25.2.05

OMM - A Conversão de uma Cética

De tanto ler livro de auto-ajuda, entrei em processo de auto-descoberta. Éxplico: a necessidade financeira me obriga a ler livros de gurus orientais para elaborar releases de apresentação das obras aos jornalistas em geral. Daí minhas reflexões a partir das iniciais de meu nome, a partir das quais iniciarei meu livro de auto-ajuda e trilharei o caminho da fortuna pessoal.
Título: OMM - A Conversão de uma Cética
Introdução - a sílaba sagrada impressa na vida
Sempre achei que não era à toa que minhas iniciais formavam uma sílaba sagrada para os vedas. Só me dei conta disso em 1985, quando os computadores entraram na redação do jornal em que eu trabalhava. Naquele momento, deixei para trás a assinatura das reportagens que escrevia. Datilografávamos em papéis divididos em colunas, as laudas, o que víamos diariamente nas ruas. E, abaixo do título, eu escrevia: por Olga de Mello, omitindo o sobrenome materno (Moura, nome com um simbolismo forte também, levando a imaginação às pessoas de pele escura, à colonização portuguesa, ao embate cristãos e muçulmanos, ao início de nossa civilização judaica-romana, Ismael o filho de Abraão com sua escrava Agar). Então, chegaram os computadores, os papéis foram substituídos por telas escuras, nas quais, para escrever, era necessário ter uma identidade. Na época não se falava em login. E a minha ID era OMM, naturalmente, juntando minhas iniciais.
Foi quando caí em mim e passei a simpatizar com o som. Anos mais tarde, escrevendo para meus filhos, criei OMM the MOM, como assinatura. O anagrama de OMM era MOM (mãe, em inglês). Ou seja, a sílaba era semelhante ao primeiro chamado dos bebês, que serviu de nome para identificar as mulheres que alimentavam aquelas criancinhas, em diversas civilizações. ("mamma", italiano, "mère", francês, "madre/mamã", espanhol, "mor", holandês, "nãna" - yorubá - aqui entraráo milhares de mães, incluindo em esquimó, que deve ter o mesmo som também. Pagarei um trocado a um estagiário para pesquisar os nomes, conferir com cada consulado e representação de nação, e, enfim, relacioná-los). Eu trazia em mim o nome da matriz, da que vai guiar os primeiros passos de um ser humano. Tempos passados, um namorado romântico foi descobrir o que olga significava como substantivo comum. Estava no dicionário: Terra fértil. Senti-me, então, a verdadeira Gaia"
Não emplaca na auto-ajuda? Será o começo de um império (editora, workshops, centro de estudos, cruzeiros em busca da matriz da alma, a mãe de todas as coisas, a sílaba sagrada); O chato será aturar um monte de gente maluca acreditando neste besteirol!!!
Esta brincadeira rendeu até uma discussão divertidíssima com uma amiga, que acredita em fadas, duendes, astrólogos, tarólogos, cartomantes, espíritas, umbandistas, budistas, taoístas, hinduístas, cristandade, muçulmanos, xamãs, rabinos, santo daime, vudu, mas não ainda na Força dos Mestres Jedis. Minha amiga é uma pessoa doce, inteligente, e, naturalmente, sincrética. Ela faz feng shui e não quer saber de proximidade com samambaias ou jibóias (as vegetais, das animais eu quero muito distância também). Expliquei que minha seita, assim que conseguisse angariar muito dinheiro, igual a esses gurus da Nova Era, seria desmascarada por sua própria fundadora. Aos seguidores, uma escolha: doar o que haviam gasto e gerado lucros para obras de assistência a quem realmente precisasse ou reaver o dinheiro empenhado no auto-conhecimento. Foi aí que minha amiga me alertou: "Você vai criar uma massa de angustiados, que se sentirão ludibriados e arrasados de depressão".
Eu tinha uma intenção esclarecedora, queria abrir as mentes dos iludidos, mas, realmente, compra ilusão quem dela sente necessidade. Quem sou eu para edificar meu império da espiritualidade geradora de lucro material sobre os anseios alheios?
Eu até que estava empolgada. Não gosto de práticas religiosas em geral, tenho profunda aversão a algumas em particular, mas ADORO vestimentas, sininhos, o dourado, o branco, o vermelho, amarelo e verde que adornam altares das mais variadas seitas. Aqueles monges budistas tibetanos e aqueles mantos laranja ou púrpura, as batinas brancas com dourado dos padres católicos, o clegyrman dos pastores mais antigos, sempre de negro, os ternos escuros dos rabinos, solenes nas leituras de torah, a elegância das vestes dos muçulmanos, os turbantes dos hindus (e dos arábicos também), os lenços com bordados em vermelho ou preto dos árabes, a infinidade de fitas, contas, miçangas, o branco dos rituais afro-brasileiros, o colorido das cerimônias religiosas, tudo me empolga. O que me desanima imediatamente é porque não sou uma pessoa de fé. Não é falta de respeito, é falta de credo mesmo. Não consigo acreditar no poder das feiticeiras celtas, da força dos elementos naturais conjurados contra um coitado qualquer que desagradou um xamã, na ira divina queimando Sodoma e Gomorra. Não consigo. Nem quero discutir essas coisas.
Só que com quatro ou cinco exceções, todos os meus amigos são religiosos, das mais diversas correntes. A maioria é espírita mesmo, mas abre concessão de fé para astrologia, tarô, ciganismos e lendas a fins. Eles seriam os primeiros a não acreditar na seriedade de minha seita Divina Luz dos Picaretas Ltda.
Acho que minha carreira de guru acaba de ser empastelada...

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