28.4.05

Sugestão de mudança legislativa





O dia começa e eu já estou devendo tempo. Sei que a hora é um conceito, uma criação humana, um instrumento estabelecido para facilitar a vida. O problema é lidar com o establishment como um todo.
Se o capitalismo criou o cheque especial para aumentar nossas condições de endividamento, poderia ter inventado um vale-horário, do qual eu seria uma eterna devedora. O dia se estenderia por algo em torno de umas 36 horas, por exemplo. As 24 horas atuais fogem de mim, exceto quando estou no cárcere coletivo que é o escritório.
Pensando bem - se passamos em média 16 horas acordados e levamos de nove delas a serviço do capital, mais umas duas em trânsito, quanto nos sobra de tempo útil? Três horas que nunca rendem o suficiente para namorar, ler, ir ao botequim, ir ao cinema, dar uma flanada pela livraria, ver televisão, dar uma olhada no jornal, lanchar, verificar o estudo dos filhos, verificar as roupas dos filhos, conversar com a família, telefonar para os amigos, telefonar para a tia idosa que está doente, visitar os parentes que não saem de casa por nada neste mundo, escrever, levar o passarinho ao veterinário, aproveitar para vacinar as gatas e, o mais glorioso fim de jornada: fazer supermercado.
Ampliar a carga horária do dia é uma necessidade imediata do povo das metrópoles.

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