3.3.05

Banheiro Feminino

Existe no mundo algum lugar mais constrangedor que banheiro público ou da empresa ?
É o local aonde qualquer lady se revela capaz de emitir sons esclarecedores sobre os odores fétidos que empesteiam o ambiente. Os banheiros coletivos femininos têm uma estranha categoria de freqüentadoras - as taradas do WC, mulheres que estendem sua permanência na área de forma a identificar cada responsável por aquela produção específica. Não apenas lavam mãos, escovam dentes e cabelos lentamente, mas retocam maquiagem com capricho de noiva casadoira ou se detêm admirando por tempo acima do suportável as sempre presentes mercadorias à venda no mercadão que é qualquer banheiro feminino.

As taradas de banheiro certamente não dispõem de olfato algum, pois resistem por tempo indefinido dentro de um antro úmido, extremamente iluminado e com perfeita acústica para a reprodução de cada suspiro exalado nos compartimentos privativos. A imensa maioria dessas mulheres tem entre 30 e 55 anos. Os cabelos são entre médio e comprido, alisados progressivamente ou mantidos umedecidos com muito gel, quando crespos. São facilmente reconhecíveis pela desenvoltura com que circulam no banheiro, igual a malhadoras que, depois de uma sessão de musculação, banham-se e desfilam peladas pelo vestiário da academia de ginástica.

A tarada de banheiro adentra em seu ambiente preferido acompanhada por uma necessaire quase do tamanho de uma bolsa de sacoleira. Na necessaire cabem mais apetrechos que ferramentas nas maletas de eletricistas. Há de tudo: todos os tipos de absorvente, batons, blushes, bases, esmaltes e acetona, algodão, lápis de olho, sombras (coloridas, claro), demaquilante, lenço de papel, corretivo e tudo o que a maioria dos homens tem a sorte de poder desconhecer, mas que os meninos do Queer Eye For the Straight Guy acham indispensável para a sobrevivência social do ser humano. Naturalmente, a necessaire também abriga escova de dentes, pasta e fio dental, pois o grande trunfo da tarada de banheiro média é o desvelo com a higiene bucal. Enquanto opina a respeito da calcinha ou da bijouteria exposta pela vendedora, ela enche a boca de espuma, sem o menor constrangimento. Depois de escovados os dentes e listerinados, é o momento glorioso de passar o fio dental caprichosa e lentamente, trocando olhares com o espelho, ouvindo atentamente os comentários das outras possíveis compradoras das mercadorias. Vinte minutos mais tarde, ela está de cara nova, maquiada, cabelos (geralmente de médio para longo, alisados ou molhados, quando crespos) escovados, pronta para voltar ao trabalho. É quando decide experimentar a lingerie à venda. Mais vinte minutos de banheiro garantidos.

O pior dos banheiros, talvez, é que neles a gente sempre pode esperar que haja alguém secretamente nos observando com uma câmera escondida. Tem maluco pra tudo neste mundo... Ou que um serial killer vá surgir por cima de uma divisória e nos matar barbaramente. Quem viu Brian de Palma sabe que existe tal possibilidade. Banheiro vazio é igual a garagem deserta em filme americano. Sempre vai dar merda. Por isso, melhor é esquecer do olfato e constrangimento que a presença das taradas do banheiro nos causam. No mínimo, elas são a segurança dos fóbicos.

1° clichê – 05/11/2004
2° clichê – 11/03/2005

Nenhum comentário: