2.4.09

Che




Quem está atuando?

Fui pensar nos 45 anos da Redentora, como dizia Stanislaw Ponte Preta, assistindo a Che. Ou será que estava assistindo a Benicio? O problema desses atores tão grandes quanto os personagens que eles protagonizam é que a gente não consegue dissociar a figura histórica do artista. Ficou assim com Jamie Foxx e Ray, com Cate Blanchett como Katherine Hepburn e Sean Penn como Harvey Milk. Tá, Phillip Seymour Hoffman não virou mais Truman Capote, mas Capote virou um pouco o Seymour Hoffman na imaginação da gente. Ou o Chaplin, que hoje me vem à cabeça como Robert Downey Jr.
E Benicio Del Toro é um Che grandioso, enorme, algo que Gael Garcia Bernal não fez nos Diários de Motocicleta, aquela delícia poética. O Che de Soderberg é determinado, vigoroso e modesto, a antítese da prepotência, apesar do tamanhão. O olhar é um pouco mais doce do que o do Che real, que parecia mais mascarado. Determina a morte de dois desertores bandidões com dor no coração. Aceita medalhinhas de Nossa Senhora dos moradores das cidades por onde passa, divide a vitória nas lutas com os comandados. Paga geral para um subordinado que, a caminho de Havana, se apropria de um carro abandonado. "Ninguém vai roubar propriedade alheia", vocifera.
Um exemplo, um herói. Provavelmente, o Che real tinha mais defeitos, mais arrogância do que compreensão com a ignorância do povo. O único traço politicamente incorreto para os tempos atuais seria chamar de maricons quem decide abandonar a luta.
A semelhança física entre os dois é mais que vista, é percebida pela intensidade da atuação. Che talvez fosse mais bonito, mas Del Toro tem um porte perfeito para encarnar o revolucionário que arrebata multidões - ainda que o sobrepeso ameace perigosamente seus ainda good looks. E Che, provavelmente, também interpretava o que falava a cada discurso na ONU, desconcertando, com seu tremendo charme e respostas inesperadas, jornalistas que lhe perguntavam o que move um guerrilheiro. ("Amor", foi a resposta.)
Agora, é esperar pela segunda parte do show. História? Sim, tem. O som dos tiros é bem real, a trilha sonora é horrível, a fotografia, linda. Mas tudo fica pequenino diante do imenso Che de Sorderberg e, principalmente, de Benicio del Toro.

Um elenco com diferentes sotaques: o venzuelano Santiago Cabrera, o brasileiro Rodrigo Santoro, o porto-riquenho Benicio Del Toro e o mexicano Demian Bichir.

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