29.4.15

Reflexões em tempos de esvaziamento de ninho.

Casa é uma construção diária. Casa precisa contar a história de quem vive nela.

Amo o programa "Morar", sucessor do "Casa Brasileira", ambos do Alberto Renault, que passam no GNT. Claro que lá só entram belas casas impecáveis. Também adoro o o site The Selby, do fotógrafo e ilustrador novaiorquino Todd Selby, que, em 2008, começou a publicar imagens das casas de seus amigos.  Neste estão aqueles lares com jeito de habitados, desarrumadinhos.

Gosto dessas fotos de casas desmazeladas. Cresci em ambientes muito organizados, a regra dos lares na minha infância. Mas com as mudanças sociais brasileiras - leia-se: o escravagismo acabou e as empregadas domésticas cobram caro por seus serviços - , cada vez mais, as casas brasileiras perderam aqueles ares revista de decoração.

Hoje, olho minha sala eternamente fora de ordem, entupida de livros despencando pelas prateleiras, sofás arrebentados pelas garras dos gatos, mantas esquecidas por quem assistiu a filme até tarde, bolsas de compras jogadas sobre algum móvel, plantas invadindo todos os espaços possíveis. Muita informação, como já disse um amigo querido, arquiteto de interiores requintadíssimo. Estilo boêmio-romântico, classificou outra amiga. Eu fico feliz com as duas definições - a bagunça nossa de cada dia mesclada com toques que não seguem regras rígidas, mas que fizeram da casa um abrigo, uma toca, um canto de acolhida, pronto a receber gente e vida.

O ninho se esvazia preguiçosamente. Abre espaço para mais festas, mais reuniões e o recebimento de novos visitantes-integrantes.



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