11.3.05

Ranzinza





Quem acha graça naqueles calouros de faculdade todos pintados esmolando pelas ruas? Eu, que raramente dou esmola pra mendigo mesmo, me irrito com aquela falsa demonstração de júbilo pela participação no ridículo rito de passagem. Nunca vi graça nisso, como também sempre detestei bagunça em cinema ou em ônibus.
Sou uma mulher anacrônica. Vim de uma era em que discrição era sinal de distinção. Nada que se maculasse com risos ou com uma dança arrebatadora em público. A expressão maior da alegria não se confundia com intromissão ou exibição gratuita. No entanto, vandalismo ou chamar a atenção sobre si, intencionalmente, era tão feio quanto dar chilique em enterro ou velório.

Não dá para rir com um cara-pintada qualquer que me aborda em plena passarela da Avenida Chile, suplicando uns trocados para gastar em cerveja, quando todos passam indiferentes ao rapaz que esmola sobre uma espécie de skate. Ele não anda e ali é seu ponto. Tá certo, ninguém tem obrigação de se comover com a miséria e existem lendas urbanas que apontam os pedintes como ricaços que se fingem de pobres a semana inteira, mas sábado à noite, vão para suas mansões, todas além de Ricardo de Albuquerque, num mato em Santa Isabel, Costa Barros, sei lá aonde. Pelo sim, pelo não, prefiro pensar que eles não encontraram alguma maneira digna de sobreviver.

Mas os moleques pintadinhos igual aos corações valentes do Mel Gibson? Ah, não, esses vão fazer coisa melhor com seu tempo ocioso... Vão arrecadar dinheiro em casa para pintar salas mal conservadas de escolas públicas, arrumar jardins de asilos de idosos, algo mais nobre que farrear às custas dos que ainda acreditam em marotos.

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