30.9.11

Neoburgueses

Existe uma estética convencionada como "anti-establishment" mais careta do que qualquer rococó burguês. É a ela que provavelmente prestou tributo o show de uma cantora (?) que eu tive a felicidade de desconhecer até ontem, 29 de setembro, quando esperava a apresentação do Stevie Wonder no Rock in Rio pela TV. À parte ouvir as bobagens proferidas por ex-VJs bonitas e mal-informadas, além das intervenções inexpressivas de Beto Lee, e algumas tentativas bem-sucedidas de fazer graça de Fernando Caruso (o treinamento de ator conta muito em televisão. Aquilo é espetáculo. Precisa de atores - ou, no mínimo, de quem tenha o famoso jogo de cintura-, não de moça bonita que é modelo e manequim antes de se tornar apresentadora), permaneci em frente a duas telinhas - a da TV e a do computador, onde dialoguei com amigos sobre as atrações.
O que me intriga realmente é o destaque dado a um péssimo aproveitamento de tempo, espaço, neurônios e inteligência que foi o show da tal Kesha. O que a moça fez? Rebolou no palco, cercada por dançarinos mal vestidos como ela, de cabelos desgrenhados, cantando algo feio numa confusão de fumaça e luzes. As músicas pareciam todas iguais - tudo bem, as do Jamiroquai também parecem iguais, mas o cara tem voz bonita, não usa sintetizador e não tem um bailarino fingindo que se masturba em cena. Ah, ela também bebeu "sangue" de um "coração" - algo que o Gene Simmons já fez, um pastiche dos morceguinhos comidos pelo Ozzy Osborne. Qualidade musical? Ah, pra quê, né?
Enfim, isso deve vender horrores. Um horror que vende horrores.
Se há 30, 40 anos ser maldito era mais eficiente que prender melancia no pescoço, hoje é apenas uma forma de ganhar muito dinheiro.
Então, tá, né? Nada de ideologia, apenas o vil metal - que ninguém despreza, nem os malditos.

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