Com brilho mais intenso nas roupas do que nas tiradas mais grosseiras do que irônicas do bestalhão Seth MacFarlane, o Oscar 2013 teve como melhor momento o trumbicão de Jennifer Lawrence. Seria uma metáfora para a queda livre de um espetáculo enfadonho numa noite tão chata e previsível? O ponto alto musical foi um pavoroso ato de amor à Brodway, ancorado em Catherine Zeta-Jones se esgoelando em All that jazz, passando pelos guinchos de Jennifer Hudson e culminando com o elenco dos Miseráveis entoando aquelas canções melodramáticas. Realmente, uma festa bem apropriada para uma instituição de 85 anos, que não consegue encontrar um caminho para renovar-se. Lembrar o cinquentenário de 007 com Shirley Bassey desafinando Goldfinger foi uma tremenda maldade com a diva. Custava terem chamado os atores que encarnaram James Bond e jogado um Aston Martin - ou cinco deles - no palco?
O bonitinho - mas ordinário - MacFarlane foi deselegante sempre que possível. Uma das constrangedoras gracinhas mencionava a quantidade de atrizes presentes cujos seios foram mostrados no cinema. Soltou o vozeirão em canções conhecidas ou não, fazendo piadas sem qualquer refinamento, como um sub-Ricky Gervais - sem o charme ou a ironia do britânico.
Fora a injustiça de Emanuelle Riva ter sido absolutamente desprezada pela Academia, assim como Spielberg, mais uma vez esnobado, o tombo da Lawrence e o Oscar de direção para o Ang Lee (que é uma gracinha, muito docinho, não?) trouxeram alguma novidade para a festinha mais careta dos últimos tempos.
Até no quesito figurinos tudo ficou muito parecido. A mulherada se envolveu em lamê, daqueles que se compra na Casa Turuna pro carnaval carioca. Um desânimo total a ser conferido nas fotos abaixo.
Provavelmente o vestido mais mal planejado da noite foi o da Melissa McCarthy, que prima pela péssima escolha de modelos. Tá, ela é gorda. Mas não dava para inventarem alguma coisa menos horrorosa do que essa ode à Roma Antiga com bordados nas mangas e uma inexplicável fenda da qual surge um tecido negro (com brilhinhos, claro?). Procura o costureiro da Kathy Bates, Melissa. Veste uma túnica e calça comprida, que dá uma alongada na figura. Você está em Hollywood, mulher, não no interior do Estado do Rio!!!
Para provar que o problema não é excesso de peso, mas de corte e costura mesmo, Queen Latifah estava perfeita, de branco (que "engorda" pacas). Tudo bem que ela é alta como a Charlize Theron, em quem tudo, aparentemente, cai bem, incluindo o corte joãozinho de cabelos.
A categoria noiva de Drácula, desta vez, teve uma representante de peso: a vencedora do Framboesa de Ouro 2013, Kristin Stewart, agraciada por suas sensíveis interpretações no último filme da série Crepúsculo e em Branca de Neve e o Caçador, no qual, aparentemente, além dos figurinos, só Charlize Theron se salvava. A sempre inexpressiva Kristin surgiu de muletas no tapete vermelho, pois sofreu um corte profundo no calcanhar. Depois, mancou pra baixo e pra cima.
O vestidinho de noiva gótica da Stewart tinha um bocado de tecido vaporoso, outro must da noite. Jennifer Garner também tinha uma cauda repolhuda que acompanhava o vestido cor de vinho.
No quesito cortinado de babados, Amy Adams vestiu o cinzentinho básico de princesinha. Ficou uma graça. Atrapalhada, mas uma graça.
O vestido de Sally Field era indescritível. Tinha cauda longa, babados, plissados, era fechado, era vermelho, era, inacreditavelmente, um Valentino!
A mulherada decidiu atacar de Valentino rubro mesmo. Hillary Swank tinha um modelo até parecido com o da Sally Fields. Poderiam participar da mesma quadrilha de festa caipira.
Já Jennifer Aniston escolheu um modelo bem mais sofisticado, combinando com seu jeitinho Wanderléa de ser - aquelas coroas que não aparentam a idade graças a um arsenal cosmético-cirúrgico cujos custos ultrapassam o PIB de algumas nações africanas.
Indefinível também era o que cobria a bela Olivia Munn. Era um maiô com uma canga de tafetá? Como isso foi costurado no corpo? Como entrar nessas vestes? Qual é o conceito do figurino? Sim, porque uma roupa dessas só se justifica com um conceito artístico-histórico-sociológico. Algo que um carnavalesco definiria como "a chegada da mulher ao poder na corte de Napoleão pela imagem de Josefina, a supressão da função biológica da maternidade pelo avanço nos postos de governo, a ascensão das super-heroínas de histórias-em-quadrinhos no universo dominado por machistas decadentes e a culminância na incorporação de Santa Bárbara, Iansã, no carnaval carioca".
Ainda no vermelho, a bela Kerry Washington, com brilho no top.
Mais ouro no colo, veludo azul no corpo, Salma Hayek foi malhada pelos estilistas de plantão. Eu já acho que com o rosto dela, tudo cai bem.
Reese Whiterspoon vestiu azul. Não deu tão certo quanto o da Helen Hunt.
Azulzinho petróleo básico foi a escolha da filha de Jamie Fox, que preferiu vestir-se mal mesmo...
É claro que no quesito desalinho ninguém pode ousar chegar aos pés de Helena Boham-Carter e Tim Burton. Até que ela caprichou em algo mais vaporoso, menos gótico, a saia branca quebrando o rigor do corpo negro do vestido... Os cabelos, como sempre, no estilo "Vim de moto". E estrelinhas no cabelo dela.
Concorrente forte no estilo "Não ligo pra prêmio nem pra roupa", Robert de Niro estava tão fora do ar quanto Jack Nicolson...
... que acordou - e tirou os óculos escuros - para anunciar o melhor filme do ano....
... junto com Michelle Obama, que também andou pela Casa Turuna para comprar o paninho de lamê de seu vestido. A franjinha compôs o modelo retrô.
Nicole Kidman foi de mulher aquática. Seu vestido parecia feito de escamas de peixes, terminando com mais lamê douradinho - provavelmente uma homenagem à Grande Barreira de Coral australiana.
Meryl Streep, que encarnou a Dama de Ferro, também escolheu um lamê azulado.
Jennifer Hudson se soltou no azul metálico e no perucão liso.
Naomi Watts, também cinzenta, desafiando as leis da física com esta estranha composição de roupas.
Barbra Streisand toda trabalhada no preto e dourado, homenagem a Marvim Hamlish e à São Clemente.
Também no dourado, sempre bela e vaporosa, Catherine Zeta-Jones.
Renée Zelwegger, de cetim brilhante, bem anos 1920.
Halle Berry era brilho só.
Jane Fonda, um perigo em amarelo.
Antes do tombo, Jennifer Lawrence, com o colar jogado nas costas, era uma das princesas da noite...
... como a gracinha Amanda Seyfried ....
Vexame sob o olhar de 1 bilhão de pessoas?
Uma qualidade Seth MacFarlane tem: sabe prever o futuro.
2 comentários:
Adoro seus comentários ferinos. E sei que você vai me esganar, mas tenho que confessar: eu gostei da cerimônia...rs
Olga, me diverti horrores com este post, ainda que eu tenha gostado da cerimônia e da maioria das roupas. Morro de rir.
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