15.12.09

O Avatar e a Tansa *

Ontem, atrasadíssima, voei para uma cabine do último filme de Alain Resnais. Não era no Estação, como sempre, mas no Artplex, Sala 5. Cheguei esbaforida ao lobby do cinema, perguntei ao guarda "Tem um filme na Sala 5, não?". Ele confirmou. Entrei na sala, hiperlotada. Dei aquele sorriso comovido, pensando: "Nossa, quanta gente para ver o Resnais. Que beleza, um mestre ainda mobilizando os críticos"... e aí encontrei um coleguinha muito falante que disse "Vem cá, este filme não era em 3D?". Murmurei qualquer coisa, subi as escadas e me joguei pesadamente em uma poltrona.
Era a Sala 5, sim. Mas de outro complexo de cinemas...
Assisti a Avatar, um deslumbrante show de efeitos visuais, tecnologicamente perfeito. Cinematograficamente funciona para platéias infanto-juvenis e kidults. Não é para alguém que tem no cinema uma experiência que transcende narrativas lineares.
Um filme sem a menor alma, uma experiência técnica que renderá fortunas, com uma historinha politicamente correta. Os bandidos não são os invasores norte-americanos, mas uma corporação interessada em explorar jazidas de minérios de outro planeta. O herói é paraplégico. O povo sofrido é tão integrado à natureza que só existe em cinema mesmo. Ou seja, um enredo entupido de valores morais, bem do jeito que George Lucas imaginou com Guerra nas Estrelas. E, como todos os blockbusters atuais, precisa se alongar até os limites da paciência sobre-humana. Imenso. Cansativo. Preferia o James Cameron do primeiro Exterminador do Futuro. O robô era mais verossímil do que os milicos malvados de Avatar.
Na saída do shopping, passando pelo McDonald's, vi os bonequinhos com os personagens do filme, que já são brindes de um McLanche qualquer.
*Tansa, lá em Florianópolis é sinônimo de atolada/boba/tonta. Tudo junto, misturado e bem amassado.

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