28.11.17

Sobre eles, que dão trabalho

Em época relativamente recente, pessoas sem filhos criticavam quem tinha crianças para criar, de como esses pais haviam se tornado desinteressantes desde que obrigados a cuidar de gente. Isso caiu de moda, porque muitos desses se tornaram pais. Agora, a tendência é mães de primeira viagem reclamarem do quanto a maternidade é cansativa - as mesmas lamentações que ouvi quando era menina, numa praia em Cabo Frio, de uma roda de mulheres, uns 40 e poucos anos atrás.
Ninguém está descobrindo a roda: crianças são chatas e trabalhosas, sim, educar é um sacerdócio, durante doze anos consecutivos temos de repetir para aquele povo tomar banho, escovar os dentes, comer de boca fechada, agradecer, cumprimentar, dar lugar para os mais velhos na condução. Um dia, eles fazem tudo isso sozinhos.
A intolerância pública, no entanto, ressurge, exuberante, imatura, sempre que tem chance. Ela é filha dileta de quem caiu no conto da família de anúncio de margarina, acreditando na importância de decorar um quarto de bebê, de equipar a vida com eletrônicos como se eles suprissem as necessidades de um recém-nascido. E aí vem a descoberta de que ter filho tarde, quando a carreira está consolidada, exige uma energia que a idade nem sempre oferece. E que a terceirização desses cuidados - com filhos, em creches, pais e parentes idosos sob a supervisão de cuidadores ou em asilos - custa caro a ponto de acabar sendo exercida por quem gostaria de ter como se desvencilhar dessas tarefas sem fazer o trabalho sujo.
A PEC das domésticas tornou a vida mais igualitária e ... redistribuiu o trabalho. A quem lamenta a crise e bota a culpa no PT pelo fim da vida mansa, melhor é reescrever a letra de 'Mulata Assanhada' e resmungar contra o patrulhismo politicamente correto. E se acostumar com os petizes irrequietos. Um dia, eles crescem.

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