31.12.06


E que venha 2007!!!!!

30.12.06

O horror, o horror


As últimas palavras do Coronel Kurtz, o terrível personagem criado por Joseph Conrad em "Coração das Trevas", a novela que foi a base de "Apocalipse Now", o filme de Coppola, marcam o fim de um ditador e de seu mundo particular, mas, para mim, sempre têm a dimensão de tudo o que a barbárie significa.
O horror é haver gente cruel a ponto de matar suas vítimas ateando fogo a um ônibus.
O horror é o enforcamento de Sadam Hussein, que poderia ser mantido vivo, numa cadeia de segurança máxima e trabalhos forçados.
O horror é ouvir as teorias pueris e sanguinárias para o fim da violência urbana, entre elas o fuzilamento constante de presidiários nas cadeias brasileiras como solução para eliminar o banditismo no país.
O horror é ouvir Bush dizendo que Sadam teve um julgamento justo.
Certamente a negligência com os cidadãos de Nova Orleans, abandonados às vésperas da chegada de um furacão, não pode ser objeto de um julgamento justo. Invadir países para fomentar lucros com a indústria da guerra também não vale julgamentos públicos.
Bom seria o horror ficar reservado ao cinema e à literatura, enquanto à realidade caberiam ainda os sofrimentos decorrentes da existência.

26.12.06

Valeu, Braguinha!


Meu coração

não sei por que

bate feliz

quando te vê

e os meus olhos ficam sorrindo

e pelas ruas vão te seguindo

mas mesmo assim foges de mim

Ah, se tu soubesses como eu sou tão carinhoso

e muito muito que te quero

e como é sincero meu amor

eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem,

vem sentir o calor dos lábios meus

à procura dos teus

vem matar essa paixão que me devora o coração

E só assim, então, serei, feliz, bem feliz.

23.12.06








Um feliz Natal aos habitués destas arenas!
A blogueira e seus personagens favoritos entram em recesso
para degustação de bacalhau e rabanadas!






22.12.06

O ano sabático de meus filhos

Durante o ano letivo de 2006, em vista da bancarrota financeira que me acometeu, matriculei meus filhos na melhor escola pública municipal da região que compreende Botafogo/Lagoa/Urca. Sem querer fazer deste texto um relato pessoal, vou às observações que colhi ao longo do ano inteiro e os motivos para desacreditar totalmente no ensino público de 1a a 8a séries na cidade do Rio de Janeiro.
- Na primeira reunião de pais, soube que alunos mentem e fogem do colégio, portanto, devem ser questionados e vigiados na medida do possível.
- Televisão e DVD da escola são mantidos dentro de uma jaula fechada com cadeado - isso porque as escolas do Município são vítimas de constantes assaltos, não por causa dos alunos.
- Na mesma reunião falou-se sobre freqüência dos alunos, mas não sobre proposta pedagógica.
- No primeiro mês de aulas, recebi telefonemas de empresas interessadas em contratar meu filho de 13 anos para "inseri-lo no mercado de trabalho" como office-boy, graças a um convênio que as escolas top de linha, ou seja, na qual os alunos respeitam a integridade física e moral do corpo discente e dos parcos funcionários de apoio, mantêm com tais firmas.
- Em dois bimestres sem abrir um só livro, meu filho já havia passado de ano, exceto em Educação Física, onde seus conceitos nunca foram muito além de regular; no restante, foi uma coleção de "ótimo", "muito bom" e "Excelente".
- Minha filha, sem qualquer esforço, levou o ano inteiro brincando e com conceitos regulares. Foi aprovada embora tivesse passado de ano com dependência em Matemática; isso porque reprovação só existe para quem levar bomba em três matérias.
- Pela primeira vez em toda a vida letiva de meus filhos, eles não precisaram ler nenhum título literário ao longo do ano.
- A professora de Matemática adoeceu e ficou dois meses sem ir à escola. O conceito dado no bimestre anterior foi repetido para todos os alunos daquela turma.
- Todos os professores faltam religiosamente ao menos uma vez ao mês.
- Na ausência do professor, o aluno é dispensado e pode voltar para casa, se for nos últimos tempos - as aulas não são repostas, nem há substituição daquele professor.
- A diretora e as professoras se revezam na abertura dos portões: não existe zelador nem porteiro no colégio.
- Palavras da coordenadora pedagógica: "Fornecemos diplomas para que os alunos acabem como caixas de supermercado. Infelizmente, o sistema é esse. Aqui não tem bandido, mas não podemos exigir nada do aluno em termos de aprendizado. E somos top de linha dentro da região. Ano que vem será pior, pois a Prefeitura adotou a aprovação automática em todas as séries".


Minhas conclusões:

- À escola pública do Município não cabe ensinar, mas educar seus alunos para que saibam se comportar a serviço dos cidadãos de primeira classe. Eles estão ali para conhecerem seu lugar.
- Ao fechar convênios para levar crianças ao mercado de trabalho, a escola está se distanciando do ensino, enquanto enfatiza que seu aluno é um futuro servidor das elites.
- Algumas instituições, como o Ceasm, na Maré, dá reforço escolar para os meninos pobres irem para a universidade. E conseguem que eles se formem, sim. Mas os meninos não podem trabalhar.
- Enquanto abrimos cotas, não existe reforço no ensino público fundamental. Precisamos abrir cotas, sim, mas garantirmos que o ensino fundamental seja compatível com o que é oferecido nas escolas particulares. Se o conteúdo é, teoricamente, o mesmo, e se os professores também são os mesmos, muitas vezes, aonde está a diferença? Apenas no que é exigido do aluno. Embora a escola particular também esteja sofrível e faça de tudo para o aluno passar de ano sem tanto esforço, ainda existe preocupação com a integridade física dos estudantes e com a reposição de dias perdidos de aula. Isso porque existe uma relação comercial entre famílias e instituições.
- Uma professora com 30 anos de Município me contou que a Prefeitura quer manter as aprovações lá em cima para obter verbas do Banco Mundial. Por que o Banco Mundial não fiscaliza a qualidade desse ensino ou a forma como se aprova o aluno? Ora, por que será?
- A meus filhos caberá fazer cursinho suplementar para cursarem o Ensino Médio em uma boa escola particular ou nos colégios federais que ainda prestam. Em casa têm acesso a conhecimentos que seus colegas sequer sonham. E os sonhos... bem, a todos restam apenas os sonhos.

19.12.06


A simpática escolha da Time é uma homenagem a todos que produzem, lêem e fazem do mundo na rede uma forma universal de harmonizar a Humanidade.

Nós, por exemplo!

17.12.06

Deu pra ti


... baixo astral? Vai pra Porto Alegre e tchau!
Parabéns ao Internacional pela melhor zebra dos últimos tempos!!!!

15.12.06

Retrô



  • Melhor música chiclete - Ela só pensa em beijar, beijar, beijar...
  • Melhor chope - O do Botequim Informal da Conde de Bernadotte, uma tarde, após a praia
  • Melhor dia - hoje e sempre
  • Melhor encontro - Com Thereza e Mamunia, depois de intervalos de 30 (!!!!) e 7 anos respectivamente
  • Melhor constatação - Meus amigos são um barato
  • Melhor confirmação - Família a gente faz e escolhe
  • Melhor almoço - Os cívicos
  • Melhor festa - As que reúnem as Graças
  • Melhor lançamento de livro - "Parem as Máquinas! Jornalistas que valem mais do que 50 contos", na Estudantina
  • Melhor "já foi tarde" - Pinochet
  • Melhor aventura - Viver
  • Melhor terapia - Escrever
  • Melhor livro chiclete, aquele que a gente só larga se precisa tomar banho - Anotações sobre um escândalo, de Zoe Heller
  • Melhor dia - hoje e sempre

Dezembro


Dezembro é o único mês que tem prazo no calendário. Ele acaba por volta do dia 20, mas desde seu início começam as comemorações e confraternizações pelo fim do ano. Na verdade, motivo não existe. Todo mundo vai a essas festas porque gosta é de festejar. Tenho uma amiga com cargo de responsabilidade em uma grande empresa. Uma de suas principais atribuições é coordenar eventos festivos apenas para os funcionários da empresa. Fazer festa é necessidade básica do ser humano. Em dezembro, elas se avolumam de tal maneira que conciliar as agendas vira uma arte. Porque é urgente que amigos, colegas de trabalho, ex-colegas de colégio e famílias se reúnam neste mês, antes da virada do ano e a gente dê prazos mais etéreos, como o famoso "depois do carnaval", quando realmente começam os dias úteis de uma parte do Brasil - outra parte vive na miséria, na pobreza, na circunstância e não tem a menor noção sobre datas e deadlines.
O detestável em dezembro neste canto aqui do Brasil? O trânsito, as ruas fechadas, as lojas entupidas, aquela noção ridículo de que somente consumindo podemos ser felizes, a loucura comercial.
O bom de dezembro? A esperança de um novo começo.

13.12.06

Em 13 de dezembro de 1981


.. eu tinha 21 anos





... dirigia meu primeiro carro, um Fiat GL duas portas, amarelo táxi, que apelidei de "Perigo Amarelo" - e vivia sendo confundida com taxista, levando velhinhas na porta da igreja da Paz para casa, por gentileza mesmo, porque naquela época dava para ser gentil e aceitar caronas de jovens desconhecidas





... fui ao cinema à tarde, ver sei lá o quê no finado Ricamar, convencendo uma amiga botafoguense a torcer pelo Flamengo, que iria jogar no Japão pelo Mundial de Clubes





... assisti ao jogo, que começou à meia-noite, com um grupo de amigos em Ipanema





... o Flamengo fez bonito





... a madrugada na Zona Sul foi uma festa só





.... saímos pelas ruas em carreata





... passávamos de um carro para outro - sempre de gente conhecida porque as mães nos assombravam com o fantasma de Cláudia Lessin, coitada da moça





... brincamos na praia até quatro da manhã





... a cidade dormiu feliz.





10.12.06

Ela voltou


O Rio, iconoclasta como ele só, precisa muito de símbolos que se incorporem à privilegiada paisagem natural. Há alguns natais veio a árvore da Lagoa. Já me acostumara a ela, apesar de considerá-la feia demais. A do ano passado até ficou bonita, melhor do que a de 2004. A cada ano, elas são maiores. Uma beleza de desperdício de energia quando temos horário de verão exatamente para poupá-la. Não importa que tenha gerador próprio, é só o princípio que vejo violado.
Violada também é a Lagoa, coitada, sempre aterrada, entupida de despejos de esgotos que matam peixes ou palco para obras de arte como a felizmente finada estrela-polvo-ovo frito de Tomie Otake, que mais parecia um golpe na auto-estima da cidade, algo como fizeram os gaúchos ao amarrerem os cavalos no obelisco da Avenida Central. Não podiam deixar a Lagoa em paz, enfiaram a árvore de Natal, que, no entanto, permitiu que a região perdesse o ar de gueto de elite que vinha tomando para ser local de passeio de todas as camadas sociais que freqüentam ou vivem na cidade. É delicioso ver aquela montoeira de gente comendo pipoca, tirando fotografias, famílias, namorados, bebês em carrinhos, senhoras de cabelos armados, todos disputando espaço com os corredores e os ciclistas - esses, por sua vez, ficam enfurecidos.
Pena que este ano o Bradesco tenha armado a mais pavorosa de todas as árvores. Durante o dia, vá lá, até que as bolas vermelhas sobre a armação metálica dão um certo tom festivo à pavorosa estrutura. Mas à noite... as bolas se transformam em alegoria de escola de samba, com pinta de pintura de botequim carioca!!! Cada bola, se não me engano, traz a paisagem de alguma cidade brasileira. São HORROROSAS!!!!
Devo passar o reveillon na Lagoa, onde ainda é possível comemorar o Ano Novo num simulacro de cidade civilizada, entre adultos, idosos, crianças e bichos. Criança na rua, à noite, com os pais, é sinônimo de vida tranqüila. Não falo nos meninos de rua, gerações de crianças que ali se criaram sem qualquer cuidado por adultos ou pelo Estado. Falo das crianças que ainda têm pais, como as que eu vi, dois anos atrás, passeando à noite em Gramado, correndo atrás dos artistas que estavam lá para o Festival de Cinema. Ou crianças como eu, que, no outro milênio, era arrastada todas as noites de verão para passear até Copacabana ou até a Praça da Paz, apenas para fazer a digestão e dar uma voltinha na rua. Um mérito a árvore da Lagoa tem. Por algumas noites, em uma pequena área da cidade, vivemos as sensações do Rio do século passado.

8.12.06

A Botafoganização do Leblon



Aquele bairro do qual só passei a gostar recentemente e com o qual volto a antipatizar a cada glorificação estereotipada de que ali reside o último bastião de excelência do carioquismo, o Leblon, enfim começa a se igualar aos demais recantos da cidade.
Quando eu era criança, considerava-se absolutamente ridícula a paixão paulistana por lojas. Carioca fazia compras, claro, mas vivia era na praia ou no boteco. Em quarenta anos, tudo muda, claro. Carioca hoje tem devoção por shopping center. Carioca não gosta de sair de seu canto para dedicar-se à cristalização do entretenimento consumista. Carioca só vai a cinema de shopping e só assiste a filme comendo pipoca, tomando litros de refrigerante. Carioca senta-se em cafés que servem bebidas com as mais estrangeiras denominações e que têm toques da rubiácea, mas o gosto, mesmo é bem distinto. Carioca não gosta mais de um cafezinho de botequim, mas AMA tomar esses drinques globalizados. Em algum momento, eles serão servidos à americana, em copos de papel. E os neo-cariocas irão preferi-lo ao velho cafezinho tão fumegante quanto as pouco higiênicas xicrinhas de porcelana mantidas em água fervente de duvidosa assepsia.
Bem, todo este nariz de cera é para informar que, enfim, o Leblon começa a ser reintegrado ao resto da cidade graças à inauguração de seu novo shopping center, um trambolho arquitetônico de gosto duvidoso, parecendo um mausoléu branco em diversos andares, aos quais se alcança após galgar dois lances de escadas rolantes que lembram, em muito, a estação de metrô Arcoverde, em Copacabana (onde os trilhos são tão próximos às primeiras camadas magmáticas da crostra terrestre, que em um dos respiradouros foi instalada a marca do Batman, numa demonstração do bom humor pop que a carioquice manteve por tanto tempo). Mas antes, muito antes de usufruir dos prazeres oferecidos pela nova catedral do consumo chique, há que se alcançá-la. E lá fui eu para a nova Livraria da Travessa (imensa e linda, reconheço) para o lançamento do livro da Regina. Foi então que descobri um novo Leblon. O Leblon dos engarrafamentos que são comuns no resto da cidade. A Afrânio de Melo Franco virou terra de ninguém. Flanelinhas, todos moradores da Cruzada São Sebastião, indicam vagas sobre as calçadas. Orientadores de trânsito gesticulam e nenhum motorista dá bola. Guardas municipais e alguns PMs acompanham o caos, enquanto carros empacam e ninguém se entende.
Provavelmente esta é a forma de democratizar o Leblon, deixar a bagunça imperar e contrabalançar as griffes famosas do novo shopping, que começou a funcionar antes de estar ... limpo! No afã de aproveitar o Natal, meia dúzia de lojas abriram suas portas sem ligar para a poeira de obra que se acumula por tudo quanto é canto. A Travessa, por exemplo, tem todas as superfícies em madeira sem verniz aparente, mas o cheiro de impermeabilizante impede que se permaneça por muito tempo em seu interior. De qualquer modo, as autoridades municipais estão de parabéns: permitiram que fosse incrustrada na área do Teatro Casa Grande uma aberração arquitetônica que contribuirá para prejudicar ainda mais o tráfego da cidade. Mas isso, até eu, que não sou engenheira ou arquiteta, previa que iria acontecer. O Rio merece por entronizar tanta gente preocupada em esmagar de vez o carioquismo.

7.12.06

Andei tão atarefada que esqueci o registro da morte de Puskas, vinte dias atrás. Os gramados do Paraíso devem estar sorridentes.

4.12.06

Zappa Girl


Semana de muito trabalho e muita festa pela frente!!!
Regina Zappa está IMPOSSÍVEL - lança filme e livro sobre dois baluartes da MPB.
O filme, que ela dirigiu com a não menos diligente Beatriz Thielmann, é sobre Edu Lobo e a arte da composição. Eu vi, e é maravilhoso, principalmente para quem gosta de música, de arranjos, de linguagem musical. Tem a última entrevista do Guarnieri, já doentinho, uma graça o sorriso dele para Edu.
O livro, que ela escreveu sobre fotos do não menos talentoso Bruno Veiga, é sobre Chico Buarque e sua relação com o Rio de Janeiro, através de algumas letras de música. Eu li e é maravilhoso, com uma daquelas caprichadíssimas edições da Casa da Palavra, atualmente a mais carioca das editoras do Rio.
O lançamento do filme, na quarta, é fechado para convidados, mas o do livro é aberto, conforme está no convite aqui em cima!!!!

E o feitiço carioca?


O bairro mais famoso da cidade merece muitos e muitos posts. E muita polêmica, claro, entre os freqüentadores destas arenas, já que Cantagalo, para alguns, está mais associado ao tráfico do que ao ponto geográfico.
Sou uma cultora de nomes antigos, odeio essa mania de batizar colégios e logradouros com nome de morto recente. Até porque ninguém sabe quem é o defunto homenageado, depois de algum tempo. Adoro a Rua das Acácias. Não é bonito? Também é interessante haver uma rua Dona Mariana, porque o 'dona' suscita a curiosidade (tá, era uma Guinle, Botafogo inteira é Guinle). Acho que por isso sou favorável a batizar as estações com nomes consagrados, como Cantagalo, Arcoverde, que a Sonia teme que venha a confundir os viajantes do metrô que não sejam do Rio. Mas quem toma condução deve se inteirar dos caminhos percorridos e até que o Metrô carioca indica direitinho, com muitos mapas e avisos por alto-falantes a cada chegada em estação.
Batizar estação de metrô é fácil, difícil é não se revoltar com a nova produção norte-americana de terror/suspense, usando o Brasil como cenário apavorante para jovens turistas que são dopados e seqüestrados por uma quadrilha de traficantes de órgãos humanos. Já recebi mensagem pedindo o boicote ao filme - ao qual já iria aderir de qualquer maneira, pois não gastaria meu tempo nem meu suado dinheiro vendo uma bobagem dessas. Drogas, tô fora!
Não é de hoje que o Brasil é desconhecido pelo mundo todo, mas também não é de hoje que o mundo todo é desconhecido pelo planeta inteiro. Da mesma maneira que os gringos acreditam que temos macacos saltitando alegremente pelas praias cariocas, imaginamos que não existam executivos na China nem na Índia (isso pra falar dos países mais badalados). Vivemos ainda no imaginário do século XIX, acreditando piamente que a Europa e os EUA são 'desenvolvidos' e que o resto do mundo, excetuando o Brasil, vive no limbo ao qual o colonialismo o relegou.
Em 1983, eu era foca no Globo e a faixa de rádio que usávamos para falar dos carros de reportagem com a redação era a mesma utilizada pela produção do filme "Feitiço do Rio", um dos poucos trabalhos ruins na carreira de Stanley Donen (acontece, acontece). O filme tinha Michael Caine (acontece, acontece) e Joseph Bologna como dois amigos que se hospedavam numa mansão no Joá com as filhas. A de Caine era a então jovem Demi Moore. A filha do outro tinha um caso com Michael Caine - uma baixaria só, mas compreensível por causa do tal feitiço do Rio. O nome original da obra era "Blame it on Rio", culpando esse lugar mágico que transforma os amigos da família em pedófilos tarados que se relacionam com meninas que viram nascer. E tinha, naturalmente topless na praia, com direito a papagaios fazendo de adereços de ombros dos banhistas.
Uma tarde, o chefe de reportagem enlouqueceu. Eu tentava explicar alguma coisa sobre uma apuração complicada quando entra uma outra voz no meio de nossa transmissão informando que não precisávamos levar mais cobras nem papagaios ou macacos para o Pão de Açúcar. O chefe deu uns berros no microfone, mandou todo mundo pegar aquela bicharada e levar pro zoológico ou pro Pinel. Desconheço o paradeiro dos produtores e seus animais, mas naquele dia reinou a tranqüilidade nas ondas do rádio.