24.1.13

Envelheço na cidade

Ouço a cantora Andreia Dias, de voz suave, fazendo MPB de boa qualidade, ou seja, não comercial, não explosiva, mas respeitável dentro do chamado circuito alternativo musical da atualidade. Originalidade não há, não. Há cuidado na escolha dos instrumentistas e no tom blasé característico dessa geração de intérpretes pós Marisa Monte, de boa técnica vocal e nenhuma emoção. Isso fica para as antigas cantoras de vozeirão, herdeiras de Alcione, como a tecnobrega Gaby Amarantos. 
Um dos principais sintomas do envelhecimento, acho, é a falta de curiosidade em relação à nova produção artística em geral. No meu caso, está praticamente restrito à música. Ainda busco novidades em cinema, teatro e literatura. Artes plásticas, bem, esta virou uma intrincada colagem de conceitualismos misturados à física, com algumas experiências bastante interessantes. Poucos são os artistas que insistem em trabalhos que privilegiam a estética, sem um discurso elaborado por trás. No teatro, também há o que dê certo em tanta experimentação, embora o tédio seja quase sempre a tônica dos espetáculos. Cinema tem seguido o ritmo ditado pelos videoclipes. Nenhum take pode se estender por mais que seis segundos. Mas ainda há bons narradores que desafiam a estética tradicional, entre eles o Tarantino. E muito cinema chato também. Literatura, ah, tem a chatérrima, pretensiosa pacas e o entretenimento puro e simples, sem qualquer preocupação com densidade de personagens (e muito retorno comercial), além do experimentalismo aloprado e da incorporação de produtos da indústria cultural, como as histórias em quadrinho, ao panteão das obras artísticas (mas, fora criações novas, como O Gosto do Cloro e O Paraíso de Zahra, tenho visto pouca coisa que demonstre força literária).
A cultura jovem - cada vez mais produzida por gente madura, acima dos 30 anos, mas com postura e visual desalinhado de quem não chegou aos 20 - perdeu um pouco da alegria que caracterizava a juventude. Fora as bobices adolescentes, gente moça que produz cultura tem que armar um olhar aristocrático até quando canta marchinha. Brejeirice é estudada. Falta um pouco de espontaneidade, com honrosas exceções. O artificialismo talvez seja componente importante num mundo em que tudo é observado. Há que se proteger a imagem. Excessos ficam para os artistas populares ou para quem se exibe no Big Brother. Ah, claro, também é reservada aos roqueiros que insistem em manter o comportamento desvairado de Rolling Stones setentões. 
É típico do velho criticar o jovem. Antes se reclamava do jovem que desconstruía a estética. Hoje, além do desmazelo no vestir, qual é a desconstrução? Existe mais uma redescoberta da pólvora, como se fosse original, sem a impetuosidade dos Novos Baianos gravando Assis Valente. 
O chato de envelhecer é que parece que só surgem novidades no campo tecnológico. Os jovens, bem, esses continuam lindos e, felizmente, com a capacidade de se deslumbrarem com o que surge. Ainda bem. 



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