2.3.20

Águas de abril

Temporal nos trópicos é igual a terremoto no Japão. Acontece o tempo todo. No Japão, a população é treinada a procurar determinados pontos em caso de tremor, aguardar médicos, guardas, sei lá quem. Há pouquíssimas vítimas em cada desastre natural. Aqui, não temos ideia do que fazer. A Prefeitura adverte para ficar todo mundo em casa, suspende aulas, dá ponto facultativo NA HORA do desastre. Não se diz: procurem shoppings, fiquem em lugares protegidos, igrejas, quarteis da PM, dos bombeiros, hospitais.
Conosco, só faltou a Internet funcionar perfeitamente. O moço da Oi acaba de sair daqui. Pros outros, perdas de carros, de tempo e de vidas.


Histórias de ontem:
Um amigo de quase 1,90m singrou as águas do Jardim Botânico para pegar a neta, que aguardava no quartel dos Bombeiros em frente ao Jockey. Tomou choque elétrico, andou com água até o peito e, no meio da madrugada, saiu de batedor, em frente à van da escola da menina, mostrando o caminho até Ipanema, onde moram.
Uma amiga passou parte da noite no segundo andar das Lojas Americanas da Figueiredo Magalhães. O primeiro andar foi inundado.
Meu afilhado de 7 anos e os coleguinhas ficaram horas na van, na Lopes Quintas, a metros de casa, na Pacheco Leão. Acabaram todos dormindo na casa de um que morava mais próximo ao local do encalhe.
Outros amigos conseguiram chegar em casa, depois de horas.
Estamos todos inteiros. Incluindo minha ex-passadeira, Chiquita, que teve a casa inundada, em Rio das Pedras. Está deixando a casa com três crianças, uma delas equilibrando-se numa porta que serve de canoa.
A chuva é democrática. Estamos vivos. E doloridos.

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