23.2.11

That's Entertainment!


Houve tempo em que eu assistia a 200 filmes por ano, não perdia nenhum indicado a Oscar. Mudou a vida, o tempo, a idade. Tudo começa a se parecer muito com o já conhecido.
E os filmes deste ano, como os do ano passado e os dos anos anteriores, não chegaram a me entusiasmar. (Tá, ano passado teve Bastardos Inglórios, então, retiro o que disse).
Nem vi todos, porque agora, a Academia resolveu indicar dez filmes, provavelmente para vender melhor os produtos da indústria. Assisti a Bravura indômita, A rede social, O discurso do rei, Cisne negro e A origem. Nenhum me entusiasmou. Todos entretenimento.
Mas isso é porque eu já não consigo ver graça em

1) o arrojo da linguagem nerd;
2) a genialidade da mente industrial;
3) o freudianismo barato de um filme de autor caretíssimo;
4) um filme que mais parece peça de teatro, quadrado o suficiente para emoldurar as brilhantes interpretações dos protagonistas;
5) uma releitura de um "clássico" rasteiro.

Esclarecendo minha rabugice, A Origem é direcionado ao público masculino moderninho, que cultua histórias em quadrinho com o mesmo fervor devotado aos beatniks e à Erva do Diabo, de Carlos Castañeda. (Li HQs, sofregamente, na infância e juventude, adoro Hal Foster - um superdesenhista -, tenho um bocado de coleções de clássicos do gênero, mas, na boa... eu cresci; ah, tá, gosto de alguns beatniks pacas, como Burroughs).
A Rede Social é um filme sobre business, uma velha tradição do cinema americano, que também tratou disso na literatura com vigor. Sem o mesmo charme de personagens como Tucker,de Francis Ford Coppola, ou Sammy, de O que faz Sammy Correr?, de Budd Schulberg, o criador do Facebook mostrado pelo filme tem a mesma obsessão por fama, inovação e dinheiro que qualquer inovador que se lança no mundo dos negócios. A diferença é que esses meninos são muito jovens e, à diferença de Howard Hughes, não eram os homens mais ricos do mundo na adolescência porque ganharam uma baita herança. O filme é muito bem resolvido, com um início em ritmo acelerado - tinha que se mostrar moderninho, para tratar do raciocínio veloz de um geniozinho -, mas depois cai num andamento tradicional para provar que os canalhas já nascem sem caráter.
O Discurso do Rei vem na medida para premiar seu (ótimos) elenco. O rei que precisa se livrar dos traumas de infância e da criação esnobe, graças à interferência de um súdito anticonvencional, australiano, sem estirpe ou formação tradicional... e ... não parece aqueles filmes de adolescentes americanas que liberam as inglesinhas caretas dos internatos britânicos? Ou Harry Potter, que rompe com as tradições ao enfrentar inimigos sem temer as consequências? O filme é bom, os atores, ótimos. E só.
E então, os irmãos Coen se arriscar a recontar uma história de cowboy. Para evitar comparações com a montagem anterior, de Henry Hathaway, abriram o livro de Charles Portis e saíram filmando. O produto é simpático, divertido, bem realizado. Nada que eles não tenham feito antes.
E, por fim, o grandioso Cisne Negro, com seus delírios oníricos na medida para a intérprete ganhar o Oscar. Angústia, inveja, busca da perfeição, mãe biruta e castradora, filha maluca e obsessiva, câmera correndo junto ao pescoço da protagonista, pontuando seu tormento, seus temores. Previsível, moralista, junção de clichês... Bem, mas eu fui a única pessoa a ver isso no filme, que arrebata admiradores ardorosos (inclusive os que acreditam que ali está retratada a psiquê feminina ... li isso de uma mulher; desculpem, minha mente é mais madura do que aquela pobreza infantiloide)ou detratores que o odiaram pelo tédio. Até que me diverti durante a projeção, já que estava bem acompanhada de um amigo que fez piada o filme inteiro. Mas achei uma bobeira só.

E encerro aqui os desabafos de alguém à procura de novas linguagens. Ou de apenas uma boa história bem contada (algo que, convenhamos, pelo menos três dos filmes acima, conseguem)

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