18.4.05

Alessandra, Patrícia e suas mães






Alessandra, aluna da 6a série do Ensino Fundamental, provavelmente de uma escola pública, completaria 15 anos em julho. A família, de Caxias, se reuniu para comprar um vestido longo, de princesa, que a menina usaria na festa, também custeada por vaquinha dos parentes. Na madrugada de domingo, conversava na rua onde mora a avó, na Favela Vila Cruzeiro, na Penha. Morreu, atingida por uma bala, durante uma incursão do Bope na Favela.
Patrícia, aluna da 8a série do Ensino Fundamental de um colégio particular da Zona Sul, só completará 15 anos em abril de 2006. A mãe, do Leblon, reuniu o suficiente para dar-lhe, como presente, um curso de imersão em inglês, na Inglaterra, em janeiro, aproveitando que a menina ganhou uma passagem do pai para visitá-lo na Espanha, em dezembro. Na madrugada de domingo, Patrícia dormiu na casa de uma amiga, depois de festejarem o aniversário de outra, numa boate na Lagoa, de onde voltaram no carro do pai de um amigo.
Alessandra e Patrícia dificilmente freqüentariam os mesmos lugares ao longo da vida. Alessandra poderia até cursar faculdade, mas teria mais dificuldade que Patrícia para conseguir um emprego com boa remuneração. Afinal, inglês faz falta. Patrícia ainda não sabe qual carreira seguirá. Tem apenas ambição de conseguir formar-se em uma universidade federal, para a qual entrará sem direito a vaga por cota. Alessandra morreu quando exercia o direito universal do ser humano de estar na rua. Patrícia passará a vida protegida por grades ou carros.
A mãe de Alessandra foi fotografada no jornal, com o vestido de 15 anos da filha, o que restou de sua menina.
A mãe de Patrícia leu a história da mãe de Alessandra e foi buscar sua menina na escola.

Nenhum comentário: