22.1.16

Helena

Há quase vinte dias Helena nasceu na Amazônia. É longe. É caro pra chegar até lá. Não há alternativa de trajeto por terra. Há que se voar e parar em diversos cantos antes de chegar à Floresta. E é quente. Por isso só conhecerei Helena quando ela vier, com os pais, ao Rio.
Repito esse  mantra comprido todos os dias, sabendo que terei pouco convívio com Helena, que serei aquela avó que, de vez em quando, manda um presentinho. Vamos nos falar ao telefone, diremos que sentimos saudades uma da outra, mas nada acrescentarei à vida de Helena, o que talvez fosse diferente, caso morássemos na mesma cidade.
Tanto homens quanto mulheres, geralmente, demonstram uma felicidade abobalhada ao falarem sobre os netos, que não lhes "pertencem" como os filhos. Talvez eu esteja incomodada por pouco significar na vida de Helena, ou talvez tente me convencer de que ainda não terei a experiência de ser avó.
Minhas avós eram distantes - uma, geograficamente, viveu e morreu em Santa Catarina;  a outra, que eu visitava todas as semanas, e de quem herdei o nome, por uma impossibilidade pessoal de estabelecer relacionamentos com crianças, jamais me deu confiança para termos alguma intimidade.
Ainda me falta galgar o patamar de ser avó. Aos 55 anos, começo a perder o poder. A autoridade dentro da família já não existe. Meus filhos são adultos, embora dois ainda estejam sob meu teto.
Ninguém me preparou para os cabelos brancos. Nem para a menopausa, para a pele ressecada, o cabelo ralo. Ninguém me disse que seria avó tão cedo, também.
E como é que eu vou aprender a ser avó sem Helena a meu lado?
Uma de nós duas precisa se mudar. Mais fácil que seja Helena, com tanta vida pela frente. Eu quero ficar no meu cantinho, abrir um espaço pra ela, falar sobre São Sebastião do Rio de Janeiro, sobre uma bisavó que também nasceu na Amazônia, sobre muitos parentes espalhados pelo Brasil todo...

Helena tem tanto a me ensinar.

Um comentário:

Nádia Ferreira disse...

Lindo, Olga!!!!! Bjs