21.7.07

Triângulo das Bermudas


Semana passada o Xexéo fez uma crônica sobre o paradeiro de meias com a qual me identifiquei imediatamente. Neste exato momento saio em busca do controle remoto da NET, só encontro o que tem apenas uma pilha e está inoperante. Resta-me ver as provas da Bilabong, narradas pelo Teco Padaratz. Um mar verde escuro, imagem péssima, com alguns surfistas dentro das águas da Austrália.
Vivi numa casa muito organizada que só reproduzi no quesito arrumação de livros, DVDs e discos/CDs. Armários de louça e roupas também seguem alguma coerência. Documentos e recibos são encerrados em caixas de onde só ressurgem em caso de venda de imóveis ou comprovação de pagamento de impostos. O restante, no entanto, some e jamais é reencontrado.
As meias são as campeãs, claro. Acredito que elas se concentrem no mesmo local onde outrora permaneciam as frentes frias que jamais alcançavam o Rio de Janeiro. Mas também existe um sumiço sistemático e/ou alguma maneira de camuflagem inexplicável dos seguintes produtos em meu desmazelado lar:
- Apontadores e borrachas: compro algo em torno de doze de cada por ano, sempre proferindo meu discurso sobre a borracha verde que me acompanhou da 7a série até a universidade (era imensa, foi diminuindo até caber no estojo ao longo de minha vida acadêmica) e que, passada a Artur, não durou sequer duas semanas. O discurso não surte o menor efeito.
- Tesouras de unha: desisti de ser a feliz proprietária de uma. As sem ponta pedidas pelas escolas de meus filhos, adquiri, religiosamente, durante uns dez anos. Comprava quatro, uma de cada cor. Sei que existe uma dessas aqui em casa, em lugar incerto e não sabido. Além delas, só velhas tesouras de alfaiate, acredito que três, todas elas enferrujadas. Não adianta trazer uma novinha para casa. Vai escafeder-se.
- Pilhas palitos são alguns dos artigos que se desintegram no momento em que cruzam o umbral da entrada. As únicas que restam perdem a capinha ou são armazenadas em uma caixa para despejo em alguma lixeira de recolhimento de baterias. Nenhuma funciona.
- Pregadores de roupa. Compro uma dúzia a cada três meses. Não tenho NUNCA mais do que vinte em casa. Por quê? Desisti de compreender, embora implore que seu uso se limite às roupas no varal e não para fechar sacos de farinha - que deveria ser guardada em potes de vidro, mas estes, geralmente, acabam ocupados por biscoitos que ninguém suporta comer e que lá perduram até suscitarem o surgimento de pequenos insetos.
- Canetas bonitinhas ou de boa qualidade. Meu destino é apenas almejar Parkers, Sheaffers, Watermans, Lamys, Crowns, Crosses. Uma mera Pilot, se é que essas ainda existem, é simplesmente surrupiada de meus quinhentos porta-lápis. Quando meu apartamento foi invadido por ladrões, levaram dois brinquinhos de ouro, meu título de eleitor e duas canetas lindas que eu ganhara na Petrobras. Contento-me com Bics, mas tento não me apegar a elas, porque sei que estarão fora de meu alcance em breve.
- Lápis de cor. Desconfio que fazem parte da alimentação de meus filhos.
- Elásticos de cabelo - Esses acredito que sirvam de alimento para as gatas, revoltadas por serem ornamentadas com eles, assim que Júlia ganha uma partida de doze.
- Tampinhas de controle remoto - Não existe um só controle remoto em minha vida que tenha sua tampa. Depois de um certo tempo, as pilhas desabam dele. Provavelmente, saem à procura das tampinhas.
- Acetona - Sempre acabou. Exatamente quando a gente precisa tirar sobras pavorosas de esmalte preto ou vermelho das unhas.
- Lápis de olho, rímel, corretor - Desde que ganhei uma sócia cosméticos, ando de cara lavada.

Enquanto os objetos se reúnem no Triângulo das Bermudas, há uma geração espontânea de copos, talheres e embalagens de alimentos por qualquer canto de minha casa. E livros, claro. Até na cozinha tem livro esquecido em cima da geladeira. Ou DVDs e CDs. Mas esses voltam a suas estantes a cada dois dias para dar espaço a outros, que circulam pelos cômodos. Exceto quando levados por amigos que passam alguns meses lendo, vendo ou ouvindo. Mas eles retornam. Um dia retornam.

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