25.2.13

A noite do lamê - Oscar 2013


Com brilho mais intenso nas roupas do que nas tiradas  mais grosseiras do que irônicas do bestalhão Seth MacFarlane, o Oscar 2013 teve como melhor momento o trumbicão de Jennifer Lawrence. Seria uma metáfora para a queda livre de um espetáculo enfadonho numa noite tão chata e previsível? O ponto alto musical foi um pavoroso ato de amor à Brodway, ancorado em Catherine Zeta-Jones se esgoelando em All that jazz, passando pelos guinchos de Jennifer Hudson e culminando com o elenco dos Miseráveis entoando aquelas canções melodramáticas. Realmente, uma festa bem apropriada para uma instituição de 85 anos, que não consegue encontrar um caminho para renovar-se. Lembrar o cinquentenário de 007 com Shirley Bassey desafinando Goldfinger foi uma tremenda maldade com a diva. Custava terem chamado os atores que encarnaram James Bond e jogado um Aston Martin - ou cinco deles - no palco? 

O bonitinho - mas ordinário - MacFarlane foi deselegante sempre que possível. Uma das constrangedoras gracinhas mencionava a quantidade de atrizes presentes cujos seios foram mostrados no cinema. Soltou o vozeirão em canções conhecidas ou não, fazendo piadas sem qualquer refinamento, como um sub-Ricky Gervais - sem o charme ou a ironia do britânico.

Fora a injustiça de Emanuelle Riva ter sido absolutamente desprezada pela Academia, assim como  Spielberg, mais uma vez esnobado, o tombo da Lawrence e o Oscar de direção para o Ang Lee (que é uma gracinha, muito docinho, não?) trouxeram alguma novidade para a festinha mais careta dos últimos tempos. 

Até no quesito figurinos tudo ficou muito parecido. A mulherada se envolveu em lamê, daqueles que se compra na Casa Turuna pro carnaval carioca. Um desânimo total a ser conferido nas fotos abaixo.




Provavelmente o vestido mais mal planejado da noite foi o da Melissa McCarthy, que prima pela péssima escolha de modelos. Tá, ela é gorda. Mas não dava para inventarem alguma coisa menos horrorosa do que essa ode à Roma Antiga com bordados nas mangas e uma inexplicável fenda da qual surge um tecido negro (com brilhinhos, claro?). Procura o costureiro da Kathy Bates, Melissa. Veste uma túnica e calça comprida, que dá uma alongada na figura. Você está em Hollywood, mulher, não no interior do Estado do Rio!!!



Para provar que o problema não é excesso de peso, mas de corte e costura mesmo, Queen Latifah estava perfeita, de branco (que "engorda" pacas). Tudo bem que ela é alta como a Charlize Theron, em quem tudo,  aparentemente, cai bem, incluindo o corte joãozinho de cabelos. 




A categoria noiva de Drácula, desta vez, teve uma representante de peso: a vencedora do Framboesa de Ouro 2013,  Kristin Stewart, agraciada por suas sensíveis interpretações no último filme da série Crepúsculo e em Branca de Neve e o Caçador, no qual, aparentemente, além dos figurinos, só Charlize Theron se salvava. A sempre inexpressiva Kristin surgiu de muletas no tapete vermelho, pois sofreu um corte profundo no calcanhar. Depois, mancou pra baixo e pra cima. 






O vestidinho de noiva gótica da Stewart tinha um bocado de tecido vaporoso, outro must da noite. Jennifer Garner também tinha uma cauda repolhuda que acompanhava o vestido cor de vinho. 




No quesito cortinado de babados, Amy Adams vestiu o cinzentinho básico de princesinha. Ficou uma graça. Atrapalhada, mas uma graça. 




O vestido de Sally Field era indescritível. Tinha cauda longa, babados, plissados, era fechado, era vermelho, era, inacreditavelmente, um Valentino! 


A mulherada decidiu atacar de Valentino rubro mesmo.  Hillary Swank tinha um modelo até parecido com o da Sally Fields. Poderiam participar da mesma quadrilha de festa caipira.



Já Jennifer Aniston escolheu um modelo bem mais sofisticado, combinando com seu jeitinho Wanderléa de ser - aquelas coroas que não aparentam a idade graças a um arsenal cosmético-cirúrgico cujos custos ultrapassam o PIB de algumas nações africanas.


Indefinível também era o que cobria a bela Olivia Munn. Era um maiô com uma canga de tafetá? Como isso foi costurado no corpo? Como entrar nessas vestes? Qual é o conceito do figurino? Sim, porque uma roupa dessas só se justifica com um conceito artístico-histórico-sociológico. Algo que um carnavalesco definiria como "a chegada da mulher ao poder na corte de Napoleão pela imagem de Josefina, a supressão da função biológica da maternidade pelo avanço nos postos de governo, a ascensão das super-heroínas de histórias-em-quadrinhos no universo dominado por machistas decadentes e a culminância na incorporação de Santa Bárbara, Iansã, no carnaval carioca". 




Ainda no vermelho, a bela Kerry Washington, com brilho no top.


Mais ouro no colo, veludo azul no corpo, Salma Hayek foi malhada pelos estilistas de plantão. Eu já acho que com o rosto dela, tudo cai bem.



Reese Whiterspoon vestiu azul. Não deu tão certo quanto o da Helen Hunt.







Azulzinho petróleo básico foi a escolha da filha de Jamie Fox, que preferiu vestir-se mal mesmo...


... sem chegar ao requinte do paletó de veludo vermelho com calça marrom de Samuel L. Jackson (por quê?), com os outros "Vingadores", ao lado do diretor de fotografia do filme, o chileno Claudio Miranda, que homenageou Gandalf.



É claro que no quesito desalinho ninguém pode ousar chegar aos pés de Helena Boham-Carter e Tim Burton. Até que ela caprichou em algo mais vaporoso, menos gótico, a saia branca quebrando o rigor do corpo negro do vestido... Os cabelos, como sempre, no estilo "Vim de moto". E estrelinhas no cabelo dela.



Concorrente forte no estilo "Não ligo pra prêmio nem pra roupa", Robert de Niro estava tão fora do ar quanto Jack Nicolson...


... que acordou - e tirou os óculos escuros - para anunciar o melhor filme do ano....



... junto com Michelle Obama, que também andou pela Casa Turuna para comprar o paninho de lamê de seu vestido. A franjinha compôs o modelo retrô.




Nicole Kidman foi de mulher aquática. Seu vestido parecia feito de escamas de peixes, terminando com mais lamê douradinho - provavelmente uma homenagem à Grande Barreira de Coral australiana.




Meryl Streep, que encarnou a Dama de Ferro, também escolheu um lamê azulado.



Jennifer Hudson se soltou no azul metálico e no perucão liso.


 Naomi Watts, também cinzenta, desafiando as leis da física com esta estranha composição de roupas.



Barbra Streisand toda trabalhada no preto e dourado, homenagem a Marvim Hamlish e à São Clemente. 


Também no dourado, sempre bela e vaporosa, Catherine Zeta-Jones.



Renée Zelwegger, de cetim brilhante, bem anos 1920.



Halle Berry era brilho só.



Jane Fonda, um perigo em amarelo.


Antes do tombo, Jennifer Lawrence, com o colar jogado nas costas, era uma das princesas da noite...



... como a gracinha Amanda Seyfried ....



... e Zoe Saldana.




Jessica Chastain tinha um vestido quase na cor exata de sua pele.







Anne Hathaway, que, segundo Rubens Ewald Filho, deveria agradecer o Oscar à Susan Boyle, por popularizar a canção que ela canta nos Miseráveis, teve o avental, isto é, vestido  mais comentado da noite. Deixava  os seios em, digamos assim, evidência. E era um avental. Mesmo.


Vexame sob o olhar de 1 bilhão de pessoas?



Mandinga poderosa de Mme Emanuelle Riva!


Uma qualidade Seth MacFarlane tem: sabe prever o futuro.

2 comentários:

marcia1907 disse...

Adoro seus comentários ferinos. E sei que você vai me esganar, mas tenho que confessar: eu gostei da cerimônia...rs

Alexandre Santos disse...

Olga, me diverti horrores com este post, ainda que eu tenha gostado da cerimônia e da maioria das roupas. Morro de rir.