Há 22 horas e 59 minutos
Aqueles dias todos escuros
A lembrança mais antiga da jornalista Cristina Chacel relacionada
aos tempos de regime militar é a de ver seus pais queimando livros,
"provavelmente de conteúdo classificado como subversivo pela repressão,
logo após a decretação do Ato Institucional nº 5, em 1968". Pouco
depois, a família foi viver na casa de seu primo, o crítico de arte
Mário Pedrosa, então exilado no Chile. Se alguém perguntasse por
Pedrosa, Cristina seguia à risca a recomendação de informar que ele
estava viajando e que não sabia quando retornaria.
"Ninguém explicava por que tínhamos de agir assim. Viver aos cochichos era comum durante a ditadura", afirma Cristina, autora de "Seu Amigo Esteve Aqui" (Zahar, R$ 42), a biografia de Carlos Alberto Soares de Freitas. Conhecido como Beto, Freitas, dirigente da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), um dos grupos que lutaram contra o governo militar, desapareceu em 1971.
Entre outros militantes ligados a Freitas estava a então estudante Dilma Roussef, que mencionou Freitas em seu primeiro discurso como candidata do PT à Presidência da República. Em 2009, ainda como chefe da Casa Civil, Dilma recebeu Cristina, para falar sobre o amigo, figura influente na sua formação política.
"Ela ficou muito emocionada ao conversar comigo, demonstrando que eram realmente muito próximos. Os amigos, parentes e ex-companheiros deram depoimentos comoventes sobre Beto. São pessoas muito marcadas pelo período de militância, quando, por norma de segurança, pouco sabiam sobre a vida dos outros. Isso ficou para a vida toda deles, tanto a discrição em torno dos assuntos pessoais quanto a confiança nesse grupo que não se dissipa, que está unido para sempre", diz Cristina.
Convidada por amigos e companheiros de militância de Freitas para escrever o texto, em 2009, Cristina sabia que não podia contar com registros oficiais sobre sua prisão ou morte, ocorrida, possivelmente, em maio de 1971, na chamada Casa da Morte - local de prisão de presos políticos -, na cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. O título do livro vem do comentário de um sargento do Exército para Inês Etienne Mourão, também presa na casa.
"Essa foi uma das poucas notícias sobre o destino de Beto, dada pelo sargento que, hoje, não fala sobre o assunto. É muito estranho para um jornalista não ouvir os dois lados de uma história, mas não sei quanto vale a palavra de um torturador. O governo militar nunca admitiu a prisão de Freitas, embora a União tenha concedido uma indenização a seus pais, em 2005, considerando que era um desaparecimento político", diz Cristina.
O projeto de pesquisa foi financiado com parte da indenização recebida por Sergio Campos, o último dos companheiros de militância a ver Freitas vivo. O livro conta a vida de Freitas desde a infância em Minas Gerais, passando pelo envolvimento com política, a imersão na clandestinidade, até o dia em que se despediu de Sergio Campos, ao saltar de um ônibus em Copacabana, no Rio. Também acompanharam a coleta de material e as entrevistas um primo de Freitas, Sergio Ferreira, e a jornalista Flavia Cavalcanti, outra ex-militante da VAR-Palmares. "Só eu assino o livro, mas este é um projeto de todos que se empenharam em relatar lembranças sobre o Beto, a fim de tirar do anonimato alguém duplamente desaparecido - da vida e da história. Este é um momento importante no resgate da história dos derrotados, em que a Comissão Nacional da Verdade busca levantar o sentido de um período em que os militares brasileiros não reconheceram os crimes hediondos que praticaram", diz Cristina.
"Ninguém explicava por que tínhamos de agir assim. Viver aos cochichos era comum durante a ditadura", afirma Cristina, autora de "Seu Amigo Esteve Aqui" (Zahar, R$ 42), a biografia de Carlos Alberto Soares de Freitas. Conhecido como Beto, Freitas, dirigente da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), um dos grupos que lutaram contra o governo militar, desapareceu em 1971.
Entre outros militantes ligados a Freitas estava a então estudante Dilma Roussef, que mencionou Freitas em seu primeiro discurso como candidata do PT à Presidência da República. Em 2009, ainda como chefe da Casa Civil, Dilma recebeu Cristina, para falar sobre o amigo, figura influente na sua formação política.
"Ela ficou muito emocionada ao conversar comigo, demonstrando que eram realmente muito próximos. Os amigos, parentes e ex-companheiros deram depoimentos comoventes sobre Beto. São pessoas muito marcadas pelo período de militância, quando, por norma de segurança, pouco sabiam sobre a vida dos outros. Isso ficou para a vida toda deles, tanto a discrição em torno dos assuntos pessoais quanto a confiança nesse grupo que não se dissipa, que está unido para sempre", diz Cristina.
Convidada por amigos e companheiros de militância de Freitas para escrever o texto, em 2009, Cristina sabia que não podia contar com registros oficiais sobre sua prisão ou morte, ocorrida, possivelmente, em maio de 1971, na chamada Casa da Morte - local de prisão de presos políticos -, na cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. O título do livro vem do comentário de um sargento do Exército para Inês Etienne Mourão, também presa na casa.
"Essa foi uma das poucas notícias sobre o destino de Beto, dada pelo sargento que, hoje, não fala sobre o assunto. É muito estranho para um jornalista não ouvir os dois lados de uma história, mas não sei quanto vale a palavra de um torturador. O governo militar nunca admitiu a prisão de Freitas, embora a União tenha concedido uma indenização a seus pais, em 2005, considerando que era um desaparecimento político", diz Cristina.
O projeto de pesquisa foi financiado com parte da indenização recebida por Sergio Campos, o último dos companheiros de militância a ver Freitas vivo. O livro conta a vida de Freitas desde a infância em Minas Gerais, passando pelo envolvimento com política, a imersão na clandestinidade, até o dia em que se despediu de Sergio Campos, ao saltar de um ônibus em Copacabana, no Rio. Também acompanharam a coleta de material e as entrevistas um primo de Freitas, Sergio Ferreira, e a jornalista Flavia Cavalcanti, outra ex-militante da VAR-Palmares. "Só eu assino o livro, mas este é um projeto de todos que se empenharam em relatar lembranças sobre o Beto, a fim de tirar do anonimato alguém duplamente desaparecido - da vida e da história. Este é um momento importante no resgate da história dos derrotados, em que a Comissão Nacional da Verdade busca levantar o sentido de um período em que os militares brasileiros não reconheceram os crimes hediondos que praticaram", diz Cristina.
2 comentários:
Fui namorado de Cristina na juventude, ou "ficante", como se diz hoje em dia. Feliz em saber que se tornou uma mulher tão decidida, e que escreveu um livro.
Meeeesmo???? O lançamento do livro é na segunda, na Travessa do Leblon. Vamos? Beijo!
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