3.12.09

A cultura da manutenção

Num dia particularmente atrapalhado, em que pouco dormi por conta da hipnótica leitura de Easy Riders, Raging Bulls (recebi o livro ontem e fui até as 3 da manhã grudada nas deliciosas fofocas e o detalhamento das artes e produções que fizeram a guinada de Hollywood nos anos 70 com Coppolla, Scorcese, George Lucas e Spielberg), acordei cedo para receber seu Nei, o encanador, que é ferroviário aposentado.
Sob a pia da cozinha, seu Nei me conta que aposentou-se cedo porque começou a trabalhar aos 14 anos, mas que começou a atrapalhar a vida doméstica. Decidiu, então, estudar, fazendo um curso no Instituto de Carnaval da Estácio de Sá. Dali, foi estagiar na São Clemente, na Cubango e acabou chegando, com seus colegas, ao Gato de Bonsucesso, um bloco da Maré, que havia sido elevado à categoria de escola de samba. Pois bem, conversa vem, conversa vai, seu Nei me conta que foi alçado à presidência da agremiação depois que a diretoria derrubou o presidente anterior.
Já contratei um estofador que era ex-Tupamaro, meu técnico em refrigeração é violonista, agora, esta é a primeira vez em que um sambista conserta o encanamento de minha pia!!!
Nem adianta me pedir o telefone do seu Nei. Ele avisou que hoje foi seu derradeiro trabalho hidráulico. Quer se dedicar apenas ao carnaval.

Um adendo: Não que eu escolha um staff tão cult. O Helinho, que cuida de geladeira, ar condicionado e máquina de lavar daqui de casa, já era amigo antes de se dedicar aos consertos domésticos, que abraçou quando sentiu a dificuldade de sustentar a família apenas com a música. O ex-tupamaro era ótimo estofador, mas a gente perdia um tempão brigando por política (ele era brizolista também). Já tive um eletricista cozinheiro, que jamais deveria ter-se dedicado às fiações. Provocou um curto não apenas no meu apartamento, como no prédio inteiro. Minha ex-manicure era um pouco filósofa e psicanalista. Quando ela deixou a profissão para abraçar outra carreira, corri de volta à terapia. Era ela que dizia que eu tinha um imã para atrair gente diferente, maluquete, encantadora e adorável! Com toda a razão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essas coisas só podem acontecer mesmo no Rio de Janeiro! Cá em BH, os pobres trabalhadores têm vida (atual e pregressa) tão insossa quanto a cidade...