4.12.06

E o feitiço carioca?


O bairro mais famoso da cidade merece muitos e muitos posts. E muita polêmica, claro, entre os freqüentadores destas arenas, já que Cantagalo, para alguns, está mais associado ao tráfico do que ao ponto geográfico.
Sou uma cultora de nomes antigos, odeio essa mania de batizar colégios e logradouros com nome de morto recente. Até porque ninguém sabe quem é o defunto homenageado, depois de algum tempo. Adoro a Rua das Acácias. Não é bonito? Também é interessante haver uma rua Dona Mariana, porque o 'dona' suscita a curiosidade (tá, era uma Guinle, Botafogo inteira é Guinle). Acho que por isso sou favorável a batizar as estações com nomes consagrados, como Cantagalo, Arcoverde, que a Sonia teme que venha a confundir os viajantes do metrô que não sejam do Rio. Mas quem toma condução deve se inteirar dos caminhos percorridos e até que o Metrô carioca indica direitinho, com muitos mapas e avisos por alto-falantes a cada chegada em estação.
Batizar estação de metrô é fácil, difícil é não se revoltar com a nova produção norte-americana de terror/suspense, usando o Brasil como cenário apavorante para jovens turistas que são dopados e seqüestrados por uma quadrilha de traficantes de órgãos humanos. Já recebi mensagem pedindo o boicote ao filme - ao qual já iria aderir de qualquer maneira, pois não gastaria meu tempo nem meu suado dinheiro vendo uma bobagem dessas. Drogas, tô fora!
Não é de hoje que o Brasil é desconhecido pelo mundo todo, mas também não é de hoje que o mundo todo é desconhecido pelo planeta inteiro. Da mesma maneira que os gringos acreditam que temos macacos saltitando alegremente pelas praias cariocas, imaginamos que não existam executivos na China nem na Índia (isso pra falar dos países mais badalados). Vivemos ainda no imaginário do século XIX, acreditando piamente que a Europa e os EUA são 'desenvolvidos' e que o resto do mundo, excetuando o Brasil, vive no limbo ao qual o colonialismo o relegou.
Em 1983, eu era foca no Globo e a faixa de rádio que usávamos para falar dos carros de reportagem com a redação era a mesma utilizada pela produção do filme "Feitiço do Rio", um dos poucos trabalhos ruins na carreira de Stanley Donen (acontece, acontece). O filme tinha Michael Caine (acontece, acontece) e Joseph Bologna como dois amigos que se hospedavam numa mansão no Joá com as filhas. A de Caine era a então jovem Demi Moore. A filha do outro tinha um caso com Michael Caine - uma baixaria só, mas compreensível por causa do tal feitiço do Rio. O nome original da obra era "Blame it on Rio", culpando esse lugar mágico que transforma os amigos da família em pedófilos tarados que se relacionam com meninas que viram nascer. E tinha, naturalmente topless na praia, com direito a papagaios fazendo de adereços de ombros dos banhistas.
Uma tarde, o chefe de reportagem enlouqueceu. Eu tentava explicar alguma coisa sobre uma apuração complicada quando entra uma outra voz no meio de nossa transmissão informando que não precisávamos levar mais cobras nem papagaios ou macacos para o Pão de Açúcar. O chefe deu uns berros no microfone, mandou todo mundo pegar aquela bicharada e levar pro zoológico ou pro Pinel. Desconheço o paradeiro dos produtores e seus animais, mas naquele dia reinou a tranqüilidade nas ondas do rádio.

3 comentários:

Jonas Prochownik disse...

Olga, se não me engano teve um filme do diretor de Orquídea Selvagem que era feito no Rio também, será que não era o próprio soft-pornô Orquidea etc ?
Eu até gosto dessa visão tropicalista e tão irreal que mostram nesses raríssimos filmes.
James Bond também já esteve aqui em um remoto episódio...
Quanto ao filme de terror vou ver sim, não perco esse trash movie de jeito menhum ! :)
E acho muito complexo de inferioridade pedirem o boicote do coitadinho do filme, que, parece, já é um fracasso retumbante.
Um beijo
Kristal

Anônimo disse...

Também sou favorável à manutenção dos nomes antigos dos logradouros. A gente lê um autor inglês do século XIX e identifica cada rua, o mesmo não acontece ao lermos Machado de Assis. Isso complica minha vida também quando faço pesquisa histórica para meus livros - custo a encontrar uma cidade no mapa, pois o nome já não é o mesmo.
Quanto ao filme não vi nem pretendo ver. Mas que babaquice - se me permite e palavra - os brios nacionis se ofenderem. Quanto filme por aí mostra uma N. York, uma Paris de horrores... mas nós, com esse complexo de todo subdesenvolvido...

Olga de Mello disse...

Meninas, concordo em número, gênero e grau. Esses trash movies realmente não deveriam ser levados a sério.
Há um documentário mostrando esta visão estrangeira do Brasil/Rio. Acho engraçado, pois não nos damos conta de que nós também temos a mesma visão estereotipada a respeito das terras estrangeiras.