1.1.07

Balançando


Andar de balanço foi minha diversão favorita durante todos os recreios de minha infância. Nunca fui retraída, daquelas meninas que se escondiam do mundo, mas brincadeiras de correria não me atraíam. Muito melhor era exercitar pernas e mente, viajando por quinze ou vinte minutos no intervalo entre as tediosas tardes que transcorriam lentamente e que não recordo como os anos felizes da meninice. Tinha um bom círculo de amizades, mas não freqüentávamos as casas umas das outras. A badalação social só viria na adolescência.

Até hoje quando penso em balanço me vem à cabeça tardes nubladas, céus brancos e as meias três quartos escorregando pela canela, enquanto não ligava se a saia pregueada do uniforme se inflasse como um balão. O colégio não era misto ainda.

Balanço mudou de significado com meu amadurecimento. Transformou-se em um conceito pesado, uma relação de realizações e frustrações contabilizadas durante um período. Também virou a tradução de um gênero musical, algo metido a sofisticado, aquele requebrado meio bossa nova, meio Banda Veneno.

E no início de um novo momento para abrir uma lista nova, prefiro o balanço que me fazia alçar aos ares, daydreaming por curtos momentos, vivendo intensamente além das fronteiras físicas e da realidade.

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