27.1.06

Sobre a igualdade

Agência do correio entupida de candidatos a cargos diversos em concurso de órgão público. A cordialidade entre todos os futuros concorrentes é prova do mito da generosidade brasileira. A igualdade acaba na taxa de inscrição: quem concorre a cargo para o qual se exige curso superior tem que pagar três vezes mais que os de nível técnico.
Qual é a razão desta cobrança tão acima da outra? Se aprovado, o funcionário público com nível superior vai ganhar três vezes mais que o de nível técnico. Mas isso é depois que for aprovado. As provas, provavelmente, são elaboradas por gente gabaritada, já que os cargos técnicos, muitos deles, exigem certificados de cursos das escolas técnicas - que são mais concorridas do que universidades públicas.
A falácia educacional-econômica brasileira sedimentou mitos, mas um deles, a do povo conformado que não levanta a voz para reclamar de nada, é alimentada pela cada vez maior fraude que sustentamos: um sistema de ensino vergonhoso, que não acostuma o estudante a duvidar da lógica simplista que aceita cobranças baseadas numa justiça social questionável. É assim que descobrimos que utilizar o serviço público não é tão fácil quanto a clásse média empobrecida imagina. Para matricular um filho em colégio público comum - não aqueles aos quais se entra por concurso, como os CAPs ou o Pedro II - é necessário, primeiro, saber se haverá vaga sobrando para ele, pois, a prioridade é de quem esteja na rede pública, tenha irmão já estudando na rede, tenha alguma deficiência física, descenda de índios, seja cigano, trabalhe em circo ou, absurdo absoluto, seja filho adotivo. Até então, eu imaginava que as crianças, pela atual legislação, perdiam tal pecha ao serem adotadas.
Lógico que tudo piora se pensarmos que os hospitais públicos estão cancelando cirurgias por pane no sistema de ar condicionado nesses dias de verão insuportável. Cadê a CPMF mesmo? E o IPVA que se paga para a manutenção de estradas que não cobram pedágio? E a taxa de incêndio que é discutida na Justiça porque seria uma bitributação, já que um serviço público é custeado por impostos como o ICM? Ah, sim, o IPVA também estaria na mesma categoria, já que é cobrado sobre o valor de um bem pouco durável, que tem impostos violentos no momento da compra?
Enquanto isso, o amor floresce no Big Brother *, leio no Globo on line, notícia que merece destaque semelhante ao das celebridades chegando ao Fórum Mundial, onde, aliás, as esquerdas criticam a "endireitada" de Lula. Tem jeito? Lembrar de um reggae que o Gil cantou muito com o Bob Marley: "Don't worry 'bout a thing, cause every little thing's gonna be all right".

* Em meus tempos de funcionária pública, este era um tema recorrente das conversas. Quem acompanhava o andamento das tramóias do Big Brother, que sempre levam a ensaios fotográficos com gente pelada, discutia os personagens - porque, convenhamos, aquilo é teatro interpretado por atores de qualidade questionável. O mais admirável é a tremenda cara de pau: todos choram desesperadamente por estarem eliminando alguém a quem conheceram semana passada e por quem nutrem uma profunda amizade. Agora, segundo o Globo On, todo mundo tá dando beijo na boca, casais apaixonados, mulheres e homens, que ensaiam trocarem selinhos para acabarem com o preconceito contra o homossexualismo, embora declarem que não são gays. Ah, o Coliseu desses tempos modernos...

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