Já tive uma relação melhor com o
trabalho. Eu era jovem, o trabalho servia para pagar contas e o lazer. Era uma
época em que ainda recebia educação financeira: parte do salário ficava
guardado em poupança; o restante saldava (então) poucas contas, despesas com o
carro, crediários (era assim, não havia tanto cartão de crédito em mãos
imaturas) de livros, roupas e viagens. O trabalho era algo que consumia religiosamente
23 dias ao mês, às vezes um pouco mais, por causa dos feriados, sete horas
diárias contratuais que sempre se estendiam por tempos jamais contados
financeiramente, mas, raramente, contabilizados em folgas futuras.
Saía do jornal e a vida era
minha. Não fazia frilas, não levava trabalho para casa. Trinta anos depois, a
casa virou part-time office, complementando uma renda fixa insuficiente para
cobrir a vida. Penso em trabalho diariamente, inclusive nas férias, quando,
avidamente, procuro frilas que permitirão arcar com despesas de medicamentos,
agora indispensáveis para a sobrevivência de um corpo cansado.
O trabalho se incrustou em meu
cerebelo e me ocupa mais do que a família. Sempre que adoeço, folgo do mundo.
Durmo, descanso e espero sobreviver a mais um deslize que o organismo. Lazer
virou sinônimo de guardar forças para aguentar a labuta. Será que eu me curo?
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