Amanhã o ano vira, com um mundo de gente cumprindo a obrigação de ser esfuziante à meia-noite.
Uma sensação absolutamente dispensável depois que a vida já ultrapassou três décadas.
Só a sensação de expectativa de recomeço que os novos anos trazem não acabam, embora no Brasil tenhamos diversos inícios de ano - o mais marcante sendo a segunda-feira após o carnaval.
Sobrevivemos através dos recomeços, todos os meses, a cada pagamento que entra.
Os planos se embolam, às vezes.
E as listas de resoluções criam marcas amarelas, guardadas nos escaninhos da mente.
São essas determinações obliteradas pela realidade que nos tocam para a frente, numa correria infindável, que nos impede de curtir a vida com tranquilidade.
Vai daqui, então, o cartão de boas festas que mandei este ano, com uma imagem já mais do que conhecida nestas Arenas. É da Rua São Clemente, onde vivo, tempos antes de nossa chegada por aqui. (O calor, pela luminosidade da foto, já era desanimador. Ainda bem que a paisagem compensava...)
30.12.09
28.12.09
Atrocidade
Chamei de mau gosto o que via, de mau gosto, mau gosto... (Caetano Veloso, Sampa)
Classificar de vestido de noiva a roupa da senhora acima retratada é impossível. Uma armação de anágua/dublê de canga com babados e tintura sobre um peito nu só podem ser consideradas roupas por dançarinas do Olodum.
A referida dama casou-se com o ex-secretário de Educação do Distrito Federal, José Luis Vieira Valente. Não pretendo falar aqui sobre acusações de corrupção que foram feitas ao ex-secretário, mas sim sobre as apresentações circenses que as cerimônias de casamento se tornaram.
Eu sou a primeira a chamar os vestidos de noiva de "fantasia de noiva". Fantasia por ser um uniforme para uma solenidade, algo tão ridículo quanto becas de formatura - ou de juízes e advogados. Não gosto disso, mas reconheço que cada um usa o que considera apropriado em qualquer ocasião da vida.
O figurino da noiva brasiliense não cai bem em ninguém, sem importar ocasião, gênero ou faixa etária. Pintura sobre o corpo só fica bem, convenhamos, em modelos sequinhas, como a Globeleza - que se aposentou depois de chegar à maturidade.
Depois que as cerimônias de casamento perderam o cunho solene e religioso, adotando uma feição festiva, a sociedade do espetáculo criou um novo tipo de noivos, os que proporcionam shows para seus convidados, rompendo com tradição, elegância e, por vezes, causando um dispensável constrangimento ao público. Vale pelos quinze segundos de glória na Web. E só.
A referida dama casou-se com o ex-secretário de Educação do Distrito Federal, José Luis Vieira Valente. Não pretendo falar aqui sobre acusações de corrupção que foram feitas ao ex-secretário, mas sim sobre as apresentações circenses que as cerimônias de casamento se tornaram.
Eu sou a primeira a chamar os vestidos de noiva de "fantasia de noiva". Fantasia por ser um uniforme para uma solenidade, algo tão ridículo quanto becas de formatura - ou de juízes e advogados. Não gosto disso, mas reconheço que cada um usa o que considera apropriado em qualquer ocasião da vida.
O figurino da noiva brasiliense não cai bem em ninguém, sem importar ocasião, gênero ou faixa etária. Pintura sobre o corpo só fica bem, convenhamos, em modelos sequinhas, como a Globeleza - que se aposentou depois de chegar à maturidade.
Depois que as cerimônias de casamento perderam o cunho solene e religioso, adotando uma feição festiva, a sociedade do espetáculo criou um novo tipo de noivos, os que proporcionam shows para seus convidados, rompendo com tradição, elegância e, por vezes, causando um dispensável constrangimento ao público. Vale pelos quinze segundos de glória na Web. E só.
27.12.09
Um conto de Natal tropical
E como todo mundo sempre quer um conto edificante de Natal, também escrevi um, pensando no fim de algumas atividades. Está no Webliterata, link aqui à direita.
25.12.09
Este é um daqueles cartões de Natal que são apresentados na Internet como o primeiro a ser publicado, enviado, distribuído etc.
Precursor ou não deste hábito que caiu em desuso com a comunicação a jato, ele entra aqui para tentar nos fazer recordar aquela deliciosa sensação de havermos, em algum momento, merecido lembranças carinhosas - o que acontecia quando o correio batia à nossa porta.
Sensações que hoje se restringem a tradições ocas e reinam no imaginário erigido pela publicidade.
22.12.09
Domesticando os instintos
Uma amiga querida se espanta ao saber que meu filho costuma jogar basquete e futebol. "Você conseguiu que ele treinasse aonde?", pergunta. Não lhe passou pela cabeça que o garoto tem um grupo de peladeiros, algo que anda desaparecendo entre os meninos de classe média carioca, que só praticam esportes conduzidos por instrutores e cerceados em locais protegidos.
Estamos cada vez mais sufocando a prática do amadorismo libertário. Daqui a pouco vai haver escolinha de pilotos de velocípede. Já existe para ensinar mães de primeira viagem a acalentarem seus bebês. Ainda criarão algumas oficinas de pular corda, pular elástico ou apenas ser moleque.
Estamos cada vez mais sufocando a prática do amadorismo libertário. Daqui a pouco vai haver escolinha de pilotos de velocípede. Já existe para ensinar mães de primeira viagem a acalentarem seus bebês. Ainda criarão algumas oficinas de pular corda, pular elástico ou apenas ser moleque.
Uma brasileira
Como esperado, Marta chorou ao ser escolhida pela quarta vez a melhor jogadora de futebol do mundo. Marta é a anti-imagem da mulher brasileira que a publicidade exporta. Não é linda como a Bunchen (se caiu o trema das palavras em português, nacionalizo o nome da moça também), é morena, baixa, forte e se destacou em um esporte tradicionalmente de meninos, que faz o sonho dos garotos pobres que jogam nos campinhos de várzea por todo o país.
Também não é uma mulata que se desnuda no carnaval, sambando divinamente, mas que deslumbra mais pelos atributos físicos do que pela maestria nos passos, nem a que vai mostrar o corpo em fotos eróticas. Com seu corpo desnorteia as adversárias em campo e, através dele, conquistou a admiração até dos machistas brasileiros, que reconhecem nela a ginga dos craques acima de qualquer parâmetro, colocando-a no nível de Maradona, Garrincha, Ronaldo.
Era o momento de darem mais crédito ao futebol feminino - tá, é mais lento, é meio feio, não é igual ao masculino. Quantas outras meninas terão de enfrentar o preconceito e os risinhos sexistas, além das piadinhas sobre a opção sexual delas antes que surjam outras como Marta?
Também não é uma mulata que se desnuda no carnaval, sambando divinamente, mas que deslumbra mais pelos atributos físicos do que pela maestria nos passos, nem a que vai mostrar o corpo em fotos eróticas. Com seu corpo desnorteia as adversárias em campo e, através dele, conquistou a admiração até dos machistas brasileiros, que reconhecem nela a ginga dos craques acima de qualquer parâmetro, colocando-a no nível de Maradona, Garrincha, Ronaldo.
Era o momento de darem mais crédito ao futebol feminino - tá, é mais lento, é meio feio, não é igual ao masculino. Quantas outras meninas terão de enfrentar o preconceito e os risinhos sexistas, além das piadinhas sobre a opção sexual delas antes que surjam outras como Marta?
21.12.09
RIP
17.12.09
Tanque com abacaxi
Uma blogueira americana quer boicotar a premiere de Avatar pelo caráter homofóbico do filme, que mostra um casal formado por um homem e uma mutante, quando poderia apresentar povos ecologicamente corretos que teriam superado as barreiras do amor entre iguais. Ou seja uma Broeback Mountain interplanetária.
Gente, na boa, debalde esses tempos tão politicamente corretos, vamos cair na real: ou a moça é doida ou desocupada ou quer aparecer muito!!!!
Tem uma boa terapia pros dois primeiros casos: um tanque de roupas a lavar!
E, para a terceira hipótese, equilibrar um abacaxi na cabeça.
Vexames dos últimos dias
- O presidente da República falando "merda". A palavra, não o conteúdo. Populismos à parte, o cargo exige, como o ambiente da gafieira, respeito.
- O policial que matou a tiros um estudante durante briga em boate voltou a ser absolvido pelo homicídio. Mesmo que estivesse a serviço, cuidando da segurança do filho de uma juíza, ele não tinha o direito de alvejar qualquer um. Policiar exige equilíbrio. Ou deveria.
- A taxa de iluminação pública.
- O prefeito falando que Robin Williams fez piada de péssimo gosto sobre o Rio ter ganhado o direito de sediar a Olimpíada por "dor de corno". O cargo, como já disse, exige o mesmo respeito que o ambiente da gafieira.
- A estátua de Drummond em Copacabana, novamente, teve os óculos arrancados.
E como já dizia Jorge Veiga, com os versos de Billy Blanco:
Moço, olhe o vexame
O ambiente exige respeito
Pelos estatutos da nossa gafieira
Dance a noite inteira, mas dance direito
15.12.09
O Avatar e a Tansa *
Ontem, atrasadíssima, voei para uma cabine do último filme de Alain Resnais. Não era no Estação, como sempre, mas no Artplex, Sala 5. Cheguei esbaforida ao lobby do cinema, perguntei ao guarda "Tem um filme na Sala 5, não?". Ele confirmou. Entrei na sala, hiperlotada. Dei aquele sorriso comovido, pensando: "Nossa, quanta gente para ver o Resnais. Que beleza, um mestre ainda mobilizando os críticos"... e aí encontrei um coleguinha muito falante que disse "Vem cá, este filme não era em 3D?". Murmurei qualquer coisa, subi as escadas e me joguei pesadamente em uma poltrona.
Era a Sala 5, sim. Mas de outro complexo de cinemas...
Assisti a Avatar, um deslumbrante show de efeitos visuais, tecnologicamente perfeito. Cinematograficamente funciona para platéias infanto-juvenis e kidults. Não é para alguém que tem no cinema uma experiência que transcende narrativas lineares.
Um filme sem a menor alma, uma experiência técnica que renderá fortunas, com uma historinha politicamente correta. Os bandidos não são os invasores norte-americanos, mas uma corporação interessada em explorar jazidas de minérios de outro planeta. O herói é paraplégico. O povo sofrido é tão integrado à natureza que só existe em cinema mesmo. Ou seja, um enredo entupido de valores morais, bem do jeito que George Lucas imaginou com Guerra nas Estrelas. E, como todos os blockbusters atuais, precisa se alongar até os limites da paciência sobre-humana. Imenso. Cansativo. Preferia o James Cameron do primeiro Exterminador do Futuro. O robô era mais verossímil do que os milicos malvados de Avatar.
Na saída do shopping, passando pelo McDonald's, vi os bonequinhos com os personagens do filme, que já são brindes de um McLanche qualquer.
*Tansa, lá em Florianópolis é sinônimo de atolada/boba/tonta. Tudo junto, misturado e bem amassado.
Era a Sala 5, sim. Mas de outro complexo de cinemas...
Assisti a Avatar, um deslumbrante show de efeitos visuais, tecnologicamente perfeito. Cinematograficamente funciona para platéias infanto-juvenis e kidults. Não é para alguém que tem no cinema uma experiência que transcende narrativas lineares.
Um filme sem a menor alma, uma experiência técnica que renderá fortunas, com uma historinha politicamente correta. Os bandidos não são os invasores norte-americanos, mas uma corporação interessada em explorar jazidas de minérios de outro planeta. O herói é paraplégico. O povo sofrido é tão integrado à natureza que só existe em cinema mesmo. Ou seja, um enredo entupido de valores morais, bem do jeito que George Lucas imaginou com Guerra nas Estrelas. E, como todos os blockbusters atuais, precisa se alongar até os limites da paciência sobre-humana. Imenso. Cansativo. Preferia o James Cameron do primeiro Exterminador do Futuro. O robô era mais verossímil do que os milicos malvados de Avatar.
Na saída do shopping, passando pelo McDonald's, vi os bonequinhos com os personagens do filme, que já são brindes de um McLanche qualquer.
*Tansa, lá em Florianópolis é sinônimo de atolada/boba/tonta. Tudo junto, misturado e bem amassado.
13.12.09
Domingo à tarde
Adoro ter amigos gerações mais jovens para não me fechar no gueto dos que envelhecem estranhando o mundo. E agora que meus filhotes estão imensos, acompanho a chegada e o crescimento de outras crianças, integrantes da família que escolhi.
Estava lendo a Lysa falando do Mateo, a Luciana escrevendo sobre os livros lidos com os pequenos dela, conversando com Cíntia me contando as últimas de Laura, sabendo de Isabel pela Paulinha - as últimas não têm blogs, mas, se tivessem, seriam relatos tão deliciosos quanto os das primeiras.
Deu uma tremenda inveja e saudades da época em que eu descobria o mundo com meus petizes.
Mas aí a gente vira pro lado e pode encontrar amigos sem ter que dar comida, banho, botar para dormir ou correr atrás da molecada, pode pegar um cineminha, ir a um bar e voltar tarde, ou apenas ler um bom livrinho numa rara tarde de folga. Nada que se compare ao prazer de olhos brilhantes com as novidades oferecidas no dia-a-dia nunca tedioso dos que têm filhos pequenos, porém, agradável, relaxante e, certamente, mais organizadinho.
O problema é pra quem gosta de uma bagunça...
10.12.09
Oba! Mais um tributo!!!!
Não tenho absolutamente nada contra o prefeito, exceto haver votado em outro candidato. Acho que ele tem um projeto político pessoal que o impele a mostrar serviço 25 horas por dia. Cansa ler a agenda do cara e conferir que ele faz prefeitura itinerante, corre pra entrega de prêmio de futebol, vai à missa por padroeiros mil, baixa em culto e centro espírita, reclama da sujeira produzida pelos cariocas (no que está certíssimo), diz que vai proibir a venda de água de coco na praia e recolhe os brinquedos das areias para depois voltar atrás...
Admira-me descobrir que ele ainda teve tempo para aplaudir a decisão de nossa prestimosa Câmara Municipal, que aprovou sua mensagem instituindo a criação da taxa de iluminação pública. No outro milênio houve uma grita nesta cidade contra a taxa do lixo, que acabou derrubada. Até hoje a taxa de incêndio é paga por parte da população, enquanto outra a ignora solenemente, já que os juristas divergem sobre a legalidade da bitributação.
O mais irônico em aprovarem a taxa de iluminação pública - que entra em vigor mês que vem - é estarmos sofrendo uma temporada de constância no tal serviço. Relevante também seria pensar que tal taxa deveria ter cobertura do maldito IPTU.
Não demora teremos que pagar o imposto predial e mais taxas para segurança, saúde, educação. Mesmo sem utilizaarmos qualquer um desses magníficos serviços fornecidos com tanta excelência pelo estado.
Admira-me descobrir que ele ainda teve tempo para aplaudir a decisão de nossa prestimosa Câmara Municipal, que aprovou sua mensagem instituindo a criação da taxa de iluminação pública. No outro milênio houve uma grita nesta cidade contra a taxa do lixo, que acabou derrubada. Até hoje a taxa de incêndio é paga por parte da população, enquanto outra a ignora solenemente, já que os juristas divergem sobre a legalidade da bitributação.
O mais irônico em aprovarem a taxa de iluminação pública - que entra em vigor mês que vem - é estarmos sofrendo uma temporada de constância no tal serviço. Relevante também seria pensar que tal taxa deveria ter cobertura do maldito IPTU.
Não demora teremos que pagar o imposto predial e mais taxas para segurança, saúde, educação. Mesmo sem utilizaarmos qualquer um desses magníficos serviços fornecidos com tanta excelência pelo estado.
8.12.09
Sem luz própria
Por viver na província de Botafogo, aprendi a ser estoica. Cada vez em que falta luz, imagino como seria ser parte da foto de minha rua, registrada por Marc Ferrez há mais ou menos 100 anos. Eu estaria, certamente, de sombrinha, correndo para algum lugar, atarefada.
Hoje não faltou energia propriamente. Caíram fases, me explicou o moço da Light, que indagava, interessado: "Chove muito onde a senhora mora?". Ri. "Moro no Rio, meu filho".
Aqui chove, venta, faz um calor canino, cai temporal, inunda tudo. Não é bem uma região de fenômenos da natureza comedidos. A natureza é explosiva, exuberante, escandalosa, me deu vontade de dizer ao guri.
Uma diligente equipe da companhia permaneceu aqui em meu quarteirão por mais ou menos nove horas. Enquanto isso, tomei banho à luz de velas, levei o computador para a sala - algumas tomadas funcionavem -, escrevi matéria, gravei em CD e levei para um cyber café onde difícil foi conseguir um PC que tivesse drive para CD. Enviei a matéria, dediquei-me a diversos outros afazeres e, retornando à casa, encontrei tudo devidamente energizado e iluminado.
Isso até a próxima chuva, a queda de um relâmpago, um tufão, muito calor, muita água, granizo...
Garanto que o Santos Dumont também estava fechado para pousos e decolagens.
6.12.09
Domingo
Eu sei que quando acabar de copiar todos os filmes que estou copiando, quando acabar de responder aos e-mails, de copiar os CDs, quando tiver regado as plantas, lavado
a louça de ontem que os meninos fingiram que esqueceram, recolhido copos abandonados pela casa, alimentado os gatos e pássaros, telefonado para amigos e parentes, devolvido livros às prateleiras, me preparado para, enfim, assistir a um filme ou retomar minha leitura naquela cama macia, entupida de travesseiros e lençois de 200 fios, aí, sim, a casa inteira há de acordar me pedindo café, almoço, lanche, jantar, e eu terei que sair pro teatro com o cabelo encharcado de uma ducha disparada sobre o corpo mal dormido, bem cansado, bem vivido.
Gap
Quem tem filho adolescente e foi excluído da vida deles vai entender bem o que diz o Giron, da Época.
A gente se sente tão anacrônico perante o mundo atual...
Coisa que a geração anterior a dos meus pais não sofreu.
Adoro a juventude, acho os jovens lindos como deuses. Entrei naquela fase em que a beleza se torna mais admirável que desejável, se está num corpo que poderia ter saído do meu.
Quando surgiu o termo generation gap, aqui ganhou a tradução de conflito de gerações. Tudo conflitava em português - classes sociais, pais e filhos, cônjuges. Gap, a lacuna, virou sinônimo de roupas, enquanto o buraco cada vez mais se alarga e aprofunda.
A gente se sente tão anacrônico perante o mundo atual...
Coisa que a geração anterior a dos meus pais não sofreu.
Adoro a juventude, acho os jovens lindos como deuses. Entrei naquela fase em que a beleza se torna mais admirável que desejável, se está num corpo que poderia ter saído do meu.
Quando surgiu o termo generation gap, aqui ganhou a tradução de conflito de gerações. Tudo conflitava em português - classes sociais, pais e filhos, cônjuges. Gap, a lacuna, virou sinônimo de roupas, enquanto o buraco cada vez mais se alarga e aprofunda.
4.12.09
Comprar velas
Faltou luz aqui no quarteirão e em diversos bairros bem distantes de Botafogo.
Acautelem-se, cariocas!!!!
Acautelem-se, cariocas!!!!
Velhice
Envelheço a olhos vistos, vergonhosamente, para os padrões cariocas. Talvez na Mongólia eu fosse considerada uma sábia e minha decadência física causasse menos horror.
A maturidade não me cai bem, as dúvidas continuam a me assolar, a incerteza, a insegurança me rondam.
Não tenho mais barra da saia de mãe pra me aconchegar, voz serena de pai pra me apaziguar.
É duro reconhecer-se adulto.
Daqui a vinte anos, quero ver essa galera que chegou aos 30 e continua se fingindo de gurizada segurar essa barra!
3.12.09
A cultura da manutenção
Num dia particularmente atrapalhado, em que pouco dormi por conta da hipnótica leitura de Easy Riders, Raging Bulls (recebi o livro ontem e fui até as 3 da manhã grudada nas deliciosas fofocas e o detalhamento das artes e produções que fizeram a guinada de Hollywood nos anos 70 com Coppolla, Scorcese, George Lucas e Spielberg), acordei cedo para receber seu Nei, o encanador, que é ferroviário aposentado.
Sob a pia da cozinha, seu Nei me conta que aposentou-se cedo porque começou a trabalhar aos 14 anos, mas que começou a atrapalhar a vida doméstica. Decidiu, então, estudar, fazendo um curso no Instituto de Carnaval da Estácio de Sá. Dali, foi estagiar na São Clemente, na Cubango e acabou chegando, com seus colegas, ao Gato de Bonsucesso, um bloco da Maré, que havia sido elevado à categoria de escola de samba. Pois bem, conversa vem, conversa vai, seu Nei me conta que foi alçado à presidência da agremiação depois que a diretoria derrubou o presidente anterior.
Já contratei um estofador que era ex-Tupamaro, meu técnico em refrigeração é violonista, agora, esta é a primeira vez em que um sambista conserta o encanamento de minha pia!!!
Nem adianta me pedir o telefone do seu Nei. Ele avisou que hoje foi seu derradeiro trabalho hidráulico. Quer se dedicar apenas ao carnaval.
Um adendo: Não que eu escolha um staff tão cult. O Helinho, que cuida de geladeira, ar condicionado e máquina de lavar daqui de casa, já era amigo antes de se dedicar aos consertos domésticos, que abraçou quando sentiu a dificuldade de sustentar a família apenas com a música. O ex-tupamaro era ótimo estofador, mas a gente perdia um tempão brigando por política (ele era brizolista também). Já tive um eletricista cozinheiro, que jamais deveria ter-se dedicado às fiações. Provocou um curto não apenas no meu apartamento, como no prédio inteiro. Minha ex-manicure era um pouco filósofa e psicanalista. Quando ela deixou a profissão para abraçar outra carreira, corri de volta à terapia. Era ela que dizia que eu tinha um imã para atrair gente diferente, maluquete, encantadora e adorável! Com toda a razão.
Sob a pia da cozinha, seu Nei me conta que aposentou-se cedo porque começou a trabalhar aos 14 anos, mas que começou a atrapalhar a vida doméstica. Decidiu, então, estudar, fazendo um curso no Instituto de Carnaval da Estácio de Sá. Dali, foi estagiar na São Clemente, na Cubango e acabou chegando, com seus colegas, ao Gato de Bonsucesso, um bloco da Maré, que havia sido elevado à categoria de escola de samba. Pois bem, conversa vem, conversa vai, seu Nei me conta que foi alçado à presidência da agremiação depois que a diretoria derrubou o presidente anterior.
Já contratei um estofador que era ex-Tupamaro, meu técnico em refrigeração é violonista, agora, esta é a primeira vez em que um sambista conserta o encanamento de minha pia!!!
Nem adianta me pedir o telefone do seu Nei. Ele avisou que hoje foi seu derradeiro trabalho hidráulico. Quer se dedicar apenas ao carnaval.
Um adendo: Não que eu escolha um staff tão cult. O Helinho, que cuida de geladeira, ar condicionado e máquina de lavar daqui de casa, já era amigo antes de se dedicar aos consertos domésticos, que abraçou quando sentiu a dificuldade de sustentar a família apenas com a música. O ex-tupamaro era ótimo estofador, mas a gente perdia um tempão brigando por política (ele era brizolista também). Já tive um eletricista cozinheiro, que jamais deveria ter-se dedicado às fiações. Provocou um curto não apenas no meu apartamento, como no prédio inteiro. Minha ex-manicure era um pouco filósofa e psicanalista. Quando ela deixou a profissão para abraçar outra carreira, corri de volta à terapia. Era ela que dizia que eu tinha um imã para atrair gente diferente, maluquete, encantadora e adorável! Com toda a razão.
1.12.09
Shame on you
Gosto muito do Robin Williams, um bom ator, histriônico, caricato, envelhecendo macilento, humorista dos bons. Mas a piadinha sobre o Rio foi infame e arrogante. A gente, com aquela humildade subdesenvolvida, toma cuidado pra fazer este tipo de brincadeira.
Aí, nosso elegantíssimo prefeito decide dar o troco. Lógico que estamos ofendidos, lógico que podemos levar na brincadeira, lógico que podemos responder à altura. Mas jamais um político deveria utilizar uma terminologia tão baixinha. O representante da minha cidade se expressar de forma tão grosseira é nivelar a cidade inteira pela estupidez.
Acho que existem uns momentos de desatino verbal entre nossos políticos. Vide Martha Suplicy, vide o Ciro Gomes. Agora, chegou a vez de Paes.
Aí, nosso elegantíssimo prefeito decide dar o troco. Lógico que estamos ofendidos, lógico que podemos levar na brincadeira, lógico que podemos responder à altura. Mas jamais um político deveria utilizar uma terminologia tão baixinha. O representante da minha cidade se expressar de forma tão grosseira é nivelar a cidade inteira pela estupidez.
Acho que existem uns momentos de desatino verbal entre nossos políticos. Vide Martha Suplicy, vide o Ciro Gomes. Agora, chegou a vez de Paes.
29.11.09
Inacreditável
Só agora me dei conta de que não ganhei nenhum exemplar de Leite Derramado como presente de aniversário. Não que eu quisesse. Mas como fashion books'victim que sou, só posso imaginar que Chico caiu de moda.
(Sim, eu já ganhei diversos exemplares de Olga, Divã, Budapeste e livros de auto-ajuda em tal quantidade que posso dizer tranqüilamente aos presenteadores que trocarei o mimo. Guardei uma das Olgas, claro. E no meio dos fashion books já faturei uns bons Garcia Marquez. Então, que eles continuem a vir!!!)
(Sim, eu já ganhei diversos exemplares de Olga, Divã, Budapeste e livros de auto-ajuda em tal quantidade que posso dizer tranqüilamente aos presenteadores que trocarei o mimo. Guardei uma das Olgas, claro. E no meio dos fashion books já faturei uns bons Garcia Marquez. Então, que eles continuem a vir!!!)
25.11.09
Entre a Loura e a Morena
Mas sempre única!
Hoje, dia do combate à violência contra a mulher, dia de Santa Catarina* e dos 16 anos desta bela moçoila de melenas furta-cor.
*Júlia passou quase 24 horas sem nome até que minha comadra, Danúzia, tomou a atitude de descobrir o santo do dia. Como estávamos na dúvida entre Júlia, Leila e Laura, ganhou a primeira, porque minha avó, a Júlia Mello original, era de Florianópolis, ilha de Santa Catarina. Nem sabia eu, até então, que a santa padroeira da cidade é a Catarina de Alexandria, a do dia da minha Júlia. Tinha que ser este mesmo o nome da minha guria.
Hora de mophar
Blogar é quase uma consequência da vida atual. Há blogs temáticos, jornalísticos, temáticos. Os blogs de crônicas e os que nascem acompanhando nosso crescimento pessoal em etapas ricas da vida, como a maternidade. Entre esses, destaco dois, que tratam da experiência de maternagem aliadas a outras paixões. A Luciana fala de literatura infantil e as reações que os livros provocam nos filhotes. Hoje, que tenho filhos entre 21 e 16 anos, dá uma saudade danada da época em que eu era uma fornecedora de novos interesses, de alegrias, de novidades.
Acabo de descobrir que Lysa também tem um blog, que trata de cinema sob sua ótica, e das descobertas do Matteo - e as dela também. Um desses encontros foi com os Power Rangers, telesérie que me acompanhou por uns bons sete anos na vida. Quando assisti a primeira vez, não acreditei que aquele pastiche tosco de seriados japoneses teria sucesso. Enredo pavoroso, diálogos atrozes e... eu estava tão errada como na época em que me deparei com um programa mexicano que no Peru, aonde eu estava, era conhecido como Federico. Imaginava que aquela droga jamais se espalharia no Brasil. Anos depois, soube que Federico tornara-se Chaves em Pindorama.
Além de nada entender de audiência televisiva, fui obrigada, como quase todas as mães, a aceitar a presença delas entre nós. Os ridículos Power Rangers estavam entre os temas mais repetidos nas festas de aniversário. Incontáveis bonequinhos comprados em camelôs substituíam os que se quebravam, alternando-se como o elenco da interminável série, que atualmente é cultuada pelos que vêem sentidos maiores que os comerciais nesses enlatados.
Agora que meus filhos são maiores que eu (em estatura, beleza e possibilidades), os Power Rangers entram no mundo do Matteo e da Lysa. Até que duram bastante nessa sociedade do efêmero.
As fotos são do Natal de 94 em Rio das Ostras, com todos ainda deliciosamente mínimos, de um a 10 anos. Nas mãos dos meninos, os rangers e uns tais Cybercops, cuja existência já esqueci, mas que foram lembrados por meu consultor, Hugo.
Acabo de descobrir que Lysa também tem um blog, que trata de cinema sob sua ótica, e das descobertas do Matteo - e as dela também. Um desses encontros foi com os Power Rangers, telesérie que me acompanhou por uns bons sete anos na vida. Quando assisti a primeira vez, não acreditei que aquele pastiche tosco de seriados japoneses teria sucesso. Enredo pavoroso, diálogos atrozes e... eu estava tão errada como na época em que me deparei com um programa mexicano que no Peru, aonde eu estava, era conhecido como Federico. Imaginava que aquela droga jamais se espalharia no Brasil. Anos depois, soube que Federico tornara-se Chaves em Pindorama.
Além de nada entender de audiência televisiva, fui obrigada, como quase todas as mães, a aceitar a presença delas entre nós. Os ridículos Power Rangers estavam entre os temas mais repetidos nas festas de aniversário. Incontáveis bonequinhos comprados em camelôs substituíam os que se quebravam, alternando-se como o elenco da interminável série, que atualmente é cultuada pelos que vêem sentidos maiores que os comerciais nesses enlatados.
Agora que meus filhos são maiores que eu (em estatura, beleza e possibilidades), os Power Rangers entram no mundo do Matteo e da Lysa. Até que duram bastante nessa sociedade do efêmero.
As fotos são do Natal de 94 em Rio das Ostras, com todos ainda deliciosamente mínimos, de um a 10 anos. Nas mãos dos meninos, os rangers e uns tais Cybercops, cuja existência já esqueci, mas que foram lembrados por meu consultor, Hugo.
22.11.09
Do outro lado do vidro
Sempre disse que ser repórter era conhecer luxo e penúria, por vezes, no mesmo dia. Sexta-feira, eu colhia os louros de uma entrevista com o Gustavo Franco sobre seu Shakespeare e a Economia , publicada no Valor Econômico ; sábado, fui para o Império Serrano, em Madureira, cobrir uma promoção do Tamoio Notícias, o tabloide popular para o qual também escrevo.
Graças ao Tamoio, volto a testemunhar o equilíbrio das relações sociais de uma cidade em que os contrastes tentam se camuflar, mas só se acentuam em diferentes campos. O lazer é o que mais nos surpreende. Não que eu jamais tenha frequentado sambas na ZNorte. Quando criança, era comum ir ao Maxwell, à Vila, à Mangueira. Quem organizava as caravanas era o Waldinar Ranulpho, que trabalhava na Última Hora onde papai era redator. Meu padrinho, João Ribeiro, era o motorista dessas incursões. Invariavalmente, perdíamos uma hora e meia na viagem, devido à falta de familiaridade de João com os caminhos.
Nas escolas de samba e nas rodas, éramos tratados como aristocratas graciosamente visitando o campesinato. Waldinar só nos chamava quando havia alguma homenagem à imprensa. Uma adorável figura, reverenciada pelos sambistas e macumbeiros, adorava carregar os mauricinhos da ZSul para seu habitat.
Adolescente, eu bem que tentava manter alguma dignidade ao lado de meus pais e padrinhos que partiam para a pista, dançando e sambando sem a menor compostura. Depois de fazer pose e armar carranca por uma meia hora, eu me rendia ao samba e caia na folia, sem ligar se dançava bem ou não. O que valia era ser contagiada pela animação que desafiava o calor e o cansaço.
Trinta e alguns anos depois, preparada para morrer de calor na quadra da Império Serrano,surpreendo-me com a alegria que a maturidade nos fornece. Quando repórter jovem, pouco me divertia nos plantões de domingo, correndo os subúrbios para cobrir a vida dos outros. Hoje, observo essa vida alheia como um aquário no qual gostaria de mergulhar, mas que devo respeitar, para não poluir com minha inadequação o ambiente que surge exuberante do outro lado do vidro.
O encantador nesse povo que dança entusiasmado é que eles não têm qualquer pudor nem tempo para reparar nos defeitos alheios. Estão na quadra para se divertir, para encontrar os amigos, brincar, namorar, viver paixões. As jovens passistas não são mais cabrochas. São lindas e desempenham papéis, entre eles o de enfeitiçar o público. Quase todos têm samba no pé, incluindo senhores de cabeças brancas, elegantes, que puxam qualquer dama para volteios como se estivessem em salões de baile. Há os homens de meia-idade que envergam camisas com inacreditáveis estampas. E os poderosos, de profissões não reveladas, com roupas de linho, cercados por belas ex-passistas. Na cozinha, as "tias" dançam enquanto servem quem foi ao samba para comer feijoada. A sede só é aplacada com cerveja. Moços e velhos sacam de bolsos ou bolsas acessórios preciosos para enfrentar o calor: toalhinhas de mãos, com as quais escondem as evidências da transpiração, leques ou ventarolas, uma tentativa de suportar o ar pesado e sufocante.
Em nosso camarote, mimados como celebridades, dançamos timidamente enquanto a quadra já recebe mais de mil pessoas, que pulam sem se importar com a temperatura que aumenta, vibrando com sambas de outras escolas. O que vale é viver e se integrar.
Então, a gente volta à vida real, tranquila, bem-comportada, no ar-condicionado. Deste lado do vidro.
Graças ao Tamoio, volto a testemunhar o equilíbrio das relações sociais de uma cidade em que os contrastes tentam se camuflar, mas só se acentuam em diferentes campos. O lazer é o que mais nos surpreende. Não que eu jamais tenha frequentado sambas na ZNorte. Quando criança, era comum ir ao Maxwell, à Vila, à Mangueira. Quem organizava as caravanas era o Waldinar Ranulpho, que trabalhava na Última Hora onde papai era redator. Meu padrinho, João Ribeiro, era o motorista dessas incursões. Invariavalmente, perdíamos uma hora e meia na viagem, devido à falta de familiaridade de João com os caminhos.
Nas escolas de samba e nas rodas, éramos tratados como aristocratas graciosamente visitando o campesinato. Waldinar só nos chamava quando havia alguma homenagem à imprensa. Uma adorável figura, reverenciada pelos sambistas e macumbeiros, adorava carregar os mauricinhos da ZSul para seu habitat.
Adolescente, eu bem que tentava manter alguma dignidade ao lado de meus pais e padrinhos que partiam para a pista, dançando e sambando sem a menor compostura. Depois de fazer pose e armar carranca por uma meia hora, eu me rendia ao samba e caia na folia, sem ligar se dançava bem ou não. O que valia era ser contagiada pela animação que desafiava o calor e o cansaço.
Trinta e alguns anos depois, preparada para morrer de calor na quadra da Império Serrano,surpreendo-me com a alegria que a maturidade nos fornece. Quando repórter jovem, pouco me divertia nos plantões de domingo, correndo os subúrbios para cobrir a vida dos outros. Hoje, observo essa vida alheia como um aquário no qual gostaria de mergulhar, mas que devo respeitar, para não poluir com minha inadequação o ambiente que surge exuberante do outro lado do vidro.
O encantador nesse povo que dança entusiasmado é que eles não têm qualquer pudor nem tempo para reparar nos defeitos alheios. Estão na quadra para se divertir, para encontrar os amigos, brincar, namorar, viver paixões. As jovens passistas não são mais cabrochas. São lindas e desempenham papéis, entre eles o de enfeitiçar o público. Quase todos têm samba no pé, incluindo senhores de cabeças brancas, elegantes, que puxam qualquer dama para volteios como se estivessem em salões de baile. Há os homens de meia-idade que envergam camisas com inacreditáveis estampas. E os poderosos, de profissões não reveladas, com roupas de linho, cercados por belas ex-passistas. Na cozinha, as "tias" dançam enquanto servem quem foi ao samba para comer feijoada. A sede só é aplacada com cerveja. Moços e velhos sacam de bolsos ou bolsas acessórios preciosos para enfrentar o calor: toalhinhas de mãos, com as quais escondem as evidências da transpiração, leques ou ventarolas, uma tentativa de suportar o ar pesado e sufocante.
Em nosso camarote, mimados como celebridades, dançamos timidamente enquanto a quadra já recebe mais de mil pessoas, que pulam sem se importar com a temperatura que aumenta, vibrando com sambas de outras escolas. O que vale é viver e se integrar.
Então, a gente volta à vida real, tranquila, bem-comportada, no ar-condicionado. Deste lado do vidro.
18.11.09
Do you think I'm sexy?
15.11.09
Reciclando
Sou antenadérrima com o desenvolvimento sustentável desde criancinha. Meus pais eram ambientalistas antes disso virar moda: só compravam produtos biodegradáveis, separavam lixo orgânico do reciclável, reaproveitavam tudo o que fosse possível. O que me tornou uma culpada pela própria natureza e alguém extremamente apegada a tudo quanto é tranqueira que entra em minha casa.
Adoro banhos longos e ainda sou capaz de permanecer meia hora sob o chuveiro, culpada por desperdiçar a água do planeta. Já melhorei, fechando torneiras ao ensaboar louças ou escovar dentes. Máquina de lavar cheia sempre foi uma rotina, já que o número de habitantes nesta maloca supera qualquer recomendação ambiental da atualidade. Assim como passar roupa. Sempre lidamos com montanhas de peças semanais.
Esta imensa divagação (quem mandou vocês me enviarem mensagens tão doces sobre meus posts) surgiu a partir de uma visita à Paçoca , que fala em sacolinhas recicláveis nos supermercados. Como mulher do século passado, recordo-me bem das sacolas de trazer compras do mercado ou dos mercadinhos com sacos imensos de grãos nas entradas.
Quando saí da casa dos meus pais, comprei carrinho de feira, uma maravilhosa escada que acaba de completar 23 anos e passou à categoria de porta-plantas (olha a tranqueira que não vai pro lixo), e duas sacolas de compras, de material sintético. Em criança, ia à feira com Maria ou Mamãe, sempre carregando sacolas de pano e o carrinho - que também serviam para trazer garrafas de cerveja do supermercado em dias de festa.
As sacolas de Mamãe sumiram na História. As minhas se transformaram numa única, que aos poucos ganhou companhia de imensas sacas de lona ou material mais resistente, brindes de seminários ou das editoras. Serviam para ir à praia e, eventualmente, até para carregar compras. Elas começaram a frequentar supermercado quando percebi que precisava de um período de adaptação antes que as sacolinhas plásticas fossem banidas por lei. As empacotadoras olham meio com cara feia.
No passado, essas moças conseguiam armazenar 48 produtos em duas precárias sacolas plásticas. Agora que elas estão com os dias contados, botam três artigos em diversas sacolas duplas. Os fabricantes estão desesperados para soltar fora a produção. Deveriam era começar a desenvolver material que fosse absorvido pelo ambiente sem causar danos.
Tudo é adaptação. E eu, mais que levar sacolas duráveis às compras, começo a abandonar meu arraigado hábito de dobrar sacos plásticos em pequenos triângulos. Preciso urgentemente substituir meu TOC por outra compulsão.
14.11.09
À procura de Eric
Ando sentindo um esgotamento nos blogueiros.
Não só eu.
Mas muita gente. Jôka, Alexandre também.
Anda quente. Eu, por minha vez, só consigo trabalhar. Muito.
Mas vez por outra, compartilho algo com meus 13 leitores fiéis.
Como ver ""À procura de Eric, em que um carteiro deprimido, que cuida da família com o desespero e o desvelo de bons pais, busca apoio para as armadilhas da rotina no ex-craque Eric Cantona, um dos produtores e estrelas deste delicioso filme de Ken Loach.
As histórias de Loach sempre têm muita fala, muito carinho pelos oprimidos, muito alento para a desesperança. Este, poético e fantasioso como A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen, que também apresentava o objeto de admiração alavancando vidas pequenas, mostra também a irmandade masculina, um universo que cada vez mais o cinema explora com sensibilidade. O futebol é só um elemento catalisador para a amizade profunda de homens simples, que reverenciam ídolos sem deixar as responsabilidades de lado.
Um encanto de história, num filme de senhores para os eternos meninos que crescem com doçura no coração.
(Sim, havia pouquíssimas mulheres no cinema. O filme tem lindos gols, jogadas maravilhosas de futebol. Mas mulher alguma precisa fingir que adora o belo esporte. É só dizer que foi assistir a um filme de Ken Loach).
11.11.09
No escurinho
Na província de Botafogo, mais especificamente em metade do meu quarteirão, cai a luz com alguma freqüência. Então, quando ontem, por volta de 18h30m, acabou a eletricidade, nem pestanejei. Fui pro cinema.
Acabou a sessão de Fados, voltei pra casa de táxi, para pegar outro casaco e trocar de sapato, já que a energia não voltara mesmo em meu combalido lar. Retornei ao cinema, Che entrou na Bolívia para tentar fazer guerrilha e ... fim de iluminação na cidade toda.
Outro táxi, mais notícias da escuridão, em casa, comemorando os 21 anos de meu primogênito, que me dava notícias das trevas lá do Planalto Central.
Claro que a luz só voltou às 7h30m em meus domínios.
Hoje, compro um lampião.
9.11.09
E o Caetano, hein?
Falou mal do Lula, criticou Woody Allen e ainda ganhou um Grammy Latino.
Ou seja, não precisava ser lembrado só como polemizador.
Ou seja, não precisava ser lembrado só como polemizador.
5.11.09
Ah, Oprah...
Minha cidade é linda, é esburacada, é violenta, é quente, é feia também.
Mas por que raios o Rio de Janeiro desperta TANTA ira nos que aqui não vivem?
Não bastasse à ridícula disputa Rio-São Paulo, dar satisfações à Oprah sobre pagamento de pedágio em favela já chega às raias do patético.
Certamente, para quem está acostumado a invadir países, pode parecer estranhíssimo que existam outras formas de dominação fora de seu próprio rincão.
Imagina se uma equipe de jornalismo tentasse mostrar os contrastes existentes em Chicago, uma cidade notoriamente conhecida por surtos de violência? Se alguém além do Michael Moore fizesse um filme sobre o sistema de saúde norte-americano, mais excludente que o SUS?
Haja dor de cotovelo porque não vai sediar Olimpíada...
Mas por que raios o Rio de Janeiro desperta TANTA ira nos que aqui não vivem?
Não bastasse à ridícula disputa Rio-São Paulo, dar satisfações à Oprah sobre pagamento de pedágio em favela já chega às raias do patético.
Certamente, para quem está acostumado a invadir países, pode parecer estranhíssimo que existam outras formas de dominação fora de seu próprio rincão.
Imagina se uma equipe de jornalismo tentasse mostrar os contrastes existentes em Chicago, uma cidade notoriamente conhecida por surtos de violência? Se alguém além do Michael Moore fizesse um filme sobre o sistema de saúde norte-americano, mais excludente que o SUS?
Haja dor de cotovelo porque não vai sediar Olimpíada...
O Garoto da Capa
28.10.09
27.10.09
Horário de verão
Sim, estou exausta. Doem-me pulsos, dedos, joelho, artelhos, as populares juntas, a base da coluna.
O ânimo ficou no último texto que escrevi profissionalmente.
Sim, ando exausta, porque trabalhar por conta própria exige uma dedicação maior do que a do assalariado, que esquece o ofício fora do expediente.
Gosto de trabalhar e acho que nunca poderei deixar de lutar pelo pão de cada dia. Ansiosa, comprometo-me com o maior número possível de tarefas, tentando garantir que o pão chegue à mesa todos os dias.
Uma vez me disseram que desse jeito, não havia tempo para gastar dinheiro.
O problema é o temor de crises que podem surgir abruptas como tsunamis.
Enquanto a gente está no rasinho, é bom se precaver...
25.10.09
Perigosas Peruas
20.10.09
O horror, o horror
A morte se torna besta e vulgar quando não nos atinge. E toma proporções de tragédia se pega alguém educado e branco. Se de outra etnia, e artista, aí, sim, nos toca.
Então, esta semana, além da recente batalha do Morro dos Macacos, que teve até helicóptero da Polícia abatido por traficantes, o coordenador do Afroreggae foi assassinado em um assalto, e um acrobata da Intrépida Trupe morreu sob golpes de marreta, em casa, em Santa Teresa.
Leio aqueles comentários de leitores do Globo On Line.Alguns deveriam ser realmente considerados ofensivos à humanidade. Porém lá permanecem. Enquanto há pessoas com mentalidade humanitária, que acredita na punição aos criminosos sem pena capital, qualquer um desses episódios é ensejo para loas ao extermínio total dos "favelados".
Há muito me ofende este conceito pejorativo, assim como piadas racistas, sexistas ou sobre deficientes de maneira geral. Além do extermínio, prega-se a esterilização dos pobres. Sim, porque pobre e favelado são sinônimos de bandidos em potencial.
Nosso problema vai um pouco além da tensão social. É, basicamente, a falta de educação e de valores. Encontramos, em pleno século 21, mentalidades mais reacionárias, que nutrem profundo desprezo pelo que é diferente, do que 100 anos atrás.
Nem esses representantes da estupidez humanas, com suas mentes deturpadas, merecem a morte nas mãos de bandidos que não nutrem qualquer respeito por suas vítimas. Mas parece que tanto esses bandidos como os que clamam por extirpar dos pretos e pobres o direito à vida encaram o mundo como aqueles nazistas sanguinários de cinema. Não os de comédia, como Bastardos Inglórios, mas os que surgem nas recordações de sobreviventes de campos de concentração, gente sem a menor piedade, que matava prisioneiros como se abatesse uma nuvem de mosquitos.
Em que estamos nos transformando?
Que brutalidade é essa que nos cerca e nos deixa indiferentes?
Enquanto isso, exibimos nossos sorrisos esplendorosos nos Facebooks, Orkuts e aonde mais pudermos estampar a felicidade oca de vidas vazias.
Nem esses representantes da estupidez humanas, com suas mentes deturpadas, merecem a morte nas mãos de bandidos que não nutrem qualquer respeito por suas vítimas. Mas parece que tanto esses bandidos como os que clamam por extirpar dos pretos e pobres o direito à vida encaram o mundo como aqueles nazistas sanguinários de cinema. Não os de comédia, como Bastardos Inglórios, mas os que surgem nas recordações de sobreviventes de campos de concentração, gente sem a menor piedade, que matava prisioneiros como se abatesse uma nuvem de mosquitos.
Em que estamos nos transformando?
Que brutalidade é essa que nos cerca e nos deixa indiferentes?
Enquanto isso, exibimos nossos sorrisos esplendorosos nos Facebooks, Orkuts e aonde mais pudermos estampar a felicidade oca de vidas vazias.
18.10.09
Sem vida
Arranca-me a Vida foi o livro que me apresentou à Angeles Mastretta. Foi o início de uma ardente paixão pela autora, através da trajetória de Catalina, que se casa com o general Andres, um dos piores exemplos do macho latino-americano, político e militar poderoso, com uma penca de filhos ilegítimos, que a jovem ajuda a criar. Enquanto os anos se passam, o país e a protagonista sobrevivem aos ditadores, às injustiças, às regras sociais sufocantes. O preço da liberdade é a morte do amor.
Há cerca de um mês, assisti ao filme, que segue quase que fielmente o livro, mas sem nem de longe provocar o mesmo arrebatamento que o romance. Talvez o problema seja eu ter lido o livro antes. O filme foi a mais cara produção mexicana de todos os tempos. No entanto, falta a ele a empolgação, a ironia e a alma de um país inteiro. Isso ficou para os leitores.
9.10.09
IgNobel
Tudo bem que o Obama é simpático, mas daí a ganhar um Nobel da Paz... Nem ele esperava.
Se o negópcio era dar pra americano, a Angelina Jolie é bem mais bonita...
Se o negópcio era dar pra americano, a Angelina Jolie é bem mais bonita...
A glória dos bastardos
Atenção: este é um daqueles filmes que se ama ou se detesta. Quem pensa que Bastados Inglorios é um filme "de" Brad Pitt, vai se decepcionar. Idem para quem aguarda mais uma sequência de lutinhas para meninos-machinhos-eternamente-jovencitos de Quentin Tarantino.
Bastardos - uma referência a um C movie, década de 70, creio, quintessência do cinema porcaria, em que todos os mocinhos se trajavam e tinham cabelos à moda da época, mesmo se a história se passasse na Idade Média - é filme para quem gosta de cinema, que identifica personagens e passagens com um sorriso no canto da boca, que ri da bobajada, vira a cara nas cenas violentas e escatológicas, além de reconhecer uma trilha sonora acuradíssima, combinando Enio Moriconne e David Bowie. Uma comédia calcada nos clichês dos filmes de guerra, com nazistas ridículos, vilões nojentinhos, mocinhos tão nojentos quanto seus rivais, mulheres lindamente fatais, esgares e canastrices habilmente distribuídas através do elenco, que ainda singra as águas da farsa ácida tão explorada pelos irmãos Cohen.
Na essência, emerge o cinema como tema, em meio à trama que mescla o grupo de extermínio de nazistas em plena França Ocupada, uma bela agente dupla, uma jovem judia que sobrevive à chacina da família, a vaidade e arrogância dos conquistadores alemães, a vaidade e arrogância dos justiçadores americanos - os Bastardos. E mais não se pode falar, sob pena de estragar as surpresas da inversão histórica que leva a gargalhar com os absurdos de um enredo ágil, que se desenrola ao longo de quase três horas sem cansar ninguém. O destaque absoluto é para o carismático Christoph Waltz, que levou o prêmio de interpretação em Cannes, num papel ridiculamente cômico. Admirável incorporação de um personagem detestável, porém atraente e de invejável fluência em idiomas. Em ponta, o habitualmente bom Mike Meyers está ruim. E Brad Pitt está a cara do Dom Corleone, em outra referência adorável levantada por Tarantino.
2.10.09
Samba, suor e lágrimas
Minha alma canta!!!!!
Se a gente já chora em competição esportiva, imagina quando sabe que vai sediar um montão delas? As Olimpíadas de 2016 prometem ser as mais emotivas de todos os tempos. A comissão da candidatura já deu um gostinho do que virá pelaí. Começou com Guga, continuou com Pelé, culminou com a Bárbara Leôncio e arrematou com Lula.
Com o patrocínio de Kleenex (ou lenços de papel Yes, pros mais velhinhos) chegaremos longe.
Se a gente já chora em competição esportiva, imagina quando sabe que vai sediar um montão delas? As Olimpíadas de 2016 prometem ser as mais emotivas de todos os tempos. A comissão da candidatura já deu um gostinho do que virá pelaí. Começou com Guga, continuou com Pelé, culminou com a Bárbara Leôncio e arrematou com Lula.
Com o patrocínio de Kleenex (ou lenços de papel Yes, pros mais velhinhos) chegaremos longe.
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