7.7.05

OPTei

Em 1979, fui abordada por Telinha, uma colega do Diretório Acadêmico da faculdade, que colhia assinaturas necessárias para formalizar o pedido de criação do PT à Justiça Eleitoral. Não assinei. Já era simpatizante das idéias anarquistas e não acreditava que o pluripartidarismo fosse realmente vigorar num país que acenava a abertura política. Estava, felizmente, enganada.
Meu primeiro voto na vida dei para o PT. Os demais, com uma única exceção, também; o último idem, os próximos, provavelmente, seguirão os anteriores.
Em 1982, quando o Rio se dividia entre Brizola e Moreira (tinha o Miro, então chaguista, mas ele caiu logo, logo), votei no Lizâneas Maciel para governador. Ao longo dos anos, meus votos não-petistas foram para o Afonso Arinos e o Evandro Lins e Silva na Constituinte, e para o Gabeira, quando ele ia para o PV. De resto, era sempre PT, embora em 15 de novembro de 1988 eu tenha permanecido em casa, chegando da maternidade, onde acabara de parir meu primeiro rebento. Naquele ano, Bittar era candidato a prefeito do Rio e perdeu feio para Marcello Alencar.
Votei em candidatos a vereador que jamais se elegeram, rapazes do Santa Marta, indicados por minha amiga Giselle, que trabalhava na creche comunitária. Depois de algum tempo, passei a votar na dupla verde (Minc e Gabeira), garantindo os votos para a legenda, já que ambos estavam eleitos. Na verdade, eram os únicos que eu elegia. O restante, fora os dois velhinhos para a Constituinte, nunca entraram em casa legislativa ou palácio de governo, apesar de meus esforços.
Voto útil nunca dei e até anulava, com tranqüilidade, quando o candidato a cargo majoritário do PT não me convencia. Afinal, voto nulo foi uma constante em minha casa durante a ditadura. Meus pais, ex-udenistas, mas, no fundo da alma, anarquistas, se recusavam a votar enquanto não houvesse eleições diretas para presidente no Brasil. Nossas divergências políticas não chegavam à porta de casa. Enquanto a família inteira se escandalizava com minhas tendências de esquerda festiva, PT-light ipanemense, minha mãe lembrava aos tios e primos que meu avô paterno era pedreiro, como desculpa para meu encantamento com os perigosos "comunas".
Nunca precisei explicar aos amigos por que votava no PT. Um ou outro eram brizolistas, o que levava a brigas homéricas. A maioria votava mesmo no PT. Afinal, como diz meu amigo americano William Morrisey, no Brasil, as amizades não são abaladas por diferenças políticas, culturais nem religiosas. Na última eleição, confesso, estava descontente com o aburguesamento do Lula, com o José Alencar como vice, mas fui convencida pelo Eduardo Graça a, mais uma vez, votar em Lula. Votei, vacilante, esperando que aquelas alianças e o deslumbramento de marketing acabassem esmagados pela força de uma proposta digna de transformação nacioanal. Pela primeira vez, fui para as ruas com as crianças comemorar a eleição de um presidente no Brasil.
Parei de acreditar em santos quando o Betinho recebeu dinheiro de bicheiro para aplicar em tratamento contra HIV. Não há como limpar dinheiro sujo. Não imaginava que os petistas eram santos. Muitos nunca se corromperão, muitos não ficarão deslumbrados. É difícil, o poder corrompe mesmo? Talvez. Votar no PT novamente? É provável. Minha geração aprendeu política "de ouvido", numa época de eleições indiretas, de apenas dois partidos sem grande crédito. A única diferença na política era o PT. Agora, o PT é apenas mais um partido político sem propostas claras de transformação social. Mas valeu a pena ter oPTado.

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