18.3.08


A desfaçatez da pilantragem sempre me surpreende. Uma proprietária de carro - um ser de alta condição financeira para o Fisco e as autoridades do governo estadual, pois precisa pagar impostos indefinidamente por ter um dia adqüirido um bem de consumo durável - teve seu veículo furtado no pátio do Detran, onde aguardava para fazer vistoria obrigatória de seu Fiat Pálio. Entregou as chaves do carro a um homem que se apresentou como funcionário do posto. Detalhe: ela tem mais de 60 anos e já foi devidamente achincalhada por leitores do Globo, que estranharam sua ingenuidade.
Certamente é uma mulher de outros tempos, em que não havia tanto espertalhão que tem como grande aliada a certeza da impunidade.
O Rio de Janeiro tem uma tradição de roubos e furtos desmoralizantes. A Taça Jules Rimet, retirada da sede da CBF, o posto do Banerj no Palácio Guanabara, assaltado por ladrões em plena luz do dia... O Detran, que construiu uma reputação de antro de corrupção, agora já pode acrescentar outro feito em seu currículo.

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Andar pelas ruas de Botafogo torna-se cada vez mais arriscado.
Na minha esquina, a Prefeitura tenta derrubar o casarão que foi tombado e há anos ameaça despencar sobre a cabeça de quem passa. O proprietário deu entrevista informando que não fez nada para conservar o imóvel porque não vale a pena, já que não pode, legalmente, derrubá-lo. O ônus, então, cabe à Prefeitura, claro!!!
Uma boa caminhada para resolver a vida cotidiana também é uma aventura. O número de homens, mulheres e adolescentes vivendo nas calçadas do bairro cresce vertiginosamente. Há quem culpe as operações expulsa-mendigo de Copacabana e Ipanema. Enquanto isso, é preciso armar-se de desculpas que não ofendam os pedintes, sempre requisitando litros de leite e fraldas descartáveis nas portas de supermercados, farmácias e lojas maiores. A preferência por esses artigos é simples: eles são vendidos ou trocados por drogas. Outro dia me irritei com a insistência de um homem jovem, na casa dos vinte anos, cara bem inchada de quem acabou de acordar, resmungando que eu tinha que lhe comprar leite. Desta vez nem me passou pela cabeça o que sempre me comove: que a pessoa não tem a menor dignidade, que a falta de escolaridade, a dependência química, a total ausência de assistência do governo para oferecer-lhe oportunidades leva a tais situações humilhantes. O convívio com essa miséria explícita que não queremos enxergar endurece nossa generosidade. Ninguém quer tirar a Sofia, a mendiga maluca, da Rua Dona Mariana. Ela não vai sair dali. Mas esse rapaz poderia ter alguma forma de voltar à vida, se nossos impostos não se evaporassem no Erário Público.
Coitado do próximo prefeito, se for o Gabeira ou o Chico Alencar. Arrumar uma rede de mil escolas públicas, hospitais combalidos e procurar uma destinação para esta população de rua não é tarefa para quatro anos. É para meio século.

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