18.7.06

Sexo e a cidade

Ser humano destituído de bom senso, não vejo telenovelas por absoluta falta de paciência. Não é que eu seja uma intelectual de raiz, nem que despreze todos os sitcoms abobadinhos ou séries estrangeiras que já se chamaram enlatados. Já me dispus a acompanhar novela e posso citar até algumas delas, embora ache tudo tão parecido que não troco por um bom seriado pipocão, se estiver vendo TV.
Já levei espinafração de manicure em salão que comentava o que acontecera com um determinado moço que eu não conhecia. Ao descobrir minha ignorância após dizer que era da novela X e me ouvir murmurar constrangida "eu não vejo novela", a manicure me perguntou em alto e bom som: "Em que planeta você vive?". Encabulada, deixei de fazer unhas em salão.
Então, sem ver novela, perco as importantes polêmicas que elas trazem e que fazem subir o Ibope. Depois de botar atores pelados em horário nobre em poses amorosas, leio que uma mulher de 68 anos deu depoimento sobre orgasmo e indignou os espectadores.
Ora, não tem o menor charme uma senhora falar em masturbação e orgasmo, como se fosse uma daquelas elegantes doidivanas do "Sex and the city". Até porque aquelas moças eram brancas, altas e estavam representando. Nem sei se esses depoimentos são reais ou se contratam atores daqueles que aparecem em anúncio de sabão em pó (são ótimos! são bons mesmo!) dando testemunho sobre a brancura de suas roupas depois do uso de um alvejante que não descolore nem vestido de noiva. O Multishow tem um programa de entrevistas sobre sexualidade de homens e mulheres bastante interessante em que até se procura mesclar população mestiça, de faixas etárias diferentes e de diversas categorias sociais entre os entrevistados.
Quando é que a televisão brasileira vai descobrir que este país é mestiço, pobre e que o Leblon do Manoel Carlos é muito, mas muito falso mesmo? Os poucos afortunados que têm TV a cabo podem botar a TV no canal 6, da TV Comunitária e descobrir este país estranho em que vivemos. Há sempre programas espíritas ou sobre esperanto. E um show musical de péssima qualidade, não pelos artistas desconhecidos que lá se apresentam, mas pelo som abafado, pela imagem difusa, pelos enquadramentos que se deslocam em panorâmicas desnecessárias, tudo combinando com quatro ou cinco meninas que dançam horríveis coreografias desencontradas. Quem caminhar pelo Saara vai encontrar esse Brasil que teimamos em não enxergar, igual aos meninos que estão nos sinais, nas praças, nas ruas.
Nosso mundo não é tão limpinho quanto o de "Crash", não.

2 comentários:

Jôka P. disse...

Eu adorava "Sex and the city".
Carrie, Samantha, Big...
Revi tudo em DVD, depois.
Mas vejo novela sim... e...ehrr..bem...
Superpop, da Luciana Gimenes.
Pronto.
Falei.
:)
Agora você nunca mais vai querer brincar comigo, né !

Olga de Mello disse...

Ai, Jôka, ainda bem que a gente pode esquecer as diferenças e se unir em torno das afinidades...
Afinal, adoramos esta cidade e sua gente bronzeada mostrando tanto valor, não?
Beijo!