo (consegui postar!!!!!), tema que já arregimentou um grupo de escrevinhadores.
14.6.05
Sir Paul
Noite adentro, cansada, zapeio a TV. Surpresa adorável - um show de Paul McCartney, velhão, no Madison Square Garden. Platéia de superstars (Jack Nicholson se esbaldando, Michael Douglas e John Cusack) encantados com o coroa de cabelos pintados, animadíssimo, tocando muitos Beatles, alguns Wings e vários rockões.
E eu que passei mal a segundos do início do show dele no Maracanã, em 1990, quando estava a dez metros do palco. Tive que ir lá pra trás, ver de telão, mas sofri um ataque de pânico. Uma amiga, depois, disse que meu mal foi não conseguir encarar um ídolo de frente... Será? A verdade é que eu caí de amores por ele com uns 5 anos de idade, mas como o considerava muito idoso sempre o tive como um não-objeto de desejo, e sim de admiração.
Comprei todos os seus discos (sem favoritos, talvez "Band on the Run", talvez "Run, Devil, Run", "Unplugged"), acompanhei o crescimento daquela filharada que ele carregava e expunha com a maior tranqüilidade, sem cobrir o rosto das crianças como o Michael Jackson, vi os clips dele com Michael Jackson (ainda negro), e um filme pavoroso ("Give My Regards to Broad Street"), ao qual arrastei meus pais para verem, fiquei com pena quando a Linda morreu.
Eu ainda adoro o velho Macca. Acabo de ler que o assanhado está em tounée pelos Estados Unidos. Que fôlego, né? Podia dar um pulinho aqui outra vez.
Mesmo plastificado e com aquela mulher maleta que ele arrumou.
E eu que passei mal a segundos do início do show dele no Maracanã, em 1990, quando estava a dez metros do palco. Tive que ir lá pra trás, ver de telão, mas sofri um ataque de pânico. Uma amiga, depois, disse que meu mal foi não conseguir encarar um ídolo de frente... Será? A verdade é que eu caí de amores por ele com uns 5 anos de idade, mas como o considerava muito idoso sempre o tive como um não-objeto de desejo, e sim de admiração.
Comprei todos os seus discos (sem favoritos, talvez "Band on the Run", talvez "Run, Devil, Run", "Unplugged"), acompanhei o crescimento daquela filharada que ele carregava e expunha com a maior tranqüilidade, sem cobrir o rosto das crianças como o Michael Jackson, vi os clips dele com Michael Jackson (ainda negro), e um filme pavoroso ("Give My Regards to Broad Street"), ao qual arrastei meus pais para verem, fiquei com pena quando a Linda morreu.
Eu ainda adoro o velho Macca. Acabo de ler que o assanhado está em tounée pelos Estados Unidos. Que fôlego, né? Podia dar um pulinho aqui outra vez.
Mesmo plastificado e com aquela mulher maleta que ele arrumou.
13.6.05
Desovando Pérola
Acho que já sei o que passa pela cabeça dos encarregados de sumirem com corpos mortos em condições suspeitas. Não que eu tenha passado por isso. O único caso bem sucedido de transporte ilegal de cadáver que eu conheço foi na minha própria família. Uma prima minha era casada com o sogro de meu tio. Ela morreu em viagem, em Porto Alegre, e, como já se previa a burocracia para obter atestado de óbito e translado do corpo, meu tio e um dos irmãos da falecida decidiram rebocá-la, de carro, para Florianópolis, onde seria o enterro. Se o carro fosse parado na estrada, logicamente, todos acabariam presos, mas os malucos devem ter proteção divina e conseguiram chegar ao destino sem qualquer problema.
Não cheguei a viver uma aventura tão marginal assim. Tudo começou uma semana atras, domingo, 5 de junho, quando fui passear pelo Campo de Santana, coisa que não fazia há anos. O objetivo era nobre: encontrar um bichano para uma amiga. A praça estava fechada, mas os gatófilos têm acesso garantido. Uma gatófila que conheci por telefone, indicada por outro bichanófilo, nos aguardava no botequim em frente - saia cigana, bolsa entupida de papéis, puxando um carrinho de feira com sacos de ração e garrafas d'água, poderia ser confundida com uma moradora de rua. Não que parecesse suja. É que a moda hoje é muito mais democrática. Vide as roupas das "cachorras" que pouco diferem dos uniformes de trabalho das moças que ganham a vida nas ruas.
Bom, lá entramos nós no parque, o verdadeiro Jardim do Édem para minha filha, que entrava em todos os canteiros para pegar filhotinhos de gato de todas as cores e raças, entre patos, cotias, marrecos, esquilos e pavões. Outras bichanófilas percorriam o Campo, enquanto nós seguíamos com Míriam, vistoriando os gatos, que caminhavam atrás da gente em bando. Quantos gatos vivem no Campo? Creio que uns 200, a maioria alucinada por comida e cheios de marra, nos marcando com carinhos nos tornozelos.
Enquanto minha amiga Cíntia não se decidia por nenhum gatinho, acabei me rendendo a uma bela filhotinha preta, aparentemente saudável, que levamos para casa, com intenção de criarmos por uma semana. Depois, ela iria para Cíntia. Naquela noite, já estávamos apaixonados por Pérola, uma bolinha preta tão pequenina que não encontrávamos quando se escondia embaixo de uma folha de jornal.
Durou pouco nossa convivência. Pérola passou mal na noite de quinta-feira. Sexta-feira de manhã internei-a no veterinário, onde ela morreu, à tarde.
Como sofri com a morte da bichinha. O veterinário, Cíntia e a bichanófila me asseguraram que ela estava fadada à morte precoce e que, ao menos, teve a alegria de poucos dias com uma família que a recebeu com carinho.
Dizem que as atribuições de registrar um óbito, sepultar um morto querido e tratar das papeladas necessárias ajudam a enfrentar a dor do luto. Pude comprovar a tese no sábado de manhã, quando fui tratar das exéquias da gatinha. Até então, só havia me incumbido de dar fim a corpos de passarinhos, peixinhos, hamsters e uma tartaruga. Uma moleza, já que peixinhos vão literalmente pelo ralo, enquanto os outros corpinhos são enrolados em jornal e sacolas de supermercado para descer pela lixeira.
O veterinário me explicou que cães e gatos precisam ser enterrados ou cremados em Niterói. I
Bem, como não conheço ninguém que tenha casa com jardim aqui no Rio e eu não me imaginava invadindo um terreno baldio para enterrar clandestinamente uma gatinha, tive que tratar da desova. Saí de carro com uma caixa de sapatos fazendo de caixão, à procura de um daqueles containers de entulho para depositar, sem qualquer pompa, os despojos de Pérola. No caminho, ia imaginando subir a Ladeira Novo Mundo, onde dizem que há um local já tradicionalmente utilizado para desovas, mas fiquei com medo de topar com outros cortejos fúnebres, de mamíferos bípedes executados pela lei dos morros. Acabei encontrando uma caçamba de entulho em local mais ou menos deserto e lá deixei o corpinho da gatinha, me sentindo culpadíssima por estar conscientemente ferindo uma norma municipal e frustrada porque não pude salvar Pérola, que, espero, à esta altura, esteja pulando no céu dos gatinhos levados.
Não cheguei a viver uma aventura tão marginal assim. Tudo começou uma semana atras, domingo, 5 de junho, quando fui passear pelo Campo de Santana, coisa que não fazia há anos. O objetivo era nobre: encontrar um bichano para uma amiga. A praça estava fechada, mas os gatófilos têm acesso garantido. Uma gatófila que conheci por telefone, indicada por outro bichanófilo, nos aguardava no botequim em frente - saia cigana, bolsa entupida de papéis, puxando um carrinho de feira com sacos de ração e garrafas d'água, poderia ser confundida com uma moradora de rua. Não que parecesse suja. É que a moda hoje é muito mais democrática. Vide as roupas das "cachorras" que pouco diferem dos uniformes de trabalho das moças que ganham a vida nas ruas.
Bom, lá entramos nós no parque, o verdadeiro Jardim do Édem para minha filha, que entrava em todos os canteiros para pegar filhotinhos de gato de todas as cores e raças, entre patos, cotias, marrecos, esquilos e pavões. Outras bichanófilas percorriam o Campo, enquanto nós seguíamos com Míriam, vistoriando os gatos, que caminhavam atrás da gente em bando. Quantos gatos vivem no Campo? Creio que uns 200, a maioria alucinada por comida e cheios de marra, nos marcando com carinhos nos tornozelos.
Enquanto minha amiga Cíntia não se decidia por nenhum gatinho, acabei me rendendo a uma bela filhotinha preta, aparentemente saudável, que levamos para casa, com intenção de criarmos por uma semana. Depois, ela iria para Cíntia. Naquela noite, já estávamos apaixonados por Pérola, uma bolinha preta tão pequenina que não encontrávamos quando se escondia embaixo de uma folha de jornal.
Durou pouco nossa convivência. Pérola passou mal na noite de quinta-feira. Sexta-feira de manhã internei-a no veterinário, onde ela morreu, à tarde.
Como sofri com a morte da bichinha. O veterinário, Cíntia e a bichanófila me asseguraram que ela estava fadada à morte precoce e que, ao menos, teve a alegria de poucos dias com uma família que a recebeu com carinho.
Dizem que as atribuições de registrar um óbito, sepultar um morto querido e tratar das papeladas necessárias ajudam a enfrentar a dor do luto. Pude comprovar a tese no sábado de manhã, quando fui tratar das exéquias da gatinha. Até então, só havia me incumbido de dar fim a corpos de passarinhos, peixinhos, hamsters e uma tartaruga. Uma moleza, já que peixinhos vão literalmente pelo ralo, enquanto os outros corpinhos são enrolados em jornal e sacolas de supermercado para descer pela lixeira.
O veterinário me explicou que cães e gatos precisam ser enterrados ou cremados em Niterói. I
Bem, como não conheço ninguém que tenha casa com jardim aqui no Rio e eu não me imaginava invadindo um terreno baldio para enterrar clandestinamente uma gatinha, tive que tratar da desova. Saí de carro com uma caixa de sapatos fazendo de caixão, à procura de um daqueles containers de entulho para depositar, sem qualquer pompa, os despojos de Pérola. No caminho, ia imaginando subir a Ladeira Novo Mundo, onde dizem que há um local já tradicionalmente utilizado para desovas, mas fiquei com medo de topar com outros cortejos fúnebres, de mamíferos bípedes executados pela lei dos morros. Acabei encontrando uma caçamba de entulho em local mais ou menos deserto e lá deixei o corpinho da gatinha, me sentindo culpadíssima por estar conscientemente ferindo uma norma municipal e frustrada porque não pude salvar Pérola, que, espero, à esta altura, esteja pulando no céu dos gatinhos levados.
8.6.05
7.6.05
Neura
Será que esses tremeliques são o primeiro sintoma de uma doença grave ou estou apenas tendo um piripaque nervoso, mais uma vez?
Sinto que a hipocondria me domina a cada momento. Já comi um bocado de porcaria pra aumentar o açúcar, mas continua a tremedeira. Interna, porém contínua.
Quando eu fumava não sentia nada disso. Eu fumava, tomava anfetamina adoidado pra não engordar e bebia. Vivia trincadona, nem sabia. Era careta, não usava qualquer droga ilegal.
Fui levada ao maravilhoso mundo das bolinhas por minha mãe, aos 12 anos. Não que ela fosse doidona, muito pelo contrário. Tinha horror a drogas, a sexo, a rock’ n’ roll. Gostava de birita. Cruzes, como minha mãe curtia uma birita. Meu pai também. Os dois adoravam encher a cara. Belos exemplos para uma mocinha em formação, não? Talvez até fossem, eu não gosto mais de beber. Odeio ressaca.
Voltando à minha mãe. Ela era lindona, mas engordava facilmente e resolveu experimentar remédios receitados por médico, me carregando junto. Entrei de sola nas bolas e nos calmantes para segurar a onda. Eu tinha um temperamento do cão, vivia mal humorada, com dor-de-cabeça, zangada mesmo. E tinha um pique fora do comum. Estava sempre animada para sair, pronta a dançar até seis da manhã, dormir quatro horas e recomeçar na movida carioca.
Por volta dos 23 anos, decidi cortar o barato. Fiquei só nas anfetaminas, ainda por algum tempo, depois, cortei até as anfetaminas. Enfrentei crises e perdas pessoais de cara limpa, sem calmantes. Larguei o cigarro. Até que chegou a vez da depressão. Então, veio tudo junto: depressão, obesidade, antidepressivos, mais obesidade, hipertensão, remédio de hipertensão que provoca asma em asmáticos que não sofriam de crise há 30 anos, asma, troca de remédio da hipertensão, persistência da asma. Agora, descubro que o antidepressivo pode provocar hipoglicemia em diabéticos. Acho que estou pré-diabética. E paranóica. Também.
Como é que antes, com cigarro, bolinha e bebida eu não tinha nada disso? Odeio tentar ser saudável.
Baseado em alguns fatos reais
6.6.05
Webliterata rides again
Novo texto de minha lavra no Anjos de Prata.
Tem que fazer um pequeno périplo no site.
Entra no site, procura em autor e chega em Olga de Mello.
O texto novo chama-se "Intimidade".
Tem que fazer um pequeno périplo no site.
Entra no site, procura em autor e chega em Olga de Mello.
O texto novo chama-se "Intimidade".
Dia D
Segunda-feira sempre é meu Dia D. A expectativa me invade na noite de domingo. Será que a empregada virá? Não veio. A filha adoeceu. Minha filha também, mas eu moro perto do trabalho, então dá pra ficar fora por metade do dia, esperar meu filho chegar do colégio e, aí então, depois de deixar almoço encaminhado, roupas na máquina de lavar, distribuir recomendações ("Não abram a porta para ninguém, escovem os dentes, lavem a louça, troquem a comida dos bichos, qualquer coisa, me liguem"), sair para enfrentar a labuta que me rende níqueis.
Níqueis que não se mantêm por muito tempo na conta bancária, já que preciso pagar cartões de crédito em atraso, telefone em atraso, condomínio também em atraso, sem contar as demais contas adiantadas.
Antigamente, na minha infância e adolescência, Dia D era o aniversário de uma amiga do colégio que minha mãe detestava, porque tinha pais em eterno processo de separação e foi a primeira menina a dizer que não se casaria virgem, que achava virgindade uma bobagem. Tínhamos doze anos, ficávamos espantadíssimas ouvindo tais declarações, mas poucos anos depois entendemos que os casamentos de nossos pais seriam os últimos duradouros, que nenhuma permaneceria virgem até o altar e que nossas mães não precisavam saber de toda a nossa vida. A amizade com essa menina se perdeu na história. Ela saiu do colégio, perdemos totalmente o contato uma com a outra. Não sei se também sou um personagem de sua vida.
Níqueis que não se mantêm por muito tempo na conta bancária, já que preciso pagar cartões de crédito em atraso, telefone em atraso, condomínio também em atraso, sem contar as demais contas adiantadas.
Antigamente, na minha infância e adolescência, Dia D era o aniversário de uma amiga do colégio que minha mãe detestava, porque tinha pais em eterno processo de separação e foi a primeira menina a dizer que não se casaria virgem, que achava virgindade uma bobagem. Tínhamos doze anos, ficávamos espantadíssimas ouvindo tais declarações, mas poucos anos depois entendemos que os casamentos de nossos pais seriam os últimos duradouros, que nenhuma permaneceria virgem até o altar e que nossas mães não precisavam saber de toda a nossa vida. A amizade com essa menina se perdeu na história. Ela saiu do colégio, perdemos totalmente o contato uma com a outra. Não sei se também sou um personagem de sua vida.
3.6.05
2.6.05
As dores do crescimento não senti, as do parto esqueci, as do coração escondi, as da idade tento ignorar. A dor tenta me dominar desde o minuto em que deixei o útero. Decidi que minha curta passagem por este planeta não teria tempo para a dor. Ela só me subjugou nos Andes e na cozinha, às 6 da manhã, quando caí de costas e fraturei uma vértebra. Mas eu a venci. Vou tropeçando, vou me empurrando, sigo me apoiando. Não quero morrer com dor, não quero morrer de dor. Como minha morte não sou eu que defino, a vida eu planejei. Sem submissão à dor.A mágoa do esquecimento, essa dor, dessa não consigo me livrar. A mágoa tenta me oprimir, me esmagar, mas sempre consigo voltar à tona. Um dia eu pisarei a mágoa, eu vou calcá-la sob a lava que meu peito guarda. Tudo explodirá, se expandirá, sem vingança, indolor. Então, poderei morrer.
1.6.05
I remember when the rock was young
E em 1974 eu queria me casar com o Elton John!!!
Inacreditável? Eu gostava das músicas, dos baladões, do piano e, claro, daquele jeito exuberante do gorducho. Aos treze anos, naquele tempo, não se comprendia a razão de tanto histrionismo....
Meu amor foi sepultado mesmo depois que ele transformou "Candle in the Wind", música feita pra Marilyn Monroe, em "Goodbye, English Rose", pra perua da Lady Di. Aí foi boiolice demais até pra mim. Gay inglês, agora, só o Ruppert Everett!
O sonho acabou?
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