29.8.05

Uma saga felina



É nisso que dá ter nascido no dia de São Francisco de Assis. Passei um fim de semana felino. Promovi a adoção de duas gatas de rua. Meu objetivo original era me livrar de duas de minhas gatas, a Bela, a mais nova e a Gal, a mais chata. Bela iria para o porteiro. Gal, para Mara, uma conhecida que estava louca por uma fêmea para “casar” com seu gatinho.
Júlia, que havia caído em minha proposta de trocar Bela por um celular, depois de haver prometido ao porteiro que entregaria a gatinha no domingo, passou o sábado à tarde com cara de infelicidade suprema, daquelas que fazem qualquer mãe fraquejar e jogar para longe os princípios da palavra de honra e da sanidade mental. Então, me veio a engenhosa idéia de arranjar outra gatinha para o porteiro.
Liguei para Miriam, gateira que nos havia conseguido a Bela, que tinha outra gatinha, miudinha, bonitinha, parecia cruza de sapo com gato, olhos imensos e castanhos, muito estranhos... Apresentamos Miudinha ao porteiro que não se mostrou muito animado com a troca de bichanas. Uma nova idéia surgiu como um clarão em minha mente: doar a gatinha desprezada para Beto, namorado de Maria, a babá que me criou.
Seguimos para o botequim que o Beto tem no Largo do Machado. Lá, expus minha teoria de que todo o boteco carioca deveria manter um gato para evitar roedores e insetos, o que Beto afiançou, não existem em seu bar. Maria ficou resmungand, mas Beto aceitou a gatinha, que se acomodou numa gavetinha embaixo do balcão. Eu e Júlia partimos, então, para o Campo de Santana, decididas a encontrar outra gata para o porteiro. Isso tudo carregando Bela numa mochilinha apropriada para o transporte de animaizinhos. Por que a Bela estava conosco, não tenho a menor idéia.
Naturalmente, quando o impulso surgiu eu nem me lembrei que eram duas horas de uma tarde gloriosamente quente do inverno carioca, que eu calçava sandálias de salto anabela, totalmente inadequadas para incursões em parques ou o quanto é cansativo percorrer o Campo de Santana em sua totalidade por três a quatro vezes. Encontramos nossa amiga gateira, Miriam, que nos ajudou a pegar uma bichana “pré-adolescente”, branca com máscara negra nos olhos. Do Campo de Santana, fomos ao supermercado, para comprinhas urgentes. A gatinha ficou dormindo no carro. Bela miava, irritada com a demora do passeio.
Fizemos as compras, chegamos em casa para descarregar e dar a nova gatinha para o porteiro que, constrangido, disse que não queria aquela, não. Ele queria era a Bela. Mas a Bela... bem, largamos Bela e as compras em casa, rumando de volta para o bar do Beto, onde a primeira gatinha, a Miudinha, comia galinha, arroz, batatas e ervilhas, que a Mascarada logo atacou também. Maria acionou Mara por telefone e pediu que aguardássemos sua chegada, pois temia que abandonássemos duas gatas no bar. O jeito para nos livrarmos da população felina foi nos integrarmos ao ambiente, fingindo uma surdez aristocrática para os cabeludos palavrões bradados por um botafoguense, visivelmente embriagado, a cada gol de seu time ou do Corinthians, que passava na televisão. Maria providenciou alimentação para a Mascarada, enquanto aguardávamos a chegada de Mara, que se apaixonou pelas duas gatinhas. Mal Mara havia se decidido a carregar a Mascarada, um homem puxou conversa comigo sobre a Miudinha. Eu falei que estávamos dando e ele, prontamente, chamou a mulher e a filha que se encantaram pela miúda e... num instante, estávamos sem as duas gatas!
Bom seria se eu conseguisse reduzir a população animal lá de casa também. Mas Júlia acaba de me telefonar entusiasmadíssima. Um dos três ovinhos que minha agaporne chocava se rompeu. Temos um novo bebê na casa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parece que os gatos estão em alta, todo mundo tem gato. Será por causa da falta de espaço? Confesso que prefiro cachorros.