Racionalmente, não acredito em inferno astral. Mesmo assim, é bom culpar algo ou alguém pelos dissabores da vida. Meu inferno astral é de longa antecipação - e não tem nada a ver com a obra. Ele se impõe, mais de um mês antes de meu aniversário. Convenhamos que a contagem de tempo na época dos babilônios, de Zoroastro e de quem seja lá que começou com essa história de convencionar a trajetória de cada um pelos astros, proavelmente tinha apenas leves semelhanças com a que fazemos na atualidade. As pessoas viviam menos, dizem. Eram menores, também dizem (e é só subir uma escada construída há 200 anos para perceber que todo mundo tinha pés de gueixa. Eu, que calço 39, sofro numa casa colonial barroca brasileira). E o tempo custava a passar porque não existia TV, Internet, celular, carro, avião, cartão de ponto, eletricidade, música sertaneja, alta costura ou filtro solar. As pessoas trabalhavam para subsistir e manter o fausto de uma família parasitária que se alternava no poder com outros parasitas que tentavam tirá-los de lá à força.
Bem, meu inferno astral deu as caras semana passada, quando a porta de vidro do forno do fogão estilhaçou toda. Claro que pode trocar, claro que é difícil achar reposição.
Hoje, o inferno astral marca presença no momento em que fui vestir uma calça que mandei apertar na costureira. Era para apertar a cintura e os quadris. Mas a costureira gosta de calça skinny. E apertou as pernas. Tudo bem que é aquele tecido strech, que alarga mesmo. Mas não há a menor condição de eu andar por aí desfilando igual às moças do funk. Não tenho idade, corpo ou vontade pra isso.
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Rolou uma crise na pintura, que chega ao seu 54º dia. As interrupções de seu Flávio, que só trabalha três dias por semana estendem a obra até sabe-se Deus lá quando. Em festa de família, comentei que ele deixava a casa imunda. Meu primo foi tomar satisfações com ele, que se disse magoadíssimo. Tanta mágoa que mal dormiu à noite. Quando ele começou a recitar a triste ladainha de que só pegara o serviço porque minha tia insistira, que tinha muitas coisas a fazer, eu logo atalhei: "Bom, vamos resolver essa situação, seu Flávio. Se o senhor está ofendido, pode fechar o dia de hoje. Eu lhe pago e tudo bem".Foi quando ele resolveu ficar, afirmando que não gosta de deixar serviço incompleto. Voltamos a ser cordiais e felizes.
Porque, na boa, mau humor em casa, basta o meu, né?
2 comentários:
Olga,
passei por aqui atrás de algumas informações sobre Mario Varga Llosa, gostei daqui!
Não vai te consolar, mas obra em casa com a gente dentro é a coisa mais punk que eu conheço, sorte!
abs
Jussara
Jussara, que bom que vc veio aqui! Eu já passei muito pelo seu excelente blog. No momento, meu desejo é ler muito Vargas Llosa para esquecer a saga da pintura que não se acaba lá em casa...
bj
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