26.9.05

Jardins suspensos do MEC

A vida é uma eterna descoberta. Nenhuma novidade em declaração tão instigante. Costumava repetir isso para meus filhos, sonhando que, um dia, eles viriam a escrever um "Meu Tipo Inesquecível" para alguma revista feminina, já que a Seleções do Reader's Digest não tem o menor charme ou apelo para as atuais gerações (sequer para a minha tinha - não posso me esquecer de um artigo tecendo loas ao Kaddafi, apontado, então, início dos anos 70, como a força democrática do Oriente Médio). O tipo inesquecível seria eu, claro, a mãe maravilhosa, com lições de bem viver como a de que a gente aprende uma coisa nova todos os dias.
Com isso, buscava valorizar o que eles aprendiam no colégio (adiantou bem pouquinho, reconheço. A turma é fracote de estudos, embora todos sejam muito sagazes) ou num passeio qualquer. Isso também porque eu lera algum educador - do tipo Bruno Bettelheim antes de ser desmoralizado como um tirano que batia em filhos - ou em alguma revista feminina/reflexiva que mães mostram às crianças o quanto elas são importantes quando perguntam sobre o dia escolar.
A lição que recebi hoje veio de Hugo: aprendi a usar o computador sem mouse. Dá uma trabalheira, mas vale a pena, pois é só a gente não ter um instrumento para querer utilizá-lo.
Chove a cântaros em São Sebastião, o que me leva a pensar seriamente em adotar um sobretudo bem lindo como parte de meu guarda-roupa. Eu adoro roupa de chuva, amo guarda-chuva! Também gosto de dias nublados, chuvisquinho. Não gosto é de não encontrar um único sapato fechado para comprar no Rio de Janeiro quando acaba o inverno. Há uma estranha lógica do comércio carioca que obedece ao clima determinado literariamente pelas estações do ano. Ora, há 45 anos eu sei que dá praia no inverno do Rio. No verão, as águas são calmas e geladas, no inverno, calmas e quentes. Na meia-estação, geralmente, são mais agitadas.
Mas anda tudo trocado mesmo, tem ressaca sem parar e cheiro de ciclones e tsunamis no ar. Mesmo assim, só há sandálias ou scarpins chanel de bico de matar barata no cantinho da parede à venda. Sapato fechado? Raras e parcas botas que sobraram das liquidações de inverno, em tamanhos para gueixas. Eu, que calço 39/40, fico só de olho comprido. Pior é minha afilhada Amanda, 1,82m de mulheraça, calçando 42. Não encontra sapatos. Outra lógica esquisitíssima dos fabricantes de calçados. Com esta geração agrotóxico crescendo igual a arranha-céu, não aumentam a oferta de sapatos para pés grandes. Artur, meu primogênito, deve ter parado de crescer em dimensões e altura (espero). Aos 16 anos, tem 1,90m e calça 45. Oto, com 15, chegou a 1,85m e calça 42, 43. Hugo, ainda meu pequenino, 1,60m, 13 anos, sapatos ... 41. E Júlia, ainda com menos de 1,60m, mas prestes a ultrapassar a barreira, aos 11 anos, espreme os pés em sapatos 37, 38.
Sou uma mulher graúda, atualmente equilibrando peso acima dos três dígitos em quase 1,63m. Meus filhos são grandões, mas não diferem tanto assim dos amigos. Boa parte de meus amigos, que também estão queimando óleo 44/45, são homens (e mulheres) muito altos. Tive uma série de namorados muito além de 1,80m. Ou seja, este povo grandalhão vem aparecendo há muito tempo, criada com gordura hidrogenada, carne entupida de hormônios, conservantes e acidulantes. Já era para os sapateiros aumentarem a produção de sapatões!
Isso tudo reflito ao olhar pela janela de minha sala - sim, eu tenho uma sala só minha, com livrinhos, estante, uma lindíssima escrivaninha em U, tudo em pau marfim e laminado palha. Blogar do novo emprego é impossível, não por falta de inspiração, mas por total ocupação de meu tempo. Sinto saudades dos amigos, da gritaria, das brincadeiras. Então, olho para o prédio do MEC, em frente, posso ver os jardins desenhados por Burle Marx, constantemente cuidados por jardineiros que não ligam para a chuva. Minha chegada aos novos domínios me lembrou o fim de "Uma Secretária de Futuro", quando Melanie Griffith, depois de ganhar o Harrison Ford, descobre que não será mais secretária, mas executiva. E a câmara abre de sua vidraça para umas 800 mil janelas iguais de outros escritórios de Manhattan.
So, let the river run.

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