16.9.10

Sobre blogs e narcisos


Ando tão desmobilizada para escrever blog...

E há algum tempo eu escrevi o texto abaixo, que era exatamente sobre a auto-exposição excessiva de alguns blogueiros. Mas aí, na hora de publicar, como ele andava guardado nos rascunhos, saiu na data de seu "salvamento". Coisas de computadores. Bem, então, repostei aqui, porque blog é isso, uma gaveta de guardados próprios.

Voltando à questão de hoje.

De um momento pra outro, o blog me pareceu mais narcisista do que convém a alguém que não é exatamente uma cultuadora do próprio ego.

Blogar, pra mim, foi a continuidade de um exercício desenvolvido há anos, de registrar acontecimentos, de expressar pensamentos. A expressão pública das próprias sensações - que tanto sou obrigada a combater e a evitar, profissionalmente - me fez bem. No entanto, tentei me preservar pessoalmente, quis manter uma observação da cidade que acabou se perdendo ao longo dos últimos anos.

E à medida em que surgiram mais e mais ocupações profissionais, fui deixando o blog de lado. Não quero decretar minha aposentadoria como blogueira, embora eu não seja daquelas cronistas que farão falta a uma multidão de leitores.

Mas preciso justificar este afastamento, nem que seja para a meia dúzia que vez por outra baixa por aqui.

Uma gratíssima surpresa foi descobrir que uma pessoa a quem recentemente conheci já havia caminhado por estas areias.

Blog é meio estranho dentro do universo carioca. Isso porque a gente conhece a população da cidade inteira por aqui. É praticamente impossível sair à rua sem encontrar algum conhecido por acaso. Ir ao cinema ou ao teatro é quase sempre ter a certeza de esbarrar em alguém - exceto se for na Barra, claro, porque lá é outra cidade mesmo.

Mas leitor de blog não é quem vai à praia ou vive em boteco. São pessoas que têm o hábito de ler - e hoje a gente encontra mais escritores que leitores, é certo.

Por isso, minha imensa surpresa ao conhecer uma leitora.

Um momento de autor que encontra seu público, sabe?

Meus quinze minutos de fama já aconteceram...

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Acabei de iniciar e desistir da leitura de Destrinchando, de Julie Powell, a autora de Julie & Julia, em que ela contava de seu projeto de cozinhar todas as receitas de Julia Child durante um ano, algo que relatou em blog e, depois, rendeu-lhe o livro, que virou filme com Meryl Streep.
Bom, minha vida pra lá de pueril não rende nem artigo de revista feminina, sequer um filme independente com Hope Davis. Só que Ms Powell decidiu abrir seu coração nas páginas, da mesma maneira que a deslumbradíssima autora de Comer, Rezar, Amar. Elas são as escritoras do not-really-misery-books ou sei lá como serão classificados esses livros.
Dão de contar a vida desinteressante delas, entremeiam com descobertas pessoais importantíssimas e ... presto! Eis que surge um novo candidato a best seller.
Peguei o livro com a maior das boas vontades, apesar de haver achado Julie bem fraquinho.
Depois de ler mais de 100 páginas sobre os dilemas da moça que quer ser escritora e que decide aprender a retalhar carne em açougue para focar-se em um novo projeto, enquanto vive uma crise matrimonial séria, dividida entre o amor pelo marido e a paixão pelo amante, desisti.
O que me espanta não é a falta de consistência do livro, repleto de receitas, pois parece que a moça só subsiste enquanto ser humano e pessoa se houver um fogão com panelas fumegantes a enfrentar. O que me espanta é essa faceta despudorada dos tempos d'agora, de abrir sua vida ao mundo inteiro, numa exposição de problemas íntimos, sem qualquer tipo de contribuição à Humanidade. O que me parece é que esta moça decidiu brincar de maluquete, seguindo projetos insólitos - cozinhar 300 pratos franceses, dessossar boi - ligados, de certa maneira, ao ato de alimentar os outros. Mas o que está ficando bem nutrido mesmo é o ego dela.

O primeiro livrinho ainda dava pra ler. O segundo só alimenta o tédio.

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