6.2.11


A sociedade do espetáculo que entronizou o culto à juventude eterna criou um filhote indesejado - o da imaturidade perene. A imensa dificuldade que é enfrentar a velhice atualmente leva boa parte das pessoas a se refugiarem, inconscientemente, em comportamentos adolescentes.
A super-exposição através da Internet obriga todos a se mostrarem intensamente felizes. Isso me lembra um ou dois filmes a que assisti em que as protagonistas eram mulheres eternamente bem-humoradas, procurando rir de qualquer aspecto da vida. Um era Happy-Go-Lucky, do Mike Leigh, outro um telefilme imbecil. A alegria sofrida das duas personagens - porque elas buscavam felicidade em TUDO - faz com que as duas se mostrem vazias, obtusas, patéticas.
Agora, a gente tem que estar celebrando a vida o tempo todo. Mais importante que aproveitar o momento é mostrar ao mundo inteiro que:
1) estávamos naquele lugar
2) em boa companhia
3) nos divertimos um bocado
4) como somos interessantes.

Realmente estou cansada da autopromoção, uma arte que jamais apreciei ou dominei. Adultos que vibram intensamente e precisam de atenção pública o tempo todo, me parecem adolescentes mal-resolvidos. Só temos importância através do olhar do outro? Precisamos abrir nossas vidas para obter reconhecimento profissional? Coitados dos escritores, uma tribo que sempre viveu entocada. Hoje, eles são obrigados a explicar cada parágrafo que escrevem, como se fossem atores que participam do lançamento de filme. A apreciação do artista é confundida com o estilo de vida que adotam. Estou lendo a biografia de Keith Richards. O que emerge das páginas não é o doidão anárquico, mas um profissional extremamente dedicado a seu ofício, a razão de sua existência. É como lembrar de Lord Byron, Percy Shelley, Rimbaud e Verlaine. A obra que deixaram foi infinitamente maior e mais significativa do que as atitudes desvairadas ao longo de suas curtas vidas.

Nada contra a nova ordem da perfeição plástica, da tecnologia que prolonga e melhora as condições de vida. Mas um pouco de dignidade e discrição não fazem mal a ninguém.

Um comentário:

Halem Souza disse...

Olga, tô louquinho pra ler a biografia do K. Richards (mas tem uma lista imensa de outras coisas na frente).

Compreendo essa sua crítica ao estado permanente de autopromoção que existe na blogosfera e também nas redes sociais, do tipo Facebook. Só me pergunto: será que é possível escapar disso, permanecendo usuário desses mesmos espaços virtuais?

Oportuna sua lembrança do papel lamentável que muitos escritores hoje têm que desempenhar.

Um abraço!