26.8.05

Mamografia



Depois de muito postergar, tomei coragem de enfrentar uma mamografia, pensando na máxima de muitas senhoras d’antanho: como mulher sofre. Enquanto aguardava o resultado das chapas – que, logicamente ficaram ruins e tiveram de ser refeitas -, refleti que a medicina privilegia o tratamento aos homens, exceto ao exigir que tenham a dignidade abalada quando se submetem ao exame de próstata. Tudo besteira, homens e mulheres são massa de modelar quando viram pacientes. A primeira providência em um hospital é nos vestir com uma bata horrenda, de florzinhas ou listinhas, aberta atrás e enfiar um soro na veia. Jesus, Maria e José, por que médico ama ligar-nos a um frasco de cloreto de sódio, o que nos obriga a caminhar à la Estátua da Liberdade em modelito micro e mais arejado?
Felizmente, fui apenas fazer mamografia, o que deveria ser um exame rotineiro para maiores de 40 anos, mas o incômodo de suportar a pressão daquela máquina sobre o que já alimentou literalmente quatro bocas me levou a fugir do mamógrafo por dois anos. Um erro, eu sei. O que torna mais penosa ainda a espera pelo resultado.
A sala de espera da clínica de mamografia é um dos ambientes mais tensos que conheço. Só tem coroa, umas poucas jovens que vão fazer ultrassom. Nesta clínica, em particular, nunca aparece uma grávida. E, vez por outra, tem um homem acompanhando a mulher. Sempre preocupado e mal humorado. Se fosse uma clínica de exames de próstata provavelmente haveria um monte de mulheres acompanhando os maridos, irmãos, filhos, namorados. Porque homem não vai a médico sozinho.
A solidão feminina nas salas de espera é sufocante, é pesada. Mulheres desconhecidas geralmente têm assunto. Tornam-se íntimas, contam suas vidas umas para as outras. Não no consultório de mamógrafo. Todas parecem apreensivas com o que pode ser descoberto ali. Saindo, peguei o metrô, caminhando lépida. Um casal de velhinhos entra no vagão, guardo o lugar para a senhora, o marido senta-se ao lado, resmungando. Maior que a solidão feminina nas salas de espera de consultórios médicos só a dos casamentos longos e insuportáveis.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ai Olguinha, deve doer horrores. Mas é necessário e para o seu bem. Bjs!

Anônimo disse...

É, Olguinha, já acompanhei minha mãe em dois exames desses e o clima é realmente horrível. É exatamente como descreveu.

maria rezende disse...

Bom, eu felizmente ainda estou longe da idade dessa tortura, mas concordo que mulher sofre com bem mais firmeza que homem (que até pra colocar colírio pede ajuda, né não?). Querida, adorei te ver também e vamos ver se repetimos, quero fazer um festinha de um ano de casa e aí o Edu já vai estar aqui e vai ser uma delícia! beijo, maria

Anônimo disse...

Solidão de um casamento infeliz e mesmo a pior de todas.