9.1.06

Coragem!

O sol voltou às terras de São Sebastião, mas cadê ânimo para enfrentar os quilômetros que me separam da praia?
Sair de casa com um bando de adolescentes nem sempre é fácil. Todos têm que ficar prontos, cada qual em seu ritmo de mau humor particular, porque ser adolescente virou sinônimo de maus bofes durante a metade do período de convívio com seres idosos - qualquer um acima dos 20 anos. O difícil de estar na maturidade é que a juventude não nos parece tão distante assim. Os ímpetos ainda são os mesmos, o absoluto desprezo pela falta de experiência de vida ainda não existe. Interessante é que fatos históricos são facilmente relembrados, pois boa parte deles foi parte de sua própria existência.
O primeiro choque de envelhecimento me pegou por volta dos 25 anos, quando senti dificuldade em dançar vigorosamente cinco rocks seguidos. Fumava, bebia, mas era magrinha ainda. Sem fôlego já. Aprendi, então, a alternar a dança e segui pulando, deslizando, volteando e me embalando vida afora, incluindo as quatro gestações. A segunda tomada de consciência sobre a idade veio num McDonald's. Era domingo de manhã e eu acompanhava um colega, de motocicleta, que fora comprar o almoço para quem estava de plantão na redação. Meus braços eram necessários para acomodar os pacotes, delivery era palavra absolutamente estranha a nosso vocabulário. Enquanto aguardávamos os pedidos, ouvi um "Saudade Não tem Idade" anunciado no rádio da lanchonete. A canção que se seguiu não tinha dez anos de lançada e fora parte da trilha sonora de meus sábados à noite, quando dançava na Papillon. Foram duas revelações: de que uma geração musical é muito menor do que se imagina e que minha música já estava inscrita nos hits do passado.
Daí para a frente, foram muitos os momentos de conscientização sobre o envelhecimento, nem sempre diante do espelho. Encontrar conhecidos que se perderam pelo mundo e hoje têm rugas, papas, gordura, magreza excessiva, cabelos de diferentes matizes, fotografias de netos. A falta de paciência com a rabujice de velhos e de jovens, o enternecimento com as graças de uma criancinha, a ousadia de assumir atitudes sem o menor temor do ridículo. Vêm também uma maior freqüência de dores ósseas ou musculares, a redução da capacidade auditiva e visual. A pior perda, no entando, é a do tempo. A sensação de que o tempo é muito curto, de que não podemos passar o dia dorminhocando, porque há muito a fazer e que se eu não estivesse aqui registrando essas sensações todas, poderia estar a caminho do mar.

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