26.4.13

Traduttore, traditore ...

Acabei o romance policial escandinavo que foi traduzido, certamente, de uma versão em inglês E com ajuda de tradutor da Internet. Além do uso indiscriminado de "seu" e "sua" em vez de "dele" e "dela", há abuso de pronomes pessoais, numa clara referência à fonte textual, o uso de termos restritos, em português, a especialistas em geografia ou sociologia, como "despopulação", além de um total descuido com a regência e tempos verbais. Uma vergonha absoluta.
Não vou dar o nome do traditore. Faltou uma revisão, provavelmente por pressão da editora, louca para aproveitar, então, a onda dos policiais do norte da Europa. Faltou também respeito aos leitores.

Percalços

É só começar a fazer dieta e a saracotear por tudo quanto é escada, achando que a vida é fácil, que a gente desaba, perdendo a dignidade e a empáfia.
O dia começou com um baita escorregão feio na sala. Tinha um líquido espalhado no chão-, botei a mão esquerda na frente, torci o pé direito e aparei a queda com o joelho esquerdo.
Com o know-how de uma eterna cadente nas calçadas cariocas, sei que as dores passam em dois dias. Enquanto isso, locomovo-me como um pinguim desequilibrado - e muito acima do peso.
O sapato, sem qualquer aderência ao chão, será sacrificado. A sola está completamente careca, depois de anos de uso.
Dores humilhantes. Depois de três horas da ocorrência, a musculatura das costas começa a se mostrar abalada.
Estou um pavor: bursite no ombro direito, tendinite na mão direita, pé direito torcido, mão esquerda avariada, joelho esquerdo ralado. É duro envelhecer.

17.4.13

O questionário Proust por Arthur Conan Doyle


Acabei de saber que o questionário ficou famoso porque Proust o respondeu, não porque o criou.
Conan Doyle o respondeu quase telegraficamente (se é que alguém ainda sabe o que é um telégrafo), ou melhor twitteritamente.

3.4.13

Uma fase

Jamais me jactei de ser exímia cozinheira. Ao contrário, sempre estive o mais distante possível da cozinha. Aprendi como se fazia macarrão ao sair da casa de meus pais - e juro, não tinha ideia mesmo! Minha mãe não sabia cozinhar, tínhamos Maria, uma verdadeira chef, com talento insuperável nas lides domésticas, jardinagem e na arrumação de meus longos cabelos de menina. Minha proximidade com panelas e fogão restringia-se aos fins de semana, quando esquentávamos o que Maria deixara pronto antes de sair de folga. Depois, vieram os congelados, que Maria, já como diarista, fazia, uma vez ao mês.
Não foi por causa da nova legislação sobre empregadas domésticas que decidi me aventurar na cozinha. Há alguns anos, cozinho basicamente três pratos: strogonoff, rosbife e risoto. Ano passado, ganhei um quilo de bacalhau e me arrisquei a cozinhá-lo, consultando todas as receitas possíveis na Internet. Deu certo. Este ano, repeti a receita (de cabeça!!!). Deu certíssimo novamente.
Acho que foi daí que peguei gosto, nesta Páscoa. Decidi enfrentar o fogão e tentar fazer um dos mistérios gloriosos da culinária: uma canja. Mistério porque jamais compreendi como água se torna alimento, em que momento aquilo toma consistência. Munida de várias receitas coletadas na Web, fui à luta e... deu certo outra vez!
Chegou no day after, eu, ansiosa pra começar a fazer um escondidinho. Nem consegui me reconhecer. Deu tudo certo, novamente.
Então, depois de enriquecer meu cardápio com dois novos pratos, tenho uma espécie de propósito pros próximos tempos. Tentar cozinhar, correr atrás de uma nova receita por noite, igual àquela moça amalucada que fazia um blog falando que cozinhara algo do livro da Julia Child. Ela pirou e virou ajudante de açougueiro em Nova York. Não tenho a menor pretensão em enlouquecer ou trabalhar em açougue.
Sentir que estava cumprindo uma tarefa aparentemente fácil, mas que para mim sempre foi motivo de angústia, me trouxe ânimo para ajudar a purgar umas tristezinhas que me acometeram nesses dias. O problema é o verão. Cozinhar no calor carioca é praticamente impossível. Até lá, a fase passa.