27.5.05





Fico TÃO impressionada com o número de visitantes em blogs. Quer dizer, com o número de visitantes em outros blogs, blogs célebres, inteligentes, eruditos, heterodoxos ou, pelo menos, pretensiosos. O meu, mal chega a 200 visitas, enquanto outros têm literalmente milhares de visitantes.
Quando comecei este blog, mero back up era ele do Multiply. Começou a caminhar com pernas próprias, ou melhor, com digitadas próprias, porque realmente sinto que as palavras não saem de mim, saem dos dedos, como se magicamente fluissem, sem qualquer interferência consciente do meu ser. Com ficção é assim mesmo, as histórias acontecem sozinhas, tomam rumo próprio. Aliás, acho que escrever, no meu caso é assim. Jamais tenho um plano traçado. Começo e as idéias brotam, jorram, se espalham, saem da ponta dos dedos.
Isso nunca aconteceu com a música. Estudei piano por quase doze anos. Achava bonito o som. Meus pais me compraram um Bentley, armário, muito bom, depois que eu batuquei um pouquinho num pianinho de brinquedo cor-de-rosa. Mamãe perguntou se eu queria aprender piano e aos quatro anos, assumi o compromisso solene de ingressar nos mistérios da música. Para mim, era uma tortura absoluta estudar piano. Comparecia às aulas, aprendia ali e nunca praticava. A única bomba que tomei em estudos foi no quarto ano de teoria musical. Fiquei livre daquela chatice.
Eu simplesmente não compreendia tempos, compassos, ritmos, notas, não identificava sons, era um terror em ditado. Até hoje sou assim. Canto até razoavelmente, sou afinada, sou musical, mas nunca tive qualquer prazer em tocar qualquer instrumento. Lógico que houve a fase da flauta também. Como eu era do contra, enquanto toda a turma aprendia a tocar em flautinhas soprano, eu comprei uma contralto, claro. Até que flauta eu toquei direitinho. Piano também, fui selecionada, sem saber, durante uma apresentação na escola, para tocar no João Caetano. Lá fui eu, a única a não estar nervosa entre as pequenas musicistas, toquei uma sonata de Mozart tranqüilamente. Devia ter uns 10 anos. Somente aos 15 anos tive coragem de dizer, en passant, durante uma festa, para minha mãe, que não queria mais estudar piano - que, em nossas brigas, ela ameaçava sempre arrebentar com um martelo. Eu imaginava a cena: teclas saltando com as marteladas que viriam de lado ou por baixo, senão, como elas sairiam? E jurava que iria estudar ou me calava. E continuava enrolando com o piano.
Hoje, meu repertório se limita ao "Bife". Com acompanhamento, claro. Não sei ler mais clave de fá e descubro que partituras foram substituídas pelas práticas cifras, quando meus filhos tocam violão. Fim do parênteses, volto ao tema do post.
Sem planos definidos quanto ao objetivo deste blog, curvo-me ao umbiguismo que tanto vejo pela Web. No meu caso, um umbiguismo freudiano de gente precocemente envelhecida. No qual as palavras passam por meus dedos sem que eu reflita ou tente detê-las. E daí, uma reflexão sobre blogs se transforma numa recordação que deveria estar escondida sob os cobertores da memória.

Nenhum comentário: