28.12.07


A obrigação de comemorar o Ano Novo é imperiosamente angustiante para mim.
Já tive os piores reveillons do mundo, 200, 500 vezes. E já tive vários "um dos melhores", sempre à espera do melhor de todos.
Afora estar ao lado de meus filhos, ainda não tenho qualquer programação para a virada, já que este ano não há festa na Lagoa, o lugar mais tranqüilo para um reveillon das antigas, só com gente falando português, sem aquela espremeção entre turistas e nativos, todos imbuídos do falso júbilo com o qual nos revestimos nesses festejos.
Bom é ter a certeza de que o melhor Natal, o melhor reveillon, o melhor da vida ainda está pra acontecer. Assim, a gente não envelhece muito cedo.

13.12.07

Ele vem chegando...



... e eu apreensiva vou esperando, porque mexer com uma seqüência vitoriosa é um grande risco (principalmente quando as produções recentes do Spielberg oscilam entre o dispensável e o lamentável, com a honrosa exceção de "Prenda-me se for capaz").

12.12.07

Rio, quase 40 graus

Insensata, fui ao Saara fazer compras necessárias.
Desnecessário era o calor.
Tomara que chova três dias sem parar.

Malandragem, dá um tempo!

Quando a gente pensa que a ousadia dos ladrões cariocas chegou a seu ápice, eles sempre apresentam uma nova ação criativa. Ontem, um grupo de ladrões parou um ônibus na Zona Norte, mandou os passageiros descerem e seguiram para duas favelas, onde pegaram colegas. Rumaram, então, para o local do assalto, o Mercado São Sebastião. Não utilizaram a mesma condução para a volta, preferindo subir nos caminhões que encheram de eletrodomésticos.
Já tem lotação pra levar bandido a cenas de crime...

11.12.07



... e é por isso que chamam o futebol de belo jogo...

8.12.07

Reencontro

Tenho postado minhas matérias direto no Viver da Escrita, porém redescubro um amor que se mantém há décadas escondido nas prateleiras protegidas por vidro de um guarda-louças transformado em estante de livros ao ler A Economia em Machado de Assis, coletânea de crônicas com observações da vida financeira pelo Bruxo do Cosme Velho, selecionadas por Gustavo Franco e publicadas pela Zahar.
Esse amor não é ocasionado pelos comentários em si, mas pela forma de Machado, que li e reli todo na juventude. Faz uns bons dez anos que não relia Machado e não voltava a me encantar com o sarcasmo, o toque ferino e principalmente a cadência das palavras. Ler Machado nos leva a escrever, falar e raciocinar melhor.

A matéria, que foi publicada esta semana no Valor, segue aqui:

O investidor olha, mas não enxerga
Por Olga de Mello, do Rio
06/12/2007



A economia já rendeu literatura que encanta os interessados no tema, mas os literatos, de maneira geral, pouco apreço demonstraram pelo assunto, exceto como observadores do cotidiano. Um deles foi Machado de Assis, que, se demonstra pouca intimidade com os fenômenos econômicos, pôde comentá-los com a mordacidade habitual em prosa - e até em versos - , misturando personagens reais aos literários nas crônicas publicadas pelo jornal "Gazeta de Notícias" entre o fim da década de 1850 e o começo do século XX.


O economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, selecionou 39 desses textos para "A Economia em Machado de Assis - O Olhar Oblíquo do Acionista" (Jorge Zahar, R$ 44), que apresentam várias passagens das transformações verificadasna economia brasileira entre 1883 e 1900, período que compreendeu o fim da escravidão, a queda do Império e o início da República.


Na seqüência das crônicas, duas delas em forma de poesia, Franco percebeu um enredo - em capítulos - sobre um mesmo personagem, o acionista, alguém que vive de renda e não nutre qualquer entusiasmo por assembléias, interessado que está apenas em saber quanto obterá em dividendos. Além de apresentar a visão do escritor sobre uma época turbulenta da economia e da política no Brasil, Franco reuniu algumas das histórias com esse personagem.


"O acionista de Machado de Assis não é o investidor dos dias de hoje, que pratica a governança corporativa. Ele comparece forçado às assembléias e é, basicamente, um súdito do imperador, que entende que o governo é quem manda na política econômica, que o Estado paga o dividendo. Portanto, qual é o sentido em participar daquelas reuniões para falar sobre assuntos que, no fim, serão definidos pelo governo? Esse personagem aparece, com toda a ironia de Machado, para desnudar a influência do Estado sobre todos os negócios existentes no país. O acionista se assemelha a outra figura de diversas crônicas de Machado, um relojoeiro aposentado inconformado com o ritmo acelerado do tempo desde o fim da Guerra do Paraguai. Sob o relojoeiro estava o escritor, que também emerge na persona do acionista aturdido com a capitalização do Brasil", diz Franco.


Entre os assuntos abordados por Machado estão alguns que nunca deixaram de freqüentar o cotidiano dos brasileiros, temas que são da economia de todos os tempos, como a variação dos preços que fazem o custo de vida e o sobe-desce da taxa de câmbio. As imagens literárias e a ironia característica do escritor pontuam diversos textos. Na crônica de 16 de maio de 1885, por exemplo, Machado trava um diálogo com os "impostos inconstitucionais de Pernambuco", cobrados pela província apesar de proibidos pela Constituição: "Conheceram-me logo, eu é que, ou por falta de vista, ou porque realmente eles estejam mais gordos, não os conheci imediatamente".


Três anos depois, a mudança social provocada pela entrada de ex-escravos no mercado de trabalho rende a história do homem que, durante uma festa, dias antes da Abolição, alforria um escravo apenas para que seja registrada sua preocupação humanista, já que pretende seguir carreira política.


Ao discutir a necessidade de uma reforma monetária, em março de 1889, Machado sugere que o Brasil tenha uma moeda própria, com um nome ligado ao imaginário nacional: o cruzeiro. "Imagino até o desenho da moeda; de um lado a efígie imperial, do outro a constelação...". As falências bancárias são encaradas filosoficamente: "Não há bancos eternos. Todo banco nasce virtualmente quebrado; é seu destino, mais ano, menos ano", comenta o escritor, referindo-se ao fim das atividades do Banco Rural, em novembro de 1900.


"Ele não era apenas o maior romancista brasileiro e um dos grandes gênios da literatura mundial, mas um mestre da crônica, que envolve o leitor, sempre ressalvando seu desconhecimento sobre finanças, mas contextualizando com os assuntos daquela semana. Durante quatro décadas, ele publicou crônicas semanais, assinadas ou sob pseudônimo. A vida financeira tinha, obrigatoriamente, que se tornar assunto. A intenção de suas reflexões era agradar ao público com reflexões sobre aquele capitalismo novo que surgia, a necessidade de modernização do país e o provável retorno ao conservadorismo que ele antevia. É um enredo literário, desenhado com seu estilo espetacular, sempre usando um parágrafo inicial que contextualiza a situação, ligando a temas paralelos que falam do momento do país, geralmente com muita elegância e sarcasmo", diz Franco - que há cerca de um ano lançou uma coletânea de textos de economia assinados por Fernando Pessoa em 1926. O poeta português, ao contrário do romancista brasileiro, demonstrava ter certo conhecimento de economia.


"Machado se apresentava como leigo no assunto. Seu testamento mostra que havia adquirido títulos do Tesouro Nacional. Um mau negócio, pois o governo jamais resgatou tais títulos", afirma Franco.

3.12.07

Dezembro, Zona Sul

Enquanto eu assistia às incursões de Daniel Auteil pelas ruas de Paris em busca da arte da amizade, a menos de um quilômetro do cinema, uma professora de religião e um padre eram baleados, vítimas de bandidos que fecharam a Rua da Passagem. O carro deles era um velho Santana Quantum. Como ambos se atrapalharam no momento de abandonar o veículo, foram alvejados.
Na noite anterior, um menino foi baleado na cabeça, no Clube Federal, onde jogava bola com os amigos.
Na Lagoa, uma descomunal árvore de Natal, conclamando a paz e a harmonia entre os homens de boa vontade.
O Rio transformou cada cidadão em neurótico de guerra.

26.11.07

A raspa do tacho



Minha bela caçula chega aos 14 anos.

Há coisas que já não faço mais pelo rock'n'roll. Uma delas é não ir ao Maracanã ver o Police. Como já assisti a dois shows do Sting e ele é o que mais me agrada no grupo - tá, isso soa como heresia para aquela turma que venera Pink Floyd e Led Zeppelin, mas eu gosto é de música, jazz e blues e rockão raiz -. vou não. Também fui a um show no Canecão do Stanley Jordan acompanhado pelo Andy Summers e pelo Stewart Copland, então... já vi todo mundo tocando, ainda que separados.
Minha última experiência no quesito tentativa de suplantar o excesso de peso e idade foi desistir de assistir aos Stones em Copacabana. O Police era melhor, no Maracanã, onde já havia visto Sting e Paul McCartney (diversas gestações me levaram a perder shows como o de Tina Turner, um Rock in Rio que tinha Santana e otras cositas mas), gramado (pisar na grama do templo do futebol é sempre uma delícia), tranqüilo. O preço, no entanto, me levou a recuar sabiamente. Afinal, ia gastar mais que um salário mínimo em entradas. Acabou que Hugo vai viajar com a turma da escola, minha amiga conseguiu duas cadeiras permanentes para assistir ao show lá looooonge do palco e eu verei pela TV mesmo.
Mas nas próximas duas semanas será um bombardeio de Police. Começou com minha vizinha adolescente e desafinada. Certamente comprou um greatest hits da banda e já começou a disputar quem esganiça mais nos adultos, ela ou Sting. I'll send an SOS to the world...

23.11.07

A árvore de Natal da Lagoa terá 85 metros de altura, três metros a mais que a do ano passado. A primeira árvore, montada em 1996, tinha a metade desse tamanho.
A pergunta que não quer calar: a geringonça cresce ano a ano pra quê????
Resta saber como será a decoração da vez. Afinal, além de aumentar suas dimensões, os responsáveis pela árvore também se esmeram em, todos os anos, tornar a decoração mais e mais cafona.

19.11.07

O insondável raciocínio da burocracia

Alguém inventou e tem gente acreditando que o Brasil é um país informatizado, com uma população alfabetizada, capaz de se orientar perfeitamente pelas searas da Internet.
A Rede Estadual de Educação do Rio exige que seus alunos agora façam a pré-matrícula pela Internet. Naturalmente, esses alunos dispõem de computadores e, mais que isso, de pais totalmente familiarizados com a utilização das máquinas. Semana passada, uma vizinha de Vanúzia, minha empregada, enviou cópias de documentos e uma relação de escolas onde gostaria que seu filho estudasse. Entrei no site da Secretaria de Educação, preenchi um formulário, demorei uns bons dez minutos até compreender como faria a escolha das escolas, e gravei a ficha de inscrição em um CD para que ela imprimisse em uma lan house. A Secretaria, logicamente, acredita que não apenas sua clientela tenha computadores e conhecimentos para operá-los, mas também impressoras.
Agora, leio que as autoridades de Educação estão preocupadas porque os formulários têm chegado com somente uma escolha de colégio, em vez de cinco, conforme as claríssimas instruções - que não existem (o site traz a ficha, a gente se vira pra descobrir o que fazer com ela e como montar a relação de escolas).
Em vez de imaginar que estamos no Primeiro Mundo, não seria mais prático as escolas reservarem um computador e um funcionário para inscrever seus alunos em outras unidades? Ou manter um convênio com lan houses para cumprir a tal exigência? Ou melhor que isso, perceber que não adianta tanta sofisticação para facilitar os registros se não formamos pessoal habilitado para completá-los.

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Uma grande amiga é professora do Município do Rio de Janeiro, mas há pelo menos 10 anos ela trabalha em Niterói, numa permuta com outro profissional daquela cidade que quer trabalhar aqui. Um processo comum no sistema de ensino das duas cidades. Há cerca de dois meses, a pessoa com quem ela permutava a vaga se aposentou e outra colega se ofereceu para substituí-la. Foi quando minha amiga descobriu, então, que desde 2003 a Secretaria de Administração carioca proibiu as permutas, mas que tudo poderia ser resolvido desde que peregrinasse entre diversos órgãos para obter a tal substituição.
No início de novembro, ela foi notificada de que precisava imediatamente apresentar-se em uma escola de um subúrbio carioca. Seus alunos, em Niterói, ficariam, então, sem aulas, mas ... e daí? Afinal, o ano letivo está acabando mesmo, há pouco conteúdo a ser passado, daqui a pouquinho começam as provas finais e recuperação...
Aqui no Rio, ela também não tem o que fazer já que ... não há conteúdo a ser ensinado nos últimos dez dias letivos nem turma necessitando de seus serviços. Por que, então, não deixaram que ela terminasse o ano em Niterói para, no início de 2008, alocá-la em outro colégio com turmas novas?
Há mais mistérios entre o céu e a terra do que imagina nossa vã burocracia.

15.11.07

Beijar, beijar, beijar


No blog da Sonia, rolou um debate sobre o hábito de beijar e a força emocional dos abraços.
Como colonizados que somos, temos intensificado muito os abraços, igual aos americanos de miniséries, que beijam os filhos na boca, mas se despedem com um sempre constrangido agarramento de braços. Amigos que vivem por lá dizem que é isso mesmo, os carinhos públicos são raros.
O hábito carioca de distribuir beijos e abraços gera situações bastante difíceis. Não chega a ser constrangedor, mas sempre surge a dúvida se devemos beijar médico, dentista, gerente de banco assim que estabelecemos uma relação mais intensa, ou seja, na segunda ou terceira consulta. Decidir quando beijar no rosto é tão crucial, nesses casos, que o eterno dilema feminino sobre sexo no primeiro encontro.
Duro mesmo é em reunião de negócios. Sempre chegamos de mão estendida, mas na saída... Afinal, quando conhecemos socialmente alguém, já vamos sapecando beijocas nas despedidas.
Aos homens brasileiros restou a opção de beijar ou não as mulheres. A dessacralização do ósculo (assim eu volto à vida acadêmica) como traço de união familiar começa, se não me engano, na década de 70, quando passamos a beijar os amigos de outro sexo. Hoje, dentro da beijação generalizada, os moços já trocam beijos de cumprimento, principalmente pais e filhos, algo proibido quando eu era criança.
Agora, tem que haver um pouco de limite, né? Na primeira posse do Lula, o período de permanência na fila do beija-mão foi mais longo do que as três horas regulamentares. Afinal, abraços e beijinhos sempre são acompanhados por carinhos sem ter fim.

13.11.07

O pecado


Assistindo ao edificante reality show "Brasil's next top model", onde belas mocinhas magriças disputam um lugar sob os refletores, constato que a estética realmente vence qualquer tipo de desvio de caráter. No episódio da semana passada, uma das concorrentes, que fotografa mal, é baixa, tem o corpo coberto por tatuagens e, não apenas pelo tipo físico, faz o gênero bad girl, deu chiliques contínuos e sucessivos, absolutamente descontrolada. Sempre que ela aparece está chorando, brigando, falando mal de todas as outras gurias, que se afastam da descompensada.
Os jurados, no entanto, preferiram eliminar uma moça mais alta, muito mais bonita, e doce. Afinal, a desprezada incorreu em um descomprometimento grave para a carreira de cabide andante: gosta de comer e "engordou", ou seja, passou dos 50 quilos distribuídos por quase 1,80m para 51 kg.
Segundo a psicóloga Joana Vilhena de Moraes, coordenadora do Núcleo das Doenças da Beleza da PUC, estar acima do peso virou transgressão no Terceiro Milênio. E não é pelo aspecto da saúde, não. É estético mesmo. Melhor ser ridícula, como algumas atrizes e apresentadoras de TV, do que incorrer no grave pecado de permitir que o tempo imprima marcas no organismo.

Aforismos


Quem se deprime, vivo está.



Para cair na real, nada como um bom supermercado.

7.11.07


Saudade surge do abstrato, do momento, não de gente, de sensações, de sentimentos, de vivenciar, de rir, de certezas, de olhos brilhantes, de pranto em filme de Zefirelli, de quando a solidão não era um estado da alma.
Depois, só depois, vem a saudade de gente.

Toby, um dos três sobreviventes do acidente que matou quase toda uma família em São Paulo. (Acidente daqueles que fazem o mais empedernido ateu imaginar se fatalidades são guiadas por leis espirituais).

5.11.07

Mais uma do Cesar Maia

Há cerca de um mês, a prestimosa Prefeitura carioca derrubou trechos de meio-fio e implantou rampinhas para facilitar a travessia de carrinhos de bebê, de compras e cadeiras de rodas nos sinais. Achei louvável a iniciativa até que... no temporal de domingo descobri que, na São Clemente, as rampinhas contribuíram para a formação de novos bolsões d'água nas exíguas calçadas. Antes das rampas, não havia tais poças. Agora, diversos pontos têm de ser percorridos com tornozelos submersos.
Gente, não ensinam cálculo na Escola de Engenharia, não?

3.11.07

Há 28 anos



... assisti a "Menino do Rio" no Roxy. Era ruim, muito ruim. Passadas quase três décadas para reviver tal experiência, comprovo: é ruim, muito ruim, tão ruim que chega a ser bom de rever.

"Menino do Rio" tem erros técnicos, erros de continuidade, de produção, de câmera, de tudo o que é possível, além de contar com um desastroso elenco, tirando Rogério Fróes, Jacqueline Laurence e Adriano Reis. Evandro Mesquita melhorou muito como intérprete, mas a voz continua a mesma. Os cabelos, quanta diferença. André di Biasi era lindo - e péssimo. O elenco jovem era pior que o de "Malhação".

E tem a melô do incesto "Garota Dourada/quero ser teu irmão, eu sou teu irmão-namorado". Acho que Caetano não permitiu o uso de sua canção no desastre que é o filme. Ruim de doer. Sem costura, sem direção. Com cenas constrangedoras, como a do banho de cachoeira e passeios pela mata com o casal de protagonistas sem roupas, usando grinaldas de flores nos cabelos, numa releitura do Jardim do Éden ou da Lagoa Azul. Algo que sequer consegue ser besteirol. Como os anos 80.

31.10.07


Cheguei a um ponto da vida em que não enxergo bem nem de perto nem de longe.
Apenas vislumbro.

30.10.07


Sei, não. Copa do Mundo que ninguém quis sediar...
Enfim, serão dias deliciosos, de muita segurança e festa.
Futebol brasileiro? Ah, isso são outros 500...

Maternidade

Minha implicância com o funcionalismo público brasileiro é antiga. Venho de uma família de funcionários públicos ou militares, todos muito zelosos e trabalhadores, acostumados ao raciocínio lógico que muita gente abandona no momento em que passa num concurso.
Minha mãe, que deve ter servido de inspiração para a Monica, personagem de Friends com mania de arrumação, contava que foi cobrir férias de uma colega no antigo setor de Hipoteca da Caixa Econômica, onde trabalhava. Um chefe mostrou-lhe um armário abarrotado de processos e disse que ela fosse ordenando, tranqüilamente. Em dois dias, Mamãe despachou a processada toda para onde a papelada deveria ter sido encaminhada e... o chefe, apavorado, devolveu-a à seção original. Afinal, naquela época, a Hipoteca da CEF seguia um padrão de lerdeza e inoperância felizmente abandonado.
Hoje, tive meu momento de entrevero com o serviço público. Meu filho foi fazer a inscrição no vestibulinho do Pedro II e voltou desolado. A funcionária que atendia não aceitara o comprovante de pagamento da taxa de inscrição. Isso porque não havia autenticação mecânica do caixa, já que fizéramos o pagamento no caixa eletrônico que, espantosamente, imprime o número do boleto, aquela montoeira de algarismos, no comprovante.
Neste País, apenas as mães enfrentam funcionários públicos com a autoridade que a biologia concede.

29.10.07

Francamente...

Nossas autoridades pós-modernas parecem com aquelas pessoas que começam a fazer análise e saem por aí dizendo verdades, doa a quem doer, distribuindo certezas que passam por cima, no mínimo, do tato.
Semana passada, algumas dessas declarações foram proferidas. Difícil selecionar o vencedor no quesito "Frases infelizes", todas gerando dupla interpretação e mal-entendidos que vêm sendo exaustivamente esclarecido por alguns de seus autores.
O governador Sérgio Cabral defende a legalização do aborto para impedir o nascimentos de crianças que seriam levadas à marginalidade devido às condições de miséria em que viveriam. Certamente, ele se baseou num estudo feito nos Estados Unidos. A tal pesquisa encontrou uma correlação na queda de criminalidade a partir da legalização do aborto em determinados estados americanos. O bom da declaração infelicíssima - até parece que bandido só nasce na pobreza; décadas atrás, o filho de um distribuidor de cinema foi indiciado por tráfico de drogas no Rio, e há diversos jovens de classe média traficando, atualmente - é que suscita uma discussão sobre educação contraceptiva.
O secretário de Segurança fluminense proferiu uma máxima das redações de jornal. Enquanto Beltrame falava da diferença do combate ao crime em Copacabana e na Favela da Coréia, jornalistas sempre disseram que a repercussão de um tapa em Ipanema é maior do que um assassinato na Baixada. Pura verdade. Quando o edifício Palace 2 desabou na Barra da Tijuca, houve matérias sobre a dor da perda de todos os bens dos moradores. Semana passada, uma enchente acabou com móveis e eletrodomésticos de diversas famílias em Mesquita. Não li nenhum artigo detalhando o trauma psicológico de se ver desprovido de tudo pelo que se lutou a vida inteira. O secretário disse que se referia à estratégia no enfrentamento com os criminosos, porém, para quem ouviu apenas a manchete de sua declaração, pareceu mais uma admissão de cuidados diferenciados no tratamento da população.
Naturalmente, o prefeito Cesar Maia não poderia deixar de soltar sua asneira, a única absolutamente indenfensável. O caos no trânsito da cidade desde o fechamento do Túnel Rebouças, para ele, só incomodou os motoristas de carros particulares. Lógico, quem anda de ônibus, por exemplo, nem percebeu que está demorando, em média, mais uma hora para chegar a qualquer lugar.
Nossos políticos estão abrindo seus corações à população. Não seria melhor eles guardaram suas observações para os consultórios de seus terapeutas?

26.10.07

Convivência

Há cinco minutos começaram as rajadas de balas. Parecem ser tiros de fuzil-metralhadora, já que alguns disparos soam em destaque, como se procurassem o alvo cuidadosamente.
A escola de meus filhos orientou os alunos a voltarem para casa pela Voluntários da Pátria, alguns esperam que o tiroteio acabe no próprio colégio.
Muito parecido com "Longe - Memórias de um Líbano Recente", da brasileira Ana C.Leonardos. Ela foi conhecer Beirute com o marido, libanês, na década de 80, e diz que a população sabia identificar o tipo de arma utilizado pelo som dos tiros.
Assim como os cariocas.

25.10.07




Joan Crawford e Madonna, com o mesmo modelito. Ou é montagem ou em "Procura-se Susan Desesperadamente" a diretora Susan Seidelman queria homenagear la Crawford. Definitivamente, não sei e procuro desesperadamente tal informação.

Arco-Íris


Na mesma semana em que um jornal anuncia que uma cantora de axé está namorando uma arquiteta chique, J.K.Rowling tirou Dumbledore do armário. Essa nem Bob Esponja esperava! Acho que a Rowling não entende muito do mundo gay, embora seja inglesa. Não conheço nenhum gay que deixaria uma barba dessas ou se vestiria com essas túnicas sem cor ou corte. Não é estereotipar, não. Gays não temem se arrumar direito e têm sempre uma aparência limpinha.

Ah, claro...

... no meio da tarde, a Net caiu e só voltou à noite. Por sorte, já tenho telefone da Oi/Telemar/Telerj funcionando e não ficamos totalmente ilhados na Veneza em que Botafogo se transformou.

Foi o único incômodo que a chuva me causou.

Todo mundo tem uma história de empenho, força e desespero para contar como enfrentou o dia em que o Rebouças fechou.
Menos eu que fiquei quietinha em casa.
Agora, duro será a cidade se virar por uma semana inteira com os túneis fechados, como andam dizendo os técnicos.
Aliás, como se falou besteira o dia inteiro. Cesar Maia falou que uma tubulação que abasteceu, no passado, uma favela já retirada da área pressionara a terra e provocara o desabamento. Mais tarde, a Cedae informou que não existe, nem jamais houve tubulação de água no local. A todo momento surgia um secretário diferente ou um professor da Coppe para falar exatamente as mesmas coisas - que não podiam retirar a terra porque era perigoso para os operários que deveriam fazer o serviço. E dá-lhe enfatizar o quanto a Prefeitura se preocupa com a segurança dos operários.
Teve gente que culpou a Prefeitura. Outros culparam as favelas, outros o Lula.
Parece que a razão mais plausível para a catástrofe é mais simples. Um período longo de estiagem, a terra sequinha, sequinha. Chegou um chuvaréu daqueles e a terra despencou.
Será? Sei lá, mas até pode ser.
Vai render assunto para tudo quanto é telejornal por uma semana.
Que bom que não sou mais repórter de geral...

19.10.07



A classe de Deborah Kerr era tamanha que nem no papel de uma adúltera, deitando e rolando nas beira do mar de uma praia havaiana, nos braços de Burt Lancaster, ela perdia a dignidade. Era 1953, e "A Um Passo da Eternidade" deu ao mundo o beijo mais escandaloso da história do cinema. Durava parcos segundos, mas até hoje rende comentários.
Deborah Kerr mostrou ao mundo que mulheres maduras tinham libido ativa, muitos anos antes da Mrs Robinson de Anne Bancroft. O filme mais famoso foi "Tarde Demais para Esquecer", um melodrama que resvala para a mais pura gaiatice, no namoro dela e de Cary Grant, dois coroas apaixonados. Tentou salvar Gregory Peck do vício, em "O Ídolo de Cristal", biopic do romance de Scott Fitzgerald e da jornalista Sheila Graham. Despertou o amor do Rei do Sião, com quem saiu dançando, naquela sala balão. E foi freira duas vezes, levando Robert Mitchum a fraquejar por tentação. Até casta, ela exalava feromônios, com elegância.
Indicada seis vezes ao Oscar, só ganhou um, honorário.
Morreu tão discretamente quanto viveu.

17.10.07

Tava demorando....

Chega de seriedade! Melhor é encarar "Tropa de Elite" à carioca, não?


16.10.07



Há pelo menos 60 livros fora das estantes aqui em casa. Boa parte deles no meu quarto. Além dos seis ou sete que estou lendo ao mesmo tempo (um do Evelyn Waugh, delicioso, "Officers and Gentlemen", sobre a experiência dele na guerra, o "Ex-Libris", da Susan Fadiman, que releio, a biografia da Maria Antonieta, que não consigo traçar, a da Carmem Miranda, que comecei e não vai pra frente, o "Invasão de Campo", sobre a criação da Adidas e da Puma - eram de dois irmãos, rivais, muito bom mesmo -, "A evolução dos objetos", um livro muito interessante da Zahar que fala sobre as transformações em talheres, entre outras coisas, e vamos parar por aqui antes que eu descubra que tenho outras leituras a honrar), havia feito pilhas de volumes que iria mencionar em uma matéria. Só que fiquei doente e tudo se acumulou mais ainda pela casa.
Em cima do piano há pilhas de livros para serem entronizados nas prateleiras. O problema é que as estantes ficaram pequenas pra tanto livro. Estou precisando de mais estantes, porém, sempre que surge uma nova, decido trocar toda a organização da biblioteca.
Livros e plantas ocupam a casa toda, em vez de ficarem segregados a um só aposento. Tenho três pequenos guarda-louças que foram transmutados em guarda-livros, depois que entupi tudo de cravo para espantar as traças. Um deles abriga os autores franceses e espanhóis. Outro, os gregos, húngaros e tchecos. No outro estão os latino-americanos. Em duas estantes maiores estão os escritores ingleses e os norte-americanos. Na estante grandona estão policiais, portugueses, australianos, africanos, alemães, dinamarqueses, livros sobre literatura, literatura brasileira, filosofia, história, antropologia. Um armário que era apenas uma vitrine virou estante de livros de viagem, culinária, alguma arte e esportes. Para lá vai o "Invasão de Campo", que fala em marketing esportivo. Em meu quarto estão os livros femistas, e os que ainda não foram classificados, pois chegaram das editoras e terão que ser lidos ou vistos antes de guardar.
O grande problema é o trajeto de um livro do meu quarto até as estantes da sala. Para entrarem em alguma prateleira, preciso desalojar outros e começar uma roda-viva de trocar volumes de lugar que é infernal. Sem contar que livros são habitados por ácaros. Precisam ser limpos com alguma freqüência e, quando mexidos, se vingam de mim, me deixando sem ar e/ou empolada.
Quem adora minha vida de free lancer é meu porteiro, que acha elegantíssimo eu receber tantos volumes. Vizinhos que nem falavam comigo me telefonaram antes da Bienal para me pedir dicas de editoras e títulos a comprar. Muito chique, mas eu continuo soterrada embaixo de volumes que não encontram um cantinho limpinho para se alojar.



A desnuda intelectual não sou eu, não. É a representação de uma amante dos livros.

15.10.07

Um pouco de laquê


Depois de longo tempo far from the movies, fui ao cinema três dias seguidos. Na primeira saída, não deu para assistir "Tropa de Elite", que estava esgotado.Então, optamos por um filminho com Richard Gere, sempre um regalo para os olhos, mesmo de cabelinho branco e ralo. Esperávamos um daqueles policias americanos, cheio de tiros, uma pancadaria cinematográfica sem grandes conseqüências. Era um filme super-pesado, sobre um serviço de acompanhamento de agressores sexuais e tarados das mais diversas categorias, desde pedófilos a retalhadores de pessoas. Um horror, morri de medo e ainda saí de coração pesado.
Na noite seguinte, "Tropa de Elite" nos esbofeteou como a verdade que conhecemos e fingimos não ver.
Mas no domingo, o dia do descanso, foi a vez do delicioso "Hairspray", com direito a ponta do John Waters fazendo um exibicionista que abre o sobretudo para senhoras de cabelos imensos erguidos graças ao laquê, logo no início do filme. Sim, o original de Waters era bem mais corrosivo, John Travolta parece mais másculo do que a drag queen Divine, que fazia a Edna no primeiro filme. Mas este é um filme de estrelas, com Christopher Walken, Queen Latifah e Michelle Pfeiffer dando show de competência. Cinemão, divertidíssimo, musiquinhas agradáveis, e ainda uma mensagem de combate à discriminação racial e estética. Um doce!!!!

Elitismo no cinema

O mais incômodo em "Tropa de Elite" é ouvir aplausos ao fim da sessão. O filme é bom, bem feito, atores em excelente forma, a ponto de Wagner Moura não se destacar dos coadjuvantes. Talvez o destaque fique para Milhem Cortaz no papel do Capitão Fábio, corrupto até o fundo da alma, que lembra Nuno Leal Maia fazendo aqueles tipos brutos. A violência grassa solta, torturas, execuções perpetradas tanto por policiais quanto por bandidos. E assina embaixo do discurso que só a classe média faz passeata pela paz, enquanto compra drogas e financia o tráfico, enquanto existem diversos estudos que afirmam que algo em torno de 40% da droga ficam atualmente nos morros, para abastecer moradores que são dependentes. Não que isso justifique a utilização da droga pelo asfalto, porém é um dado.
Por que o espectador aplaude o extermínio dos bandidos? Porque onde o Estado não se faz presente, a barbárie impera, claro. O Estado omisso leva ao banditismo generalizado. Ou são eles ou somos nós, pensa quem está no foco da violência.
Nós, Zona Sul, brancos, do asfalto, estamos ainda a anos luz de distância do que sofre a classe média na Zona Norte e subúrbios. Mas corremos riscos. É fácil apontar a existência dessa violência e pregar a eliminação dela, pura e simplesmente. Jogar napalm nas favelas, mas tirando, naturalmente, a família da nossa empregada, é uma das soluções que já ouvi proferidas em alto e bom som, numa conversa com desconhecidos no Aeroporto do Galeão. Tive que me afastar, porque esse tipo de argumento nem merece resposta.
O filme é bom, repito. Vale a pena ser visto como cinema. A realidade é dura e eu jamais aplaudirei corrupção ou assassinato em massa, mesmo podendo ser morta pelo bandido. Os impostos não deveriam pagar o salário de pistoleiros. O filme mostra um Bope violentíssimo, justiceiro, com total desprezo pelo ser humano. Quem não vê isso na criação de José Padilha e Rodrigo Pimentel só quer enxergar um lado da história e aplaudir atitudes simplistas e criminosas que jamais serão uma solução para a violência urbana.

12.10.07

Um político muito conveniente



Este foi o ano de Al Gore. Ganhou Oscar e Nobel, além de ser agraciado com mais uns mimos pela série de alertas contidos nas palestras que redundaram em "Uma Verdade Inconveniente". Tudo bem que se Gore tivesse sido presidente dos EUA não haveria o atentado de 11 de setembro, porém outras coisas horríveis teriam sido perpetradas em nome de valores que são utilizados por quem invade países, comete atos terroristas, não importando se participam de governos constituídos livremente ou pela força de golpes, nem se pertencem a entidades dedicadas a espalhar ideologias que nem todos os povos aceitam, sejam religiosos ou não.
A verdade é que Al Gore fez algo muito mais importante pelo mundo do que se fosse presidente dos poderosos EUA. Em 92, quando vice de Clinton, ele esteve aqui no Rio, na Eco. Era bonitão e articulado, mas não assinou a Carta do Rio. Fora do governo, pôde se dedicar a causas planetárias e, definitivamente, deu uma boa balançada na turma que decide as coisas no hemisfério Norte.
Gore divide o prêmio com o órgão da ONU que trata das mudanças climáticas.
A safra do Nobel deste ano está boa, com Doris Lessing, mais uma lutadora pelos direitos humanos, na Literatura.

8.10.07

Aos 47 , ou dois minutos do segundo tempo!

Eu adoro comemorar meu aniversário, porque ganho abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.
Este ano, rompendo uma tradição, não foi nem no finado Jangadeiro, nem no Botequim, mas na filial botafoguense do Bar do Adão, onde nos empanturramos de deliciosos pastéis. Fotos by Ana Cristina Machado, mas não de todos os convivas, já que a máquina cansou e pifou.



A fotógrafa e o objeto das homenagens


Homens bonitos: Jôka, Cagê, Hugo - o mais belo, claro - Júnior e Ronny



Eu e Naná, Naná e eu - e Hugo, ao fundo



Jôka, que atravessou a fronteira de Copa para festejar em um obscuro bar de Botafogo.



Huguinho degustando seu 28°pastelzinho.


As meninas: Vania Mezzô, Anita, Consuelo e Naná

4.10.07

45 anos de Love Me Do


Nesta data, há 45 anos, era lançado o compacto de uma canção ingênua. O resto é história.

3.10.07

Manquitolas

Era uma vez uma senhora atrapalhada, que saiu para um compromisso mezzo chique de sandálias plataformas inseguras para senhoras atrapalhadas ou não.
E então... ela deu a queda e foi ao chão!
Pé direito inchado, torcido, mãos escalavradas e o supremo embaraço de ser levantada por dois prestimosos rapazes enquanto percebia o quanto é irregular o calçamento de pedras portuguesas da Praia de Botafogo, a senhora não imaginava que a idade aumentasse com tanta dor...

A luta continua

Manhã de guerra em Botafogo. Traficantes disparavam rajadas de metralhadoras contra o helicóptero da Polícia que apoiava a subida de policiais ao Santa Marta. Algumas escolas proibiram os alunos de brincarem no pátio, moradores do Morro eram aconselhados a permanecer no asfalto.
Saldo da brincadeira: dois traficantes feridos, apreensão de armas, 1 tonelada de maconha e 30 kg de cocaína.
O pior é que a gente se pergunta: e precisava de tanto barulho para pegar 30 quilos de cocaína?

Os outros

Enquanto este blog vive uma fase umbiguista, o Rio continua uma arena de guerra surda. Uma conhecida morreu em acidente de carro anteontem provocado pela imprudência do motorista, duas mulheres foram baleadas por assaltantes ao tentarem escapar dos bandidos.
De manhã cedo, boto compras no carro, no estacionamento do supermercado e sou abordada por um menino de rua, se dizendo faminto. Dou-lhe um pacote de biscoitos que ele divide com outro garoto. Dois guris, 14, 15 anos, soltos na rua, sem pai nem mãe. Quanto tempo de vida terão, nunca conseguirão emprego, não sabem ler, escrever, apenas se viram diariamente.
E nós, continuamos dando biscoitinho, com um misto de medo e compaixão.
Não sei quem disse, mas no Rio a dor social nos assola a cada passo.

1.10.07

A falta que ela me faz



Seis anos atrás minha mãe morreu. Uma amiga, também já falecida, costumava dizer que idade boa pra perder pais é a partir dos 80 anos, pois aí não precisamos deles tanto assim.
Como toda boa relação familiar, eu e minha mãe divergíamos muito, porém tínhamos afinidades intelectuais que nos aproximavam além dos laços mãe e filha.
O mais estranho é que a saudade não aperta nos momento difíceis. Nesses, a gente quer pai e mãe para nos auxiliar a resolver problemas que somos perfeitamente capazes de enfrentar. A saudade é maior na hora da alegria, de compartilhar a felicidade. Dá aquele travo esquisito no coração, o olhar se alonga e a gente sabe que viveu uma grande e incondicional história de amor.


A única alegria da virose que não me abandona é ter reduzido meu avantajado peso. Ainda não estou, mas já me sinto uma sílfide...

26.9.07


Eu merecia uma convalescença à base de chá, tranqüila, serena.
Mas quem nasceu pra operária, só é abelha rainha no entardecer.

23.9.07

Febre de primavera

Quando me acometem os tremores e terrores das febres altas, imagino a morte próxima e visões através de tecidos finos, úmidos, cenas de filmes sobre brancos exploradores no norte da África, penando com o calor e doenças desconhecidas. Acho sempre que terei malária, mais pela sonoridade da expressão febre terçã do que por correr algum risco real de ser picada por um transmissor.
Mas quem já teve dengue e conhece o Rio não se sente a salvo.
A doença quebra todo o orgulho próprio, me impede de trabalhar, de organizar a vida, de cumprir obrigações sociais e profissionais. A vida se resume a ingerir medicamentos, tirar temperatura, hidratar o organismo.
Como será bom voltar a me estressar...

13.9.07

Zuzak e eu

Enquanto muita gente se mata em expectativas por um autógrafo e um dedo de prosa com Markus Zuzak, o autor do best-seller "A Menina que roubava livros", eu, que não sou chique, mas bem relacionada, acabei passando quase duas horas com ele, viajando do Riocentro a Botafogo. Markus, um rapaz educado que mostra a foto de sua linda filhinha Nikita, até tentou conversar apesar da visível exaustão.
Lá na ZOeste, eu tive a felicidade de me encontrar com a assessora de imprensa da Intrínseca, Juliana, no momento em que ela e Zuzak vinham para o Rio de Janeiro. Fiz a viagem ao lado do escritor, a quem aconselhei: "Take a nap".
Afinal, o pobre enfrentara 27 horas do vôo Sidney-Rio, com escalas em Auckland, Santiago e São Paulo. No Rio, começou conhecendo... Bangu, onde fez doação de livros a uma ONG. Depois, acho que foi para a Bienal. Aí, hoje, deu entrevista de manhãzinha à TV Globo no Jardim Botânico, partiu pro Riocentro e capotou no caminho de Botafogo.
Luciana Gimenez que se cuide. Já posso dizer que um escritor famoso dormiu comigo.

11.9.07



Este blog está abandonado por tempo indeterminado enquanto a mantenedora envelhece na frente de uma tela de computador, tentando dar conta da vida.

5.9.07

Bacall Fenomenal


Glamour era isso aí.

1.9.07

Há uma discussão sobre blogs X jornalismo, iniciada após uma campanha publicitária do Estado de S.Paulo em que blogs eram ridicularizados como noticiários.Diversos blogueiros sérios... péra aí, então blogueiro é sério?
Da capo: blogueiros que julgam a blogagem uma atividade séria e nada umbiguista, reclamam da campanha do jornal.
Acho que muita informação interessante e descompromissada está em blog.
Blog é diário aberto, foi objeto de análise da Luísa Lobo, da UFRJ, saiu em livro recentemente pela Rocco.
Pronto, dei uma opinião e uma informação. Opinião é pessoal. Informação é nem sempre é jornalismo.
Blog é um reflexo do autor, uma coluna de opiniões, um quarto cheio de enfeitezinhos, uma distração. Alguns, nem tão bem escritos assim, são muito mais visitados do que os eruditos, gramatical e ortograficamente corretos.
Talvez a diferença na credibilidade da informação esteja no site. O site passa informações corretas, o blog passa opiniões.
Como blogueira, sinto-me livre para expressar o que bem entender, mas tomo cuidado de não criar armadilhas que me aprisionem nas opiniões. Uma coisa é discutir beleza e sexualidade de ator de cinema, outra coisa é escrever sobre a sexualidade dúbia de artistas que têm todo o direito de viver da forma como quiserem.
Em minha casa, pinto as paredes das cores que eu quero. Em meu diário de papel, exprimo problemas pessoais que não vão interessar a ninguém. No blog, eu me solto pro mundo.
Se alguém se interessa e se informa um pouquinho com isso, ótimo! Mas aqui nem tudo é verdade. Apenas que tenho quatro filhos belos e brilhantes. Isso não é corujice. É a pura constatação das obras-primas que a humanidade cria.

31.8.07

Mid Season - ou a tristeza de quem não gosta de novela

Tudo bem que eu nem tenho mais tempo de ver televisão.
Tudo bem que acabei indo assistir ao "Ultimato Bourne" porque estava há cinco dias em casa, só trabalhando.
Tudo bem que ando tão pilhada que até filme do Jet Li trocando sopapos com o Jason Sthatam pra mim é relaxante.
Mas o que eu faço agora que acabaram as temporadas de House e de Desperate Housewives?
Eu não acompanho novela...
Outro dia, minha amiga Ana C. contou que comentou com um casal de americanos o quanto gostava de House. Como Anita é militante anti-burguesa de carteirinha (é mesmo, ela é do PSOL), daquelas que quase briga na manicure quando ouve a direita festiva se manifestar, com ela estabeleço meu padrão de besteirol aceitável para aturar as vicissitudes humanas. Bem, a Ana falou do House e os yankees quase vomitaram, porque chique nos EUA é o intelectual que não tem televisão. Ah, meus tempos... Meus pais eram vanguardistas e não sabiam. Só foram ter televisão quando eu estava com uns 28 anos, e dei um aparelho velho para eles. Passei a infância vendo TV nos vizinhos, um saco.
Mas TV é pra ver bobagem mesmo. E House, dos seriados médicos, hoje, é o melhor. Cansei de Plantão Médico, da sordidez de Nip Tuck, embora os protagonistas sejam lindinhos. Viva o feioso Hugh Laurie, com um dos mais calhordas personagens que a TV já inventou.

28.8.07

Fatos e fotos


Depois de anos militando no fotojornalismo, meu amigo Angelo Antonio decidiu enveredar também pela área de registro de eventos. Afinal, hoje casamentos e festas infantis são verdadeiros acontecimentos esplendorosos, que necessitam do registro de um profissional com sensibilidade para transformar um olhar em notícia, o que o Angelo tira de letra.
Vale uma chegada ao álbum dele no Flick. O link é no título deste post.

Arenas e a Mídia

Este é um blog já publicado na grande imprensa!
Fazendo uma pesquisa hoje, encontrei esta matéria, do meu amigo-irmão e ídolo, Eduardo Graça, feita quando ele estava acabando de se mudar para Nova York. Aliás, o Eduardo é o padrinho do Arenas, pois foi pela inspiração dele, que criou o www.edudobrooklyn.blogspot.com, que eu decidi traçar minhas linhas na Web.
Então, segue aqui o texto, como sempre magnífico, do Eduardo, sob blogs e dramas pessoais.

Cerimônia do adeus
Por Eduardo Graça, para o Valor
24/06/2005





O anúncio foi feito no dia 5 de fevereiro de 2004 e comoveu uma legião de amigos de todas as partes do globo. "Candy Girl" acabara de falecer. Ainda emocionados, Meroë, Colin, Linda, Ernest e Rob postaram aquela que seria a última mensagem de Emma Candy em seu weblog "May I Be Frank?". Durante cinco intensos meses ela dividiu com íntimos e desconhecidos o cotidiano de uma mulher inglesa de 35 anos consciente de que tinha câncer no ovário. O nome do blog é uma homenagem ao cirurgião que deu a notícia a Emma, três anos depois de ela retirar um cisto. "Ele mudou minha vida", escreveu a designer de móveis.


Os "health blogs", diários de pessoas enfrentando problemas graves de saúde, são a mais recente ferramenta para os que buscam uma maneira de dividir suas experiências e documentar os mais diversos tratamentos médicos no que já é classificado por médicos e pesquisadores como 'web therapy'. Ao mesmo tempo em que produzem um banco de dados extremamente valioso para futuros pacientes e seus familiares, os 'blogueiros da saúde' também se dedicam a uma espécie de auto-terapia, em uma versão eletrônica do velho e bom desabafo.


A página www.healthdiaries.com, por exemplo, aqui dos EUA, já reúne nada menos do que 176 diários, selecionados por tópicos que vão de doenças auto-imunes e síndrome de pânico a disfunção alimentar e alergias. Um deles é o de Keron Williams, 31 anos, que vive em Buffalo, no estado de Nova York. Ela sofre de lupus, fibromialgia e, nada surpreendente, depressão.



Em uma passagem por seu blog logo se descobre que Williams cria sozinha uma criança de 9 anos, é negra e trava uma batalha kafkiana com o sistema de saúde pública dos EUA. No inverno ela foi informada de que não receberia mais medicamentos para combater a fibromialgia, agora excluída da lista de doenças assistidas pelo Estado. "Vários médicos me disseram que, de qualquer forma, não vou precisar dos remédios mesmo. É engraçado, porque penso de maneira totalmente diferente e não tenho como não levar em conta que nenhum dos meus médicos sofrem de fibromialgia. Alías, muitos deles já me disseram que esta não é nem mesmo uma doença de fato, que tudo está na minha cabeça. Então, pergunto: quantas pessoas que estão lendo o meu blog simplesmente param de tomar remédios contra a dor?"


Em poucos minutos, outra mulher, que se identifica apenas como Lisa, decide responder ao desabafo de Williams. "Vivo o mesmo problema. Tenho lupus e ontem fui diagnosticada com fibromialgia e síndrome de Raynaud´s. Entendo exatamente o que você está passando e sei como é aquela coisa de pensar 'por que isso foi acontecer só comigo?' Bem, não é só com você e me deixe dizer uma coisa: sou branca, caucasianíssima. Se você quiser conversar com alguém que passa pelos mesmos problemas, por favor entre no meu site, escreva no meu blog, vamos trocar e-mails".


Diretor do Hospital do Câncer II, uma das unidades do Instituto Nacional do Câncer (Inca), centro de referência da doença no Brasil, o dr. Reinaldo Rondineli acredita que esta comunicação entre os pacientes é uma ação quase sempre positiva. "Não conheço nenhum paciente aqui do Inca que mantenha um blog, mas acho a idéia extremamente saudável. Tratamentos bem-sucedidos, por exemplo, tendem a ter um efeito extremamente positivo na troca destas experiências", diz. Ele também conta que no Inca, que fica no Rio de Janeiro, já há um projeto em desenvolvimento para que o paciente possa ter a oportunidade de conversar com as diversas equipes de saúde envolvidas em seu tratamento.



Olga de Mello foi durante anos assessora de imprensa do mesmo Inca e travou a batalha de lutar contra o câncer de cérebro que consumiu sua mãe. Hoje blogueira de mão-cheia no delicioso "Arenas Cariocas" (www.arenascariocas.com.br), a jornalista diz, no entanto, que não poderia ter feito um diário sobre o período em que enfrentou a doença de sua mãe. "Eu acho que é uma experiência extremamente pessoal. Uma vivência que eu só conseguiria dividir com a família e os amigos mais próximos. Acho os "heatlh blogs" muito interessantes, mas não são uma opção para mim".


De fato, as noções de privacidade e intimidade parecem cada vez mais nebulosas no mundo contemporâneo dos reality shows, da notoriedade instantânea e do grande espelho de face dupla da internet. Quando a BBC anunciou, em fevereiro, a morte do jornalista Ivan Noble, 37 anos, especialista em ciência e tecnologia, nada menos do que 300 mil pessoas entraram em seu blog para ler seu último 'post'. Noble mantinha o diário desde agosto de 2002, quando foi diagnosticado um tumor maligno em seu cérebro. Em sua derradeira mensagem, no dia 30 de janeiro, ele deixou claro que 'não se sentia um derrotado'. E que, mesmo nunca tendo detectado um talento especial pelo jornalismo em primeira pessoa, se seu "health blog" 'ajudou duas ou três pessoas a largarem o cigarro e não contraírem qualquer tipo de câncer em sua vida, então sinto que minhas mal-digitadas linhas já valeram a pena".


Inúmeros internautas deixaram mensagens de conforto para a família de Noble, citado como inspiração e motivo de orgulho dos britânicos. Mas muitos outros passaram pelas páginas do blog sem deixar maiores marcas. Curiosidade mórbida ou solidariedade silenciosa? A jornalista Natalie Hanman, do jornal britânico "The Guardian", autora de uma extensa pesquisa sobre o tema, acha que, assim como na sociedade 'real', há de tudo um pouco no mundo da blogosfera. Em geral, na maioria dos "health blogs", a prática é escrever regularmente sobre os desafios vencidos - ou não - no contato direto com a doença ao mesmo tempo em que se responde a e-mails de curiosos e conhecidos sobre sua rotina. A rotina acaba se transformando em um 'quase-emprego', que, na descrição de vários blogueiros, os mantém 'vivos, lúcidos e com mais vontade de viver'.


Um dos blogueiros mais impressionantes do grupo estudado por Hanman é Davey Boy, de Toronto, Canadá, que descobriu há alguns anos ser soropositivo para o vírus HIV. "Eu precisava encontrar uma maneira de dividir o que eu sentia com outras pessoas, então resolvi criar um espaço na internet que poderia ser uma espécie de 'network social' em que eu pudesse também fazer um trabalho mais ou menos educacional voltado para outras pessoas lidando com a Aids", conta em seu blog, que tem o corajoso título de hiv-aids.blogspot.com e oferece links para inúmeros serviços de ajuda a portadores do vírus da aids.


Quanto a Candy Girl, em sua última entrada no blog ela contava que começava a ficar impossível comer e já elaborava um plano para usar pirulitos como uma espécie de catalisador de sabor e excitante de apetite. Dez dias depois, os amigos entraram no blog para comunicar a morte de Emma. Contam que ela morreu em paz, ao lado da família, mostram uma última foto de Emma, passeando feliz, dias atrás, à beira do Tâmisa, e encerram o blog, ainda aberto na internet, como um documento vivo de sua autora, desta maneira: "Este blog foi uma das coisas que mantiveram Emma feliz nos últimos meses. Ela adorava escrever seus 'posts' para todos. Seria genial se as pessoas pudessem sempre dividir seus pensamentos com os outros. Nós sabemos que Emma gostaria de agradecer a todos vocês pelas palavras de apoio, sempre".


Lista de Blogs:


www.mayibefrank.typepad.com


www.healthdiaries.com/blogs/


www.guardian.co.uk/online/weblogs


www.news.bbc.co.uk/1/hi/health/ 4211475.stm


www.arenascariocas.blogspot.com

24.8.07

O que se responde à simpática médica que, durante a primeira consulta, ao descobrir que o trabalho toma 20 horas de seus pensamentos em cada dia, declara: "Você está levando uma vida muito chata!"?
Minha senhora, eu levo a vida que posso.

19.8.07



Da série "Ai, meu Deus, era tudo o que eu queria..."

Dos olhares


Já disse e repito: a perda de visão próxima, a presbiopia, é o grande marco da constatação do envelhecimento, bem mais impactante do que embranquecimento dos cabelos.
Míope de carteirinha, daquelas que, sem óculos não escuta direito, estou cortando um dobrado na fase de adaptação à dita vista cansada.
Como boa Miss Magoo, comecei a tirar os óculos para ler, mas não tenho óculos para ler se estou de lentes de contato, o que acontece sempre que estou fora de casa.
Minha vida virou uma constante busca da visão. Os oftalmologistas têm a idéia de que basta a gente usar óculos para não conseguir viver sem eles. Então, eu sofro, porque estou sempre enxergando mal, de perto ou de longe. Ontem, numa festa de família, fui encarregada de fotografar. Não tenho a menor idéia da qualidade das fotos, analógicas. Mal via o que estava por trás das lentes.
Almejo muito aquele olhar de expert, que só quem usa lentes para perto consegue ter. O ato de envergar óculos de leitura confere ao idoso a distinção aristocrática dos que portavam longhorns em óperas na Belle Epoque.
O único fato interessante nesta fase de transição e aceitação da velhice é que, além de perder meus óculos o dia inteiro, já que eles vivem sendo retirados da face e abandonados em sofás, mesinhas ou na cama, estranhamente, ando enxergando um pouquinho melhor de longe. Ou passei a ouvir melhor.
Legenda saudosista: Em priscas eras, quando os óculos só serviam para ver ao longe...

17.8.07

Uma paixão compartilhada

Há muito não posto aqui minhas matérias, desde que criei o "Viver da Escrita", um blog-portifólio profissional.
Mas como a gente tem uma tremenda preguiça de ir a links e ler, segue aqui, por extenso, a matéria que saiu no Valor de hoje, sobre um objeto de culto para mim e para tantos amigos.

À sombra das estantes
Por Olga de Mello, para o Valor
17/08/2007





A Shakespeare and Company, em Paris: dois livros tratam da lendária livraria, ponto de encontro de escritores do início do século XX e abrigo recente para um jornalista canadense
"Quando tenho algum dinheiro, compro livros; se me sobrar um pouco, compro roupas e comida." Assim o pensador holandês Erasmo de Roterdã (1455-1536) explicava seu amor pelos livros, produtos cujo consumo em larga escala foi iniciado durante sua infância, quando o alemão Johannes Guttemberg, por volta de 1545, criou a primeira prensa. Depois de popularizar-se ao longo dos séculos e enfrentar a era da informática, o livro firma-se cada vez mais como objeto de culto, alcançando o nível de tema literário de sucesso em países onde tradicionalmente a leitura é um luxo para poucos. Apenas no Brasil, quatro títulos estrangeiros freqüentam, simultaneamente, as listas de mais vendidos, seguindo bons desempenhos em outros mercados. Ao lado de dois romances a respeito de crianças que procuram - ou furtam - livros, relatos semijornalísticos sobre livreiros que hospedam escritores vêm conquistando os leitores brasileiros.


Desde seu lançamento há cinco meses, "A Menina Que Roubava Livros" (Intrínseca, 494 págs., R$ 39,90) vendeu 150 mil exemplares e aumentou em 500% o faturamento da editora, revela o presidente da Intrínseca, Jorge Oaquim, que vê no romance um clássico contemporâneo: "Será igual a 'O Mundo de Sofia', um livro para jovens leitores que conquistou os adultos", diz. O público brasileiro também se entusiasmou com "A Sombra do Vento", do espanhol Carlos Ruiz Zafón, (Suma de Letras, 399 págs., R$ 39,90), um fenômeno literário que permaneceu mais de cinco anos na lista de best-sellers na Espanha e vendeu mais de 6,5 milhões de cópias em todo o mundo, sendo 35 mil no Brasil.


Há 54 semanas "O Livreiro de Cabul" (Record, 316 págs., R$ 42), da jornalista norueguesa Âsne Seierstad permanece nas listas dos mais vendidos, que estão abrindo espaço também para "Um Livro por Dia - Minha Temporada Parisiense na Shakespeare and Company" (Casa da Palavra, 320 págs., R$ 39,90). Irritado com a abordagem de Âsne, a quem hospedou por três meses, sobre a rotina doméstica de sua família, Shah Muhammad Rais escreveu "Eu Sou o Livreiro de Cabul" (Bertrand, 96 págs., R$ 26,00), com outra versão sobre o modo de vida no país de maioria muçulmana, arrasado pela guerra.


Em "Um Livro por Dia", o jornalista canadense Jeremy Mercer trata com humor a falta de higiene e a desorganização administrativa da Shakespeare and Company, onde viveu a convite do excêntrico livreiro George Whitman. Há cerca de 20 anos, outro livreiro, o britânico Frank Doer, foi imortalizado pela escritora americana Helene Hanff. Durante décadas, eles mantiveram uma intensa correspondência descrita no livro "84 Charing Cross Road", mais conhecido no Brasil depois do filme "Nunca Te Vi, Sempre Te Amei", com Anne Bancroft e Anthony Hopkins.




Não é raro encontrar apaixonados por livros protagonizando tramas ficcionais que, por vezes, pouco têm de eruditas. O escritor de policiais John Dunning criou um detetive especialista em obras raras. A resistência ao obscurantismo está tanto no clássico "Farenheit 451", de Ray Bradbury, em que bombeiros incineram livros, que passam a ser memorizados para que não se perca a cultura, quanto em "Balzac e a Costureirinha Chinesa" - que a Alfaguara relança em setembro (R$ 28,90). Este mostra dois rapazes desafiando o regime maoísta ao ler uma mala repleta de obras clássicas ocidentais, consideradas subversivas pelo governo.


O protagonista de "A Confissão", (Rocco, R$ 31), de Flávio Rodrigues, valoriza os livros porque tira deles seu sustento: ladrão, rouba volumes que revende em sebos. Livreiros e livrarias estão em "A Décima Terceira História" (Record, 420 págs., R$ 50,00), o romance gótico da inglesa Diane Setterfield que ficou semanas na lista dos mais vendidos do "The New York Times", e em "Desvarios no Brooklyn" (Companhia das Letras, 328 págs., R$ 49,50), de Paul Auster.


"Nada mais natural que a literatura aproveite como ambiente o palco do encontro entre o leitor e o livro", diz Rui Campos, um dos sócios da Livraria da Travessa, que determinou um espaço exclusivo para livros sobre bibliofilia. Laura Gasparian, da Livraria Argumento, acha que o livreiro merece ser imortalizado na pele de astros do cinema como Hugh Grant ("Notting Hill") ou Johnny Depp ("O Último Portal", de Roman Polanski, baseado na novela "O Club Dumas", de Artur Pérez-Reverte): "É uma profissão muito charmosa, porque vende o conhecimento."


"É uma satisfação perceber o crescimento de títulos sobre bibliofilia no Brasil, embora não esteja surgindo um nicho nem um filão. Antes, nem tínhamos concorrência", brinca Martha Ribas, gerente-editorial da Casa da Palavra, que tem 18% de seu catálogo dedicado ao gênero. O primeiro lançamento da editora, "O Bibliófilo Aprendiz", de Rubens Borba de Moraes (207 págs., R$ 32,00), continua em catálogo. O maior sucesso, "A Paixão pelos Livros" (152 págs., R$ 32,00) está na quinta reimpressão. Junto com "Um Livro por Dia", a Casa da Palavra relançou "Shakespeare and Company, uma Livraria na Paris do Entre-Guerras" (272 págs., R$ 42,00), a autobiografia da livreira Sylvia Beach, proprietária da Shakespeare and Company original. "Conseguimos transformar uma paixão em negócio lucrativo, com uma excelente receptividade", afirma Martha.


Em 2005, o Atelier Editorial lançou "Philobiblon" (181 págs., R$ 27,00), o primeiro livro sobre bibliofilia, escrito pelo inglês Richard de Bury em 1344. As vendas foram modestas, mas o editor Plínio Martins Filho não desanima. "É importante termos esses títulos disponíveis, mesmo com um público pequeno", acredita, informando que ainda este ano o conto "O Inferno do Bibliófilo", do francês Charles Asselineau, será o segundo volume da coleção O Prazer de Ler, iniciada com "Philobiblon".


A exemplo de Virginia Woolf, para quem "ler sistematicamente com o objetivo de tornar-se um especialista ou uma autoridade" poderia matar "a paixão mais humana pela leitura pura e desinteressada", o mais renomado bibliófilo brasileiro, José Mindlin, acha que a formação deve ser mais conseqüência que objetivo do leitor: "Não se pode pensar em educação sem leitura, mas só é inoculado pelo vírus da leitura quem obtém prazer nela. O refinamento vem aos poucos", diz Mindlin, um entusiasta das bibliotecas populares que têm sido montadas em garagens de diversas cidades do Brasil, sem registro formal nem catálogo das obras. Iniciativas que merecem elogio semelhante do argentino Alberto Maguel, em "A Biblioteca, à Noite" (Companhia das Letras, 301 págs., R$ 47,00), em que destaca o esforço do governo colombiano, que criou um sistema dinâmico de bibliotecas itinerantes que alcança locais inacessíveis por automóveis usando os biblioburros - sacolas com livros carregadas em lombos de burros.

16.8.07

No Valor Econômico, hoje

Aperta aí no link, que sai. Se não, corram no Viver da Escrita, que está lá, por extenso.

14.8.07

Livros para morrer sem ler

Eu estava animadinha, eager to read, a lista dos 1000 livros para serem lidos antes de morrer, do professor de Literatra Inglesa Peter Boxall. Ali estaria a relação que nortearia meu resto de vida. E aí começa pelo século XXI, com muitos autores patrícios do moço ou da Commonwealth. Até aí, tudo bem, que eu adoro literatura inglesa, mas sou mais a do século XIX para trás, com descrições fotográficas do Thomas Hardy sobre as charnecas, ou o Henry James, o americano mais britânico que já existiu, falando da inadequação dos habitantes no Novo Mundo na Europa.
Só que logo, logo, no número 52, dois números depois de "A Festa do Bode", do Vargas Llosa, um dos pouquíssimos latinos citados, como Saramago, está... "The Devil and Miss Pymm", de nosso Paulo Coelho.
Tá certo que a única obra completa que li do Paulo Coelho foi a letra de "Esse Tal de Rock Enrow", mas algo me diz que Dr Boxall também não deve ter lido nada do Mago. Porque não é apenas Miss Prymm que está na lista, mas "Verônica quer morrer" ou coisa que o valha também. E pode ser que tenha me escapado mais algum. Isso contra dois livros de Clarice Lispector (A Hora da Estrela e GH)e um de Jorge Amado. Ah, sim, Vargas Llosa entra mais uma vez na lista, Garcia Marques também, assim como Laura Esquivel e Borges. Tá bom pra América Latina, não?
Uma listinha fajuta dessa só me dá vontade de sentar-me às margens do Rio Piedra e chorar.

13.8.07

Mangalô, pé de pato três vezes!

Tem gente que merece conjuração astral para ter sua conversinha melíflua concretizada em sapos e cobras que descem da boca, igual a alguns personagens dos Irmãos Grimm.

6.8.07

Prazer solitário


Não há qualquer dificuldade em encher uma página ou uma tela de palavras coerentes desde que surja a frase de impacto que dará ao texto o toque para atrair os leitores.
Depois disso, é fácil. As mãos seguem pensamentos tão rápidos que mal consigo captá-los. Permaneço fascinada pela delicada elegância dos movimentos dos dedos sobre as teclas, tentando manter a atenção no lado mecânico desse exercício de criação. Parece com dirigir um carro, não há mais reflexão, tudo é automatizado. Quando uso caneta ou lápis é diferente. Só a página manuscrita parece mais interessante e misteriosa que a tela onde as letras somem e seguem seus caminhos direto para a impressão.
Quando se escreve sobre o factual, sobre os acontecimentos, não há essa necessidade de cortejar o leitor.
Se o tema pouco tem a ver com a realidade e é preciso criar uma situação de interesse, por vezes escrever torna-se tão trabalhoso quanto seduzir. Um jogo agradável, que arranca alguns suspiros e devaneios.
E daí, em algum momento, premente pela hora do fechamento, nasce mais uma história.

5.8.07

Meia-noite e meia


Olhos úmidos, sempre úmidos.
Alergia e desalento.
Alergia ou desalento.
Alergia com desalento.
Alergia a desalento.
Pegar outro papel; tudo tem que estar pronto segunda-feira.
E enquanto isso, eles cantam.

31.7.07

Último dia de férias



Ontem foi Bergman, hoje parte Antonioni. Buñuel, que caiu fora muito antes, está associado às senhas de minha vida.
Nelson Piquet tem aulas de bom comportamento e direção. Que lindo exemplo. Que jogada de marketing. O bom é reclamar.
O frio aumenta, mas vai passar.
O salário não sai, mas vai chegar.
A esperança é que segura o mundo.

30.7.07

Epifania

O termômetro marcava 12 graus na noite de Botafogo quando confirmei que não fui geneticamente programada para suportar temperaturas abaixo de 15C.

26.7.07

Total teen


Eu queria muito me apaixonar em Buenos Aires, em Madri ou em Paris, nesses lugares onde beijos colorem dias chuvosos, só pra voltar ao Rio com a certeza de que o amor vive aqui mesmo.