11.11.10

D.Odilão Moura O.S.B (1918-2010)


Batizando Júlia - Oto, como sempre, aprontando lá atrás






Com Júlia e Mamãe, num Natal.


Neste novembro tumultuado por vestibulares, provas, aniversários de dois filhos, casamentos de duas primas, acabo de perder meu tio mais velho. Para os que o conheceram fora da família era D. Odilão Moura, monge beneditino, professor de Teologia e Filosofia durante muitos anos na PUC e na Santa Úrsula, especialista em Sto Tomás de Aquino.
Para mim era o Tio Telmo, o sacerdote da família nem tão católica assim, responsável por oficiar casamentos e batizados de irmãos, sobrinhos e sobrinhos-netos, celebrante de todas as missas.
Péssimo motorista, dirigia um fusquinha que Vovó lhe deu para facilitar as idas do Centro, onde fica o Mosteiro de São Bento, à Gávea. Por duas vezes, foi o piloto em viagens que fiz com ele pelo interior de São Paulo. Sentia sono na estrada (acordava diariamente às 4 da manhã e nos telefonava às 7h, mais que desperto, rindo porque a voz que o atendia tinha indícios de um despertar a contragosto), parava em postos de gasolina para dormir por dez minutos.
Adorava comer, um dos prazeres que precisou reduzir, velhinho, por causa da diabetes. Exatamente como minha mãe, tinha acessos de riso incontroláveis, que contagiava quem estava por perto. Não podia ver um mendigo na rua sem obrigar os irmãos a darem esmolas. Adorava crianças. Contava que fora uma peste em menino, fugia de casa, vivia de castigo de tão moleque. Meu filho Oto seguiu a tradição. Aos 12 anos, virou um erudito, estudante compenetrado. Tentou seguir Medicina, mas não conseguiu acompanhar dissecações de cadáveres. Fez alguns meses de Direito. Acabou entrando para o Mosteiro aos 19 anos, para revolta de uma prima mais velha. "Telminho é bonito demais", escreveu a parenta para minha bisavó, que retrucou: "Deus também gosta de gente bonita, ora". Mas Telminho, segundo minha mãe, logo botou óculos, ficou careca e engordou. Uma sina da família.
É estranho enterrar os parentes, mesmo velhinhos, mesmo sobrevivendo sem lucidez, como era o caso de Tio Telmo há pelo menos dois anos. Uma parte da formação de minha vida foi sepultada ontem também.

2 comentários:

Koběluš disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Koběluš disse...

A sina da família de aniversários marcados por falecimentos continua.
Muita saudade...